21 de agosto de 2016

Entrevista com os produtores japoneses e os dubladores americanos de Boku no Hero Academia





Enquanto o Animecote não passa por um período dos mais favoráveis devido à falta de tempo da maioria de seus colaboradores, trago-lhes mais uma entrevista traduzida do site Anime News Network, dessa vez focada no popular "Boku no Hero Academia" - mangá publicado desde 2014 na Weekly Shounen Jump, e que recentemente teve sua primeira série de TV produzida pelo estúdio Bones.

Tal entrevista se passou durante o Anime Expo (1 a 4 de julho), que é hoje o maior evento de animes da América do Norte. Com algumas respostas bacanas, mas nada tão aprofundado, os participantes dela foram dois membros da equipe de produção do anime e dois dubladores da versão americana, que serão apresentados logo abaixo. A entrevista foi traduzida na íntegra, incluindo a introdução - clique aqui para ver a postagem original, feita pelo entrevistador Jacob Hope Chapman.

Além disso, no final da postagem há também uma pequena enquete onde pergunto qual entrevista gostariam de ver traduzida nas próximas semanas, todas também publicadas no ANN.



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No Anime Expo deste ano nós tivemos a oportunidade de falar com a equipe japonesa e o elenco americano de "Boku no Hero Academia" - nesse caso o diretor Kenji Nagasaki ("Classroom Crisis", "Gundam Build Fighters"), o produtor Wakana Okamura e os dubladores Justin Briner (protagonista Midoriya) e Chris Sabat (herói All Might), todos reunidos em torno de uma mesa para compartilhar suas experiências de trabalho nesta produção emocionante.


ANN: "Boku no Hero Academia" é uma série shounen de longa duração com muitos capítulos no mangá, e normalmente essas histórias não são adaptadas com uma animação de alta qualidade em "split cours". Qual é a sua filosofia de produção na adaptação de um mangá longo tendo os padrões de animação do Bones?

Wakana Okamura: Quando comecei a tomar conta desse projeto, a fim de criar sua versão animada, eu vi o potencial que ele tinha para se tornar um sucesso. Sei que animes dessa demografia tendem a não possuir uma qualidade alta na animação, porém vi algo diferente aqui, vi que esse anime poderia ser tanto de alta qualidade, quanto shounen - por acreditar que seria capaz de alcançar um público mais amplo, indo de crianças a adultos, é que desde o início foquei em fazer uma animação shounen de nível excelente. Eu trabalhei com o Bones no anime "Kekkai Sensen"; esta obra é voltada a um público mais velho, contudo reparei no talento do estúdio em criar um shounen de qualidade tão grande que possa ter um alcance maior nacional e internacionalmente. Esta é uma das razões em ter escolhido o Bones para este projeto, e também o motivo de ter pedido essa visão ao diretor.

Kenji Nagasaki: Como o próprio nome diz, Bones – é dito que o estúdio foi nomeado com a intenção, ou com a mensagem, de que eles queriam produzir animes com um núcleo e estrutura fortes. A equipe que reunimos, que se inscreveram para este projeto, também tem a mesma filosofia de criar um grande anime com um núcleo forte, então apenas montando esse grupo de pessoas elevou a exigência de se fazer uma animação de maior nível. Logo, este também é outro fator.


Do ponto de vista em dirigir este material, como se sente a respeito de longos hiatos entre as temporadas? É algo mais fácil ou difícil para você?

Nagasaki: Na verdade, há uma pausa para que possamos ter tempo de trabalhar no projeto e não diminuir seu nível - essa é uma das razões pelas quais há esse intervalo entre temporadas, para que assim possamos pegar o que aprendemos no anime anterior e tornar o próximo melhor, avaliando e ajustando o que for necessário.


Você falou sobre uma audiência global para "Boku no Hero Academia". Isso é interessante porque fãs norte americanos gostam de animes por serem algo bem diferente do que vemos por aqui, porém há nos Estados Unidos um monte de desenhos com super-heróis. Ao produzir um anime de super-herói que se parece muito com obras da DC ou Marvel, você pega mais influências de animações americanas? O que acha que faz "Boku no Hero Academia" se destacar como anime comparado com eles?


