18 de setembro de 2012

X-10: Dez animes do estúdio SHAFT - Parte 2


E eis a segunda parte da matéria a respeito da [super]estimada SHAFT e suas obras. Depois de professores singulares, alunas peculiares, estudantes normais de Arte e, até, animais guerreiros e um casal simpático e confuso, a metade final da lista vem dominada por namoradas, no mínimo, esquisitas, e muita magia e mais paródias.



Namoradas violentas, namoradas com um parafuso a menos na cabeça, namoradas problemáticas, namoradas fantasmas e garotinhas mágicas que firmam contratos com bichinhos fofinhos suspeitos; a SHAFT permaneceu arriscando em obras que fogem do convencional, e, se algumas delas decepcionaram e não tiveram grande êxito, três animações em particular deram ao estúdio lucros extraordinários e históricos, compensando financeiramente qualquer fracasso anterior. E, como de costume, se deu certo uma vez, por que não tentar novamente? Os futuros projetos (detalhados no final do texto) deixam claro a ambição da SHAFT em abusar das fórmulas bem sucedidas e reprisa-las em trabalhos “originais”. Com um fandom tão leal e cada vez maior, as chances de novos recordes são imensas...


...

Por esse tema ter exigido um trabalho maior na sua montagem (perdão pelo atraso no prazo que eu mesmo estipulei), no final desse mês não será postada uma nova lista. E, talvez, o mesmo ocorra em outubro, mas por outros motivos que saberão em breve.





ef – a tale of memories.








De onde saiu: Mangá, 9 volumes, em andamento, desde 2005. O primeiro jogo para PC foi lançado um ano depois, em 2006.

A história: Na noite de Natal, Hiro Hirono tem sua bicicleta roubada por uma garota, que tenta em vão perseguir um ladrão que roubou sua bolsa. Indo atrás dela, Hiro logo a acha no chão inconsciente, próxima da bicicleta toda arruinada. Ela, Miyako Miyamura, não demora a acordar, e ambos começam a conversar e acabam passando o Natal juntos.

Poucos dias depois, Hiro descobre que os dois frequentam a mesma escola, e dessa forma vão ficando cada vez mais tempo ao lado um do outro, para desgosto de Kei Shindou, amiga de infância de Hiro que há anos é apaixonada pelo amigo. E assim, tem-se início um triângulo amoroso.

Simultaneamente, é acompanhada a história de Renji Asou, garoto que conhece Chihiro Shindou, irmã de Kei, numa estação de trem abandonada. Mesmo muito tímida, os dois iniciam uma amizade e passam a se encontrar todo dia na estação: contudo, logo lhe é revelado que Chihiro possui um defeito na memória, causado por um acidente de carro há quatro anos. Suas lembranças não duram mais do que trezes horas, e após isso ela começa a se esquecer dos fatos que vivenciou. Apesar disso, Renji insiste em continuar com esta amizade, para ajuda-la a realizar um sonho e superar os obstáculos causados pela sua condição frágil.

Ano/Diretor: 2007 / Shin Oonuma

Akiyuki Shinbo não criou seu estilo do nada; ele sofreu forte influência de animadores não convencionais da década de 90 - porém, os anos moldaram lentamente uma feição mais pessoal à sua arte. Shin Oonuma, por sua vez – que começou a parceria com Akiyuki nove anos atrás, no totalmente perdido “Triangle Heart - Sweet Songs Forever” – segue a mesma escola e, como consequência por ter ficado tanto tempo sob a “tutela” de seu amigo, padece daquele mal desagradável que ocorre com os novatos: ter seus trabalhos comparados com as criações de alguém de maior experiência, isso quando não são simplesmente tachados de cópias mal feitas.

E “ef – a tale of memories.” se encontra exatamente nesta situação. Mesmo com um enredo e desenvolvimento razoáveis, a série não deixa de ter um ar “amador” no visual e na narração uma vez que seja comparada aos animes dirigidos por Akiyuki. Sendo mais preciso, o “ef” de Oonuma em 2007 bem poderia ser algo produzido por Akiyuki três, quatro anos antes.

Ah, os dilemas juvenis, os atos impulsivos, a preocupação com o futuro ou o apego ao presente e mais nada, a vida perdendo todo o sentido se não estiver todos os dias perto do amado... Se esses ingredientes já são o bastante para criar uma trama densamente dramática e sentimental, o “character design” estilizado dos personagens, os diálogos afetados e os artifícios visuais de gosto duvidoso geram, em conjunto, uma atmosfera em “ef” cuja palavra “cafona” pode ser muito bem empregada para defini-la. A história tem seus méritos, os personagens também, sem falar da trilha sonora; mas, apesar disso, tudo continua cafona.

O espectador deve imergir no anime sabendo que seus protagonistas são adolescentes e, como seres sem tantos deveres e preocupações profundas, comportamentos abusivos e irracionais frente a complicações amorosas são muito comuns. Atos doces para alcançar o amado, atos cruéis para afastar a rival, um choro copioso pela derrota sofrida, uma declaração extensa a respeito dos sentimentos que carrega, sentir-se inútil, sentir-se necessária, se arrepender do que fez, se culpar pelo que aconteceu... Os jovens traumatizados de “ef” passam por tudo isso, e um pouquinho mais, porque no amor se pode tudo, nem que seja deixar dezenas de recados na caixa postal do garoto que adora - pois os personagens do anime são tão ou mais prolixos quanto o autor dos textos dessa seção. Mas eu pelo menos não abuso de frases feitas...

Atores de teatro: veja a série sob esse prisma e, se ela não se torna melhor, no mínimo fica aturável – essa é outra característica das obras que influenciaram Akiyuki e Oonuma, como o empolado “Shoujo Kakumei Utena”. Animes com personagens de gestos e falas pomposas, aqui, não são mais novidade na SHAFT, e ainda viriam outros animes em sequência usando tal fórmula; a diferença é que “ef” foi o primeiro do estúdio a usar isso numa animação que não fosse exclusivamente de comédia, o que evidencia que o estilo narrativo e visual da SHAFT (tanto faz se pelas mãos hábeis de Akiyuki ou brutas de Oonuma) pode ser uma ótima ferramenta ou um completo desastre num gênero desses caso não seja bem aproveitado e moderado - Oonuma mesmo perdeu a mão ao abusar dessas técnicas em uma produção deste ano, o piegas “Tasogare Otome x Amnesia”. Em “ef” ele se salva especialmente pelo enredo da obra original, pois apesar de seus truques serem com frequência eficazes na intenção de dar um brilho maior em diversas cenas e conversas (além de disfarçar a animação de baixo orçamento), eles também são, não raramente, responsáveis por tornar algumas situações assustadoramente esdrúxulas e irritantes. Acerta mais do que erra, isso é inegável.

