24 de setembro de 2017

Resenha: Stella no Mahou



Por Erick Dias


Um básico "Cute girls doing cute things" protagonizado por um jovem grupo criador de jogos amadores.


*****

Ano: 2016
Diretor: Shinya Kawatsura ("Kokoro Connect", "Non Non Biyori", "Sakurada Reset", "Tanaka-kun wa Itsumo Kedaruge")
Estúdio: Silver Link
Episódios: 12
Gênero: Comédia / Slice-of-Life
Tema: Clube / Escolar 
De onde saiu: Mangá, 3 volumes, em andamento



Novo ano, nova escola que é longe de sua cidade natal - a pequena Tondabayashi - e um uniforme propositadamente folgado para poder usa-lo durante os três próximos anos do ensino médio enquanto vai crescendo: É assim que somos apresentados aos primeiros momentos de "Stella no Mahou" e sua protagonista extremamente fofa e inocente Tamaki Honda, garota que começa a estudar na mesma escola particular, chamada Hoshinotsuji, que sua amiga de infância Yumine, uma declarada fujoshi da qual testemunharemos muitos delírios e rompantes seus envolvendo sua fixação por BL (Boys Love). Participando de um evento onde será possível visitar e conhecer os clubes existentes e quem sabe entrar em algum deles, Tamaki se mostra indecisa quanto a qual fazer parte já que ela mesma nunca se prendeu por muito tempo a qualquer hobby desde criança, isso até vislumbrar uma barraca com duas colegas do segundo ano em estado não tão animador e convidativo, muito menos se sua intenção é recrutar novos membros para o seu defasado clube de título estranho - neste caso, ela e Yumine esbarram no "Shinda sakana no me Nisshou busoku Shuttle run Club", ou só SNS, o qual citar a tradução literal desse nome criado aleatoriamente seria algo desnecessário e confuso, mas basicamente envolve as palavras "olho de peixe morto" e "pouco sol", mais ou menos...



Enfim, isso não tem importância alguma. O que interessa dizer é que as duas logo descobrem se tratar de um clube que produz jogos doujins (independentes), havendo como atuais integrantes a antissocial e pessimista programadora Shiina Murakami, a romântica roteirista que nunca cumpre prazos Ayame Seki e a descontraída compositora de BGMs e efeitos sonoros Kayo Fujikawa falta-lhes no momento uma ilustradora, visto que a última, a excêntrica fundadora do clube Teru Hyakutake, já se formou. E é esta vaga que Tamaki preencherá, porque após experimentar e se encantar com o jogo produzido pelo grupo no ano passado, além de ter uma ajudinha de flashbacks que nos mostram o quão ela gostava de desenhar e criar jogos de tabuleiro na infância para brincar com a Yumine, essa garota dona de bochechas tão redondinhas e de três ahoge na cabeça decide se inscrever no clube, ainda que seu estilo artístico difira "um pouco" da arte habitualmente moe vista em jogos desse tipo.

Explicando melhor, é que a pobrezinha sempre teve como inspiração em casa apenas mangás shounen retrôs lidos por seu adorado pai, o que acabou fazendo com que seus desenhos originais se resumissem a homens mais velhos em traços um tanto antiquados, caricatos e bastante viris, revelação essa que causa momentânea surpresa às suas novas amigas. Bem, gosto é gosto e para tudo se dá um jeito.

De todo modo, é dessa forma que se tem início mais um slice-of-life de garotinhas se interagindo num clube.



Antes de prosseguir, creio que vale fazer justiça quanto ao fato de na época de sua exibição em 2016 muitos terem chamado "Stella no Mahou" de mera cópia do bem mais popular "New Game!", que também retrata várias garotas - ou mulheres porque são maiores de idade, apesar dos traços tão infantilizados indicarem o contrário - produzindo jogos, esses na esfera profissional. Ambos os animes são baseados em mangás publicados em revistas da editora Houbunsha, sendo que "Stella no Mahou" faz parte da seinen "Manga Time Kirara Max" desde o final de 2012 (e como curiosidade ressalto que seu autor, cloba.U, possui no currículo vários trabalhos yuri), enquanto "New Game!" começou a sair pela "Manga Time Kirara Carat" no início de 2013 - essas e outras revistas da família "Manga Time Kirara" publicam em sua grande maioria tirinhas 4-koma lideradas por elencos femininos. Não seria exagero supor que um obteve sinal verde para sua versão animada devido ao sucesso do outro - que está inclusive com uma segunda temporada chegando ao fim -, mas tacha-lo desse jeito sem ter melhor noção de sua origem seria algo precipitado.



