Após acompanhar metade dos longas animados e
analisar cada um, o momento é ir aos que fecham a cine série e constar se no
fim, “Digimon Adventure Tri” foi ou não acerto da parte da Toei Animation para
a franquia como um todo. O que posso falar destes três filmes seguintes é que há
um crescente na trama e se você for dos que viram conforme seguia os
lançamentos, lamento informar que vai perder seu tempo: a palavra aqui é
sequência, pois um filme puxa a história para o outro até dar o final. Dá pra
dizer que do terceiro ao sexto filme temos uma narrativa mais envolvente,
podendo pegar desprevenido quem achava que não ia ficar mais interessante.
Minha experiência foi bastante positiva, se levar
em conta a crescente da narrativa imposta e os rumos, em dados momentos, me
fazerem voltar aos tempos que “Digimon Adventure” estava em voga. Quanto a mim,
como acontece na maioria dos casos, acabei vendo os dois últimos filmes num
único dia, de tão curiosa pra saber como ia terminar a aventura de Taichi e
seus amigos; para os três primeiros filmes, vi um por dia, pausa por uns dias e
retomar pra ver o restante. Vou contar, não vi estes filmes querendo que fossem
melhores que o anime original, porque a comparação é muito injusta e fora que
criar muito hype por algo que já viu ou teve acesso apenas para presenciar algo abaixo
da média é o fim da picada. Ao menos, se for comparar o Tri com “Digimon 02” em
termos narrativos, dá para adiantar que eles conseguiram ser sair melhor que o
esperado. De toda forma, vejamos como foi estes últimos filmes e se no fim,
valeu a pena esperar tanto tempo para poder acompanhar mais uma aventura com os
primeiros personagens da franquia.
*****
Ano: 2017 (filmes 4 e 5) / 2018 (filme 6)
Diretor: Keitaro Motonaya
Estúdio: Toei Animation
Gênero: Aventura/ Drama / Fantasia
Esta é a segunda parte da resenha a respeito dos
filmes de “Digimon Adventure Tri”, do quarto ao sexto longas; caso queira saber
o que veio antes, cliquem aqui para a resenha dos três primeiros filmes. A análise
não será muito diferente da postagem anterior, pois veremos cada filme de
maneira individual, se funcionam dentro de suas propostas e aí sim, ver sua
totalidade como um todo e sua repercussão, como as chances de outras temporadas
da franquia receberem uma possível continuação nestes moldes.
O quarto filme, “Soshitsu” (Perda) segue as partes
finais do terceiro longa, quando o grupo reencontra com seus parceiros digimon
(nos formatos que foram apresentados inicialmente no primeiro anime), só que,
sem nenhuma memória destes com eles, algo ocorrido para evitar um colapso entre
mundos. As cenas iniciais, no entanto, focam num passado onde duas crianças
veem o nascimento dos digimon sagrados e o sacrifício do parceiro digimon para
deter os Mestres das Trevas vistos em “Digimon Adventure”, revelando desde
antes a existência da parceria entre humanos e digimon há tempos. Taichi e
companhia terão de recomeçar suas amizades com seus digimon, que apesar de não
os reconhecerem mais, ainda possuem suas personalidades e jeito de ser
intactas. É neste retorno ao Digimundo que descobrem quem está por trás dos
problemas, da função da Meicoomon e acima de tudo, reconquistar a confiança de
seus parceiros de longa data.
Quem ganha destaque aqui é a Sora, que precisa
mostrar a sua parceira digimon o quanto se importa com a mesma, como ficou
bastante claro no filme anterior na “despedida” dos digimon. E qual dos lados
tem mais dificuldade de retomar confiança, a garota ou sua digimon? Mais pro
lado da Biyomon, que leva tempo para aceita-la e só assim, a parceria volta mais uma vez e quando ocorre, vemos seu formato mega (Hououmon) numa luta
contra Mugendramon. Não foi a única a mostrar o último estágio da linha
evolutiva, pois Agumon, Gabumon e Tentomon fazem o mesmo e de novidade, mesmo já
ter aparecido em outros animes da franquia, tivemos a mega do Patamon
(Seraphimon), tornando este o filme com mais presença destas evoluções finais
dos digimon principais. No final, quem esteve por trás consegue o que quer e
fica a questão no ar: será que os digiescolhidos serão capazes de salvar mais
uma vez aquele mundo da destruição eminente?
“Kyousei” (Coexistência) coloca um ponto delicado a
ser resolvido pelos digiescolhidos, que é ir atrás ou não da Meicoomon; afinal,
muitos dos problemas presentes na trama têm a digimon como causa das infecções
nas criaturas digitais e das distorções entre Digimundo e Terra. Reunidos
finalmente, o grupo tem a necessidade de mostrar à sua parceira humana, Meiko o
quão é importante estar por perto de sua amiga digimon e ajuda-la para evitar a
tragédia atingir a própria Terra, o lar deles. E a situação vai só piorando,
quando vemos que até mesmo os que cuidam do mundo digital também pensam em
deletar Meicoomon, para sempre. Cabe aos nossos personagens resolver esta treta
e mostrar que é possível humanos e digimon interagirem juntos.