Abrindo os braços para diálogos pseudo-filosóficos e emotivos (muitas vezes até que bons, há de se admitir), e perdoando alguns exageros artísticos, o espectador presenciará em “ef” dois conflitos amorosos distintos e atraentes. O bonitinho par formado por Renji e Chihiro inicialmente exala uma inocência que chega a enjoar; mas, conforme a relação dos dois sofre reveses por conta da perda de memória de Chihiro, Renji percebe que terá de ser muito forte (e, inevitável, começa a questionar sua própria capacidade) e paciente para conseguir manter tal relacionamento. A vida precária da fofa Chihiro e a angústia de Renji frente a esse cenário apelam o quanto pode para fisgar a atenção de quem vê o anime, o incitando a se interessar pelo futuro desse casal que, desde o começo, parece fadado a vários imprevistos.

Em outro canto da pequena cidade de Ottawa há um triângulo amoroso que despertará sensações variadas: e, se no caso de Renji e Chihiro todos torcem pelo mesmo desfecho, aqui as opiniões se dividem, porque, oras, como o sexo feminino é capaz de atos extremos por puro amor! Okay, a pobre amiga de infância sai na frente, mas quem permanecerá ao seu lado após presenciar um comportamento tão possessivo? E Miyako e sua obsessão intensa por Hiro, é justificável pelo passado doloroso que ela teve? (na verdade, opinião pessoal à parte, Hiro sequer merece ficar com qualquer uma das duas, visto a sua total indecisão e ignorância do que ocorre ao seu redor?). Novelesco, extravagante, barulhento (quantos gritos!) e desregrado, esse trio extrapola no sentimentalismo e, como uma boa trama romanesca repleta de intrigas, causa no espectador momentos de ódio, indignação, surpresa, alívio... Ou mera irritação e tédio, se você estiver achando tudo isso a coisa mais insuportável do mundo. O fato é que as conclusões de ambas as histórias são, vá lá, aceitáveis (mas o desfecho do casal Renji/Chihiro é simplório demais para tamanha complexidade), e seus personagens, a destacar as mulheres, evoluem e amadurecem de maneira decente no decorrer dos episódios – tudo do modo mais exagerado e afetado possível, claro, mas isso foi previamente mencionado.

A primeira aposta da SHAFT num anime pretensiosamente sério teve resultados satisfatórios, sendo consideravelmente bem recebido e elogiado na época em que foi exibido; e, se não vendeu tanto quanto “Hidamari Sketch” e “Sayonara Zetsubou Sensei”, pelo menos chegou perto e cobriu seus custos de produção. Seu conteúdo é discutível e a direção às vezes é desastrosa, mas, bem, romances melosos sempre terão espaço, não importa em que mídia ou com qual visual...

Continuação: exibido em 2008, “ef – a tale of melodies.” coloca como protagonistas personagens secundários da primeira série.

Shin Oonuma: além das duas animações de “ef”, Oonuma dirigiu na SHAFT os OVAs “Haru” e “Natsu” de “Negima!?”, e esteve envolvido nas produções dos animes “Bakemonogatari”, “Hidamari Sketch”, “Natsu no Arashi” , “Pani Poni Dash” e “Tsukuyomi: Moon Phase".

Atualmente ele se encontra na Silver Link, fundada em 2007, e dentre as poucas produções deste estúdio – que mal chegam a dez títulos ainda – Oonuma dirigiu a maior parte, a começar por “Baka to Test to Shoukanjuu”, em 2010; “Baka to Test to Shoukanjuu Ni!” e “”, em 2011; e “Tasogare Otome x Amnesia” e “Kokoro Connect”, em 2012 – este último permanece em andamento, mas está prestes a acabar. Ele se esforça e melhora sensivelmente, mas passados cinco anos desde “ef” seu estilo continua a ser mais uma cópia do que algo de caráter individual...

Soji Homura: foi com este nome que Akiyuki Shinbo assinou o “storyboard” de um dos episódios de “ef”, mais precisamente o do segundo. Ele anteriormente usou esse mesmo apelido em um OVA de “Hidamari Sketch” e em “Soul Taker”. Como curiosidade, Futoshi Shiiya é outro pseudônimo seu usado em alguns trabalhos.



Natsu no Arashi








De onde saiu: Mangá, 8 volumes, finalizado.

A história: Ao procurar pela casa de seu avô – onde passará as férias de verão – Yasaka Hajime, um rapaz de treze anos, entra em uma loja e conhece Arashiyama Sayoko, garota três anos mais velha que trabalha no local. Após tentar protegê-la de um homem que diz ter sido contratado pela família dela para leva-la embora à força, Yasaka foge com Arashi e oferece a casa do avô para ela morar. Contudo, não leva muito tempo para ele perceber que sua nova amiga está longe de ser uma garota qualquer, visto que ela possui poderes misteriosos e diz ser uma fantasma.

Ano/Diretor: 2009 / Akiyuki Shinbo

“Natsu no Arashi” é sem dúvida a série mais “esquecida” da SHAFT nessa sua nova fase, e muito provavelmente a exibição e o sucesso gigantesco de “Bakemonogatari” no mesmo ano têm certa culpa nisso – até o horroroso “Soredemo Machi wa Mawatteiru” (2010) é mais comentado, por ter pego o aumento de fama do estúdio. Os – poucos – que viram e gostaram do anime reclamam do quanto a animação é subestimada; mas, bem, eles tem de reconhecer que seu início e meio tão quebradiço e confuso não ajudam em nada na sua popularidade.

Não estranhe o episódio um: ele está avançadíssimo na ordem cronológica dos fatos, e certamente sua história pastelão sem sentido, com viagens no tempo por motivos fúteis e personagens já íntimos entre si, foi uma ferramenta – não tão bem sucedida - usada na tentativa de atrair o espectador para um anime cujo enredo verdadeiro pode aparecer a partir do segundo episódio, mas que só começa a andar para frente realmente no último terço da série. Antes disso, há muita enrolação, poucas explicações e uma considerável falta de tato por parte de Akiyuki e companhia em conciliar comédia com drama.

