Patos irritadiços, cachorros atrapalhados, ratos
inteligentes, pica-paus bagunceiros, coelhos espertinhos; desenhos com animais
como protagonistas são todos infantis e inofensivos, isso é fato.
Ou pelo menos
era na infância, embebida em Hanna Barbera, Warner e Disney.
Pintinhos barbudos, coelhos soldados, gatos vampiros... O Japão nos traz as ideias mais ousadas envolvendo as criaturas mais dóceis, e não raramente mesclando o politicamente incorreto com um visual, à primeira vista, inócuo e pueril. Tendo todos animais como destaque, a lista desse mês pode possuir um bom número de animes direcionados ao
público infantil; porém, estes dividem espaço com obras de conteúdo mais bem
elaborado e adulto. Seja com a perversão da hamster de “Oruchuban Ebichu”, os
instintos assassinos do gato de “Cat Soup” ou a atmosfera madura do café do urso de “Shirokuma
Cafe”, estas produções nos ensinam que animais, não importando a espécie,
podem, sim, protagonizarem animações não voltadas às crianças.
O requisito usado para escolher os títulos foi de que cada
um deveria ter, pelo menos, um animal no papel principal, independente se há
humanos no elenco ou não.
...
Buta (Special)
De onde saiu: Foi
uma das quatro animações a receber incentivo financeiro do “2011 Young Animator
Training Project”.
A história: O
pai de uma pequena raposa promete dar ao filho em seu próximo aniversário um
misterioso mapa, considerado o maior tesouro da família e passado de geração em
geração. Mas, antes que isso aconteça, surgem piratas que levam embora o mapa e
sequestram a raposinha.
Espécime animal: Variados, mas os
protagonistas são uma raposa criança e um porco mercenário. O primeiro é
inútil, mas o segundo sabe lutar muito bem.
Nos vinte e quatro minutos desse especial acompanhamos uma
pequena aventura abrangendo diversos tipos de animais, de raposas e porcos a
guaxinins e cachorros. Divertido, agradável e às vezes engraçadinho, “Buta” usa
com competência e agilidade o pouco tempo que tem, e seu enredo tão básico, bobinho e
previsível de mapas do tesouro e piratas só se torna encantador por conta,
justamente, do fato de vermos animais antropomorfizados ao invés de humanos.
Como episódio único, o resultado é mais do que satisfatório
– sem falar do bonito e colorido visual, caso lembremos que novatos, com um vultoso suporte, estão por trás disso -,
e a animação causará unicamente, talvez, certa decepção em alguns no seu final
por largar no ar a impressão de que mais aventuras virão no futuro – o que, até
agora, não foi confirmado, e possivelmente nem será.
2011 Young Animator Training Project: os
outros curtas financiados nesse ano foram “Wasurenagumo”, “Puka Puka Juju” e “Shiranpuri”.
Cat Shit One (ONA)
De onde saiu: Mangá,
3 volumes, em andamento.
A história: Dois
soldados tentam resgatar reféns civis das mãos de terroristas vietnamitas.
Espécime animal: Coelhos soldados contra
camelos terroristas.
Simultaneamente um chamariz e um motivo para afastar
eventuais espectadores, “Cat Shit One” surpreende por transpor animais para um
ambiente hostil e tenso, sendo que isso ganha contornos mais graves com a ajuda
da muito bem feita animação em 3D CG. É visível seu esforço para ser levado a
sério; mas, não importa o que faça, ainda são coelhos e camelos empunhando
armas, “detalhe” que o faz ser involuntariamente cômico em certos momentos.
Escondidos, o corajoso sargento Botasky e o não tão bravo
sniper Perkins aguardam por reforços para poderem assaltar a base dos
terroristas: mas, descobrindo que eles demorarão a chegar, e vendo que os
reféns correm perigo, o destemido sargento ignora as ordens superiores e
decide, ao lado de seu parceiro, salvar os civis. A partir desse ponto
seguem-se cenas com muita ação e tiroteio, onde um coelho se mostra um perito
no que faz ao superar facilmente a desvantagem numérica – se bem que camelos
são meio lentos, né.