Algo bem evidente é o que ser um digiescolhido,
assunto abordado ao longo da trama, chegando ao clímax do clichê sempre
bem-vindo de destruição de mundos. Há uns momentos mais descontraídos entre o
grupo, uma calmaria antes da tempestade e é aí que fica a questão: o que
significa ser um digiescolhido, qual é o papel dos humanos perante problemas
vindos do Digimundo? Quanto ao quesito de protagonismo, podemos colocar o grupo
de Taichi como um todo e todas as megas já apresentadas retornam mais uma vez,
como a presença de Omegamon, a união entre WarGreymon e MetalGarurumon, vista
só no primeiro filme.
Chega-se ao final, ao último filme, “Bokura noMirai” (Nosso Futuro) e tudo pode ser resumido em milagres, algo que apenas
quem teve contato constante, mesmo com o tempo, da confiança depositada, seja
entre os personagens, seja entre seus parceiros e amigos digimon pode
proporcionar nesta reta derradeira de toda a trama. De novas evoluções, ou não,
depende do seu ponto de vista, temos a mega da Tailmon (HolyDramon) e a nova
forma de Omegamon, unindo todas as megas numa única forma digimon, detendo a
ameaça e evitando a destruição da Terra. Claro que, há um preço alto a ser
pago e este é que dá o tom mais emotivo e conclusivo, necessário para fechar
toda a trajetória de “Digimon Adventure Tri”.
Não dá para falar demais da história que fecha, a
não ser um ponto meio estranho aos que chegaram até aqui: que raios houve com
os personagens centrais de “Digimon 02”? Os mais observadores devem ter
entendido que eles não eram o foco da trama, justificando as presenças de
Takeru e Hikari ao elenco central dos filmes, a dúvida é o que houve e isto
esclarece neste filme, só não aparecem eles, apenas suas silhuetas e citações
pelos personagens principais aqui e acolá. E se for parar pra pensar mais
atentamente quanto a trajetória da franquia, deu para entender que há uma certa
repulsa quando se trata do segundo anime entre os produtores. Justificando
porque não houve maior envolvimento destes personagens, como porque levou
tantos anos para realizar uma continuação.
A palavra mais sensata a estes filmes seris sequência: isso porque a partir do terceiro longa, Tri segue numa sucessão de
fatos atrás de outros que culminam ao final da história - por esta razão,
assistir vira uma necessidade quanto ao conteúdo que jogam ao público, bem
diferente dos três primeiros filmes, que funcionam de maneira mais
independente. Estes longas são interligados e fica melhor se forem vistos um
atrás do outro; um ponto interessante aqui é o peso da responsabilidade de ser
um digiescolhido, pois o grupo teve de passar por poucas e boas em sua
primeira animação, dando a entender que, para eles, é um dever manter
Digimundo e Terra em harmonia, humanos e digimon em seus mundos e evitar que
algo afete completamente a ambos. O que os coloca num limiar acima de qualquer
um, só resolvida quando entram em pleno acordo para acabar com o problema dado.
Aqui não há propriamente um vilão central, porque devido a circunstâncias
abordadas ao longo dos filmes se vê as consequências de decisões que levam as
sequelas mais impactantes da história em si.
Um aspecto a ser levado fica para a forma que
os digimon são vistos pela população humana, de forma bem negativa e mesmo tendo sido mostrada de leve no segundo longa, aqui surge em maior evidência conforme o
enredo fica mais dramático. Quem já teve contato com os animes da franquia sempre foi motivo controverso se os digimon poderiam viver na Terra, muito pela
sua natureza animalesca quando acudidos ou ameaçados. No Tri, por exemplo, as
destruições causadas pelas criaturas digitais botam mais controvérsia quanto
aos mesmos, ficando difícil aceitar suas existências. O quinto e sexto longas
deixam isso bem claro, até antes, pois os digimon que atuam ao lado de humanos
tem de se manter sob disfarces para andar sem levantar suspeitas.
Na trilha sonora, tivemos de encerramentos: nova
versão da “Keep on” pela AiM, antiga dubladora da Mimi no quarto filme;
“Aikitoba” nas vozes de AiM e Ayumi Miyazaki no quinto filme; como da versão
com os dubladores dos digiescolhidos para a “Butter-fly tri.version” no sexto
filme.
Que sejamos justos: comparar Tri com o primeiro
anime é deveras injusto, muito pela maneira que ambos foram produzidos, agora,
se a comparação for com o segundo anime, aí sim, fica mais justo. Porque
convenhamos, o fato de haver poucas referências a “Digimon 02” revela que o anime
não foi exatamente o esperado dos seus envolvidos.
