2 de fevereiro de 2018

Resenha: Bakuman (mangá)


Por Escritora Otaku


Não vai fazer muito tempo que terminei de ler esta série (foi lá em 2016), sendo que seu anime foi o primeiro que acompanhei semanalmente, e ter de aturar as estreias de suas temporadas se mostrou um verdadeiro teste de paciência pra mim mesma. É comum lermos mangás depois de conferir suas versões animadas e este foi o caso, no qual acabei gostando tanto de sua trama que me fez até coloca-lo no meu top animes daqui.

Admito que a Jump precisa rever seus conceitos quanto a obras de sucesso, porque ultimamente... Não vou falar do assunto, pois vai dar encrenca aos que ainda acompanham a revista. De um ponto, muitos de nós concordamos: “Bakuman” foi o que nos fez saber mais do universo dos mangás, que antes eram um mistério para nós, leitores. Minha experiência e os aspectos da obra ficam na resenha abaixo e mesmo que hajam postagens que falaram do mangá, não custa conferir um pouco do seu sucesso.


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Mangakás: Tsugumi Ohba (roteirista) / Takeshi Obata (desenhista)
Número de volumes: 20
Editora: Shueisha (Japão) / JBC (Brasil)
Gênero: Comédia / Drama / Romance

Indicação de leitura complementar: Resenha da versão animada de "Bakuman.".


Qual é a sua relação quando o assunto são mangás ou outros tipos de quadrinhos? Os vê como se fossem mais um produto comercial ou algo que apresenta as mais variadas histórias, tais como as páginas de um livro ou um jogo, por exemplo? Dependendo da resposta, dá pra ver a influência e tanto dos quadrinhos na vida das pessoas - não importa qual seja sua preferência pessoal, pegue sua história e embarque nesta viagem de autores e estilos.

O que temos então quando o assunto é “Bakuman”? Parece mais um mangá como qualquer outro e realmente, à primeira vista, ele é. Acontece que um detalhe chamou a atenção de muitos leitores, dentro e fora do Japão, e mesmo tendo terminado ele ainda traz um conteúdo que ajuda as pessoas a entender o quanto é complicado trabalhar com quadrinhos - no caso deste, dos mangás que uns curtem e veem como uma versão melhor que suas versões em animes. Vejamos sua trajetória, os aspectos e claro, meu depoimento a esta obra no original e em seu anime, é claro!



Contexto/traço/personagens

Em resumo, “Bakuman” conta a trajetória de dois jovens, Moritaka Mashiro e Takagi Akito pra seguir a carreira de mangakás - vemos seu dia a dia, desafios, rivais e aperfeiçoamento pessoal nas páginas da Shounen Jump (Shounen Jack na versão anime). Um roteiro praticamente simples, sejamos francos, então, qual foi sua fórmula de sucesso? Quando uma obra se sai bem, muitos tentam descobrir quais são as características que a levaram à fama, então, vejamos o que “Bakuman” trouxe para nós, o público:



* Primeiro, os seus criadores: em sua segunda obra na qual atuam juntos, Tsugumi Ohba e Takeshi Obata (foto) trouxeram o que haviam feito em “Death Note”, a parceria e sua visão quanto ao universo dos mangás;

Segundo, o fato de terem conseguido publicar uma nova obra na Shounen Jump e terem feito sucesso, pois tem de ser bom pra publicar numa revista tão competitiva e cheia de altos e baixos quanto a Jump;

Terceiro, a mudança de ambiente, saindo de algo sombrio e realista para algo mais jovial e sonhador, mostrando certa diversidade quando o assunto é criar novas histórias;

Quarto e último (tem mais, acontece que vamos ressaltar as mais visíveis), a de mostrar como é a profissão e mercado de mangás, como funcionam uma editora destas e os processos para que um mangá seja ou não publicado.

Saindo disto, como ficou o traço de “Bakuman”? Fazendo uma comparação com “Death Note”, diga-se que houve uma bela suavizada nos desenhos, claro que, sem perder o tom característico que consagrou Obata nos mangás. Quem acompanha a trajetória do desenhista, sabe o quanto este se esforça pra desenhar o que pede na história e até bota detalhes que fazem toda a diferença - no caso aqui, há certo aperfeiçoamento em relação ao visual, mais firme e simples; quanto a figurino e ambientes, Obata não perde tempo em colocar as situações “mais próximas” da realidade proposta. O desenhista consegue praticar uma imersão muito realista, dentro do conteúdo oferecido: vai desde as capas até mesmo nas cenas - ele pensa muito bem e confia no que faz. Realmente, alguém que nos mangás, merece nosso respeito e atenção.

