Por Escritora Otaku
Quando menos se pensava, resolveram encerrar a série. Ao menos foram bons anos acompanhando
cada passo que Ichigo e companhia tiveram de passar, e seja a adaptação dos
arcos do mangá ou nos fillers, a minha experiência de ver um shounen
de batalha não foi simplesmente de toda em vão.
Minha história com
“Bleach” começa quando um amigo meu me passou a série pra assistir e antes de perceber, estava amarrada ao anime e daí não parei mais: vi tecnicamente
tudo, o que inclui os seus arcos fillers e os quatro filmes. Sei que tem gente
que diz que depois daquela fase fantástica, “Bleach” decaiu e não posso
discordar, mas, temos que lembrar que as melhores histórias têm seus momentos
ruins. Digo com sinceridade: amo a série, amo as aberturas, seu elenco de vozes
e principalmente, por ser um dos poucos shounen de batalha que me conquistou.
E por tantos fatores, é um dos animes desse estilo que gostei, ficando
ao lado de outros três, sendo estes “Dragon Ball Z”; “Shinjou Saikyou no Deshi
Kenichi” e “Ushio to Tora”. Só não foi
de primeira, pra aviso prévio...
Ao menos, espero que façam um dia a fase final do mangá
e quem sabe, encerrar esta história que muitos como eu e você puderam
acompanhar.
Vamos ao que
interessa que é a resenha...
*****
Ano: 2004
Diretor: Noriyuki Abe
Estúdio: Studio Pierrot
Episódios: 366
Gênero: Ação / Aventura / Comédia / Sobrenatural
De
onde saiu: Mangá, 74
volumes, finalizado
Vamos ao ponto principal: que a Shounen Jump é
especialista em shounens de batalha, sendo o tipo de história que o público
mais se identifica, até os menos informados sabem disto. Certo que de uns anos
pra cá, a revista tem passado por uma reformulação quanto aos seus gêneros, uns
tendo mais oportunidades de brilhar, outros a ficarem no limbo e o final de
algumas obras de destaque terminarem de forma sensata - fora que por ser
bastante popular e comercial, a Jump não perdoa quando as obras perdem
potencial ou tem uma péssima recepção do público e de seus editores. Para quem
acompanhou ou assistiu “Bakuman.”, dá pra termos uma ideia a respeito disso.
E uma destas séries que sofreu nesse ponto é “Bleach”,
que após ter se firmado como um dos pilares da revista, passou por poucas e
boas até sua conclusão. Um final muito contestado e a perda da popularidade
inicial; nada que outros mangás dentro ou fora da Jump não sigam por este
caminho - a questão é que chega um ponto que a obra perde interesse e
dificilmente consegue contornar a situação, após seu ápice ou como diz, a tal
fase fantástica de um arco apresentado e sua queda.
O mangá teve início em 2001, mas, pra chegar a ser
publicado foi um obstáculo: isso porque quando foi analisado, o pessoal da
revista achou a série muito parecida com um dos seus mangás, “Yu Yu Hakusho” de
Yoshihiro Togashi. Parecido por causa da temática sobrenatural e acharam que
não valia a pena publicar algo que a Shounen Jump já tinha. Claro que nem todos
eram contra e um dos jurados da época, Akira Toriyama, mangaká de “Dr. Slump” e
“Dragon Ball”, mandou uma carta de encorajamento, esperando novos trabalhos de
Tite Kubo, o responsável pela história.
A maioria que tivesse um mangá rejeitado rumaria a uma nova empreitada, no entanto, quem espera acaba conseguindo seu objetivo - e realmente Kubo teve esta sorte e a série pode ser publicada, chegando a ser um
dos pilares da Shounen Jump ao lado de mangás como “One Piece” e “Naruto”.
Certo que hoje em dia, não tem o mesmo valor desta época, mesmo assim, teve
forças pra continuar resistindo na grade da revista até que finalmente
terminou, em 2016, rendendo uns comentários nada bons, sendo o principal, a
pressa que deram para fechar a história.