A música de fundo típica de um filme de guerra, as frases de
efeito ditas no calor da batalha, a superação, as tomadas em câmera lenta, a hierarquia sendo esquecida em
meio ao companheirismo... Se fossem humanos, tudo isso resultaria, de fato, em
algo pretensiosamente denso; mas coelhos dando facadas e “headshots” em camelos e fazendo tudo
com extrema seriedade – o que é lógico, porque vidas estão em jogo ali – acabam
diluindo qualquer chance disso acontecer. “Cat Shit One” é estranhamente
atrativo por essa discrepância entre elementos e personagens, e, se no início desdenhamos
e – em alguns casos – temos um mal pré-julgamento dessa animação, aqueles que
derem de ombros para tal cenário inusitado conseguirão acompanhar todo o
episódio sem tanto enfado ou descrença (mas vale ressaltar que sua trama padece do mesmo mal que toda história de guerra, a monotonia resultante da repetição).
Mesmo porque, igual a “Buta” e outros títulos presentes mais
a frente nessa matéria, ter animais no lugar de homens é o que faz uma
historinha comum e clichê se destacar e ser melhor.
Cat Soup (OVA)
De onde saiu: Mangá,
3 volumes, finalizado.
A história: Ao
tentar limpar um carrinho na banheira, um gatinho começa a se afogar e seu espírito
sai de seu corpo, perambulando pela casa. Nesse estado ele percebe um ser azul
levar embora a sua irmã, que se encontrava à beira da morte deitada em um
colchão. Indo atrás dos dois e tentando resgatar o que na verdade é a alma dela,
esta na confusão acaba se repartindo em duas, ficando o gatinho com apenas uma
parte, e a criatura azul lhe avisa que ele terá de procurar por uma flor
laranja para fazer a irmã voltar ao normal.
Salvo do afogamento pelo pai, o gatinho coloca a metade que
sobrou da alma na irmã, que fica em estado vegetativo. Agora, ao lado dela, os
dois partirão em uma viagem fantástica em busca da flor laranja.
Espécime animal: Um gatinho mudo com fortes
tendências psicopatas.
Mesmo com uma sinopse relativamente grande se comparada aos
dos outros animes daqui, “Cat Soup” carrega um enredo que pode ser entendido
sem ler nada. Nem ouvir, inclusive, pois nos trinta minutos desse OVA mal há
diálogos, e os poucos que aparecem não são necessários para se compreender
alguma coisa. A viagem que esses dois gatos traçam pode lhe impregnar com
diversas dúvidas, mas o vital é facilmente decifrado: um gatinho tentando
salvar sua irmã.
Partindo de um perturbador show de mágica em um circo, “Cat
Soup” nos presenteia com sequências surreais e fabulosas, e muitas possuem temas
ocultos e filosóficos nas entrelinhas que, para quem estiver disposto, serão
tópicos para várias interpretações. Entretanto, esse OVA pode ser desfrutado em
igual medida mesmo por aqueles que não tentarem entender nada do que ocorre, se
deliciando apenas com a criativa e inimaginável jornada dos protagonistas à
procura de uma flor.
“Cat Soup” tem um humor levemente negro e altamente
sarcástico, e seu personagem principal, ao contrário do que parece, não é nada
ingênuo nem inofensivo. Ademais, em meio a formas de vida extraordinárias e
adversidades de proporções colossais, onde sequer um possível Deus é esquecido,
testemunhamos uma animação de arte singular e excelente qualidade técnica,
mesclada a uma trilha sonora de toques excêntricos e originais. Instigante e
prazerosamente bizarro, tal OVA acaba se transformando mais em pura arte do que
em um trabalho passível de qualquer crítica profunda, visto que um fiapo de
argumento só foi um mero motivo para seus criadores soltarem totalmente a
imaginação.
Versão alternativa:
o OVA de 2001 é precedido pela série de TV de 1999, intitulada “Nekojiru
Gekijou”, composta por vinte e sete episódios de um minuto cada. Ela já contém
diálogos e segue um estilo “slice of life”, narrando a rotina da família,
principalmente a dos irmãos.
