20 de outubro de 2015

Resenha: Neon Genesis Evangelion


Ano: 1995
Diretor: Anno Hideaki (Gunbuster, Nadia, Re: Cutie Honey)
Estúdio: GAINAX
Episódios: 26
Gênero: Ação / Aventura / Drama / Mecha / Psychological / Sci-Fi
De onde saiu: Da mente brilhante e perturbada de Anno Hideaki


Por Xbobx


Ao se escrever uma resenha, um dos objetivos principais que nós como escritores temos é responder de forma satisfatória a pergunta:
Por quê devo assistir essa série?

Claro que antes de poder responder a essa pergunta, antes temos que de alguma forma mostrar:

Por que devo perder meu tempo lendo isso?

Quando se trata de um anime tão popular quanto "Neon Genesis Evangelion", muitos escritores (e diga-se de passagem, youtube “reviewers” também) usam uma técnica fácil, mas sem muito valor. Se parte da premissa que:
“Todo mundo deveria assistir EVA” e dessa forma “Você deve ler essa resenha por esse motivo”.

Parece meio estupido? Pois é, é sim.
É fácil escutarmos que EVA é um MUST para qualquer fã de anime, é que "é um marco da indústria", "mudou o estilo do mecha", "quebrou barreiras” e até que alguém deveria assistir por simplesmente ser um anime “obscure”. Mas e daí? O que tem de mais nessa história pra ser tudo isso? O que dá a uma série a qualidade de ser CULT afinal?
Não descarto nada disso que dizem por aí, afinal concordo com muitas das afirmações, mas se for responder a pergunta fundamental “Por que devo assistir essa série?“ prefiro dizer algo muito mais simples, muito mais fácil e universal:

PORQUE É BOM!
É engraçado, emocionante, dramático, misterioso e complexo. É divertido! É entretenimento!
Por trás de todo o CAOS psicodélico, psicológico, psicoalgumacoisa que você provavelmente já escutou sobre essa série, existe TAMBÉM um fighting shounen comum, com robôs gigantes batendo em bichos gigantes!
Godzilla moveu milhares aos cinemas quando estreou, e não havia nada além de uma promessa de um bicho gigante destruindo NY. A qualidade dos efeitos era baixa, o orçamento nem chegava aos pés de um filme de hoje em dia, e ainda assim, multidões saiam dos cinemas alegres comentando de como o filme foi bom.
Bom em qualidade? Bom em roteiro? Bom em precisão cientifica? Não. Mas bom.
Essa é minha resenha para uma das primeiras frases mais lidas/escutadas sobre EVA no Top 10. Evangelion não fez sucesso inicialmente por seu grande subtexto simbólico ou sua psicologia nas entrelinhas, mas sim por que na época do mecha em auge, ter uma série de qualidade média/boa com robôs gigantes batendo em monstros gigantes era o santo graal da temporada.
Para você leitor entender melhor do que estou falando, se nunca na vida ouviu falar de EVA, -o que acho difícil- aqui vai uma breve sinopse:

2015! A humanidade está em ataque por criaturas gigantes chamadas de anjos, que descendem dos céus e brotam das profundezas do oceano e trazem destruição em seu caminho.
Com um esforço conjunto de muitas nações são construídas maquinas gigantes capazes de lutar e destruir esses tais anjos, essas máquinas com forma de robôs gigantes; porém, devido a sua alta complexidade estrutural, só podem ser pilotadas por um seleto grupo de pilotos. Crianças nascidas em um determinado período e dotadas de um certo genoma especial.
Shinji Ikari é uma dessas crianças, mas a última coisa que ele quer é se arriscar em uma área completamente desconhecida em prol do “bem maior”. Entretanto, acontece que as coisas nem sempre vão como queremos, e seu próprio pai é chefe de uma subdivisão da NERV, corporação responsável por esse combate aos aliens gigantes, então Shinji não tem muita opção se não entrar na festa, dança... ou no robô.

E com isso tem inicio o primeiro de 25 episódios, com nossos heróis(?) lutando essa ameaça extraterreste(?) com robôs(?) gigantes.
Será?