O mangá veio em terras tupiniquins em 2006 e
finalizado em 2017 pela Panini e o anime começou em 2004, durando oito anos de
exibição. No Brasil foi uma das séries mais populares e mais vistas, sendo
comum numa porcentagem a maioria conhecer a animação, mangá ou ambos.
Nosso personagem principal, Kurosaki Ichigo – e sem
piadinhas do nome dele, está bem? – tem uma vida comum a de todos os jovens de
sua idade. Mora com o pai (extremamente cômico e médico) e suas duas irmãs mais
novas (a mais velha tem personalidade parecida com o irmão e é boa em futebol, enquanto a mais nova banca a cozinheira da casa e possui um jeitinho meigo de ser),e iam levando bem
suas vidinhas. Ichigo nunca foi um rapaz convencional, pois se encaixa no
perfil meio rebelde, principalmente por conta do olhar e pelos cabelos alaranjados. Só
isso convence, porque chama a atenção e consegue arranjar briga sem esforço - e junta isso com uma lembrança nada boa do passado,
que envolve a mãe dele, que morreu na sua frente, e pronto! Temos uma pessoa que
apesar de mostrar uma cara de poucos amigos, se preocupa e muito com aqueles ao seu redor.
As coisas mudam quando aparece uma shinigami, que
percebe um potencial naquele rapaz – ele via a alma de pessoas mortas - e acaba se envolvendo,
quando as irmãs deste são atacadas por uma criatura, conhecida como hollow; a
shinigami se fere e para evitar uma tragédia maior, transfere seus poderes para
Ichigo, que se torna um shinigami e consegue deter o hollow e salvar suas
irmãs. Finalmente somos apresentados a shinigami: seu nome é Kuchiki Rukia, que
veio à cidade para cumprir sua tarefa de mandar as almas para o além e deter os
hollows. Por estar incapacidade de seguir seu dever, passa a responsabilidade para
Ichigo e assim, a história prossegue...
Tudo bem, convenhamos: se “Bleach” possui um começo
muito simples e sem atrativos, a coisa esquenta quando a Soul Society, local
onde vivem os shinigamis, definem que Rukia é uma traidora e a levam para ser
julgada. Aí sim, a série passa a ter mais atrativos, quando Ichigo decide ir
pra lá e resgatar a jovem: neste ponto, a história mostra a que veio e define
de vez todo o contexto dali por diante.
A série segue todas as características que um
shounen de batalha revela: lutas aos montes, personagens mostrando suas
habilidades e evoluções de suas técnicas de combate, o valor da amizade e por
aí vai. Por isso, vamos ver suas qualidades e seus defeitos, afinal, saber o
que faz esta ou aquela série ser o que é pra quem acompanha.
O traço da obra possui um diferencial dos shounens
de batalha, por ser bem detalhista – o normal é um traço “mais simples” nos
personagens – como também o figurino, que define bem a maneira de vestir de
cada personagem da animação ou no mangá, praticamente como se o mangaká tivesse visto vários
desfiles de moda e prestado atenção na forma de vestir dos jovens, dando um
toque juvenil para sua história. Pasmem: é tudo verdade, basta ver o figurino
de qualquer personagem da série e sacar que foi uma preocupação do criador pra
dar certa originalidade. Fora que os nomes também passaram pelo mesmo processo,
tendo os de japoneses misturados com nomes em inglês e até mesmo em espanhol e
português.
A quantidade de personagens é típica dos shounens
de batalha, e ao menos o elenco feminino é um pouco mais valorizado - bem sabem que
personagens femininas em shounens ocupam apenas papéis de fundo na maioria
dos casos -, tendo vários personagens do elenco da série que entram numa lista de
favoritos fácil, fácil... De todos, os que aparecem ter mais destaque são os
que fazem parte da Soul Society, por terem personalidades e estilos dos mais
variados.
As lutas são um dos grandes atrativos de “Bleach”, e não são apenas as que envolvem o protagonista; para sermos francos, as
lutas ocorrem de forma simultânea, ou seja, quando acontece uma, outras vão
desencadeando e assim, não torna cansativo o embate principal. Sim, tem a luta
principal, mas, não significa que as outras sejam de pouca importância.