Uma garota que diz ser uma fantasma de sessenta anos, e que pode viajar no tempo: absolutamente normal perto do que viria futuramente, como meninas que moram debaixo de uma ponte e pensam ser alienígenas, e tsunderes que pesam apenas algumas gramas... Podendo voltar ao passado, sabe-se lá por qual razão, uma vez que dê as mãos a alguém do sexo oposto, e mal se importando em procurar uma resposta para isso – para desespero de Yasaka -, Arashi viaja no tempo constantemente para salvar pessoas de uma determinada época, enquanto no presente novos personagens vão surgindo e se interagindo, rondando sempre uma incógnita em relação às pessoas que parecem ter interesse por ela. Se o primeiro episódio é talvez indigesto por jogar-nos à deriva de tudo, os que o sucedem testam a tolerância de quem vê o anime ao fazê-lo testemunhar tantos fatos se amontoarem sem um aparente significado, principalmente quando é tratado de modo tão desleixado um tema espinhoso e problemático que é voltar no passado e provocar modificações nele – porque Arashi viaja livremente, porém nem são tocadas as consequências de seus atos. A questão é que tudo se justifica, mas haja paciência para chegar até o ponto onde isso acontece.

Uma vez ciente da demora do enredo principal em se explicar, há em seu lugar um elenco de personagens divertidos e razoavelmente bem desenvolvidos, isso quando as transições narrativas não atrapalham. Variando um pouco, Arashi e Yasaka formam um par agradável e leve, sem tensões amorosas no meio; o enérgico e barulhento Yasaka não cansa de declarar abertamente seu amor a Arashi, mas esta não dá a mínima e recebe suas manifestações com muito bom humor e um belo sorriso no rosto. Kaja, amiga de Arashi que também é uma fantasma, carrega junto a si o drama mais sério do anime, envolvendo um dilema romântico não resolvido. E Jun, garota que se passa por garoto por motivos pessoais, é outra que tem um drama minimamente interessante, mesmo que em algumas ocasiões ela própria se contradiga quanto ao que diz e o que faz. Em relação ao restante, se possuem uma evolução nula, ao menos causam boas cenas de comédia, especialmente a delinquente dona do bar e o detetive encarregado de levar Arashi embora, um homenzarrão que na aparência é intimidador, mas no fundo é uma boa pessoa que tem o azar de as coisas nunca darem certo para ele...

Em “Natsu no Arashi” é testemunhado novamente como a arte (que, dentre as principais novidades, há um “character design” meio retrô e jogos de luzes variados, e este último se repetiria em séries como “Mahou Shoujo Madoka Magica” e “Arakawa Under the Bridge”) estilizada da SHAFT pode tanto contribuir quanto destruir momentos mais sentimentais; artifícios como seus cortes de cena frenéticos e mudanças de cores, por vezes, não se harmonizam com a situação apresentada, na qual uma abordagem lenta e sóbria ficaria melhor - a história de Kaya é a que mais sofre com esse problema. Por outro lado, várias sequências (a destacar uma em particular que retrata um dos piores períodos da história japonesa) ganham gravidade e força imensas graças justamente a essa animação fora do convencional, impactando pelas imagens de tons tão berrantes e impressionistas; ou seja, que nem em “ef”, há tantos erros quanto acertos. 

Porém, o mais visível é a dificuldade de “Natsu” em conseguir andar de um gênero para o outro, se alternando entre comédia e drama inúmeras vezes em boa parte dos episódios de um jeito brusco e atrapalhado, o que faz com que a série quase nunca atinja pontos altos em ambos os gêneros – mas, na hora em que estão livres disso, certos episódios obtêm a plenitude da comédia de situação ou do sentimentalismo. É semelhante ao que se passa em “Tsukuyomi: Moon Phase”, na qual Akiyuki Shinbo mostra um senso de humor singular mesclado a cenas que tentam se passar por dramáticas. O fato é que lá em 2004 isso não foi grave (muitos reclamaram, muitos acharam esplêndido) por conta do conteúdo do anime não ser assim tão profundo: mas em “Natsu no Arashi” o cenário é diferente, e as partes que ostentam um bom nível de maturidade se prejudicam ao cederem espaço a uma comédia fora de “timing”. E o oposto ocorre, no instante em que esta última sai do palco bem quando menos se esperava. Em geral, quem conhece as manias de Akiyuki e sua habitual direção sem amarras não achará tão estranho tais alterações repentinas; mas os “novatos” levarão um tempo para se acostumar com o que estão vendo. Dessa forma, juntando isso à confusão e lerdeza do enredo em dar passos decisivos, não é de se espantar a falta de popularidade da animação.

Entretanto, no momento em que “Natsu no Arashi” e seu elenco tardiamente começam a refletir sobre seus atos (oito, nove episódios ficaram para trás; e, o esperado, a esse ponto os personagens já estão bem definidos), é de se elogiar como a série soluciona de maneira tão engenhosa e compreensível – nada de papos extensos e enrolados como geralmente acontece – o dilema de paradoxo do tempo; há elucidações brevíssimas no decorrer da série, mas tudo se fecha nos episódios finais. E, ao vermos que a trama principal possui uma simplicidade de tamanho igual, mas sem parecer forçada, percebemos que “Natsu no Arashi” em seu todo tem como maior atributo o crescimento individual e a interação de seus personagens – nada extraordinário; afinal, dá para contar em uma mão o número de produções da SHAFT que exibe um roteiro realmente complexo, e os “haters” do estúdio insistem em se ater a isso -, durante um verão que, para um garoto de treze anos, se torna inesquecível. Muitas respostas não são dadas nessa primeira temporada; mas, para quem pacientemente chegou ao último episódio e viu que o tempo gasto não foi em vão, isso não tem mais tanta importância.

Continuação: apesar da má recepção do público, o anime obteve uma segunda temporada (possivelmente, sua criação estava prevista com muita antecedência), intitulada “Natsu no Arashi! ~Akinaichuu~". Foi exibida no mesmo ano, 2009.