É aqui que as coisas se tornam interessantes. Se EVA fosse apenas só mais um fighting shounen com coisas gigantes se batendo, não teria o sucesso que teve e não faria pseudo analistas ainda discutirem seu significado mais de 20 anos depois de sua estreia. Seria só mais um Pacific Rim da vida, com uma história fraca, suficiente somente para amarrar o contexto de coisas gigantes se batendo.
Nessa área de ação, talvez você conheça "Tengen Toppa Gurren Lagann". TTGL e EVA são bons antônimos. Sim, antônimos, não sinônimos. Apesar de ambos parecerem similares, TTGL aproximou-se de um lado fantasiástico pós-apocalíptico para justificar suas batalhas, e o orientador da história permaneceu a comédia/ação durante toda a série. Evangelion não.
EVA partiu de um inicio de ação, mas orientou a história ao redor de questões mais profundas, com personagens questionando não só as próprias batalhas como também o que os levou até ali. A história sofre uma torção surpreendente –mas sutil ao mesmo tempo- no meio da série, e o que aparentava ser um simples roteiro de filme de ação sessão da tarde, mostra que não passa de folhas numa árvore, cujas raízes mais profundas são de fato o verdadeiro enredo e intenção da narrativa. Nisso estreia a outra frase do Top10, “Evangelion é profundo/psicológico”. Sim, de fato é.
Aí surge o simbolismo tão comentado, a verdadeira intenção da história, o verdadeiro significado por trás de alguns nomes, cenas e diálogos. A verdadeira interpretação que o final deve ter, e acima de tudo, a sutil crítica emaranhada na série.

Uma parcela significativa desse simbolismo não só pertence à história mas está atrelada aos personagens.
Shinji, Asuka, Rei, Misato, Gendou. Cada um tem uma personalidade bem definida e características bem trabalhadas. É de se esperar que um romance tenha personagens bem desenvolvidos, mas ironicamente, muitos romances falham nesse quesito e não chegam nem próximos do detalhamentos que esses personagens –e alguns secundários também- possuem. Se selecionados alguns fãs -ou mesmo aficionados da indústria- e pedisse que fizessem uma análise de um personagem, não duvido que após alguns dias o resultado poderia ser empilhado em blocos de papel A4 sobre uma escrivaninha.
Intrigante, não?
Mas nada disso cabe a uma resenha discutir, e aí falham muitos autores que resolvem desenvolver sua interpretação da série num texto que deveria somente orientar alguém a assistir ou não.

Todas essas questões, todo o significado de "Evangelion", você que irá tirar por si próprio. Alguns assistem somente pela ação, que é de fato muito boa, outros já vão com essas ideias em mente e buscam os detalhes em cada episódio. Já alguns até receberam spoilers do final e querem saber se realmente é assim que as coisas acontecem.
Dentre todos os motivos que alguém possa ter para assistir "Neon Genesis Evangelion", até por ter um nome bacana que soa bem, não há nenhum que seja um motivo para NÃO ver.
É uma série que funciona para vários tipos de audiência, e por isso, merece outra frase do Top10, foi de fato um marco na seu segmento e na indústria.
Claro que o final talvez não agrade a todos, e algumas cenas talvez faça alguns torcerem o nariz, mas é uma história que funciona pra muita gente, sem barreiras de idade ou época.
Uma parcela da critica vai sempre dizer que “não é tudo isso”. Talvez não seja mesmo, mas uma coisa é inegável: A história ainda é cativante, e prova viva disso é a legião de fãs datando desde 1996 até os dias de hoje.


História de lado, há mérito também na animação e OST.
Nada mais apropriado para um anime que é tão conhecido, quanto uma abertura e ending igualmente famosos. "A Cruel Angel's Thesis" e "Fly Me to the Moon" são pré-requisitos básicos para qualquer karaokê que você queira ir em convenções. Arrisco dizer (não tenho estatísticas reais) mas devem ser poucas as aberturas que são tão conhecidas quanto essa pelos nipônicos, e tão pouco um ED com tantas paródias quanto essa.
Talvez seja pelo up-beat típico dos anos 90, ou a sequência de imagens, ou a letra fácil de decorar e pronunciar, mas essa OP gruda, e gruda feito chiclete (com banana) e vai-se tempo para sair da cabeça.
Outra proeza musical sairia alguns meses depois do filme que seguiu a série: "Komm,Süsser Tod", completaria a tríade de OST que você vai escutar ainda muitas vezes enquanto ANIME como indústria e entretenimento existir.