Agora voltando ao assunto principal da resenha, não espere de "Stella no Mahou" um minimo de imersão significativa na criação de jogos - apenas o mangá onde as personagens parecem ser ainda mais jovens (e uma delas, Seki, teve até a cor de seu cabelo trocado no anime para um berrante tom laranja sabe-se lá por qual motivo) consegue ter maior relevância nisso ao exibir diálogos mais técnicos a respeito de programação, arte ou narrativa entre as garotas que na animação foram excluídos ou resumidos, além de ao final de alguns capítulos haver um extra chamado "Nos conte Shiina-chan", onde o quarteto inicial do clube responde questões relacionadas ao desenvolvimento de jogos como se estivesse numa entrevista. Na série dirigida pelo bom Shinya Kawatsura - nome experiente em obras de cotidiano e comédia leves - suas discussões em torno disso são bem rasas e breves, restando somente um amontoado de cenas bonitinhas, engraçadinhas e consideravelmente moe para entreter o público enquanto Tamaki e companhia enfrentam alguns contratempos para lançarem seus jogos independentes.



Com destaque a uma protagonista que me encantou desde o início tanto graças aos seus trejeitos e reações tão adoráveis, quanto também devido à agradável dublagem feita por Maria Naganawa em cima dela (a mesma que deu voz à fofíssima Kanna de "Kobayashi-san"), "Stella no Mahou" retratará, com uma evolução e resolução razoáveis para o gênero e tendo em vista que a origem são meras tirinhas, argumentos como encontros barulhentos na sala do clube para tentar cumprir as tarefas de cada uma na criação dos jogos, encontros mais barulhentos ainda na casa de alguém pelo mesmo motivo - por haver acréscimos como mães extremamente legais e comunicativas, velhinhas boazinhas, mas rigorosas ou irmão mais novo chato que se apaixona por uma das garotas -, participações em eventos como o clássico Comiket ou outros menores caso não tenham tido a sorte de serem escolhidas para poder entrar nele (porque nas edições em que há mais círculos inscritos do que espaço disponível é realizado um sorteio para definir os participantes) e, de resto, conversinhas e acontecimentos rotineiros sem significância alguma para o tema central porque, bem, porque sim - a maioria desses argumentos darão espaço a Tamaki e seus vários instantes de insegurança e hesitação enquanto aperfeiçoa sua arte e aprende a usar novas ferramentas para desenho, havendo nisso conflitos habituais como falta de inspiração, frustração ao sentir que não está avançando tão rápido como gostaria, complexo de inferioridade ao perceber que há pessoas melhores do que ela na mesma área, sensação de desconforto ao imaginar que está fazendo menos do que as demais no projeto e por aí vai. Suas companheiras de clube, sua amiga de infância, as aparições sempre inusitadas da louquinha ex-presidente do SNS e até mesmo as fotos de seu querido pai que lhe servem como repositor de energia (sério, ela não cansa de falar bem dele o quanto pode, chegando a ser algo simultaneamente bonitinho e também um pouco estranho dependendo da situação...) serão vitais para Tamaki superar tais momentos e continuar realizando em grupo uma atividade cansativa e complicada simplesmente por pura paixão, já que o único "pagamento" para elas nisso é o feedback e sorriso daqueles que darão alguns ienes em troca de experimentar os modestos jogos que produzirem - estejam esses com irritantes bugs no final, homens de meia idade em algum canto a pedido especial da protagonista ou com roteiros pra lá de metalinguísticos, como por exemplo o de um casal dentro de um jogo com cenário medieval cujo save foi deixado de lado pelo jogador anterior após os dois se confessarem um ao outro, cabendo agora que eles próprios levem adiante a história até o seu final, fora outras maluquices no meio...