Aqui descobrimos que o gatinho se chama Nyako e sua irmã,
Nyatta - esta uma gatinha arruaceira, mal educada e violenta, mostrando-se assim
uma desastrosa influência para o irmão, que mal sabe falar ainda. Com traços
pobres, sem fundo musical e abusando de piadas escatológicas, o anime é muito
inferior ao OVA em praticamente todos os quesitos, e não há necessidade de ver
um para assistir o outro.
Masaaki Yuasa: responsável pelo enredo de “Cat
Soup”, ele dirigiu os não menos extravagantes – e bons - “Kaiba”, “Kemonozume”
e “Yojouhan Shinwa Taikei” – este último foi citado na matéria “Dez animes do noitaminA”.
Chi’s Sweet Home
De onde saiu: Mangá,
8 volumes, em andamento.
A história: Uma
gatinha perdida. Chi se separa de sua família durante um passeio com eles, e
nisso acaba conhecendo um garotinho chamado Youhei e sua mãe, que a encontram
num parque. Apesar de morarem em um complexo de apartamentos onde animais não
são permitidos, a família Yamada decide ficar com essa gatinha até acharem um
lar para ela. E assim Chi vivenciará novas experiências em sua vida.
Espécime animal: Uma gatinha filhote comum. Recomenda-se
não deixa-la em companhia dos outros animais citados nessa matéria, para evitar
más influências.
Em meio a hamsters boca suja, criaturas antropomorfizadas, pintinhos
barbudos que adoram beber e gatos mortos-vivos, a fofíssima Chi é, sem titubear,
a animal mais normal dessa lista. Ela não fala e nem deseja sangue ou uma garrafa de saquê: quer apenas brincar, comer e dormir.
Comportando-se que nem uma criança, a tolinha protagonista
desse anime pouco sabe do mundo que a cerca, e o convívio ao lado de uma
família inexperiente com animais a fará passar por inúmeras situações nunca antes
presenciadas na sua curta vidinha, que a ensinarão muitas coisas novas - mesmo
que às vezes esse aprendizado não seja lá tão correto. O que é um cachorro? Chi
não saberia explicar, mas tem noção de que é algo grande, barulhento e do qual se
deve manter distância sempre! - é o suficiente.
Ir a um lugar “terrível” onde aplicam em suas costas alguma
agulha afiada e dolorosa, se indagar e ficar emburrada com o fato de não poder
brincar e comer o dia inteiro, não entender a razão de seus donos ficarem tão
irritados ao verem-na aparar suas unhas no sofá... Torna-se uma graça acompanhar
os pensamentos inocentes de Chi a respeito desses e outros diversos fatos, e
sua fofura só aumenta com a boa dublagem de Koorogi Satomi, seiyuu experiente
em papéis de crianças e animais - tais como o chatinho Togepi de "Pokemon", a coitada Menchi de "Excel Saga" e a bebê Himawari de "Crayon Shin-chan". Ao mesmo tempo, vemos a pobre família Yamada
parecendo pais de primeira viagem, exagerando no tratamento dado ao novo integrante
da família, e ficando aflitos com banalidades como pelos espalhados pela casa e
o medo de deixa-la sozinha enquanto saem, além de tomarem cuidados extremos para
que seu animalzinho não seja visto pelos vizinhos, ou, pior, pela síndica do
prédio - a vilã da história!
Usando mão de um realismo e sensibilidade pouco explorados
em animes que tem animais no papel principal, “Chi’s Sweet Home” termina por se
transformar num caloroso, familiar e bem humorado “slice-of-life” de uma felina
filhotinha, ao exibir prazerosas histórias que passam uma sensação de bem estar
ao final de seus curtos episódios – que possuem três minutos de duração cada.