Final da década de 90, era o (curto) auge (e depois rápido declínio) da GAINAX como estúdio independente. Dentre as diversas fábulas típicas de Super Interessante™ que circundam essa série como uma névoa, uma se refere a animação.
Como talvez seja de conhecimento de alguns de vocês, a GAINAX passou por uma séria crise financeira durante os estágios finais da produção de EVA. Sendo assim, os últimos episódios acabaram recebendo um orçamento medíocre, resultando em cenas simplificadas e/ou reutilização de filme dos episódios anteriores.
Ao contrário do que a lógica convencional diria, isso criou um final intrigante, reforçando o lado psicológico/simbólico de toda a história... um pouco. Enquanto por outro lado, só mostrou uma severa falta de dinheiro.
Isso abriu as portas para o que seria talvez o maior “insight” da franquia, e com a GAINAX novamente no mercado, alguns anos depois seria anunciado o tal filme "End of Evangelion". Mas não como uma continuação, nem como uma versão alternativa, mas o mais próximo de uma recontagem do final, sem descartar os episódios originais. E lá se vai mais combustível para a fogueira de simbolismo.
  

Essa é uma série que fala por si só, portanto não há muito mais o que ser dito.
Como reflexão final, eu prefiro deixar a pergunta: o que torna algo Cult/obscure?
Dizer que algo é “Cult” de fato muitas vezes é simplesmente um modo de se achar superior em alguma forma quando comparado a “ralé comum” que assiste os mesmos desenhos chineses que você. Caso "Evangelion" fosse tão obscuro quanto dizem, ou tão cult quanto é classificado, como é que qualquer criança com uma camiseta de Naruto já pelo menos ouviu falar? Essa é uma definição tosca, que não diz nada se empregada fora de um contexto detalhado, e só prova que muita gente simplesmente não entendeu do que realmente EVA se trata. Há o lado simbólico, mas há também a parte clichê de todo anime de luta, mas no fundo, ainda é entretenimento.
Uma bela história, um denso e detalhado simbolismo, uma OST com covers gloriosos, fonte de MEMES para toda um folder de arquivos e os personagens mais complexados que você já viu na história dessa indústria! NEON GENESIS F***ING EVANGELION!


PS: Não assista o “Rebuild” antes da série de TV original e do filme. POR FAVOR. Essa sequência de filmes sendo lançada nos últimos anos com o titulo de Evangelion 1/2/3.33 e (talvez nesse ano) o 3+1/4/5-1/whatever não são NEM EM SONHO tão bons quanto a série original.

Para ser apreciado em toda sua glória, EVA é composto de TV series (26 eps) + filme. Só.
Todo o misticismo em torno da produção da série original importa, e os novos filmes não somente não tem “alma” como também perderam todo o ar de complexidade-mas-ao-mesmo-tempo-simples-ação que o original tinha. Virou um puro fighting shounen, e que me crucifiquem nos comentários, mas é uma porcaria quando comparado a série original. 
Depois de assistir os originais até é interessante de ver os novos filmes, mais pra tentar descobrir o que se passa na mente do Anno e como ele pretende trollar a fanbase mais uma vez, mas isso é já outra história pra outra resenha.


Nota numérica (para quem prefere essas coisas):
Roteiro & Personagens: 10 + fator Godzilla
Artwork: 8
OST: 10
Enjoyment: 8.5 (10 para alguns, 7 para outros)
Média (não aritmética): 8 (TV series), 10 (End of Evangelion)



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3 comentários:

  1. O nobre Erick Dias chutando o pau da barraca.
    Adorei o texto e concordo em quase tudo com o ponto de vista de vossa senhoria.
    Mas dizer que os filmes recentes são uma completa porcaria não é um pouco de exagero?
    Embora não tenha visto todos, devo concordar que eles estão aquém da profundidade da série original, mas espero que o Hideaki Anno continue lançando mais filmes e não chegue tão cedo a um final definitivo para a história.
    Gosto da idéia de ter novos filmes da serie, já que os considero histórias a parte. Por mim teria um a cada dois ou três anos.
    Devo mencionar que estou revendo a série ORIGINAL graças ao animecotecast de Evangelion.
    Bateu a nostalgia e resolvi rever a série + todos os filmes.
    No mais nada mais. Abraços.

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    1. Oi, Antonin Artaud, agradeço pelo comentário, mas só um detalhe: essa resenha não é minha, e sim do redator xbobx, como pode ver pelos marcadores do post e o nome dele destacado em azul antes do texto.

      Eu mesmo, desses novos filmes, só cheguei a ver os dois primeiros.

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    2. Eu já acho os novos filmes a melhor coisa de Eva que já saiu. E olha que sempre gostei muito da franquia Eva, se bem que eu já falei isso no cast de Eva =D.

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