8 de setembro de 2017

Entrevista com Yuuto Tsukuda, autor de Shokugeki no Souma


Aproveitando que a terceira temporada da adaptação deste popular "battle shounen" de culinária estreará daqui a menos de um mês, trago-lhes a tradução de uma entrevista que o site Anime News Network realizou recentemente com Yuuto Tsukuda, autor do mangá "Shokugeki no Souma", que atualmente possui 25 volumes publicados desde 2012 na Weekly Shounen Jump. Aliás, por certos motivos há mais de um ano que eu não fazia esse tipo de post para o Animecote, e peço desculpas por não ter levado adiante o resultado da enquete presente na última postagem, onde perguntava qual seria a próxima entrevista que gostariam de ver traduzida. Ganhou a do autor de "Shigatsu wa Kimi no Uso", mas levando em consideração o tempo decorrido já não faria mais sentido publica-la...


Enfim, quanto a essa, ela foi realizada pela redatora do ANN Rebecca Silverman durante a Anime Expo (1 a 4 de julho), que é atualmente o maior evento de animes da América do Norte. Com um início um tanto fraco, mas com perguntas finais já mais interessantes, a entrevista foi traduzida na íntegra, incluindo a introdução, havendo somente alguns adendos meus ocasionais para complementar certas informações - clique aqui para ver a postagem original, do dia 17 de agosto.



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Animes e mangás de culinária se tornaram um gênero próprio, contudo o ainda em andamento "Shokugeki no Souma" é indiscutivelmente um dos melhores títulos dos últimos anos. Com uma terceira animação estreando em breve, o mangá competitivo de culinária do autor Yuuto Tsukuda e do ilustrador Shun Saeki angariou elogios tanto pela sua arte, quanto por seus personagens e história de ritmo acelerado, não esquecendo nisso os pratos visualmente saborosos preparados por seu elenco. É também o primeiro grande trabalho de Yuuto - anteriormente ele apenas escreveu e desenhou os dois volumes do mangá de futebol "Shounen Shikku" (2010) e, recentemente, os três capítulos de "Ao no Rettou", que é sobre esqui. A mudança de esporte para comida pode não ter sido algo que ele previu, mas certamente funcionou muito bem - "Shokugeki no Souma" é hoje traduzido para vários idiomas, incluindo polonês, inglês e chinês, além de frequentemente aparecer no topo dos rankings de popularidade em seu país de origem.

A história do mangá é protagonizada por Souma Yukihira, filho do dono de um restaurante familiar (pessoa que logo revela ser muito mais do que aparenta) que se matricula na Academia Totsuki, um bastião de esnobismo e alta cozinha. Nenhum de seus novos colegas de classe espera que ele tenha sucesso, porém isso só serve para acabarem sempre surpreendidos não só por suas habilidades, como ainda por sua atitude - o rapaz não se importa com quem você é ou de onde veio, apenas está nesse lugar para melhorar seus dotes culinários. Combinando uma estética de série esportiva com pratos interessantes (dos quais alguns é possível preparar em casa com as receitas que são incluídas na obra), "Shokugeki no Souma" é divertido seja no anime ou no mangá graças ao seu protagonista carismático e uma variedade envolvente de personagens e comida.

Nós nos sentamos com Yuuto Tsukuda no Anime Expo para discutirmos sobre como ele e Saeki trabalham juntos e quais os desafios de se escrever tal história.




ANN: "Shokugeki no Souma" é o seu único mangá voltado a culinária - as suas outras histórias envolvem esportes, nesse caso futebol e esqui. O que lhe fez decidir na mudança de tema para este mangá?

Yuuto Tsukuda: Na verdade isso foi criação do Saeki-sensei, o ilustrador. Ele veio com a ideia de uma garota se alimentando, e ela se expressaria sobre a comida com "êxtase". Claro, Saeki-sensei é um desenhista, quer se concentrar em desenhar mangás e precisava de alguém para inventar a história em si, e foi aí que recebi uma ligação.

Ele estava um ano a frente de mim na faculdade, e uma vez que eu soube dessa ideia tudo foi se formando sem grandes dificuldades visto que já nos conhecíamos. Há muitos mangás conhecidos de culinária que vieram antes, tais como "Oishinbo" (seinen publicado desde 1983 e com atuais 111 volumes) e "Mister Ajikko" (shounen com 19 volumes lançados entre 1986 a 1989), por exemplo, logo me desafiar na abordagem desse tema num mangá foi na verdade bem divertido.



Embora cozinhar não seja um esporte, vê semelhanças entre isso e a culinária competitiva (como esses programas da TV) ? Você veio deliberadamente com a ideia de "shokugeki" na história - junção das palavras "" (shoku), que significa comida, e "" (geki), que significa um tipo de lança - para trazer competições esportivas à mente, e neste caso chamaria "Shokugeki no Souma" como um mangá de estilo esportivo?