Por ser uma série longa (cento e quatro capítulos), a escassez de ideias se faz
sensível, e a qualidade inevitavelmente cai conforme percebemos que os
acontecimentos vão ficando cada vez mais absurdos e irreais – para se ter uma
noção, você brinca de esconde-esconde com seu gato? -, um evidente contraste
com o conteúdo tão próximo do banal visto no início. Mas, quem chegar a esse
ponto certamente não se importará tanto para tal mudança, pois a esperteza
crescente de Chi e suas adoráveis e cômicas trapalhadas nos fazem fechar os
olhos para esses pequenos excessos.
Continuação: com
mais 104 episódios, “Chi’s New Address” foi exibido em 2009, um ano após a
primeira temporada.
Higepiyo
De onde saiu: Mangá,
1 volume, finalizado.
A história: É
narrado o dia a dia de Haneda Hiroshi e sua família com Higepiyo, um estranho
pintinho barbudo comprado durante um festival tradicional.
Espécime animal: Um pintinho que tem barba e cujos
princípios éticos se assemelham ao de um respeitável senhor de idade. Eficiente
guarda costas contra valentões da escola.
Apesar do personagem que dá nome ao anime não possuir uma
aparência muito amigável, “Higepiyo” se mostra uma série de humor bastante familiar
e livre de censuras; mas, diferente de “Chi’s Sweet Home”, seu conteúdo não
consegue alcançar uma audiência mais variada.
Produzido em 2009, a animação singela do anime e sua
historinha são nostálgicas; basicamente, Hiroshi e seu bichinho de estimação
incomum têm como “inimigos” um mimado e riquinho valentão da escola de cabeça
raspada e seus dois seguidores bajuladores, que tentam a todo instante pegar
Higepiyo para si ou fazer alguma maldade a ele com planos discutíveis – e que
custam muito dinheiro, claro. Junto a isso, há o convívio da família Haneda,
numa casa onde um pintinho falante e de barba é rapidamente aceito sem tantas
indagações – na verdade, todos os personagens do anime não demoram a achar isso
absolutamente normal, e alguns inclusive o consideram “bonitinho”...
Se no início a família de Hiroshi conhece um Higepiyo
entediado que parece não crer mais na vida – vá saber pelo que ele passou -,
com o decorrer dos episódios sua personalidade muda e ele se torna mais
amigável e menos ranzinza, se afeiçoando aos seus donos e revelando-se um
pintinho de preceitos elevados, dignos de um grande samurai de dez centímetros
de altura. Leal aos amigos, protetor dos oprimidos e amante de saquê, yakisoba
e todo tipo de comida, Higepiyo estrela uma animação simpática e amena, que,
tendo em mente seu público alvo, mostra como único defeito significativo a
repetição de suas historinhas – em especial as que envolvem o garoto riquinho e
seus fracassos constantes. Porém, estes vão perdendo espaço conforme o anime
avança, passando a focar por maior tempo na vida dos Haneda.
Se já foi duas, que vá três logo: Romi Paku – seiyuu que citei brevemente nas duas listas
anteriores, “Dez animes no mundo da música” e “Dez animes com Fukuyama Jun” – é
quem dubla Higepiyo, dando-lhe uma voz rouca sem soar forçada. Sim, gosto dessa
seiyuu, e um dia ainda farei uma matéria sobre ela.
Meitantei Holmes
A história: Aqui,
o famoso detetive britânico e os personagens à sua volta são transformados em
cães. Resolvendo casos ao lado de seu fiel assistente Watson, o culpado por
trás de diversos crimes é quase sempre o Professor Moriarty, o maior inimigo de
Sherlock na série de contos.
Espécime animal: Cachorros, muitos cachorros,
de detetives e policiais a criminosos galantes com subalternos idiotas.
Em meio a tantos gatos, “Meitantei Holmes” é o único anime
daqui que tem um cão como representante: entretanto, ele não é um vira-lata
pulguento qualquer, e sim Sherlock Holmes, o morador do endereço mais famoso de
Londres, a Rua Baker Street 221B.
