21 de janeiro de 2018

Resenha: Chrno Crusade (mangá)



Por Escritora Otaku


Não é de pouco tempo que curto demais esta série, acontece que minha alegria foi maior quando vi lançarem aqui o mangá que originou um dos meus animes favoritos. E não me arrependo de tê-lo colecionado, pois o que gostava da versão animada se manteve no mangá, firmando meus personagens favoritos – Rosette e Chrno – como também do vilão mais detestável, o Aion (se bem que está dividindo o primeiro lugar com o Hakumen no Mono de “Ushio to Tora” em minha lista de vilões). Este foi um dos poucos mangás completos que pude comprar.

Ah sim, não sou de ficar comprando qualquer mangá, só os que mais me interessam. Vou deixar que no depoimento saibam mais o que me trouxe a esta obra e os aspectos de sua versão impressa.


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Mangaká: Daisuke Moriyama
Número de volumes: 8
Editora: Kadokawa Shoten (Japão) / Panini (Brasil)
Gênero/Temas: Ação / Drama / Fantasia / Sobrenatural

Indicações de leituras complementares: "Chrno Crusade", resenha aqui do blog sobre o anime; e "Chrono Crusade: Anime or Manga?", texto em inglês do ex-redator do Animecote xbobx, onde ele cita as diferenças de adaptação entre o mangá e o anime.


Imaginem a seguinte dupla de personagens: uma garota que não consegue deixar de destruir tudo por onde passa, de pavio curto, comilona e de muito bom humor; do outro, um garoto calmo, mais adulto que sua companheira, que esconde sua real forma para não causar problemas para ela. Este seria o melhor resumo pra definir os protagonistas de “Chrno Crusade”, série que teve seus momentos de glória com seu anime e de praxe, adaptado de um mangá - esta versão é a que será explorada, com seus pontos fortes e fracos, se anime e mangá possuem semelhanças e o depoimento de como foi minha relação com a obra.



Contexto, traço, personagens

“Chrno Crusade” trata da jornada de Rosette Christopher e Chrno, respectivamente uma humana e um demônio em busca do irmão da garota, pego por um demônio com quem seu amigo teve ligações no passado. A história se passa nos Estados Unidos, perto do final dos anos 20, um pouco antes do crash de 1929, justificando assim as vestimentas, estilo de vida, ambientação e nomes dos personagens em maioria ocidentais que são mostrados, e de destaque neste cenário temos a Ordem de Magdala, um grupo religioso que combate demônios e resolve casos sobrenaturais na base de armas e apetrechos criados por eles.

Há um clima sombrio que revela muito das atrocidades e sentimentos ruins que nós, seres humanos, não admitimos abertamente. Analisando a história, vemos que isto é influência dos demônios que aproveitam a época de prosperidade sem limites do país, e nisso a obra mostra parte dos podres que uma pessoa tem e enfatiza o quanto o tempo é precioso. Este ponto do tempo é o elemento mais importante da obra, pois do começo ao final ele é ressaltado em diversos momentos, sejam bons ou ruins, com ou sem consequências dos atos e decisões tomadas pelos personagens. O leitor é posto em xeque quando este assunto é abordado, pois quem não se arrepende de alguma coisa ou de uma ação na vida? Parando para pensar, quantas vezes você gostaria de voltar ao tempo e mudar a decisão ou ação feita?

Apesar de haver momentos alegres e divertidos, lembranças boas e felizes, a obra deixa claro que o oposto disto pode nos ajudar a superar falhas e nos tornar mais maduros para a vida. Se isto vai ou não influenciar, depende da própria pessoa. Filosófico, não acham?

Em termos de traço, “Chrno Crusade” possui uma estética mais normal, sem atrativos em seus desenhos, o que não significa falta de personalidade. Algo que a trama sabe fazer bem é aproveitar isto para contar cada passo da história; a constituição de época é bastante básica, ou seja, traz o que era mais comum, sem ficar detalhando demais, fora o fato de poder dosar bem os momentos calmos/cômicos com os frenéticos/dramáticos apresentados. O design dos personagens é bem definido, caracterizando o estilo e personalidade de cada um, e as roupas adequadas aos padrões, com alguma modernidade – não é uma reconstituição fidedigna – e mostrando diferenças entre humanos, demônios e criaturas.

Já o elenco de personagens é, sem dúvidas, um dos atrativos da obra; se o traço é comum, seus personagens seguem características que retratam bem quem é quem - os clichês do gênero são presentes, mas, não são ruins quando vemos o estilo de cada um na trama, tendo cada personagem apresentado uma boa colocação e com suas histórias e participações botando ritmo ao enredo. E qual deles se destaca mais? Difícil, porque a forma que os personagens agem é entre o esperado e o inesperado, então, pode-se citar a dupla de protagonistas Rosette e Chrno.

Muito de “Chrno Crusade” se deve aos dois, que com suas personalidades e estilos, controlam rédeas do roteiro - mesmo que o título destaque mais o Chrno, a Rosette tem umas particularidades que a botam em cada enrascada e apesar do bom humor que apresenta, ela sempre diz que não gosta de ficar parada e esperar, preferindo correr contra o tempo. E a vida dela é interligada com a dele, pois todas as vezes que Chrno usa sua forma real demoníaca, mais a vida de Rosette se esvai - no mangá, o próprio conta que ela nem chegará perto dos trinta anos por causa desse pacto que foi feito. Com isso de usar seus poderes e ter a vida da garota diminuída, há certa aflição para que consigam cumprir a meta de salvar o irmão dela.