Fracasso: as duas séries de “Natsu no Arashi” guardam um feito negativo na SHAFT pós-Akiyuki Shinbo; são os dois animes que menos venderam mídias. A primeira temporada alcançou uma média próxima a 984 cópias vendidas por volume; a segunda, 772. Depois delas só “Maria Holic: Alive” (2011) atingiu números tão baixos, 1.186.

Clientes ilustres: preste atenção aos frequentadores do café onde se passa boa parte da história; neles se encontram personagens de diversos animes, produzidos ou não pela SHAFT - veja aqui alguns exemplos. Junto a isso, há em quase todo episódio uma vinheta que mostra duas garotas discutindo sobre o enredo de animações clássicas, sem, contudo, jamais revelar explicitamente a origem dessas tramas.

Da mesma fonte: autor do mangá de “Natsu no Arashi”, Jin Kobayashi é também criador do popular “School Rumble”, obra adaptada em duas séries de TV nos anos de 2004 e 2006. Por causa disso, são constantes nesse anime as referências a seu trabalho mais famoso.




Bakemonogatari








De onde saiu: Light novel, 2 volumes, finalizada.

A história: Recentemente atacado por uma vampira, o estudante do ensino médio Koyomi Araragi se vê aos poucos rodeado por diversas garotas e eventos sobrenaturais.

Ano/Diretor: 2009 / Akiyuki Shinbo

Indo contra o que seria esperado, “Bakemonogatari” terá nessa matéria um texto razoável (comparado ao que seria ideal para ele) que não fará jus à importância que esse anime teve na história da SHAFT. E o motivo para isso é simples: hoje, falar de “Bakemonogatari” – e o mesmo vale para o último integrante da lista, inclusive – é chato, tamanha a infinidade de textos, resenhas, “estudos” quilométricos e opiniões tão divergentes entre si que há a respeito pela internet. Antes de sua estreia, SHAFT colecionava um número significativo de fãs e uma porção ínfima de “haters”; após sua exibição, estes últimos cresceram numa proporção absurda, o tornando a animação de qualidade mais contestada do estúdio.

A fórmula de Akiyuki Shinbo não se modifica em praticamente nada para narrar parte da vasta obra de Isin Nisio: cortes de câmera repentinos, enquadramentos inusitados, inclinações de cabeça habituais, quadro e troca de cores, sequências em live-action, textos surgindo e sumindo (ultra)rapidamente na tela, piadas visuais, mudanças nos traços... o pacote de sempre, que tenta sagazmente disfarçar a animação precária e o vazio do roteiro. A diferença é que o estilo presunçoso de Akiyuki parece ter encontrado sua “alma gêmea” ao se deparar com um trabalho que é, em termos gerais, um show de exibicionismo e futilidade.

Se seu enredo é o de um harém convicto, ou uma desconstrução dele, ou ambos, ah, não, discussão sobre isso aqui não... Independente do ponto de vista, isso não modifica o argumento do anime que pode ser resumido em uma frase: um garoto tentando resolver os problemas de várias garotas. O – mulherengo, fanfarrão, tonto, sarcástico? – Araragi cruza a cada arco da série com orgulhosas meninas possuidoras de anormalidades diversas e personalidades aparentemente padronizadas, e suas interações se baseiam, basicamente, em extensos e afetados diálogos - simultaneamente o lado forte e fraco do anime. Enquanto a maioria das personagens só possui relevância em seus respectivos arcos, a assumida tsundere (que mal age como uma) Hitagi Senjougahara surge como única protagonista feminina, tendo com Araragi um relacionamento curioso e perigoso – para ele, obviamente.

Sendo um bando de dissimulados num show no qual um tenta aparecer mais do que o outro com gestos pedantes e frases floridas, a arrogância extrema do elenco de “Bakemonogatari” se torna tolerável (tolerável; aceitar fica a cargo de cada um) pela noção que estes têm de seus supostos papéis; os diálogos criados por Isin Nisio são repletos não apenas de inteligentes trocadilhos e jogos de palavras e fonética, mas também de brincadeiras e citações aos métodos, estereótipos e público dos animes dessa espécie. Ver uma assumida fujoshi se portar como lésbica é uma clara sátira; testemunhar uma menina que se diz tsundere agir de forma totalmente oposta a isso, idem; e até ver Araragi “brincar” perigosamente com uma loli entra no mesmo grupo e não indigna ou ofende, porque tudo acaba sendo aceito sem problemas por conta da honestidade do anime e seus integrantes permitir isso. Faz piada desses elementos, e em seguida os usa com elogiável naturalidade e despudor. Parece tão óbvio (ou não, porque outras produções satíricas da SHAFT são muito mais diretas e explícitas), mas é um ponto importante a ser notado para que “Bakemonogatari” vire algo um pouco além de uma história de Harém convencional, sem, entretanto, rejeitar a essência desse subgênero, o impossibilitando de ser uma obra que ousa reorganizar as bases disso - enfim, acabei abordando esse assunto controverso de qualquer jeito. É um Harém que faz piada de si próprio sem se comprometer, ponto.

A arte de Akiyuki é admirável mesmo quando se excede, mas não faz milagres: nas horas em que as conversas intermináveis entre os personagens não causam interesse de tão banais, ingênuas ou frívolas que são, nem o esquecido cenário de fundo incomum geometricamente (des)organizado ou os contínuos truques como os cortes de cena ajudam a manter o ritmo, e assim o anime cai em alguns instantes num marasmo aborrecedor – e o narcisismo do anime, antes suportável, se transforma em algo igualmente enfadonho. E todo arco padece de um início irregular, lento, que às vezes levam um episódio inteiro para engrenar. Todavia, quando Isin Nisio acerta a dose na construção de afiadas e elaboradas frases de duplo ou triplo sentido, “Bakemonogatari” se sobressai com diálogos sedutores que encobrem qualquer falta de solidez do enredo, tornando a série, no final das contas, em uma pura apresentação verbal. Se a relação entre Senjougahara e Araragi, no geral, não vai muito longe, as discussões entre os dois (e entre Araragi com as demais personagens) produzem frases que superam com facilidade as conversas insossas comuns em animes onde um rapaz se vê rodeado por várias garotas e fala mais do que faz. Araragi - e seu harém - fala muito e faz quase nada, mas ao menos fala bem na maior parte do tempo.