Que nem em “Buta” e “Cat Shit One”, “Meitantei Holmes” pode
ser melhor apreciado graças à ótima sacada que tem ao colocar animais
antropomorfizados no lugar de humanos. Baseado numa obra exaustivamente
adaptada para outras mídias, essa opção faz as aventuras do detetive ganharem
um ar de renovação, e, além disso, nos impele a ficarmos menos exigentes quanto
à construção do enredo e seus casos, o oposto a outros animes do gênero de
maior popularidade, como os clássicos “Lupin III” e “Detective Conan”.
Mas, mesmo convencionais, as tramas da série guardam boas
surpresas típicas de histórias policiais clássicas, que são narradas de modo
episódico e linear. O esforço do detetive particular em inocentar o suspeito
óbvio injustamente acusado pela polícia, o roubo de um artefato valioso durante
um evento, cartas com mensagens ocultas, policiais sendo retratados de maneira
caricata e incompetente... E nisso, um Sherlock mais impetuoso e ativo que o
original, um Watson imensamente leal - como um bom cachorro que é -, e um
inspetor Lestrade eternamente obtuso, mas diligente e honesto. Para uma
história de mistério, “Meitantei Holmes” apresenta uma substância considerável,
talvez precária se o cenário fosse outro, porém mais que suficientemente boa e
atraente na sua situação.
Despretensioso, o atributo principal da série é,
simplesmente, esse de seguir um roteiro enxuto, sem inventar muito no meio do
caminho. Sabemos que o culto Moriarty e seus capangas estão por trás de mais um
novo crime que agita a cidade; temos ideia de que Sherlock resolverá tudo ao
mesmo tempo em que Lestrade e seus oficiais andam pelo caminho errado; estamos
cientes de que, no final, Moriarty estará escapando com o rabo entre as pernas
– literalmente! – após ver seu plano fracassar; e, até, não criamos esperanças
de que Watson, um dia, vá criar coragem para se declarar à empregada de
Sherlock, a senhora Hudson. A previsibilidade é gigante, abissal, mas seu
desenvolvimento sucinto, aventureiro e sedutor, sem esquecer sua já mencionada
escolha em por animais no meio disso tudo, o tornam, em termos gerais,
divertido e aprazível de se ver.
Afinal, de orelhas pontudas ou não, continua sendo Sherlock Holmes.
Afinal, de orelhas pontudas ou não, continua sendo Sherlock Holmes.
Visão parcial: devido à dificuldade em achar
os episódios, o autor desse texto viu por ora somente sete dos vinte e seis
capítulos de “Meitantei Holmes” – e pessimamente dublados em italiano, para
variar. Logo, uso isso como desculpa pela falta de condições para fazer um
comentário mais esmiuçado.
Nyanpire The Animation
De onde saiu: Baseado no doujinshi “The Gothic
World of Nyanpire”.
A história: Abandonado
e à beira da morte, Nyanpire é salvo por um vampiro, que lhe dá sangue para
beber. Após isso, ele passa a levar uma vida de gato aparentemente normal com
Misaki, sua nova dona.
Espécime animal: Gato vampiro; cuidado com o
que deixa perto dele, pois bebe tudo o que for vermelho. Por ser resistente e
não morrer, é ideal para crianças que maltratam animais.
Após dois anos longe da indústria de animação o estúdio
GONZO voltou em 2011 com um anime que carrega uma ideia um tanto, digamos,
diferente: o dia a dia de um gatinho vampiro adorador de alho (?) e sangue, que
tem como amigos um gato samurai e um gato anjo pilantra. Para uma empresa que
no seu currículo consta “NHK ni Youkoso!”, “Chrono Crusade” e “Gankutsuou”,
dentre outros, o retorno realmente não foi dos mais grandiosos. E vale lembrar
que logo depois disso vieram com “Last Exile: Ginyoku no Fam” - querem falir de
novo, ao que parece...
Que eu não seja mal compreendido; não quis dizer que
“Nyanpire The Animation” é ruim, apenas que, nesse caso, ele não era a melhor
opção. Mas como a GONZO já tomou decisões bem piores, voltemos ao anime em si.
Anime do qual nem se tem muito a falar, sendo direto.
