Por Escritora Otaku
Para chegar até aqui, passei por várias versões (ou adaptações) dessa história: de OVA’s, filme live-action e, até a mais que dita e falada de 2018, série “Devilman Crybaby”, ou seja, tive várias experiências com as adaptações de um dos animes/mangás mais conhecidos de Go Nagai. No entanto, como conheci mesmo esta obra? Lembro que foi em sites que falavam do mangá em si e de seu impacto, então daí para ver suas adaptações foi um salto; das tantas produções já feitas, diria com todo prazer que curti o filme live-action, apesar das “tosqueiras” declaradas, e um crossover com “Cyborg 009”, que amei o visual do casal principal.
Ok, tudo bem e aí? Num geral, das produções que pude ver a que realmente gostei nem é mesmo uma adaptação, e nem tanto por ter sido a primeira animação da obra e por sua abertura ter atravessado os tempos, mas pelo seu charme está em como criaram uma história nova para algo remetente a uma série tokusatsu e que tem muita cara das produções mais famosas da Tatsunoko (foi um choque saber que era de outro estúdio, tão antigo quanto). A ideia aqui é bem interessante e seria legal se houvesse uma nova versão disto, ainda bem que dá pra imaginar nas escritas. Sim, fiz uma fanfic disto e ela está bem bacana, com elementos da animação com toques mais modernos e uma história que aprofunda o pouco que sua versão anime mostrou (é assim que faço com animes que tem ou não potencial e podem render boas histórias, acreditem). Fora isso, ainda fiz duas fanarts dos dois personagens principais, como seriam estes em versões mais atuais, que ficaram uma graça de desenho.
Enfim, chega de falatórios e vamos ao anime em questão e vamos entender porque não é uma adaptação (a resenha dará os maiores esclarecimentos) e verão que é possível uma obra ganhar uma visão diferente do óbvio.
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Ano: 1972
Diretor: Masayuki Akehi/Tomohasu Katsumata
Estúdio: Toei Animation
Episódios: 39
Gênero: ação/terror/comédia
De onde saiu: original (mas inspirado pelo mangá Maou Dante) (o mangá de Devilman foi lançado ao mesmo tempo em que o anime)
Na ficção, quando um personagem ganha relevância além de suas origens, é comum que haja versões semelhantes ou com algumas diferenças do original. É comum isso acontecer com adaptações de livros, quadrinhos, games e afins, nesse caso é normal a adaptação não ser fidedigna. A graça disto é pensar maneiras diferentes de como tais personagens se comportariam, e em parte pode sair algo muito diferente daquilo que costumamos imaginar. Nem mesmo animes fogem dessa máxima, comparando um anime mais antigo e um mais recente, vemos elementos narrativos, trama e personagens que focam em um ou outro ponto, sendo parte da responsabilidade da equipe de produção envolvida definir se a obra será mais ou menos fiel ao original. Sem maiores dúvidas, há quem critique o excesso ou falta do conteúdo, uns mais, outros menos a maioria crítica (óbvio demais...).
As fanfics são exemplos claros de mudanças feitas como base na imaginação do autor. Utilizando-se de características comuns das obras, recriando tudo, ou aplicando novos contornos para a mesma trama e personagens. Para isso, quem escreve tem de ter noção da obra a ser abordada e como fará o contexto funcionar do começo ao fim. Uns criam uma nova aventura, outros usam certo personagem e o coloca num cenário mais “favorável” ao seu estilo ou desenvolvem uma trama nova com tais personagens, neste último caso, temos uma releitura.
Para o anime a ser analisado nestas linhas, imagine que temos um mangá de muito sucesso e querem uma versão animada deste. A obra em questão era “Maou Dante”, o problema é que estamos nos anos 70 e o conteúdo da obra não é adequado para ter uma adaptação para TV (somente muitos anos depos, em 2002, “Maou Dante” ganhou um anime de 13 episódios pra ser chamado de seu). Na visão de muitos, o assunto morreria aqui, mas havia uma opção que satisfaria os envolvidos: pegar somente alguns elementos de mais importância, os personagens mais relevantes e, com isso, criar uma nova trama voltada ao público da época. E assim, nascem o mangá e a primeira versão animada de “Devilman”, uma das obras mais conhecidas de Go Nagai.
O mangá foi publicado na Weekly Shonen Magazine, de 1972 a 1973, totalizando cinco volumes; a obra teve várias adaptações ao longo dos anos, dois OVA’s, um nos anos 80 e outro nos anos 2000; um filme live-action; alguns crossovers e mais recentemente, outro anime, “Devilman Crybaby”, que botou em animação a história completa da versão mangá com um estilo único de arte e animação, cortesia do seu diretor. Fora outros mangás e novels que contextualizam o conteúdo original, incrementando ou atualizando o que é visto na obra original. Ao lado de “Cutie Honey” e “Mazinger Z”, também com várias versões entre animações e live-action, é uma das obras mais reconhecíveis do seu mangaká. No Brasil, saíram o filme live-action, o último anime pela Netflix e o mangá, em versão de luxo pela NewPop.
