26 de abril de 2020

Resenha: Mugen no Ryvius


Por Escritora Otaku

Uma experiência que revela o comportamento humano, não de adultos, que é o habitual e sim de adolescentes: assim posso resumir o contexto deste anime, que brinca com o estilo futurista mais pé no chão e consegue, em sua execução, colocar em xeque a respeito do que uma pessoa tem de ser e o seu devido lugar, seja conhecido ou não. Como diversos animes que vejo, este veio por acaso na minha procura de séries para ver e ao assistir, apaixonei pela jornada daquele grupo tão inocente pelo espaço, em busca de sobreviver e acima de tudo, tentar voltar para a Terra.

Há algumas semelhanças com “Bokurano” e no mais recente “Kanata no Astra” quanto a elencos jovens postos em situações que dependem das escolhas certas e suas consequências. Só não faz perder o brilho que “Mugen no Ryvius” revela em seus episódios. Que possamos viajar pelo espaço e sigamos as aventuras de um grupo que do nada, se envolve numa grande trama.


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Alternativo: Infinite Ryvius
Ano: 1999
Diretor: Goro Taniguchi
Estúdio: Sunrise
Episódios: 26
Gênero: Drama / Ficção Científica


A vida em sociedade é uma questão a ser vista com diferentes olhares: há os que se adaptam rapidamente, outros demoram um tempo e tem aqueles que por mais que se esforcem não conseguem encontrar o seu devido lugar. E nenhum destes olhares tem toda voz de razão, pois cada um possui sua maneira de encarar outras pessoas. No mundo que vivemos e somos inseridos, saber quem é você e o seu lugar pode virar um desafio e nem sempre, aquilo que uns dizem de você seja realmente a verdade.

Mundos, universos e épocas reais ou surreais são de praxe quando nos aventuramos na ficção e em animes, isso é parte crucial de toda história, sem importar com época ou contexto. E dá para dizer que entre tantos mundos fictícios, os que abordam a ficção científica são os mais abertos quanto a mostrar um limitado ou não universo e seus personagens. Em maioria, a visão que temos são de jovens e adultos, que já percorreram uma parte da vida e vão ou não se adaptando à nova realidade. Seguem com as crianças, que tem uma forma peculiar de enxergar o mundo e por fim, os adolescentes, que ficam no limiar entre o fim da infância e início da fase adulta. Justo deste último, que podemos inserir o enredo de “Mugen no Ryvius”, obra que traz esta faixa etária numa aventura espacial para voltar à Terra.

A trama ocorre no Centro de Treinamento “Liebe Delta”, onde jovens humanos são ensinados e treinados para viver no espaço e é como se fosse um internato espacial aos interessados. Vemos diferentes adolescentes, uns se conhecem e outros não, que convivem no lugar e tudo parece estar em ordem - isso até ocorrer uma invasão, causando uma crescente desordem em busca de algo que se encontra nesse local. Indo a fundo, descobre-se que o alvo dos invasores é uma nave ali atrelada que possui inteligência artificial. Durante o ataque, os jovens que são surpreendidos escapam de uma morte trágica graças ao sacrifício dos últimos adultos, e dessa forma mais de 400 tripulantes são evacuados nessa nave, precisando agora vagar pelo espaço para sobreviver.

E o que vemos adiante é este convívio forçado, onde aqueles que possuem maior conhecimento e manuseio da tal nave, intitulada Ryvius, tem de manter a ordem e organização, enquanto esperam ser resgatados. Imaginem a quantidade grande de pessoal, a maioria adolescentes que foram jogados em pleno espaço, suas reações e segredos que podem formar aliados e inimigos a qualquer momento. Se forma, querendo ou não, uma sociedade que tem de aprender a conviver uns com os outros; resolver pendências, sejam familiares ou pessoais e temos uma mistura de jovens humanos, uma criança e um furão de tripulantes de personagens. Apesar da quantidade absurda, o anime foca em específico a determinados personagens centrais, estes que dão uma dimensão de tal convivência - grupo que pode ser visto na abertura e encerramento da obra, que mostram bem a personalidade e suas impressões quanto a aventura espacial.

Destes, destaque para Aiba Kouji, nosso protagonista que pelas circunstâncias, se envolve no plano geral de manter a nave e seus integrantes seguros; seguimos pelo seu irmão, Aiba Yuuki, que mesmo sendo rebelde em seus modos e na forma de tratar o irmão, também quer autonomia e suas habilidades intuitivas de piloto os livram dos perigos. Temos ainda o grupo que forma a Zwei, estudantes que “dirigem” a nave em questão, com integrantes adequados aos seus papéis; e, dentre outros, o melhor amigo de Kouji, Oze Ikumi, que banca o boa pinta e tem uma personalidade mais humorada e ciente de suas responsabilidades . Vale citar que a própria inteligência artificial da nave, uma garota de roupas colantes vive aparecendo por aí, chegando a ser vista pelos personagens mais relevantes, se adaptando ao ambiente e adquirindo personalidade ao longo da jornada. E podemos destacar os personagens que interagem ao elenco principal, seja numa cena específica ou variando a situação apresentada na trama central. Só para não ficar somente nos rapazes, a ala feminina tem os seus destaques, sendo as mais recorrentes quatro: Aoi e Izumi, grandes amigas, a primeira sendo conhecida pelo protagonista e seu irmão e a segunda com seu bom humor que lembra o estilo do Ikumi; Juli Bahana, da “Zwei”, que toma o posto de liderança do grupo e é a voz da razão por se preocupar com o fato de estarem à deriva no espaço; e Fina (pronuncia Faina), uma garota que vira parte dos que cuida do manuseio da nave e tem certa quedinha pelo Kouji.

O elenco central é o que coloca muito dos questionamentos postos na série, pois como tem ciência da situação real, adentramos aos sentimentos, pensamentos e as sensações sentidas a cada episódio. Certos eventos podem colocar certo personagem numa situação crítica, que pode deixar alguém pra baixo ou viver num estresse que afete seu desempenho ou raciocínio. Uma pressão que vai aumentando até causar alguma sequela no mesmo, prejudicando a si e aos outros que a convivem.

Temas como a responsabilidade, perda da inocência e política estão presentes, colocando o anime num patamar que difere de outras obras de ficção científica com elencos jovens. Questionamentos interessantes aos que buscam uma história mais complexa ao passar da trama.

Seu visual é bem simples e noventista, por ser desta época e futurista num aspecto mais normal nos seus figurinos; o design de personagens tem visuais bem diretos, sem parecer absurdo ou clichê e a ambientação espacial tenta não ser surreal ou fantasiosa, algo mais próximo da realidade. Sobre a parte musical, temos uma predominância na música eletrônica, bem evidente na abertura, “Dis” de Mika Arisaka, na apresentação dos títulos de episódios e no intervalo da mesma, citando o nome da nave em diferentes tons; já o encerramento, “Yume no Sugite Mo” da mesma cantora tem o tom mais suave e evoca bem os pensamentos de esperança dos personagens em voltar aos seus lares.


Com um apelo que somente os anos 90 podem ter e que foge do lugar comum de histórias de ficção científica, este são os ingredientes para a viagem que “Mugen no Ryvius” oferece aos que explorarem espaço afora.


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