Disse que o estilo de Akiyuki encontrou sua “alma gêmea”, mas isso não significa necessariamente algo somente positivo: “Bakemonogatari” originalmente já possuía um alto grau de vaidade, e isso aliado ao gênio forte desse diretor acabou por criar um anime que com frequência se prejudica no meio por se orgulhar tanto de si mesmo - mas o público abraçou e louvou esse exibicionismo, e como. O anime se acha demais, possui menos qualidades do que imagina ter ou finge imaginar, é superestimado em um nível imensurável; mas isso não pode ser usado para diminuir a genialidade que a série carrega, ao menos, nas horas em que seus personagens dão a tagarelar tola ou maliciosamente por minutos inteiros. Para a maioria será uma questão chata de “ame ou odeie”, mas creio ser possível ficar num meio termo. Não é a melhor produção da “nova” SHAFT, mas, tampouco chega perto de ser a pior.

Continuação: com um orçamento maior e um teor ecchi expressivo (criticado e bem recebido na mesma medida), foi exibido no início desse ano “Nisemonogatari”, série de 11 episódios que apresenta os contos e esquisitices de novas garotas. Está previsto ainda um longa, chamado “Kizumonogatari”, que permanece sem data para estreia.

Da mesma fonte:Katanagatari” é outra animação baseada numa obra de Isin Nisio. Foi lançada no ano de 2010 no formato de doze OVAs de quase uma hora de duração cada, pelo estúdio WHITE FOX.

Da mesma fonte (2):Medaka Box” é mais uma obra sua que foi adaptada para anime recentemente, pela GAINAX. A primeira temporada foi exibida entre abril e junho desse ano, e a segunda tem previsão de estreia para outubro.

Sucesso: financeiramente falando, os anos de 2009 e 2010 seriam um fiasco para a SHAFT se não houvesse “Bakemonogatari”, por conta de insucessos como “ef - a tale of melodies.” (2008), “Natsu no Arashi”, (2009), “Dance in the Vampire Bund”, “Arakawa Under the Bridge” e “Soredemo Machi wa Mawatteiru” (2010), todos animes que obtiveram números baixos nas vendas de mídia – “Hidamari Sketch x Hochimitsu” (2010) foi exceção.

“Bakemonogatari”, por sua vez, atingiu a média impensável – principalmente para um anime exibido durante a madrugada - de quase 80,000 cópias vendidas por volume em BD e DVD, se tornando assim a série de TV de maior sucesso na venda de mídias desde 2000 – os números anteriores a esse ano são imprecisos, porém apenas “Neon Genesis Evangelion” (171,000) e “Kidou Senshi Gundam” (81,730) o ultrapassam . Sua continuação, “Nisemonogatari”, alcançou uma média próxima a 60,000 cópias por volume, ficando como a quarta série de TV mais vendida nesse século.

Versão retocada: hoje um descarado – mas, convenhamos, brilhante – método usado para aumentar as vendas de mídias, os retoques e aprimoramentos (como adicionar objetos no cenário e dar traços e sombreamentos mais sólidos, por exemplo) realizados nas animações da SHAFT surgiram tanto do perfeccionismo de Akiyuki Shinbo, quanto de embaraços ocorridos a partir do momento em que o estúdio foi ficando com um cronograma demasiado grande para uma equipe demasiado pequena. Um episódio de “Hidamari Sketch x 365” (2008) praticamente não teve arte de fundo, e incidente semelhante aconteceu com “Bakemonogatari” – sem contar “Dance in the Vampire Bund”, o anime de pior nível técnico produzido pelo estúdio nos últimos anos. Logo, foi-se aos poucos se tornando um hábito fazer a versão televisiva quase que às pressas - para cumprir os prazos apertados - com a intenção de, posteriormente, melhorá-la nas versões em BD e DVD – o próprio Akiyuki afirmou em uma entrevista que ele sempre tenta aperfeiçoar e ajustar o máximo possível de cenas nesses lançamentos.

A equipe da SHAFT nem é mais tão pequena quanto antigamente, mas, quem se importa...

Tatsuya Oishi: após o texto de introdução na primeira parte da matéria o nome dele não foi mencionado, mas isso porque não surgiu espaço para tal. Diferente de Akiyuki Shinbo e Shinn Oonuma, Tatsuya nunca chegou a dirigir sozinho uma animação, mas foi diretor de episódio, diretor assistente em “Bakemonogatari” e produtor de algumas das bizarras OPs de certos animes, como “Maria Holic” e “Pani Poni Dash”. Sua última atividade data de 2010, na série “Soredemo Machi wa Mawatteiru”.

Vampiras lolis: a SHAFT parece ter uma atração peculiar a esse tipo de personagem; Shinobu de “Bakemonogatari” pode ser a mais popular, mas não foi a primeira nem a última vampira loli a aparecer em um anime do estúdio. “Tsukuyomi: Moon Phase” (2004) e “Dance in the Vampire Bund” (2010) são outras duas séries com garotinhas que se alimentam de sangue.




Arakawa Under the Bridge








De onde saiu: Mangá, 12 volumes, em andamento.

A história: Seguindo à risca o lema da bem sucedida família Ichinomiya de nunca estar em débito com ninguém, Ichinomiya Kou insiste em pagar, não importa como, sua dívida para uma sem teto após esta salva-la de um afogamento. Essa garota, chamada Nino, pede para que ele a faça experimentar o amor sendo seu namorado: e a partir disso Kou passa a viver debaixo da ponte Arakawa, lar de indivíduos excêntricos e estranhos.

Ano/Diretor: 2010 / Akiyuki Shinbo

Se algumas animações da SHAFT causam discussões relativas ao seu conteúdo, como “Bakemonogatari” e “ef – a tale of memories.”, “Arakawa Under the Bridge”, pelo contrário, estreou em 2010 sem criar polêmica nenhuma: ele não é nada além de um anime de comédia nonsense com personagens bizarros e um par romântico inocente e engraçadinho, jamais passando uma impressão que contradiga isso. A pessoa pode não gostar do tipo de humor usado, porém não terá como acusar a série de fingir ser uma coisa enquanto é outra.