Nagasaki: Como deve saber, o autor original (Kouhei Horikoshi, imagem ao lado) é um grande fã de heróis de quadrinhos americanos, e All Might foi criado reunindo partes e partes desses mesmos heróis. Contudo, a história de "Boku no Hero Academia" não é exatamente uma trama tradicional de super-herói, que seria salvar o mundo: Ao incluir todos estes diferentes personagens, é mais uma jornada para cada um deles se tornar seu próprio herói, logo nesse sentido ele é bem shounen. Tal mistura produz algo especial tanto no anime quanto no mangá - de certa forma, há os super-heróis americanos dos quadrinhos, porém com um tempero japonês. De todo modo, o personagem All Might em si é obviamente influenciado por esse gênero.


Por ser a primeira adaptação animada do mangaká Horikoshi, como foi trabalhar com ele para trazer esse mangá à vida? Foi diferente atuar com alguém que nunca teve antes uma obra sua adaptada?

Okamura: Ele estava muito, muito animado a respeito desse anime.

Nagasaki: Bastante animado!

Okamura: Todo mundo que trabalha nesse projeto é um grande fã do mangá, principalmente o desenhista de personagens, o Umakoshi - ele até pediu um autógrafo do autor quando se encontraram! Ele (o autor do mangá, Kouhei Horikoshi) também é fã da versão animada, assistindo o anime antes de ir ao ar e desenhando alguma ilustração original somente para promover a série pelo Twitter e coisas assim. É uma ótima pessoa para se trabalhar.


(Obs: Okamura falou isso, porém o tweet pego e exibido pelo ANN na matéria foi o de uma ilustração de Horikoshi para divulgar o capítulo 94 do mangá)


Okay, essa será para todos. Se você tivesse um "quirk" (termo usado na obra para os poderes que os personagens possuem), qual seria?


Okamura: Gosto muito da Hagakure, a garota invisível (risos). Seria ótimo se eu tivesse o poder de me tornar transparente, para que assim pudesse esgueirar-se pelo estúdio Bones a fim de ter a certeza de que tudo está no cronograma e todos estão trabalhando.

Chris Sabat: Pegou minha resposta - bem, não seria para esgueirar-se no estúdio Bones, mas enfim...

Nagasaki: Então eu gostaria de ter um quirk que cancelasse todos os outros, no caso do Okamura se aproximar de mim com esse poder.

Justin Briner: Acho que gostaria de ser capaz em deixar meu cabelo crescer de tal forma que, sempre que você o olhasse, ficaria fascinado, hipnotizado por ele. Eu deixaria crescer um afro imenso que seria visível a milhas e milhas de distância - assim que focasse seus olhos nele, estaria sob meu controle.

Chris: Seu cabelo seria uma espécie do poder de encanto que os vampiros possuem.

Justin: Exatamente, isso mesmo. E você não conseguiria desviar o olhar.

Chris: Pode licenciar essa ideia, se quiser.

Okamura: Poderíamos colocar um personagem como esse na sala de aula ao lado,


Mas aí o afro dele cobriria o local inteiro!

(risos)

Chris: Ia citar invisibilidade. então vou pegar outro que tinha pensado, que seria a habilidade em parar o tempo a fim de sempre chegar na hora para qualquer ocasião. Eu também iria em lugares onde não deveria, sei lá - é provável que me metesse em um monte de confusões, porém ninguém ia ficar sabendo quem é o culpado, logo seria legal. E o meu nome de super-herói poderia ser Frank; pegaria um nome bem sem graça apenas porque não gostaria que ninguém descobrisse esse meu poder.


Todo mundo viria tipo "Seu poder é algo interessante?" e você só diria "não" e nunca iria explica-lo.


Chris: "Boku no Hero Academia: A Jornada de Frank". Aliás, eu queria mencionar algo a respeito de uma pergunta anterior sobre super-heróis - quanto a comparar esta versão com outras - que eu achei interessante e só fui pensar nisso ontem: ao contrário dos super-heróis da cultura ocidental onde o padrão é a pessoa obter um pouco de certo poder ainda oculto, se tornando mais forte conforme o tempo passa, aqui temos mais o caso de alguém conseguir esse poder todo de uma só vez, e em seguida precisando aprender a usa-lo em pequenas doses para que não acabe ocasionando a sua própria morte.