Voltemos ao anime de 1972 que é justamente uma reimaginação da obra por inteiro, já que, o que veio depois foi seguindo mais à risca do mangá, que foi publicado ao mesmo tempo que esse anime era exibido. Então chegamos ao ponto mais crucial de todos: este anime não pode ser dito como adaptação nos termos comuns e sim como uma nova visão, com seu próprio enredo, personagens e desenrolar.
Somos logo apresentados a três demônios que são trazidos por Xenon (ou Zenon), o líder dos demônios, para uma luta até a morte. Quem vencer irá usar um corpo humano e sua missão é causar o caos no mundo humano. Destes três, temos nosso protagonista, Devilman (Amon) (sua aparência é literalmente o nome que possui) que se consagra vencedor e assume o corpo de Akira Fudo, um jovem rapaz que acompanhava o pai nos confins da Himalaia ( ambos Akira e seu Pai morreram nessa aventura). Nessa versão, que é bem diferente das demais encarnações/adaptações, o protagonista já falece e quem fica com seu corpo é o próprio Devilman, que o usa como disfarce de sua real identidade. Vemos então o protagonista se mudar para o Japão e vive com a família Makimura, onde se comporta como um delinquente juvenil e “esquece” de sua missão.
Quando surge um demônio para fazê-lo relembrar de sua presença, inicia a jornada do protagonista que passa a enfrentar variados demônios, acabando com os planos mirabolantes desses, que costumam aterrorizar os humanos. O motivo de o personagem esquecer-se do seu dever inicial é ter se apaixonado pela Miki, a filha mais velha dos Makimura, que é a única que coloca Akira em rédeas curtas quando este se comporta mal. E isso tudo acontece no primeiro episódio, em resumo...
A estrutura do anime é bem direta: os demônios são chamados por Xenon para dar cabo ao traidor, podendo atacar diretamente a este, ou elaboram planos malvados para atingir os humanos e só quando encurralados tem sua luta contra Devilman. Com alguns casos de demônios bancando os subordinados do seu líder, enviando seus capangas e, quando encurralados, partem para a luta derradeira e tal como os demais inimigos, são mortos pelo protagonista. Caso isso não soe familiar, esta é a típica narrativa de monstro da semana advinda dos tokusatsu, pois temos o herói; a mocinha; os vilões do dia; as lutas e os planos mirabolantes dos inimigos. Justamente assim que esta versão animada funciona do começo ao fim, com tudo que um bom anime dos anos 70 tem direito e mesmo não tendo a extrema violência do mangá, compensa de outra maneira.
E quais são os elementos do mangá que também estão no anime? A começar pelo segundo/segunda oponente de Devilman, Sirene, a demônio alada, que teve diversas aparições nas adaptações que vieram do mangá, sendo uma personagem recorrente desde as versões iniciais de Devilman. Um elemento diferente no anime em relação ao mangá diz respeito ao personagem Ryo, que no anime, em parte, corresponde a outro personagem, Himura, que possui a mesma aparência do personagem do mangá. Já, do elenco tanto do anime quanto do mangá, estão a família Makimura (pai, mãe, filho caçula e a filha mais velha) e outros pontos que apenas os mais atentos, conhecedores do anime e do mangá, podem descobrir.
E para não deixarmos passar, vou falar de algo que atravessou gerações e se tiver escutado por aí, vem desta animação, a famosa música de abertura de Devilman. Interpretada por Keizo Toda, “Devilman no Uta” é a típica “anisong” que remete a músicas de tokusatsu, realçando bem o que vemos do protagonista em suas aventuras. Ambas, melodia e letra são simples e grudam que nem chiclete que é uma maravilha. Já o encerramento, “Kyou mo Dokoka de Devilman”, do mesmo cantor, segue a vibe de músicas de animes antigos e chama atenção que após determinado episódio, o clipe ganha mais um tempo e mostra cenas do anime na sua execução.
Enfim, não esperem nada grandioso ou que tem os mesmos aspectos que deram fama ao mangá, a primeira animação de “Devilman” é uma releitura completa que funciona, até porque ela e o mangá foram lançadas ao mesmo tempo. Caso tenha interesse por esse anime, vá sem expectativas e se divirta com nosso herói demoníaco em suas aventuras a lá tokusatsu.
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