Nada de pessoas mal vestidas, doentes e infelizes; abracemos o escapismo e conheçamos os novos “vizinhos” de Kou, que vão de crianças cobaias - segundo elas dizem... – fugitivas de um laboratório a um homem que pinta linhas brancas por onde anda, pois só consegue se locomover pisando nelas. Todos vivem no leito de um rio, mas vivem de maneira organizada e decente, graças ao respeitável e admirado síndico que veste uma nada convincente fantasia de kappa e se comporta como tal, pondo ordem no local e nomeando cada morador com nomes ricos em criatividade. Ademais, eles podem não possuir casa própria ou empregos ou sequer família, mas isso não significa, de modo algum, que se esqueceram de Deus, porque todo domingo vão à igreja da comunidade - que tem como único integrante uma freira homem de passado nebuloso e cicatrizes no rosto, que, por sua vez, guarda uma paixão não correspondida por Maria, mulher sádica eficiente no maltrato com as palavras. Se Kou se sentiu incomodado ao descobrir que sua salvadora pensava ser uma alienígena de Vênus, olha, ele teve sorte de ter ficado em dívida justamente para ela...

Com essa ambientação absurda “Arakawa” se alimenta de um humor que extravasa e força a barra constantemente, alcançando pontos que muitos definirão como “idiotas” e “bobos”, para ser exato e um tanto eufêmico. E é um anime idiota e bobo mesmo, no bom (?) sentido, tendo como base para a comédia um sensato Kou sofrendo para compreender e aturar os insensatos amigos de Nino. Eu, particularmente, não sou fã do tipo de humor que predomina em “Arakawa”, mesmo que este tenha me feito rir em várias cenas; entretanto, o tremendo nonsense imprevisível da série e a interatividade entre seres tão incomuns que são legítimas piadas ambulantes foi o suficiente para me segurar por treze episódios inteiros. Sentimos como o pobre Kou, que nunca sabe o que está por vir, podendo tanto terminar o dia sufocado nos braços musculosos de uma loli exímia em luta livre quanto sendo humilhado verbalmente por Maria.

Mas o anime não se constitui somente de eventos aleatórios; há também um mínimo de desenvolvimento pessoal, pelo menos, sobre o protagonista. Ao lado de uma adoravelmente tapada Nino, o inexperiente Kou vai aos poucos se soltando da rígida educação imposta por seu pai, percebendo que favores não precisam ser retribuídos com urgência e que é possível fazer algo a alguém sem esperar nada em troca, se satisfazendo apenas com a felicidade proporcionada àquela pessoa. Ensinamentos triviais, fundamentais, mas foi preciso estar na companhia de uma menina que mal sabe o que significa um encontro entre namorados para que ele pudesse ter noção desses fatos. Se não são os mais bem construídos, esses dois formam, possivelmente, o casal mais simpático e harmonioso de um anime produzido pela SHAFT, onde frescuras juvenis e dramas exagerados são esquecidos em prol de uma relação bem humorada com esporádicos momentos bonitinhos e afáveis. Se estressando e gritando toda hora, Kou se esforça para pôr um pouco de juízo na cabecinha de Nino; se comportando como uma bela louca e sem ter ideia de que está ajudando, Nino ensina Kou a desfrutar melhor pequenos pedaços da vida – mesmo que seja perto de estrelas do rock (literalmente estrelas do rock!) e freiras travestis.

Embora “Arakawa” não traga nada de realmente novo quanto à arte usada por Akiyuki Shinbo (mas vale notar como seu ritmo enérgico se encaixa perfeitamente na montagem ágil dos episódios, divididos em uma centena de pequenas histórias), esta se exibe com uma beleza que desde “Hidamari Sketch” não era vista, e sem disfarçar limitações técnicas: SHAFT, finalmente, se apresenta com dinheiro de sobra. Junto a isso, a ótima harmonia testemunhada aqui não só do casal, mas juntamente do estilo de seu diretor com o teor do anime é, para vários fãs, superior inclusive à soberba de “Bakemonogatari”, pois enquanto este só “casa” com Akiyuki através das ações e falas pedantes de seus personagens, “Arakawa”, por outro lado, é excêntrico em seu todo, combinando com os excessos de quem o dirige. Ou seja, a série permaneceria excêntrica mesmo sem truque visual algum – igual a “Sayonara Zetsubou Sensei”, cujas boas ideias o impedem de ficar muito dependente desses artifícios. O humor é tão estranho quanto seus personagens, e a falta de um ritmo mais consistente, como em um bom número de animes do estúdio, não é convidativo; mas o carisma de seus protagonistas, mais uma vez, salva o anime de um fracasso – isso na qualidade, porque financeiramente ele foi um pequeno fracasso de fato. Irresponsabilidade e escapismos à parte, morar debaixo de uma ponte jamais parecerá tão divertido e colorido...

Continuação: no final de 2010 foi lançado “Arakawa Under the Bridge x Bridge”, segunda temporada com novos 13 episódios.

Hiroshi Kamiya: há um bom número de seiyuus queridinhos do estúdio que podem ser vistos – ouvidos – em diversos animes da SHAFT, mas Hiroshi Kamiya é o que mais dublou protagonistas: o apagado Kouhei Morioka, de “Tsukuyomi: Moon Phase”; o desesperado Itoshiki Nozomu, de “Sayonara Zetsubou Sensei”; o mulherengo (sim, sim, fui irônico) Koyomi Araragi, de “Bakemonogatari” e “Nisemonogatari”; e o riquinho Ichinomiya Kou, de “Arakawa Under the Bridge”. Por fim, ele teve um papel secundário em “Pani Poni Dash”. No geral, Hiroshi foi o “mocinho” em 9 animes do estúdio, contando continuações.

Considerando unicamente o total de papéis, ficam na frente Saito Chiwa e Ryoko Shintani, com 14 aparições cada uma em animações da SHAFT, isso se forem somadas as sequências e ignorados os especiais de séries de TV. Porém, Saito Chiwa possui mais papéis como protagonista, 6 ao todo, a destacar Hitagi Senjougahara (Bakemonogatari), Homura Akemi (Mahou Shoujo Madoka Magica) e Rebecca Miyamoto (Pani Poni Dash!). Ryoko Shintani só teve um papel principal na franquia de “Hidamari Sketch”, ao dublar a tímida Sae. A quarta temporada desse mesmo anime que estreia em outubro a fará ficar sozinha nessa “disputa”, com 15 aparições.




Mahou Shoujo Madoka Magica









De onde saiu: Animação original.

A história: O dia a dia de Madoka Kaname não tem nada de especial; estudos, amigas confiáveis, uma família amável, felicidade e tristeza em doses iguais... Mas isso muda a partir do momento em que eventos fantásticos passam a acontecer a sua volta. Uma aluna transferida que age de maneira estranha, uma criatura mágica falante, mundos surreais: Madoka conhece o universo das garotas mágicas, um universo que modificará drasticamente a sua vida.