O primeiro editor do mangá mencionou que era difícil definir números para comida, como se fosse uma pontuação, logo seria complicado inseri-lo no contexto de esportes competitivos. Por exemplo, você terá juízes para patinação artística, porém quando trata-se de comida é algo extremamente subjetivo - uma pessoa pode dizer que é boa, enquanto a próxima falará que é ruim.

Competições esportivas vieram à mente apenas quando estávamos trabalhando no arco "Stagiaire" (volumes 13 e 14 no mangá, e últimos episódios da segunda temporada do anime). No momento em que os clientes sentam-se à mesa é que a disputa começa, então é baseada no tempo, tem de prestar atenção no relógio - neste caso o mangá foi sim um pouco mais orientado ao esporte.

Já Morisaka, que é nosso consultor de alimentos, diz que "comida é esporte" por ser algo físico.




O quão você se envolve como escritor em relação às ilustrações? Sente que ter uma pessoa diferente cuidando da arte lhe dá mais tempo para focar na história?

No início eu dava ideias ao Saeki e ele também fazia o mesmo comigo, era uma troca constante de informações - já hoje nós dois e o atual editor Ueno discutimos o tanto quanto possível sobre a história. Eu e Saeki temos um respeito mútuo pelo trabalho um do outro; por vezes ele me dá alguma inspiração, enquanto de minha parte verifico seus rascunhos, contudo as únicas sugestões que tenho dado ultimamente são pequenos detalhes como "Você pode adicionar um pouco de suor aqui?" ou "Pode colocar uma pequena marca de raiva?", coisas desse tipo.

Para ser exato, houve momentos em que não conseguiria ter fechado algum capítulo sem a contribuição do Saeki, então nesse sentido sequer haveria "Shokugeki no Souma" se não fosse por ele.


Você tem um estilo de culinária ou comida típica de outros países como favorito? Caso não pudesse se alimentar de pratos japoneses, qual gostaria de comer a maior parte do tempo (comida chinesa, indiana, mexicana etc)?

Nem quero pensar nisso! A resposta é japonesa (risos). Nesse instante tenho me interessado bastante por comida tailandesa, em particular os pratos que possuem coentro - também sou adepto a culinária italiana, pois há uma boa variação de frutos do mar. E ainda amo cerveja - então topo qualquer coisa que caia bem com ela, como um hambúrguer.

Houve certa vez, uns 3 ou 4 anos atrás, em que eu viajava pela França enquanto ocorria por lá uma convenção. Até aquela ocasião estava me alimentando com pratos franceses, já que me encontrava na França (risos), então fui a essa convenção pensando "Sou de boa com comida francesa", porém nela estavam distribuindo flocos de bonito secos. Uma mordida bastou para que me fizesse refletir "Oh, culinária japonesa é ótima!". Eu tentara até ali agir com a ideia de que estava bem sem pratos japoneses, mas a quem queria enganar?




Por vezes é dito que a cozinha é o coração de uma casa. Acha que isso é verdade? Qual papel você imagina que a comida desempenha em nossas vidas? É algo que tenta (ou ainda tentará) incorporar em "Shokugeki no Souma"?

Refeições caseiras se tornam mais significativas depois que crescemos e saímos de casa. Enquanto estamos num lar familiar nos encontramos em um ambiente protegido, que é tudo o que conhecemos - porém, uma vez que saímos e nos apoiamos por conta própria elas assumem um significado novo. Ao crescermos ficamos expostos a diferentes comunidades, diferentes amigos - acredito que é aqui quando você também adiciona uma camada à sua identidade e recontextualiza a comida que costumava comer em casa.

Está é uma boa pergunta porque para o Souma, o mundo dele se resumia ao restaurante - mas uma vez que sai de casa é quando começa a compreender melhor. Ele agora possui uma base de comparação para o restaurante, e isto acaba atingindo o cerne do que é "Shokugeki no Souma".


Como foi decidido que Shinomiya seria o personagem a obter seu próprio mangá spin-off? (ele está falando de "Shokugeki no Souma: L'étoile", que é publicado desde 2015 e atualmente possui 3 volumes) Caso pudesse escolher qualquer outro personagem para fazer o mesmo, qual seria ele, e por quê? (e algum dia nós veremos um mangá das "Magical Girls Cabbage" baseado naquela reação?)

(a citação em parênteses é a esta cena do episódio 11 da primeira temporada)

"Shokugeki no Souma" já recebeu uma versão light novel por meio da Jump j-Books no Japão ("Shokugeki no Souma: à la Carte!", 4 volumes desde 2014), cujos editores se encontram no mesmo andar dos editores da Weekly Shounen Jump. Eles nos abordaram com "Nós gostaríamos muito de ter a história do Shinomiya no centro disso", e por fim um chefe imaginativo da j-Books falou que "Podemos colocar um spin-off na light novel e em seguida fazer um mangá também!".