Mais que esclarecidos, podemos afirmar que os
filmes foram uma resposta sobre o destino do elenco do primeiro anime, que mesmo
após anos, continuava tão relevante quanto. O impacto deste foi crucial para a
produção toda, como de manter certo tom nostálgico aos que acompanharam a trama
do anime e há sim, referências sutis às animações que vieram depois, como “Digimon
Tamers” e demais temporadas da franquia aos seus fãs mais fervorosos.
Quanto à pergunta levantada acima, pegando todos os
filmes como um só, não de forma isolada, a resposta é que de uma forma ou
outra, funcionam bem. Tem suas falhas ou cenas que nem deviam ter usado, como
houve nos dois primeiros filmes? Sim, meio que inevitável quando se trata da
Toei Animation, digamos que mais acertos do que erros, se for comparar a
narrativa com o segundo anime. Não fica estranho dizer que o Tri é uma
continuação mais acentuada do primeiro anime, acrescentando pontos da temporada
sequente numa história nova. Em termos de produção, os filmes não foram tão
primorosos em animação; a impressão deles fica mais perto de especiais de
vídeo, que costumam ter maior liberdade de conteúdo do que em séries de TV; de
vozes, apenas dos parceiros digimon foram as mesmas dos animes, ao passo que dos
digiescolhidos foram feitas por novos dubladores e as adições deram um ar diferente, nada que não aconteça em animes que ganhem novas versões ou temporadas - o
resultado disto não é de todo ruim para comemorar os vintes anos do anime
inicial que deu pontapé à franquia “Digimon”. Quanto ao público alvo, fica
fácil dizer que aqueles que acompanharam os primeiros animes ou a franquia como
todo vão aproveitar melhor a experiência; caso não tenha vivenciado, as
alternativas ficam em ler toda a trama ou assistir aos animes. É caso típico de
filmes de animes que funcionam aos que a conhecem...
O resultado dos filmes foi bem positiva em terras nipônicas, onde os longas foram exibidos nos cinemas e aos mais apressadinhos, a versão em episódios disponibilizada na mesma época. Um problema é justamente o espaçamento de tempo dado para os filmes em si: analisando profundamente, fica meio de cara que isso pode afastar quem esperou demais pela conclusão da história; mais pela trama custar para engrenar, investir numa boa história e num geral, ficou dividida entre momentos bons e ruins, se levar em conta os acontecimentos dos dois primeiros filmes, mais para o segundo. Dá a impressão que os longas foram feitos ao mesmo tempo, pela forma que foram se apresentando, como se fosse um anime de exibição semanal normal.
A recepção mais que aceita deu um ânimo para a
produção que já programou mais um filme, focando nos personagens já adultos e previsto para 2019. E isto pode abrir possibilidades quanto a outros animes da
franquia a ganhar continuações nos mesmos moldes do Tri, em filmes - se fosse
escolher uma série, a opção melhor ficaria para “Digimon Tamers”. O terceiro
anime tem tanta aceitação quanto e o público ficaria satisfeita se fosse feito, sendo que há notícias que o roteirista do anime, Chiaki J. Konaka tem muito interesse do
Tamers ter uma continuação, fora os envolvidos. Resta o estúdio pensar a
respeito, algo que fica na pura incógnita, pois diferente de “Dragon Ball” e
“Precure” que tem produções frequentes, “Digimon” nunca foi uma franquia
recorrente e explorada como tem de ser. Com a boa entrada do Tri, quem sabe
aconteça de verdade? Desde o momento que optaram em fazer temporadas mais
espaçadas, a franquia perdeu popularidade fora do Japão; nem mesmo os jogos
escaparam disto, entre altos e baixos.
Se o estúdio soubesse investir no universo de
“Digimon”, levar a sério, a história em si teria sido diferente; outro problema é
justamente a qual público atingir. Analisando as produções já feitas, é fácil
supor que o alvo fique entre o infanto-juvenil a juvenil; com o sucesso dos
filmes, é mais óbvio que seja este o caminho que a franquia precisava. Os games
já estão seguindo por tal caminho e tendo resultados satisfatórios, é questão
de tempo dos animes irem no mesmo patamar. Resta saber se isso vai impulsionar
novamente a franquia a um público maior ou ficar restrita aos que curtem a
temática oferecida.
“Digimon Adventure Tri” é uma aventura que provou
que sim, a franquia “Digimon” tem seu espaço e que apenas precisava de melhor
reconhecimento da parte do estúdio e produção para alcançar os que já conhecem
ou não as criaturas digitais. Funciona como continuação e uma nova leitura para
Taichi e seus amigos, que tiveram de esperar muito tempo para voltar à ativa.
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