Eu não tinha pensado nisso, mas chega a ser interessante; eles estão entrando numa escola para aprender a se responsabilizar por este dom que lhes foi dado. Considerando que vários quadrinhos norte-americanos são um tanto no estilo de "Dragon Ball Z", no qual há níveis crescentes de "Eu estou ficando mais forte" e você apenas meio que faz o que quiser com ele, neste caso é como se a sociedade tivesse lhe dado isso e agora é o seu dever em...

Chris: ... em usa-lo corretamente e não dizer a ninguém como o conseguiu. Creio que há exemplos em quadrinhos ocidentais, seja você caindo num tanque de líquido radioativo e se transformando num herói ou então sendo mordido por uma aranha ou coisa parecida, em que nesses casos eles nunca tiveram um mentor ou alguém para dizer "Oh, sim, foi assim que conseguiu seu poder e é desse modo que ele funciona, só não o use por inteiro agora".


Gostaria de perguntar ao Justin. Que nem o Bakugo é rápido para lembrar disso sempre que possível, o Izuku é um nerd; você também se considera um e se identifica nisso com Izuku? E o que acha que este tipo de herói tem de diferente dos outros personagens que já dublou?



Justin: Eu me identifico bastante com o personagem de Izuku - a nerdice dele é equiparável à sua forte paixão por heroísmo e toda essa era de super-heróis em que vive. Não acho que sou tão fanático igual a ele em relação a esse tema, porém é fácil compreender como admira tanto o All Might e outros heróis, logo consigo me identificar nisso comparando com minha adoração e sentimentos pelo trabalho que faço e o que gosto de fazer como hobby.

Imagino que o que separa Izuku de outros líderes shounen semelhantes é como, logo de cara, mostram que ele se distingue do demais - inclusive seus colegas - por conta de seu estudo e conhecimento, sendo rápido em se adaptar a qualquer situação e já tendo um plano preparado. Considerando que vários outros protagonistas são do tipo "Siga seu coração! Deixarei meus instintos me guiar!", o Izuku sempre tem um instinto, porém isso é apoiado por anos de estudo e observação do mundo dos super-heróis. Eu acho isso ótimo.


Sim, ele é um planejador. Então, Chris, o All Might possui duas vozes e dois modos de ser. Você considera um dos dois como sendo mais verdadeiro do que o outro? O quão do All Might real é colocado em cada um deles?


Chris: Pra ser honesto, isso foi refletido bastante; eu e Colleen Clinkenbeard (dubladora americana de Momo Yaoyorozu) passamos muito tempo debatendo sobre o tom de sua voz. Antes de tudo, julgamos que a do All Might é totalmente fingida - aquela é sua voz de trabalho, que ele usa para deixar todos felizes, para fazê-los sentir que ele é maior do que a vida em si. Seu tom ao falar com Izuku é provavelmente o mais próximo do que seria sua voz real.

A parte mais difícil pra mim é que, após atuar como Zoro ("One Piece"), Vegeta ("Dragon Ball") e Kurogane ("Tsubasa Chronicle"), personagens que fazem parte de um grupo, mas tem uma visão meio apática do mundo - o estilo de herói relutante "Ah, tanto faz, parece que terei de acompanha-lo" -, você tem de se esforçar para ter a certeza de que a voz do "No Might" (o dublador chama assim mesmo a versão frágil do All Might; por não ter lido muito do mangá eu confesso que não sei se é um apelido que surge mais tarde ou somente invenção sua) não soe como se ele estivesse entediado ou não se importasse. O personagem precisa parecer entusiasmado, mas só um pouco cansado - ele ainda é um herói de qualquer modo, apenas se encontra tão desgastado na sua forma No Might que não consegue se expressar melhor. Adoraria conhecer mais de seu passado, porque neste ponto nós não sabemos nada disso. Quem lhe deu esse poder? Não sei dessas coisas.



Certamente estão planejando algo no futuro focado no seu machucado - ele age como "Bem, isso não foi causado pelo Toxic Chainsaw, foi outra coisa". Creio que é de propósito, eles deverão trazer isso à tona. Será interessante. (Obs: no primeiro capítulo do mangá, quando Izuku e All Might se conhecem, o herói mostra e fala sobre seu ferimento. Também não faço ideia se a esse ponto já foi revelado algo a mais a respeito disso)

Chris: Oh, entendi, que bom. Obrigado.



