23 de fevereiro de 2019

Resenha: The Legend of Zelda: Perfect Edition (mangá)




Por Escritora Otaku


Posso dizer que após tanto tempo entre decepções declaradas e lançamentos que não me chamaram a atenção de colecionar, eis que veio a surpresa da publicação deste mangá - mais surpresa ainda foi que a edição não era a convencional e sim uma especial que reúne dois volumes num só, que remete literalmente a um livro. De verdade, tem até marcador de página personalizado, como não gostar disto?! E sim, conheço bem esta franquia, até joguei um jogo aqui e acolá quando pude, bem como acompanhei a repercussão de seu jogo mais recente e as gameplays do mesmo e de suas expansões, logo foi justo ter vindo, tenho de admitir. Antes que digam "sua fangirl da Panini", vou deixar claro que não me culpem que eles acertem mais em títulos que me interessam do que sua maior concorrente.

Sem tantas delongas, vamos descobrir se “The Legend of Zelda” repete em outra mídia o destaque que tem nos jogos. Adiantando que da mesma forma temos os mangás de “Pokémon” representando a alma dos games, aqui não foi muito diferente, em partes.

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Mangaká: Akira Himekawa
Número de volumes: 5
Editora: Shogakukan (Japão) / Panini (Brasil)
Gênero: Aventura / Fantasia
De onde saiu: Franquia de jogos

Games tem sido parte da cultura e da vida de muitas pessoas, dos jogadores casuais e rotineiros, cada um com sua visão a esta área do entretenimento. Quando se olha a história dos jogos e das gerações dos consoles/plataformas, vemos um processo de tentativas e erros que consolidaram a indústria num patamar próximo ou maior que a do cinema, como exemplo. E entre tantos games lançados, os que formam franquias e sagas são casos a ser explorados, seja pela sua dinâmica, estilo de jogo, repercussão e influências - parte se torna marca para um console ou desenvolvedora, diferindo da concorrência ou games feitos para todos aqueles que amam o desafio de jogar seus variados títulos.

E para conquistar um público maior, os games necessitam encontrar meios de aproximar suas tramas, sem esquecer dos que a conhecem de longa data. Aí vem a faca de dois gumes com as adaptações: ganhar animações, filmes, spin-offs e quadrinhos tem sido as alternativas e num geral, nem sempre acertam. O maior problema consiste em quanto do game pode ser usado e indo para casos mais comuns, animações vivem de acertos e erros; filmes live action raramente acertam e quanto aos quadrinhos, como no caso abaixo, as liberdades criativas e união do melhor ou pior, são quase positivas e aceitas.

Um ponto é mais que certo: adaptar games para outras mídias fora dela vira um baita desafio aos que são contratados a botar no papel ou nas telas tais obras. Por aqui, vamos destrinchar uma franquia de jogos muito conceituada, que de tempos em tempos, pega seus amantes ou não de surpresa: vejamos se “The Legend of Zelda: Perfect Edition” conseguiu, nos mangás, manter sua reputação ou se foi mais uma tentativa falha de pôr no papel sua trajetória.



Contexto/traços/personagens

Vindo da mente de Shigeru Miyamoto, que também trouxe personagens como Mario, Donkey Kong, Pikmin – sim, você sabe de quem estamos falando – de propriedade da Nintendo, que fabrica consoles e produz seus jogos, Zelda veio numa época após a crise dos games de 1983 e deixou sua marca nos famigerados games de RPG. O primeiro jogo veio em 1986, no NES ou Nintendinho e vem tendo novos games a cada novo console ou portátil da Big N, marcando seus jogadores e admiradores com sua história, personagens e estilos. Dos mais diversos jogos lançados, até versões remasterizadas ou HD, destaques para “The Legend of Zelda: Ocarina of Time” de Nintendo 64 e Nintendo 3DS, game que revolucionou a forma de produção de jogos e recentemente, “The Legend of Zelda: Breath of the Wild” do Nintendo Wii U/Nintendo Switch que fez bonito e ganhou até o prêmio de Melhor Jogo no GOTY 2017.

Falar da trama aqui tão simples e ao mesmo tempo, cheia de linhas temporais, em geral, se resume no herói que precisa salvar o mundo e a princesa das garras do mal. O enredo praticamente nos jogos é o mesmo, só mudando o andamento e suas sequelas; os gráficos, pois estamos numa linha de jogos de uma produtora e a visão que cada um terá em sua execução, seja mais alegre ou sombria; como de seus elencos de personagens, dos mais corriqueiros aos exclusivos daquele jogo. Dá para dizer que os personagens mais relevantes e comuns na maioria dos games se resume a três: o protagonista e herói, Link; a princesa que dá título aos jogos, Zelda e o grande vilão, Ganondorf.