Possuidor de um humor bruto, apagado e carente de criatividade, a animação tem
como único ponto forte seus personagens bonitinhos e alguns poucos momentos
afáveis e suaves. Nyanpire não é nenhuma Chi, porém sua infantilidade e
inocência a tornam fofa, e alguns dos demais personagens também alcançam certa
graça, como o azarado gato samurai. Destaca-se ainda a sequência de
encerramento, um animado clip live-action de um minuto e meio de duração que
ocupa boa parte dos episódios, que não passam de cinco minutos.
Das séries de TV citadas nessa lista “Nyanpire The
Animation” é, sem dúvida, a mais fraca. No geral, poderá agradar somente
aqueles que estiverem procurando por algo de visual kawaii, já que o anime dá
muito ênfase em circunstâncias que exploram isso - ignorando, seja por vontade
própria ou não, quaisquer outros caminhos que seu enredo curioso poderia
seguir.
Oruchuban Ebichu
De onde saiu: Mangá,
15 volumes, em andamento.
A história: É
acompanhado o dia a dia de Ebichu, um animal de estimação que se esforça para
fazer sua dona – namorada de um homem infiel - feliz, mesmo que, com
frequência, seus atos bem intencionados tenham consequências violentas e
dolorosas – para ela, obviamente.
Espécime animal: Hamster desbocada e tagarela,
fã de sorvete e queijo camembert. Recomenda-se não receber visitas com ela por
perto. Pagando nada mais que 800 ienes na sua compra, você terá uma ótima
empregada – escrava – doméstica em tempo integral.
As aparências enganam, e não se deixem levar por esses
olhinhos brilhantes e ar puro; se o honrado Higepiyo não é o que parece, o
mesmo vale para a tapada Ebichu – de comum entre esses dois, somente a sua
criadora, a mangaká Itou Risa.
“Oruchuban Ebichu” é, de longe, o título mais pesado, vulgar
e obsceno dessa lista; mas, na mesma medida, ele é certamente - também de longe
- o mais engraçado. Com muitos diálogos sobre sexo e cenas praticamente explícitas,
esse anime sofreu para achar um estúdio que aceitasse animá-lo, visto que o
visual inofensivo escondia um teor amplamente adulto. No final, a GAINAX
(sabem, este estúdio já fez muitos trabalhos bons, num passado distante) foi a
responsável em levar essa hamster e sua falta de bom senso para a TV. Aqui a
aposta foi bem sucedida; pena que seus últimos passos tenham sido imensamente
tortos - “Dantalian no Shoka” e “Medaka Box”, por exemplo...
Ah, Ebichu lava a roupa do imprestável namorado de sua
mestra (como carinhosamente chama sua dona), e de repente acha uma marca de batom exatamente naquele lugar: ela tenta esconder, mas fala para a Mestra “sem querer” e pronto, ocorre nova briga do casal – que termina em sexo, quase sempre. Ebichu comeu o que não deveria, falou o que não podia, fez algo errado? Um soco, um chute, um lançamento de hamster em direção à parede mais próxima, e como resultado muito sangue e calos na cabeça. Assim se resume a série. Esse inconveniente e atrapalhado animalzinho dificulta ainda mais a vida de sua dona, uma mulher miserável de vinte e cinco anos solteira – algo condenável no Japão – e cujo namorado é um vagabundo mulherengo. São tantas pancadas, são tantas lesões, hematomas e maus tratos, que de quando em quando até sentimos pena de Ebichu, mesmo que muitas vezes ela faz por merecer – revelar aos berros com sua vozinha esganiçada segredos da vida sexual da Mestra, em pleno supermercado lotado? Bem, nem tem como ficar do seu lado, nesse caso.