Quanto a última parte - se os fãs quiserem, então a chefia acima pode seguir com a ideia! Tem de haver demanda!

(a propósito, bela ignorada na segunda pergunta, né...)


Como você chega às reações na hora de experimentar alguma comida? Você pensa em como o prato lhe faria sentir, ou é mais uma questão a respeito do que causará maior impacto ou será mais engraçado aos leitores?

O que passamos é equivalente a um jogo de inspiração com palavras - uma pessoa diz certa palavra, então a próxima diz outra se inspirando na que acabou de ouvir. Nós três fazemos muito isso enquanto discutimos sobre a história. Por exemplo, com o prato de Takumi Aldini, ele preparou um pato que foi manifestado por meio daquele tenor vestindo uma fantasia dessa ave (clique aqui para ver a cena, que faz parte do segundo arco do anime e mangá); então isso foi vagando por "Italiano... Ópera... Pavarotti... La traviata... Turandot... Nessun Dorma..." e etc. É como um jogo livre de associação. Este é o nosso processo, em como criamos as reações que veem no mangá - entre essas palavras que vamos jogando nós pegamos aquelas que são inesperadas, mas que farão os fãs compreenderem nosso raciocínio.


Há muitos debates online sobre quem seria melhor para o Souma (ou apenas melhor no geral), se Megumi ou Erina. Você gosta mais de uma delas do que da outra? Cria-las como opostos foi algo proposital por razões românticas ou somente para mostrar que Souma trata todo mundo de maneira igual?

Então, havia um tema secundário quanto a "sim, vamos ver quem será a futura namorada ou esposa do Souma", mas à medida que a história vai acontecendo percebemos a personalidade dele - o Souma não entende de romance. Ele apenas foca em cozinhar. Havia a intenção inicial, mas nos descarrilhamos dela.

Pessoalmente, no começo eu ficava do lado da Megumi, porém conforme ia escrevendo mais sobre a Erina fui me apegando melhor a ela, então não sei dizer.

Não tinha realmente pensado nisso quanto à maneira em que Souma é mostrado tratando todo mundo sem distinções - mas agora que mencionou, é algo que já vem da personalidade dele!


Você decidiu as origens dos personagens com o intuito de incorporar com maior facilidade diferentes ingredientes e pratos regionais? (Megumi sendo do norte, os irmãos Aldini da Itália...)

Como mencionei antes, sim, eles têm esse papel de estimular o Souma, já que o rapaz está saindo de seu próprio mundo. É parcialmente para instigar o personagem. Além disso, no Japão, a maioria dos meus leitores se encontram entre o ensino médio e a faculdade, logo espero apresentar estes pratos a eles para que mais tarde em suas vidas possam dizer "Oh! Eu me lembro desse prato, ele foi mostrado em "Shokugeki no Souma!". Eu ficaria bem feliz em ver isso.


Você escreveu os três capítulos de "Ao no Rettou" durante a publicação de "Shokugeki no Souma". Foi um desafio fazer os dois em simultâneo, ou se mostrou uma boa pausa para escrever sobre personagens diferentes em outra ambientação?

Estou surpreso e feliz por ver que conhece "Ao no Rettou"! Na ocasião, enquanto trabalhava com "Shokugeki no Souma" eu meio que cheguei a um beco sem saída, e o editor anterior, o Sr. Nakaji, me encorajou a dar uma pausa e seguir uma história diferente. "Por que não escreve um one-shot?", mas eu acabei tendo mais ideias e fiz a segunda parte - então, ele me disse enquanto a escrevia: "Se você tem mais ideias, porque não faz um terceiro capítulo?". Era para ser só uma parte, mas segui adiante. O Sr. Nakaji sabe como me manipular muito bem, e foi assim que "Ao no Rettou" veio em cena (risos).


Há algum tópico do qual gostaria de fazer um mangá a respeito no futuro?

Gostaria de escrever um mangá onde alguém morre. Ninguém morre em "Shokugeki no Souma"!


Alguém em específico?

(risos) Eu não pensei sobre o tipo de pessoa, mas quero fazer algo diferente de "Shokugeki".


Muito obrigado pelo seu tempo. Você tem alguma coisa que gostaria de contar aos seus leitores da língua inglesa?

Quando comecei "Shokugeki no Souma" não imaginava que alguém fora do Japão fosse dar-lhe atenção - e pessoalmente, até eu começar a trabalhar nele nunca tinha saído do pais. Estou muito agradecido pela minha audiência internacional, eles agora fazem parte da minha comunidade. Estou exposto a mais pessoas e culturas, e isto influenciará na forma como escrevo. Por favor, que continuem desfrutando do universo de "Shokugeki no Souma"!



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Clique aqui caso queira visualizar outras entrevistas traduzidas.

Recomendação de leitura: "Especial: 7 mangakás de obras hentai [+18]", onde cito Shun Saeki, desenhista de "Shokugeki no Souma" que antes disso era autor de doujins e mangás adultos.


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