Fato mais contestado com sua ligação e amizade com Ohba, o roteirista, que confia nos traços do colega, enquanto este se encarrega da história e de seu andamento. E, os mais atentos notam que qualquer semelhança deles com a dupla Mashiro/Takagi são bem além das típicas aparências. Há quem diga que estes dois personagens sejam os próprios mangakás...


E como toda obra, temos o elenco de personagens, aqueles que vamos aprender a amar e odiar cada momento da história. Na série, vemos um elenco bem grande e ao mesmo tempo, compacto à proposta; visuais bem definidos; maior presença de personagens femininas (antes que alguém acuse, os mangakás admitem que criar personagens femininas não é nada fácil); passagem de tempo que não é forçada; linguagem e outros pontos. “Bakuman” foge do padrão que foi usado em “Death Note”, pondo personagens mais comuns e pondo nos desenhos, que não se deve desistir de sonhos ou metas.

Os personagens seguem clichês deveras típicos de shounens, com personalidades que são trabalhadas de acordo ao estilo de cada um; muitos têm uma pegada juvenil, outras adultos, bem caracterizados e como qualquer mangá que se preze, há a evolução dos traços - se pegar o primeiro volume e comparar com o último, podemos flagrar a evolução dos desenhos e personagens.

Temos como destacar alguém do elenco? Difícil, porque “Bakuman” trata igualmente, no caso da maioria, seus personagens, esteja ou não no grupo principal - dos protagonistas aos secundários, não tem como desmerecer o trabalho conjunto mais certeiro de Ohba/Obata. E antes de prosseguir, vamos deixar claro que as comparações com “Death Note” se devem pelo fato de terem feito sucesso estrondoso com a série; não iremos menosprezar e dizer que seja melhor que “Bakuman”, pois cada obra tem seus pontos fortes e fracos. Usamos mais como uma referência e não pra menosprezar a segunda obra dos mangakás.



Aspectos do mangá

Vindo das páginas da revista de mangás mais vendida e lida do Japão, foi um desafio e tanto para “Bakuman” disputar espaço na Shounen Jump - quem acompanha as TOCs da revista sabem bem o quanto a Jump quer obras de sucesso imediato e populares: quem for bem, fica, quem não for, é cancelado. A competição é traiçoeira, ninguém pode dizer se obra tal terá chances, apenas sua repercussão. Não estendendo o assunto, é fato que este método tem tido falhas e autores, veteranos ou novatos, tem de se virar para agradar aos leitores e, principalmente, seus editores. Afinal, parte do interesse vem dos que dão a chance de ser publicados, ou seja, dos editores e do interesse da revista.

O mangá e sua versão anime trouxeram uma verdadeira crítica a este método, que mina as chances de novos autores mostrarem seu potencial e de veteranos serem chamados pra dar um jeito na situação. Qual é o melhor: quantidade ou qualidade? Um bom traço ou uma boa história? Que estilo se encaixa mais ao perfil de quem faz mangás? O desafio de encontrar talentos, como fica? Estas e outras respostas são mostradas em “Bakuman”, revelando um universo jamais visto aos leitores.

Na verdade, “Bakuman” foi uma obra que deu uma visão do trabalho de mangakás aos leigos; antes havia material disto, mas, não era tão acessível quanto ele. Durante sua trajetória e depois de seu encerramento, mangás e animes vieram com a proposta de trazer os bastidores de produções conhecidas do público, como animação e games, dublagem e profissões referentes à cultura japonesa e mundial. Enfim, uma das características quando se trata de animes e mangás, é trazer qualquer tipo de história ao público em geral - nisto, as produções ocidentais ainda ficam devendo, em partes.

E como se saiu “Bakuman” em sua publicação? Sucesso, ele foi; se foi um hit ou quem sabe, virará um clássico, aí nem tanto. Parte de seu sucesso se deve à parceria Ohba/Obata, que deixou o mangá entre os mais lidos e vendidos neste período - o que chama a atenção é a forma que a história tenta não ser Jump e ter cara de uma ao mesmo tempo. É mais ou menos o que houve com “Death Note”, trazendo um novo ar para a tão tradicional Shounen Jump; gerou alguns frutos, mas, aí rola o problema do método. Aos mais atentos, repararam que a revista não tem conseguido obter muitas obras de sucesso e de apelo popular, de uns anos pra cá?

E estes têm apelado a conteúdos que sigam as fórmulas de sucesso que mantiveram a Jump no topo do mercado de mangás; de botar autores veteranos de volta à ativa ou pressionarem a dar mais de si em suas obras até dizer chega, pra diminuir a falta de novos trabalhos de sucesso. A disputa é grande demais, a demanda é de menos e quem se prejudica é a própria Jump, que fica num beco sem saída. Uma pressão que já rendeu muitas histórias e parte delas não são nada favoráveis à revista; o mangá/anime bem que bate nesta tecla e nos faz pensar sobre como anda o mercado destas obras.