O defeito da série não se encontra nos traços toscos e
grosseiros, como pode parecer, mas justamente nas suas piadas – ou na sua
piada, porque tudo ronda sexo e sexo. Mal entendidos da Ebichu, Ebichu e seu
vocabulário indecente, as traições e desculpas do namorado da Mestra, Ebichu
apanhando por qualquer coisa... “Oruchuban” recicla seu humor constantemente, e
em certas ocasiões faz isso a intervalos bem breves. Em todo episódio Ebichu,
em dado momento, será vista com calos ou estatelada no chão sangrando, por
exemplo: mas em alguns capítulos isso é testemunhado pelo menos umas cinco
vezes. Aquilo que causa risos no começo, invariavelmente, cansa após um tempo,
e raramente surge uma situação nova – pelo menos, esse defeito pode ser
suavizado, se a série for vista aos poucos.
Burrinha, tarada, esfomeada e heroína nas horas vagas – a
sábia Ebichuman, conselheira sexual daqueles que tem problemas na cama! –
“Oruchuban Ebichu” é grotescamente cômico e sujo, e Ebichu, apesar de tudo,
possui um pouco de fofura, bastante até. Pena – ou não - que essa fofura some
assim que ela abre a boca...
Itou Risa: “Higepiyo”
e “Oruchuban Ebichu” foram seus únicos trabalhos a serem animados; mas, além de
pintinhos e hamsters, Itou não fugiu á regra e também criou um mangá com
felinos, o “One Woman, Two Cats”. Por fim, sua carreira como mangaká se resume
às obras “A Woman’s Window” e “Hey Pitan!” – este último lhe rendeu o prêmio
“Kodansha Manga Award” de 2005 na categoria shoujo.
Poyopoyo Kansatsu Nikki
De onde saiu: Mangá,
10 volumes, em andamento.
A história: Moe
Sato é uma jovem mulher que encontra um gato na rua e passa a cuidar dele.
Chamado de Poyo devido à sua forma redonda, ele rapidamente se torna querido
por todos os membros da família Sato.
Espécime animal: Um gato redondo e
desengonçado (não é uma almofada, muito menos bichinho de pelúcia). Você
desenha um círculo – não se esqueça do círculo - e pronto, gato feito.
Voltado ao público seinen, o anime do último felino
integrante dessa lista se encontra no meio termo em relação às demais obras com
gatinhos: alguns elementos o impedem de ser tão infantil e ingênuo quanto as
animações de Chi e Nyanpire, contudo sua leveza e clima despreocupado o afastam
e muito de um inquietante “Cat Soup”.
Em curtos episódios de três minutos cada se ouve uma
interrupta, repetitiva e alegre trilha sonora que, aliada aos traços claros e kawaiis,
tem participação expressiva na construção de uma atmosfera aconchegante e
festiva na série. Sem rumo nem objetivo algum, “Poyopoyo” ostenta rapidez e
variedade em suas pequenas narrações ao mostrar, sem parar, vários pedaços da
vida de Poyo, seus donos e os amigos e conhecidos destes, indo num mesmo
episódio desde cenas suaves e bonitinhas a outras mais adultas e questionáveis
– como, por exemplo, dois gatos machos fazendo “aquilo”...
Com isso, se de “Buta” a “Oruchuban Ebichu”, somente o anime
da hamster tem humanos interessantes e com certa importância, “Poyopoyo” obtém
êxito semelhante nessa área e possui também bons personagens dessa espécie, a
destacar exatamente a própria e tranquila família Sato, formada pela avoada
dona de Poyo, Moe, seu irmão Hide – com quem Poyo tem eternas desavenças -, e
seu pai Shigeru – um homem do campo musculoso e desenhado a traços duros e
viris, mas que diante de qualquer gato perde toda a compostura e amolece o
coração. Poyo e sua forma esférica, seus miadinhos graciosos e os “mistérios” que lhe rondam é – quase - sempre o centro das atenções, porém ele não é o único responsável pelo bom andamento da série – diferente de “Chi’s Sweet Home” e “Higepiyo”, que se apoiam em demasia no carisma de seus animaizinhos, aqui há episódios onde Poyo mal aparece -, e o “character design” suave e um pouco SD dos humanos tem considerável culpa na simpatia que tomamos pelo elenco como um todo.