Então, você já está nesse momento há mais de um ano envolvido no programa de dublagem (da Funimation, a maior distribuidora de animes da América do Norte). Queria saber como esse processo está indo. É tranquilo, e qual seria o planejamento para seguir em frente com tais projetos?

Justin: É uma perspectiva muito interessante pra mim, pelo menos, porque quando comecei nisso, quando comecei a trabalhar com a Funimation, eles já tinham projetos de dublagem em andamento, e investiam muito tempo e energia para que isso se tornasse realidade (desde 2014 a empresa dubla a cada temporada alguns animes para o inglês semanas depois de serem exibidos no Japão, e os disponibiliza em seu canal de streaming para os assinantes do plano principal, que custa US$ 7,99 por mês). Olhando para trás e comparando o período que cheguei com o agora, o processo é definitivamente mais coeso; não diria que é tão diferente assim, pois o local é o mesmo e os diretores também - e eles fazem um ótimo trabalho o tempo inteiro -, contudo a cada temporada, a cada novo anime, você é capaz de conseguir novas dicas e truques que deixam o processo mais fácil e fluído para todos. Estou hoje tão acostumado a participar desse programa de dublagem, que chega a ser um tanto estranho quando preciso realizar uma dublagem normal de home video.

Chris: O programa de dublagem traz um misto de emoções entre os diretores e atores da Funimation, mas menos entre esses últimos, já que eles recebem trabalho regularmente, o que é muito bom. Já os diretores, e sendo um deles consigo entender e relatar isso, ficam frustrados porque você não tem conhecimento da história por inteiro, e não sabe também, no caso de escalar uma pessoa em certo episódio em determinado papel, se seu personagem será importante. Não sei se preciso usar nesse momento a voz de Michael Tatum (dublador do personagem Tenya Iida em "Boku no Hero Academia"), ou deveria tê-la deixado para quando houvesse um melhor uso para ela - é complicado, mas pessoalmente eu gosto disso, amo esse desafio. É como se estivéssemos trabalhando em uma série da HBO ou algo parecido, na qual até os atores e diretores não têm noção completa do roteiro, pois não foram informados sobre isso. Enfim, estou realmente animado, e espero que esta tendência continue.

Você estava mencionando antes se "Boku no Hero Academia" poderia sobreviver a um período de nove meses (não consegui descobrir se ele fala da exibição da segunda temporada no Japão, cuja data de estreia ainda não foi oficialmente confirmada), e eu acho que, se séries como "Game of Thrones" ou "Lost" podem fazer isso, julgo que estamos entrando em um período onde, contanto que haja um versão legendada para assistir na ausência de material novo, os fãs permanecerão fiéis, esperarão e estarão animados por mais. Pode vir uma época em que animes terão temporadas iguais a outros tipos de mídias (é meio exagerado ele pensar de tal forma considerando como funciona esse mercado no Japão, mas okay).


As coisas estão se movendo nessa direção - certamente o Wit Studio estava contando com isso para "Shingeki no Kyojin", porque já fazem três anos, e chegará a quatro entre uma temporada e outra (o primeiro anime é de 2013, e sua continuação está prevista para abril de 2017).

Chris: Meu Deus. É melhor que seja algo grande.


Eu acho que essas são todas as perguntas que tenho a fazer, então, obrigado!

Chris: Valeu, cara.

Justin: Muito obrigado.


O produtor e o diretor gostariam de deixar uma mensagem para os fãs americanos de "Boku no Hero Academia"?


Nagasaki: Para a segunda temporada nós estamos em ritmo acelerado para adicionar muitos novos vilões e heróis, então, aguardem por isso.

Okamura: Após a primeira temporada servir como cenário para os personagens começarem sua jornada, a continuação se aprofundará melhor no desenvolvimento dos mesmos e suas aventuras, e também introduzirá super-vilões. Por favor, ao assistirem o primeiro anime e quando começarem o novo, gostaria que os fãs desfrutassem do crescimento deles.

Muito obrigado.




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