Ano/Diretor: 2011 / Akiyuki Shinbo

Escrever hoje um texto a respeito de “Mahou Shojo Madoka Magica” é um tanto desestimulante e indigesto, caso pior que o de “Bakemonogatari”, por ser mais recente; resenhas de nove, dez páginas discutindo e dissecando minuciosamente seu enredo são fáceis de achar pelos blogs.  É daqueles animes que mesmo quem não o assistiu tem noção de seu conteúdo, de tão falado que é (em listas anteriores citei séries semelhantes nisso, como “Code Geass” e “Steins;Gate”, mas na época não me importava nem me exigia ser tão detalhado). Enfim; o que interessa é que Akiyuki Shinbo e SHAFT pela primeira vez se encontraram diante de um trabalho original, com o popular Gen Urobuchi na criação do roteiro – famoso por “visual novels” obscuras de terror psicológico, como “Saya no Uta”.

“Mahou Shoujo Madoka Magica” não tem uma história tão incrível – ainda que seja, possivelmente, a de maior complexidade da SHAFT -, mas a sua principal magia se encontra no modo como ele nos põe a par dos acontecimentos. A soberba execução aprimora o material. Desde o começo, conhecendo o estúdio e os envolvidos na montagem do anime, e vendo as cenas iniciais do primeiro episódio, “Mahou Shoujo” deixa claro que não será uma série de garotas mágicas comum; mas mesmo toda a introdução lenta (e um pouquinho chata) e a curiosa preparação de um pretensioso clima “dark” não impede que o desfecho do famoso episódio três se torne surpreendente, até para quem sabia de antemão que esse guardava algo de especial – eu, por exemplo. Nesse ponto, a animação, se nem tentava antes esconder muito seu propósito, aqui ela abandona de vez qualquer sutileza e abordagem indireta, dando início a seu enredo obscuro e densamente psicológico.

Uma menininha que chora em onze dos doze episódios do anime, e que chegou inclusive a ser satirizada por uma série do próprio estúdio (Maria Holic: Alive) ao ser tachada de “pior heroína da história”: a ingênua Madoka está longe de ser uma protagonista forte e com presença, mas isso é essencial para a trama em si, porque dessa forma as outras personagens conseguem o espaço necessário para se desenvolverem em um anime que, ah, sim, sim, ao contrário de “Bakemonogatari”, é uma desconstrução indiscutível e inquestionável de seu subgênero. Se Madoka evolui discretamente ao longo de doze episódios, as demais garotas tem a cada tempo seu lugar de destaque, protagonizando dramas pessoais tangíveis e complicados que se desviam de trajetos fáceis. Um problema amoroso tão típico e previsível progride realista e dolorosamente, sem extravasar no sentimentalismo barato (lembrando que são meninas adolescentes); e um impasse manjado envolvendo a personagem de maior importância no anime é tratado com simplicidade e coerência, nos fazendo mudar radicalmente de opinião a seu respeito. Como falei acima, a execução (Akiyuki Shinbo) aprimora o material (Gen Urobuchi). O segundo concede um roteiro sem pontas soltas que deturpa e refina alguns elementos básicos do “mahou shoujo”, ao mesmo tempo em que usa outros para uso próprio; e o primeiro os organiza de um jeito sedutor e limpo, fechando cada episódio com um irritante e prazeroso gancho para o que virá a seguir. E tudo isso com o “character design” moe de Ume Aoki, autora das tirinhas de “Hidamari Sketch”, que ajuda bastante no ato de “enganar” o público ao apresentar meninas de aparência tão genérica, mas ideal para a proposta da animação – se bem que nessa parte as opiniões se divergem, com muitos desgostando de seus traços.

Lá em 2007 Akiyuki pegou um anime “slice-of-life” de garotinhas estudantes – algo precário – e o tornou num laboratório para experimentos visuais e narrativos, vários deles com o intuito de esconder a falta de recursos financeiros e de material original: o sucesso colossal de “Bakemonogatari” em 2009 permitiu que a SHAFT melhorasse visivelmente a arte de suas produções, com algumas exceções (“Dance in the Vampire Bund”), e Akiyuki e seus subordinados aproveitam-se disso ao criarem o visual fantástico em “Mahou Shoujo” idealizado por Gen – e que, méritos ao bom enredo por isso, não passa aquela sensação frustrante de que sua extravagância é mero utensílio para cobrir um roteiro pobre. Os ambientes mágicos e seus seres oníricos transbordam de cores vivas (contraste gigante com o frio mundo real futurista) e contornos robustos, e as técnicas de recortes e animação 3D usadas se integram belamente com o restante do cenário em 2D. Se todo esse esbanjamento artístico maquia algo, isto é a violência nas batalhas mágicas, que ostentam efeitos que amenizam o impacto dessas cenas - garotinhas sofrendo e arriscando a vida, mas tudo tão charmoso e elegante! Akiyuki, em suma, depois de começar a declinar com alguns animes em 2009 e 2010 – culpa de sua repetição e fraqueza das obras adaptadas -, ele retoma o bom desempenho e se renova nesse anime, provando que tem capacidade de guiar para o bom caminho um projeto desafiador e bem financiado. Pena que em seguida ele veio com “Denpa Onna to Seishun Otoko”, onde, novamente, se tem aquela percepção de que a embalagem (e que embalagem lindíssima) é melhor que o presente em si... Mas “se desculpou” com o fandom ao trazer “Nisemonogatari” em 2011; altos e baixos, que com certeza continuarão durante a sua estadia pela SHAFT.

“Mahou Shoujo Madoka Magica” é superestimado em boa parte unicamente por sua visão “dark” de garotinhas mágicas? Sem dúvida; mas isso não se sustentaria por tanto tempo se esse ponto de vista não tivesse argumentos bem amarrados aliados a ótimas personagens, e é isso o que se vê no anime inteiro: tudo fazendo algum sentido para o universo criado em volta e se explicando em pedaços episódio por episódio, enquanto as jovens integrantes desse mundo travam batalhas internas e externas. Não ousaria dizer que esse é o melhor anime da SHAFT (pessoalmente, sou mais fã de “Sayonara Zetsubou Sensei” e “Pani Poni Dash!”), porém é certamente o mais bem produzido tecnicamente, e por ora só “Nisemonogatari” chegou a um patamar semelhante. Como vi em vários sites brincando ao terminarem suas resenhas sobre esse anime, “garotas mágicas é coisa séria”. Aqui, ela é sim,e como.