Criaturas mais estranhas ainda: além de um gato de corpo macio e perfeitamente
redondo, a veterana Ikue Ootani é a dubladora de Pikachu na série “Pokemon” e
de Chopper no interminável “One Piece”. “Pika pika”, “Poyo poyo”... Ela não deve ter muita dificuldade em decorar
suas falas...
Incompleto: exibido desde janeiro desse ano, o
anime já chegou a 30 episódios (isso na época em que este texto era escrito, dois
dias antes de ser postado) e permanece não tendo previsão para término. Destes,
o autor dessa matéria assistiu vinte e seis.
Shirokuma Cafe
De onde saiu: Mangá,
4 volumes, em hiato.
A história: Começando
com um panda que procura por emprego, o anime segue a vida diária dos diversificados
clientes de um café, gerenciado por um urso polar e frequentado tanto por
animais, quanto por humanos.
Espécime animal: Variados,
mas os protagonistas são um urso polar vaidoso, um panda preguiçoso e um
pinguim que sofre de amor platônico.
Não se espante se, enquanto espera um urso polar de avental
trazer seu pedido, tiver na mesa ao lado um panda comendo bambu ou um pinguim
falando sobre a amada; no “Café do Urso Polar” – nome bem direto e claro – isso
é absolutamente banal, e nesse mundinho fantasioso animais e humanos coexistem
pacífica e perfeitamente entre si.
Possuidor de um carisma tão grande quanto seu tamanho, logo
no primeiro episódio o Urso Polar conhece Panda, um panda (...) folgado que
procura por emprego a mando da mãe. Sendo rejeitado na entrevista para
trabalhar no café, ele tenta um trabalho no zoológico da cidade e é rapidamente
aceito para preencher a vaga como panda de meio período - serviço ideal para
ele, pois basta agir como um panda qualquer para entreter os visitantes (ou
seja, fazer gracinhas, comer muito e dormir mais ainda). A partir disso o anime
fixa a maior parte de seu tempo na rotina do café e seus clientes, em especial
esses dois personagens mais o Pinguim, ave que é frequentadora assídua do
local.
De negativo, o anime sofre exatamente com aquilo que é um de
seus atributos, o desenvolvimento lento dos episódios; ele se transforma em
algo aborrecedor e cansativo nos instantes em que as conversas não são capazes
de fisgar o interesse daquele que vê a série, por serem ou tolas, ou comuns
demais. A seu favor, porém, pode-se dizer que esses momentos são escassos,
quebrando poucas vezes a narração estável da animação.
Incompleto: iniciado
em abril desse ano, o anime permanece em exibição, sem previsão de data para
término. Para esse texto, foram vistos doze episódios.
Mangá paralisado: em junho a autora Higa Aloha
anunciou em sua conta no Twitter a paralisação do mangá devido ao próprio anime exibido na televisão: o
motivo é que ela alegou não ter recebido qualquer contrato escrito para a
adaptação de sua obra.
...
Meu perfil no MyAnimeList, com indicações semanais de matérias diversas sobre o mundo otaku feitas por este e outros sites;
haha's, super fofa a Chi ♥
ResponderExcluirOlha só, uma lista de 10 animes com algo em comum, e eu nunca vi nenhum nome haha
ResponderExcluirInteressei nesse Higepiyo, baixarei.
Hamtaro?
ResponderExcluirA cota para hamsters já tinha sido preenchida com "Oruchuban Ebichu", ha...
ExcluirMas falando sério, nem pensei em adicionar esse porque nunca achei muita graça no anime.
AAH,já assisti a maioria dessa lista, eu amo Chi, e eu não sei se é pq sou estranha mas brinco de esxonde-esconde com minha gata que nem o youhei
ResponderExcluirOlha eu aqui em 2018, comentando algo de 2012, mas é que eu precisava comentar ahhaha
Ha, tem nada não, o blog está bem parado mas ainda vemos os comentários normalmente - obrigado por deixar o seu
ExcluirE agora eu também tenho uma gata, está com 4 meses, porém não cheguei ainda a brincar de esconde-esconde com ela, haha