Do Japão para o Brasil, “Bakuman” antes de ter sua versão anime já era uma referência aos que leram sua história - muitos sites e blogs indicavam o mangá para o pessoal poder conferir. O anime aumentou o acesso do público à obra e não foi difícil imaginar ter o mangá em terras tupiniquins, lançado pela JBC. E foi um dos mangás mais populares e vendidos da editora; afinal, era tarefa deles trazer a série, pois haviam publicado “Death Note” antes. A fórmula "nova obra do autor de um mangá tal" rende e muito, portanto, se mostrou um bom acerto da editora.



Depoimento pessoal sobre o mangá e anime

Não é de pouco tempo que tenho minha admiração com “Bakuman”, portanto, sentem aí que lá vem história: lá em 2010, numa das minhas idas para a cidade onde morava, costumo ir a casa de um amigo que assim como eu, curte animes e mangás e que por uns bons anos, me passou uma penca de animes que tínhamos em comum ou não. Só pra terem uma ideia, “Bleach” / “Naruto Shuppuuden” / “Death Note” / “Mythical Sleuth Loki” (“Matantei Loki Ragnarok” no original) entre outros foram os animes que este me empurrou. Pois bem, com “Bakuman” foi a mesma coisa, só que, oras, não tinha nenhum interesse em querer assistir; simplesmente, ele passou os primeiros episódios só para eu experimentar.

E de volta pra casa, dei uma olhadinha e aí, paixonite logo no primeiro episódio. Nisso, queria ver mais e procurando sites que tivessem ele pra acompanhar, topo com outro anime, este mais antigo e muito bom por sinal. Quem não sabe se tratava de um dos meus xodós, “Detective Conan” e sim, não pensei duas vezes pra acompanhar este aí também. Pra resumir, naquela época, “Bakuman” e “Detective Conan” entraram em minha vida e o resto, basta olhar pro meu top de animes do Animecote.

Voltando ao “Bakuman”, este foi o meu primeiro anime semanal que pude ter o prazer de acompanhar religiosamente, semana após semana - e ficar completamente impaciente para ver a próxima temporada e isto é importante, já que foi com Mashiro e companhia que passei a acompanhar as temporadas de animes, já que antes apenas via os já finalizados ou alguns dos populares do público. O tempo passou, o anime acabou e o mangá veio ao Brasil, mas, não pude comprar - e olha que queria muito poder ter lido a versão mangá, para saber se minha admiração com “Bakuman” era mesmo verdadeira ou somente outra mania passageira.

Muito bem, em 2015/2016, lá na casa deste meu amigo, ciente do meu interesse pela obra, ele me emprestou o mangá em si. De cinco em cinco volumes, acompanhei a mesma história que já conhecia pelo anime e minhas suspeitas foram confirmadas: realmente curtia mesmo a obra, cada vez que lia lembrava as cenas do anime e até cantarolava alguma música do mesmo - foi uma leitura e tanto, pondo o mangá entre os melhores que li, ao lado do já consagrado “Full Metal Alchemist” e “Chrno Crusade”. As recomendações fazem mais sentido, agora que li o mangá.

Voltando ao mangá, a parte material foi a padrão dos mangás, teve uma ótima tradução, puseram as referências de outras obras citadas e tinha parte do storyboard que usavam pra criar as cenas. - fora os nomes dos capítulos muito similares ao usado na versão anime, confirmando o esforço do estúdio J.C Staff em sua produção. Não vou estender mais, então, sim, amei mais “Bakuman” do que “Death Note”, mesmo que ambas sejam boas em suas propostas e execução.



Considerações finais

Mostrar o universo dos mangás, de seus profissionais, de como é competitivo este mercado e fazer uma crítica dos métodos usados para lançar tais obras seria o legado que “Bakuman” deixará aos seus leitores. Não dá pra dizer que se tornará um clássico ou será esquecido, mas de uma coisa podemos estar certos: Ohba/Obata em sua segunda parceria revelam a sincronia para desenvolver histórias sem se prender em excesso a estilos mais consagrados. Ao menos, eles não têm medo de dar o melhor e com isto, esta obra serve pra quem quer saber mais de como se cria os mangás que muitos curtem.

Que como os personagens centrais, possamos ir atrás das oportunidades e daquilo que a vida nos traz, não importando que seja difícil; desde que façamos com vontade e determinação para que aconteça.



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