Ano: 2012
Diretor: Masakazu Hashimoto (talento em ascensão na
P.A. Works, com participação em storyboard e direção de episódios)
Estúdio: P.A. Works
Episódios: 13
Gênero: Música / Drama /
Slice-of-Life
De onde
saiu: Animação
original
Por xbobx
"Quem
canta seus males espanta"
Já dizia
o ditado.
Para os
mais céticos, se trata de uma noção absurda. Para os crentes, tem a ver com
religião. Para os ateus e adeptos da psicologia, se trata de algo mental.
De
qualquer forma, cantar vai sumir com a fatura atrasada do seu cartão?
Não.
Por outro
lado, somos inocente o bastante para crer que todo ser humano é movido por
alguma música, canção ou melodia em algum momento (exceto os surdos. Daí é uma
ironia de mau gosto). Todos apreciamos uma boa música, e pesquisas já
comprovaram que elas melhoram o humor.
Essa é a
ideia que "Tari Tari" busca passar. Como o música está presente em
nossas vidas e que benefícios podemos tirar dela.
Antes de mais nada, é bom
ressaltar dois pontos interessantes:
Primeiro,
o "fanservice" é minimo. E quando digo minimo, é REALMENTE minimo.
Temos, é claro, o "beach episode" e alguns biquínis, mas esse não é o
foco.
Segundo,
"Tari Tari" apresenta uma história de amor, um romance, mas não entre
dois personagens, não entre um moça e um guri (nem entre duas garotas), mas sim
entre as personagens e a música.
Parece
melodrama barato de novela das 7, né? Acredite, não é!
Produção
original da P.A. Works, "Tari Tari" busca fazer uma mistura de
slice-of-life com uma narrativa de amor pela música, e me atrevo a dizer que
são bem sucedidos.
O que
acontece quando escrevemos um slice-of-life com pitadas de drama e comédia e
adicionamos uma temática musical?
Nodame
Cantabile.
Agora
adicione "cute girls doing cute stuff", o "MOE", retire
músicas, o rapaz, e adicione Azunyan:
K-ON!
Agora
misture os dois, retire o excesso de MOE, adicione 2 garotos e um setup escolar
(highschool)...
Disney's
Highschool Musical™!...
Retire os
diálogos sem nexo, a falta de coerência, as músicas e dancinhas nos momentos
errados e adicione um drama decente, um roteiro comovente e reais referências à
história da musica, seus compositores e estilos de canto:
Tari Tari.
Yeaa!
Ok... para a review:
Wakana é uma garota com talento nato para
música. Afinal, vem de uma família que sempre valorizou essa arte. Entretanto,
em seu ultimo ano do ensino médio, pediu transferência da escola de música para
a convencional.
Ela não
possui muitos amigos, para não dizer nenhum, e está sempre com uma aura
irritada/emburrada com a vida. Mas... por quê?
Na mesma
sala de Wakana temos Konatsu Miyamoto.
Hiperativa, chibi, tem paixão pela musica, mas alguns "erros no
passado" fizeram com que ela perdesse a oportunidade de fazer parte do
coral.
Com
histórias e passados bem diferentes, as duas garotas não possuem NADA em comum,
mas uma situação inusitada trará (ou não) uma nova oportunidade de trabalhar
com seus problemas e fazer novas amizades para as duas.
Considerando
a sinopse e uma visão superficial da história, "Tari Tari" não inovou
em muita coisa, ou melhor, nada. E também não quebrou nenhum estereótipo.
A
temática não é novidade, alunos do 3º ano se juntam em um clube e enfrentam o
dia a dia de estudantes normais, sob a pressão de ter que decidir sobre seus
futuros, carreiras, etc.
Todavia,
contudo, entretanto, "Tari Tari" surpreende com a forma que abordou
tais temas. Inicialmente, você é levado a acreditar que será só mais um rom-com
SoL (romantic comedy slice-of-life), principalmente com uma sinopse nesse
estilo, mas o anime se prova o oposto quando apresenta uma história sólida, bem
construída e, convenhamos, bem realista com um final satisfatório e mais
profundo que o esperado.
O valor
desse anime está no desenvolvimento da estória e na mensagem que ela passa.
Pode a
música resolver seus problemas diários? Não, óbvio que não.
Entretanto,
algumas vezes ela pode sim ajudar, servindo de apoio emocional ou
encorajamento.