Aspectos do mangá e edição brasileira

Vindo das páginas da Kadokawa Shoten, o mangá foi publicado durante os anos de 1999 a 2004, totalizando oito volumes. Ele saiu da mente de Daisuke Moriyama, que nos posfácios é representado por um cachorrinho muito fofo que de tão folgado e preguiçoso os próprios personagens criticam seu estilo de vida, e nesse espaço ele esboça ao público como foi o desenrolar da trama e suas inspirações, situações cômicas e esclarece algumas questões da obra. A série rendeu um Drama CD e uma adaptação em anime, feita pela Gonzo no ano de 2004, fora alguns especiais protagonizados por um dos personagens - destas três produções, o anime é o mais conhecido, onde muitos puderam ter acesso às desventuras de Rosette e Chrno, visto como uma dos melhores projetos do estúdio em seus momentos de glória. E como manda de praxe, anime e mangá meio que seguiram juntos de certo modo até que se separaram, pegando rumos diferentes pra chegar ao final. Uma curiosidade é que a própria editora que o trouxe, quando dão carta branca para adaptarem seus títulos, exige aos estúdios que façam um final fechado, não importando se a obra está ou não finalizada - basta dar uma olhadinha em suas obras e verão que fecham a história e no máximo depois da versão animada, podem rolar OVAs, filmes e especiais.

Quanto a versão brasileira do mangá, foi lançada nos anos de 2008 a 2010 pela Panini, havendo distribuição bimestral e setorizada e mantendo o mesmo preço de R$9,90 durante o período em que foi publicada - chega a ser curioso notar que a editora brasileira tenha contrato com a Kadokawa Shoten, porque a quantidade de mangás vindos de lá é bem vasta. Em termos de material, foi o padrão para mangás brasileiros, trazendo uma boa tradução (como manda a editora), glossário dos termos usados - o que inclui fatos e objetos da época passada na trama - e a parte de dentro da capa e contracapa coloridas, com os personagens da série.




Depoimento pessoal sobre o mangá

Minha história com “Chrno Crusade” tem começo numa época que se comprava revistas de anime via banca de jornal: numa destas, a “Ultra Jovem” da editora Escala me fez conhecer um pouquinho da trama. E somente em 2006 é que, no meu computador todo branco, pude gravar três animes completos fora este - os outros foram“DNAngel” (shoujo) e “Matantei Loki Ragnarok” (shounen). Destes três, o que mais me marcou foi “Chrno Crusade”, muito pela sua trama e personagens, fora aquela cena clássica que se tornou notória quando se fala do anime.

Alguns anos depois, em 2008, quando ia a uma lan house da minha cidade, num site de notícias de animes e mangás, soube que iam trazer o mangá. Gente, não sabem a que ponto chegou meu contentamento em ter a chance de ler a versão original de um dos meus animes favoritos - se pudesse, teria pulado de pura alegria na mesma hora que li a notícia, podem acreditar! Claro que tinha de esperar o mangá dar as caras no Espírito Santo, o que sucedeu no ano seguinte ao seu lançamento, afinal, estamos falando da distribuição setorizada que bem diferente de certa editora de mangás que me deu três mancadas – tô falando de você, JBC – veio até que muito bem nas duas bancas que costumo comprar. Os volumes seis e sete chegaram um mês antes do previsto e o último, mais de dois meses depois. Dá pra dizer que “Chrno Crusade” foi meu primeiro mangá completo que tive em mãos e minha experiência foi muito, muito boa demais.

As semelhanças e diferenças entre anime e mangá são inevitáveis, mas, diga-se que andaram bem juntas, só mudando uma ou outra coisa. O que tornou-se divisor de águas foram o volume quatro e episódio 18 do anime: aquele momento, pra não botar spoilers, foi onde ambas tiveram de se separar de vez. O que veio depois deu rumos diversos à trama, e me perguntam: qual dos finais você mais gostou? A meu ver, gosto de ambos, sendo que o do anime foi mais impactante - o do mangá também foi assim, só que de forma diferente, mais sentimental.

Espero que assim, entendam: se “Chrno Crusade” está no meu Top Animes no Animecote, é porque me marcou demais, tanto a série quanto ao mangá. Tenho muito a dizer para esta história e pretendo, num tempo certo, escrever uma fanfic com os personagens em nossos tempos. Até desenhei a Rosette e o Chrno com o visual que teriam nesta fanfic, mostrando o quanto gostei deles.




Considerações finais

Com uma dupla de personagens que é o impulso da história, tendo seus altos e baixos, “Chrno Crusade” não fica devendo em sua versão mangá. Aos que conheceram o anime, não vão se desapontar nas páginas da trama, que mantém o clima e ainda revela aspectos que levam ao seu final. Vale lembrar que na época, adaptações pra ganhar versões animadas precisavam ser bem receptivas e seguras em seus enredos e personagens; hoje, qualquer trama que ganha destaque muito rapidamente ou tenha vendas muito boas, sem se firmar ganham suas séries e muitas vezes, o resultado fica abaixo da média ou da expectativa do público.

Ao menos, não é este o caso: o mangá de “Chrno Crusade” é tão bom e em determinados momentos, superior ao seu anime. Não podemos menosprezar nenhuma delas, apenas ter a chance de poder saber como foram as desventuras de Rosette e Chrno antes de tudo.


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