Uma completa e graciosa filhinha do papai



Como podem perceber, excluindo algumas curiosidades aqui e ali, não há na prática muito que possa ser dito de "Stella no Mahou" sem certa enrolação - e isso serve para cerca de 90% dos animes do mesmo subgênero, pois não é toda temporada que surge um "Joshiraku" da vida com muito conteúdo a ser esmiuçado. A decisão de montar uma resenha para esta série mesmo não sendo uma das melhores do tipo que já vi foi simplesmente porque me simpatizei bastante pelo seu elenco, e assim queria dar alguma atenção mais especial pra ela aqui no blog. Seja a ingênua Tamaki e suas expressões meigas de embaraço ou nervosismo, garota tão pura que as integrantes do SNS às vezes até questionam se foi certo recruta-la e inseri-la nesse hobby; Seki e seu "passado negro" recheado de textos românticos de gosto duvidoso e sua atual falta de capacidade em cumprir prazos na criação dos roteiros, o que só irrita a Shiina; Kayo e seu estilo tomboy mais despreocupado e travesso; Yumine e sua frequente mania em imaginar as amigas no papel de rapazes se pegando (Tamaki sempre a ativa na relação!) e, por fim, Shiina e seu pessimismo com a vida, medo de se socializar (a ponto de desmaiar quando se vê no meio de multidões!), as dificuldades que encontra ao se tornar líder do clube após a saída da "senpai" dela e a sua assustadora semelhança tanto física, quanto de personalidade com Hitoha Marui de "Mitsudomoe"personagem que adoro, e de seu anime já escrevi uma resenha aqui no Animecote há um bom tempo -, as interações bem humoradas e visualmente prazerosas desse quinteto, além da grande dedicação pelo que fazem, me fisgaram com facilidade no decorrer do anime, por mais que nos últimos episódios eu tenha sentido uma leve queda na comédia e enfraquecimento nos argumentos apresentados.

E é isso. Seguir adiante só serviria para mais rasgação de seda - que se tornaria total e chato fanboyismo - e repetição de adjetivos. Acredito que o que eu disse nesses parágrafos deve bastar para decidir quanto a se o anime poderá ou não ser do seu gosto, principalmente se você ao menos já curte séries slice-of-life de garotinhas (porque para uma "primeira vez" nesse campo eu teria outras como melhores recomendações).


Caso tenham interesse, o mangá começou a ser traduzido em agosto por um grupo americano, e por ora tem 12 capítulos disponíveis - 11 deles foram adaptados nos 5 primeiros episódios do anime, com as mudanças já citadas acima, enquanto que o outro (capítulo 10 pra ser exato) foi jogado para o episódio 7 sem prejudicar a historinha central, uma vez que seus eventos não tem relevância cronológica.



Nota: 7

(clique em cima ou abra em nova aba para uma melhor visualização)

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2 comentários:

  1. Stella no mahou foi um dos meus queridinhos da temporada de outubro do ano passado,e pra mim foi um dos melhores animes do ano passado.Como você mesmo disse,não há muito o que falar dele devido ao tipo de anime,no entanto acho que ele tem certos diferencias que me chamaram a atenção:
    -as personagens são super moes e não aparentam ser colegiais(ao menos na minha visão,basta olhar a altura delas)no entanto o anime faz algo maravilhoso que me fez adorar ele:ele não sexualiza,em momento algum,as personagens(coisa que me dá nos nervos em new game!).nem mesmo nas imagens promocionais!e isso,em tempos lotados de fanservice,é um feito e tanto.só aí o anime já ganha o meu respeito.
    -outro ponto que me chamou a atenção é que não achei as personagens do anime estereótipos ou clichês.Sendo sincera,achei elas bem realistas,na medida do possível,claro.fora que por mais que o anime seja moe,a única personagem realmente inocente e com um apelo mais kawaii demais é a Tamaki,e mesmo a fofura dela não é forçada.Enfim,gostei muito das personagens mesmo.Aliás,ele é um dos poucos animes que consegue representar bem meninas que curtem games.
    Sua resenha ficou ótima e devo dizer que a Honda também me encantou desde o começo,Best girl do anime,sem dúvidas.

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    1. Oi, Angel Chan, brigado pelo comentário - confesso que estava esperando que você aparecesse aqui, ha, visto seu ânimo ao comentar sobre o anime nos posts de temporada do ano passado...

      Se você der uma olhada no mangá verá que as garotas parecem ainda mais jovens nele, com carinhas de crianças mesmo, e acho que poderia ter enfatizado isso de "Stella no Mahou" não trazer algum fanservice em cima delas - o que até chama a atenção considerando que seu autor publicou várias obras yuri. Se muito, há alguns tons yuri vibe aqui e ali (especialmente se houver a Yumine em cena com seus delírios), porém eles são bem amenos se comparado ao que é visto em outras animações do mesmo subgênero - tais como o próprio "New Game!" que você citou, por exemplo.

      Fico grato que tenha gostado do texto, Angel Chan, e até a próxima.

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