Inegavelmente,
algumas peças clássicas com violinos e pianos podem carregar uma boa carga
emocional. De certa forma, elas trazem uma tranquilidade/serenidade tanto pra
quem está tocando quanto pra quem está ouvindo.
Esse é um
dos valores que "Tari Tari" resgata, e um dos quais eu tenho o mais
profundo respeito. O anime não glorifica o já repetitivo J-POP e os karaokês
que os tão ditos animes de "música" atualmente apresentam. Mas ao
contrário, recupera a definição verdadeira de um "clube de coral" em
um tom ao estilo de "Nodame Contabile" e "Corda
D'oro".
O leitor
assistiu "Beck"?
Tari Tari consegue fazer o mesmo paralelo de dia a dia com música que
"Beck", saindo da mesmice de, por exemplo, "K-ON!".
Não que
"K-ON!" seja ruim, não me leve a mal, nem que "Tari Tari"
seja elitista. O anime não tenta empurrar cultura clássica em você, muito menos
a tem como pré-requisito, mas a tem como um dos temas principais.
Além de
evocar uma boa musica ao estilo clássico, como dito no parágrafo acima,
"Tari Tari" traz mais do que isso em sua história.
Alguns
limites não podem sem ultrapassados não importa o quanto você tente, pessoas
que já faleceram não podem voltar à vida, coisas que aconteceram no passado não
podem ser modificadas e não há nenhum tipo de "magia" para provar o
contrário.
Esse
anime trata sobre seguir em frente e aceitar o presente. Aceitar que os
problemas existem e estão lá, e que o sensato é enfrenta-los na medida do
possível e não correr deles.
Como essa
review já citou varias outras séries (algo tecnicamente incorreto) vamos logo
citar mais algumas. Esse anime, assim como "ARIA",
"Haibane Renmei"
e "Non Non
Biyori" pode ser classificado como Iyashikei, uma
"healing series", no inglês healing "curar". O objetivo
dessas séries é literalmente trazer uma boa experiência para a audiência, algo
que se assista para aliviar a tensão no fim da tarde e etc.
O que a
música tem a ver com isso? Ela atua como um catalisador no processo, não
a "música" por si só, mas sim as pessoas que ela conecta e as
oportunidades que abre.
E isso
não é representado apenas no simbolismo ou metaforicamente.
Essa
ideia é explícita empiricamente no roteiro. Diferente de outras séries com o
mesmo setup, em "Tari Tari" as personagens veem a música e o
"cantar" como algo agradável, mas não só uma forma de passar o tempo,
e sim também um modo de trabalhar seus problemas. Algo que de fato quebra o
padrão desses anime no estilo "school club".
Como já
deve ter ficado claro, personagens são a alma do negócio.
Talvez se
os roteiristas não tivessem a mesma criatividade para personagens tão
diferentes e os seiyuu escalados para atuar como os tais não fossem os mesmos,
estaríamos aqui fazendo uma review de uma série medíocre.
Em um
anime sobre música, é esperado de quem dubla esses personagens que se saiba
cantar. Pois bem, a direção mistura voice actors experientes com novatos, o que
cria um belo ambiente, onde além de escutar vozes conhecidas você acaba
descobrindo novos talentos.
Menção
especial para Ayahi Takagaki,
formada em canto pela Universidade de Tokyo, faz a voz da Wakana e pessoalmente
considero a melhor escolha possível para MC dessa série.
Interessante
também que durante o anime há varias insert songs -como esperado de uma série
sobre música- mas quem as canta são os próprios dubladores das personagens,
dando uma sensação de muito mais "realismo" além de, é claro, se
misturar perfeitamente com a progressão do episódio.
"Harmony of the sea breeze", "The
melody of the Heart", "Radiant Melody"... diga-se de passagem,
belas composições.
Ainda no
tópico, P.A. Works deixa um cameo/easter egg para aqueles que assistiram "True Tears"
(produção original de 2008) com um cover da opening "Reflectia" no
primeiro episódio em formato de coral, em contraste com o estilo solo da
original.
Creio que
a esse ponto já é possível perceber minha imparcialidade em relação ao
estúdio...
De
qualquer forma, mais uma vez com
um orçamento não tão grande quanto KyoAni, SHAFT e derivados, conseguiram
produzir cenários belíssimos e muito bem detalhados tanto em larga quanto
pequena escala.