Já os defeitos...
O protagonista, para começar. Ichigo não tem o
encaixe convencional dos personagens que atuam na maioria dos shounens de
batalha: não é simpático, nem inocente e tampouco tem uma meta de vida. Junte
isso ao fato de que durante a série inteira ele usa apenas um golpe contra
seus oponentes. Isso se torna meio cansativo e chato, afinal, os outros
personagens têm muito mais personalidade que ele mesmo. Fora que desde o
começo, Ichigo esteja bastante desenvolvido psicologicamente, tendo somente
pequenas mudanças ao longo da série.
Outro problema que “Bleach” teve está relacionado
ao próprio público, que criou expectativas demais e se decepcionou com o
andamento da série. O que fazer depois de uma fase fantástica e se manter no
interesse da história? Foi o que aconteceu após o “Arco Soul Society” – 2ª e 3ª
temporadas do anime - que surpreendeu tanto o público que queriam mais. Não
dava pra continuar com aquele ritmo, nem mesmo os mangás e animes, afinal, o
máximo é manter o nível da história e ponto final.
Ser exigente em séries com clichês é pedir demais. Por
isso, depois deste arco, muitos abandonaram ela; só quem não teve este
problema pode acompanhar o andamento e ver no que deu. Os arcos seguintes
mantiveram a essência apresentada na série e sim, houve mesmo um arco fraco,
apresentado na última temporada da animação.
Isto é mais
comum do que imaginam, então, tratem de parar de criar grandes expectativas ao
assistir ou ler algo, porque a sensação de decepção vai ser pior.
Em termos de adaptação, o anime foi ágil em seguir
o roteiro do mangá e por isso, passou por episódios e temporadas fillers;
muitos querem que suas séries favoritas não tenham tais episódios, no entanto,
elas existem e não podemos simplesmente ignorar. No caso de “Bleach” estes
episódios encaixam em duas categorias: as temporadas que possuem começo, meio e
fim e de certa forma, influenciaram no contexto da animação; e os que têm
enfoque cômico e normalmente coloca os personagens em situações
constrangedoras. Fillers são ruins? A maioria sim, só não é caso
perdido, como muitos pensam, uns podem ser tão bacanas quanto o roteiro
original.
Em termos de produção, o estúdio Pierrot pode
mostrar a que veio: são poucas séries longas que mantém o traço e seguem o
roteiro original, fora que a dublagem trouxe nomes que atuam em
várias animações japonesas consagradas ou não; pode-se dizer que seguiram o
espírito do enredo e deixaram “Bleach” mostrar suas melhores e piores
características. A série teve em torno de quatro filmes e alguns OVAs, que
seguem o contexto do enredo e até revelam informações sobre alguns personagens.
A trilha sonora usada para as cenas é bastante
convencional; agora dizer sobre as aberturas e encerramentos... aí vemos outra
coisa, pois nesta parte, temos de elogiar o estúdio com as escolhas dos
cantores e bandas envolvidas. Muitos destes são conhecidos do público e trazem
a estética juvenil da animação: ao menos, algumas entram numa lista de
animesongs sem esforço. Ou já não curtiu uma destas músicas no seu dia a dia?
Os clips usados também seguem esta tendência, revelando cada fase passada por
Ichigo e companhia. Irônico que tenha sido bem produzida, porque em outros
shounens que o estúdio pegou... o trabalho chega a ser catastrófico.
Consequentemente fica a pergunta: vale ou não a
pena assistir “Bleach”?
Se for do tipo que curte shounens de batalha, vai
se sentir em casa; se for do tipo que curte personagens marcantes e clichês,
também está dentro; e sim, quem não é do tipo que assiste fillers, pode pegar
apenas os arcos adaptados do mangá sem problemas. E fazer torcida organizada
para que o último arco da obra original ganhe uma versão animada, afinal, sonhar não
custa nada.
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