Gen Urobuchi: após “Mahou Shoujo Madoka Magica” Gen trabalhou no roteiro de “Fate/Zero” e atualmente participa da criação de “Psycho Pass”, anime previsto para estrear em outubro desse ano no bloco noitaminA. Anos atrás ele foi roteirista em séries como “Phantom: Requiem for the Phantom” e “Blassreiter”.

Akiyuki Shinbo: essa não foi a sua primeira (e nem será última, veja abaixo) vez dirigindo um anime de “mahou shoujo”. Em 2004 ele chefiou a primeira temporada de “Mahou Shoujo Lyrical Nanoha”, pela Seven Arc, que antes de “Madoka” era a franquia mais bem sucedida do gênero.

Sucesso: “Mahou Shoujo Madoka Magica” “decepcionou” e não superou “Bakemonogatari” na venda de mídias; parou na casa de 71,000 cópias vendidas por volume em BD e DVD. É a segunda série de TV de maior sucesso nessa área desde 2000.

Detalhe: todos os dados mencionados nessa matéria são referentes às vendas ocorridas somente no Japão.

Panelinha: a autora de “Hidamari Sketch”, Ume Aoki, foi responsável pelo “character design” de “Mahou Shoujo Madoka Magica”, mas não é só nisso que os dois animes têm em comum; quase todas as seiyuus que dublaram as moradoras do Hidamari Apartments ressurgem aqui. Kaori Mizuhashi (Miyako) faz a garota mágica Mami Tomoe e a irmã de Madoka, Tatsuya; Gotou Yuuko (Hiro) dubla Kaname Junko, mãe da protagonista; e Ryoko Shintani (Sae) pega um papel menor, como Hitomi Shizuko. Asumi Kana (Yuno) ficou de fora, mas o autor desse texto acha que ela teria sido uma boa escolha para Kaname Madoka – dublada por Aoi Yuuki.


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Breve cronograma dos próximos trabalhos do estúdio

Nova garota hikikomori, possíveis inéditas meninas mágicas e continuações de seus dois maiores sucessos; é aquilo de não mexer em time que se está ganhando? Confira o que vem por aí:


Primeiro dando uma resumida do que surgiu até agora em 2012, além de “Nisemonogatari”, continuação de “Bakemonogatari”, a SHAFT foi responsável pelo terceiro e último curta da série de OVAs “Shin Hikari Shinwa: Palutena no Kagami”, que é baseado no jogo para 3DS “Kid Icarus: Uprising” - lógico, Akiyuki Shinbo foi o diretor dessa animação. Os dois primeiros curtas foram produzidos pelos estúdios Production I.G e Studio 4ºC.

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No dia 6 de outubro desse ano estreia nos cinemas de vários países “Mahou Shoujo Madoka Magica Movie 1: Hajimari no Monogatari”, um possível longa que recapitulará a história da série.

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Uma semana depois, no dia 13 de outubro, estreia “Mahou Shoujo Madoka Magica Movie 2: Eien no Monogatari”, que, igual ao anterior, provavelmente resumirá o que foi visto na série de TV.

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Sem previsão de estreia, é dito que “Mahou Shoujo Madoka Magica Movie 3” trará material inédito.

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Também sem data para chegar aos cinemas, “Kizumonogatari” narrará eventos anteriores aos animes “Bakemonogatari” e “Nisemonogatari”.

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Em relação a séries de TV, em outubro começará a ser exibida – caso não seja adiada novamente - “Hidamari Sketch x Honeycomb”, quarta temporada da franquia de “Hidamari Sketch”. Para o autor desse texto, esse é o anime mais esperado do ano, e por uma razão simples: Miyako.

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Para a temporada de inverno de 2013, está previsto “Sasami-san@Ganbaranai”, adaptação de uma light novel iniciada em 2009 e que, por ora, possui oito volumes lançados. A história é sobre uma garota hikikomori chamada Sasami, que é zelosamente cuidada pelo seu irmão, Kamiomi, professor na escola onde ela inicialmente se recusa a ir. Enquanto Sasami passa seus dias em casa acompanhando o mundo exterior através de um programa de computador  criado pelo irmão, este último se encontra preso em uma espécie de comédia romântica com as três belas irmãs Yagami (que têm entre 9 e 31 anos). Akiyuki Shin... Adivinhem?

O autor da light novel, Akira, já teve uma obra sua adaptada para anime em 2008 pela Nomad, chamada “Kyouran Kazoku Nikki”.






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E o mais instigante é “Magical Suite Prism Nana”, projeto original anunciado na 82ª edição da Comiket, ocorrida em agosto. Ainda não se tem muitas informações a respeito, mas, considerando as imagens e textos do site oficial, dá-se a entender que o anime terá garotas mágicas envolvidas com música. Um “Suite Precure” à lá SHAFT? Carregando “Mahou Shoujo Madoka Magica” nas costas, é difícil imaginar que novidades o estúdio guarda para tal animação.


Segue algumas "character picures" e o link para o site oficial (clique nas imagens para expandi-las):

http://www.prism-nana.com/












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A tendência é que listas relacionadas a estúdios terminem por ficarem grandes e cansativas de ler que nem ocorreu com essa – e exatamente por isso esse tipo de tema não será muito abordado como eu gostaria que fosse. Como curiosidade, as duas partes dessa lista juntas ultrapassaram trinta páginas; prometo que os próximos artigos não chegarão a dez! Ou quinze...





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Um comentário:


  1. Além dos dois superestimados da lista hehe (bakemono e madoka magica), já tentei ver ef~ (duas vezes aliás) e Arakawa, mas não deu muito certo.

    Bakemono não cheguei a terminar por causa do hiato na série de quando parou de ser transmitida na tv e passou a ser via stream, mas é das obras da shaft que já vi a que considero 2º melhor (depois de Zetsubou sensei), além de tbm achar Madoka ótimo. Mas mesmo não sendo minha preferida, diria que Bakemono é o que mais identifico ao lembrar de Shaft, aliás só tomei conhecimento do estúdio com ele.

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