Personagens
com perfeitas simetrias anatômicas -algo realmente difícil de encontrar em uma
série com muitas garotas como MC- sem "curvas" exageradas, e aí entra
o fator que mencionei ao começo da review: pouco fanservice.
É
perceptível a atenção dada também ao "background art", o esperado de Kazuki Higashiji,
mesmo diretor de arte de "Angel Beats", "Hanasaku",
"GitS", "Piano no Mori". Uma sugestão interessante, é
depois de completar o anime, assistir novamente, dessa vez prestando atenção na
arquitetura do mesmo. Não só em grandes prédios ao fundo, mas também a pequenos
detalhes como escadarias, trens, portas (sim, portas).
Mas por
quê?
Pois a
cidade onde "Tari Tari" é ambientada existe de verdade, e as locações
são reais.
Se trata
de Enoshima, distrito de Fujisawa.
E não é uma simples "inspiração" como a P.A .Works fez anteriormente
com "True Tears" (Toyama Prefecture) e "Hanasaku Iroha"
(Kanazawa, Ishikawa Prefecture). Dessa vez eles realmente passaram para 2D
grande locações da cidade, assim como marcos e pontos turísticos.
Entretanto,
nem tudo é exatamente igual. Alguns dos cenários do anime foram criados e, por
exemplo, a escola onde as personagens estudam é fictícia. Aí que se encaixa o
comentário para prestar atenção na arquitetura.
Enquanto
em algumas cenas os animadores seguiram um traçado fiel ao original, em outras
puderam liberar sua criatividade ao máximo, com a simples obrigação de
respeitar o estilo moderno mas com traços clássicos.
O
resultado é surpreendente e digno de ser classificado como "Scenery
Porn".
Concluindo, "Tari Tari"
em termos de história inovadora ou roteiros surpreendentes, não é nada de mais.
A arte e
o OST são belíssimos mas, convenhamos, eles por si só não fazem um anime.
No fim,
"Tari Tari" em termos técnicos não é excepcional, ENTRETANTO, a
mensagem que ele passa, as personagens, os diálogos, as referências e a
conclusão são brilhantes.
Não vejo
outra possibilidade da história como um conjunto completo de personagens, progressão,
setup e clímax ter sido melhor escrita do que a forma que foi.
Personagens
acima de tudo. Creio que esta foi uma das poucas vezes em que posso afirmar ter
gostado de todos. Não há nenhum que seja irritante, repugnante, arrogante,
nada. Após certo tempo você passa a gostar até dos antagonistas, acredite.
De começo
a fim, você fica curioso e sofre/ri junto com esses jovens enquanto eles passam
por situações comuns e inusitadas em seu dia a dia. Essa é de fato a verdadeira
essência do slice-of-life, a máxima que qualquer escritor do gênero deveria
tentar obter.
Portanto,
recomendo
essa série pra qualquer um em busca de algo tranquilo -mas com pequenas pitadas
de drama- que, ao concluir, deixa uma sensação boa e um tom relaxante no ar.
Amantes da música, com certeza garantida, 100%, 10/10, vão gostar. E aqueles
não muito chegados, ainda vão apreciar plenamente a história, talvez só não
peguem algumas pequenas referências e piadinhas.
[Trivia]
Interessante mencionar que a expressão "Tari Tari" serve tanto como
uma gíria para dizer "ah, isso, aquilo ali, aquilo lá" mas também é
um sinônimo de "variedade, conjunto de varias coisas" (seja de
música, lugares, etc).
Combina,
não?
[Trivia
2] Se você coleciona OST/DVD/BluREI/Figure e etc, consegui pela CD Japan um
pack com a série em BluREI HD + o combo do Concert da Lantis com
"Hanasaku" e "True Tears" por um preço de barganha. Dê uma
olhada!
Nota
numérica:
Roteiro - 8
Artwork - 9
Som/OST/BGM
- 10
Personagens
- 8
Enjoyment
- 100xc(luz)x(massa
do sol)²³
Média: 9
Média
subjetiva pessoal e extremamente imparcial: 10000000/10
**********
Uma excelente Review, a tempos venho tomando coragem para assistir essa história, mas acredito que suas palavras "imparciais" me incentivaram a tal.
ResponderExcluirNo mais se mostra muito interessante ver um desenvolvimento diferenciado aos protagonistas, pelo que suas palavras deram a entender acerca desse show.
Obrigado pelo cativante texto