Partindo aos mangás, houve mais versões do mesmo e uma destas se destacou por ter colocado em quadrinhos esta extensa franquia: ela foi idealizada no ano de 1998 pelas mãos de Akira Himekawa, nome dado à dupla A. Honda (roteirista) e S. Nagano (ilustradora), que receberam à dura tarefa de transpor a jornada dos games com aval da própria Nintendo e trabalharam na adaptação de diversos títulos da franquia, a maioria já conhecidas dos jogadores. As duas dedicaram seu tempo e imaginação num total de 10 volumes e atualmente, estão adaptando o jogo “The Legend of Zelda: Twilight Princess” (Game Cube); boa parte da parceria e experiência de mangakás está nesta série, dando possibilidades para outros jogos ganharem sua versão mangá.

Estes mangás acabaram em 2016 ganhando uma versão que compila de dois em dois volumes, totalizando cinco e que ficou conhecida como “Perfect Edition” no Brasil. Dos tantos jogos já lançados, oito, excluindo o mais recente tiveram esta honra e foram publicados numa das revistas da Shogakukan e seguindo a estética artística de cada jogo, variando bem os traços de uma trama para outra, nada incomum na franquia.



Falando dos traços usados, as mangakás tiveram cuidado e certa liberdade para apresentar cada jogo de forma direta, deixando de lado mecânicas dos games como as dungeons e puzzles, simplificando o conteúdo para os leitores destinados e aos que conhecem, dando um ar diversificado e impondo cada enredo, conteúdo e personagens usados - chegando até mesmo a influenciar os próprios games e a equipe responsável pela franquia, conforme dito em entrevistas dentro desta versão. Por isso, cada trama adaptada tem o visual de acordo com o jogo apresentado, podendo ser mais realista, cartunesco ou uma mescla de ambos. Sobre os mangás em si, os games trazidos foram estes: “Ocarina of Time”; “Oracle of Seasons/Oracle of Ages” (games de GameBoy); “Majora’s Mask/A Link to the Past” (Nintendo 64 e Super NES); “The Minish Cap/Phantom Hourglass” (GameBoy Advance e Nintendo DS) e “Four Swords” (Game Cube), respeitando a trama original e pondo em desenhos os principais fatos de suas respectivas histórias. Sobre se há ligações, a maioria não tem, exceto Ocarina e Majora’s que possuem as tramas entrelaçadas por certos elementos em comum; quanto aos mangás, os games do Oracle foram postos numa única história e a ordem é começar no Seasons e terminar no Ages; Ocarina e Four Sword ganharam dois volumes cada, sendo o segundo com menos conteúdo que o outro devido ao existente no game e mesmo assim, as mangakás puderam trabalhar mais no enredo e como já dito, as escolhas das adaptações foram feitas pela Nintendo e são produtos oficiais da mesma.



Aspectos dos mangás

Quem entende de quadrinhos, sabe melhor que ninguém que é comum uma obra ter diversas versões, umas superando outras e até ganhar o status de clássico. Mesmo que mangás não usem muito este recurso que é normal para ocidentais, há casos de animes ou de obras clássicas ganhando uma nova roupagem, vide “Pluto” de Naoki Urasawa, vindo do renomado “Astro Boy” de Osamu Tezuka. E vamos ser diretos quando se trata de adaptações de games, nem sempre o resultado é uma cópia fiel ao original, afinal, botar em quadrinhos qualquer jogo requer muita cabeça fria e definições do conteúdo a ser transposto, de ordem de acontecimentos e o que é mais importante da história do jogo, tanto aos que nunca jogaram quanto aos que já experimentaram dos mesmos.

Os mangás de Zelda apresentam estas características: temos a trama central dos jogos, personagens principais, elenco e o encaixe de cada fato até o derradeiro final. Fora os traços combinarem com a estética original dos games, sejam estes próximos ou não dos originais. Cada obra consegue transmitir a cada quadro, toda a trajetória de Link em suas aventuras e embates para evitar que o Reino de Hyrule e locais próximos ou não sejam destruídos, além de contar com aliados e encarar seus maiores desafios para salvar a donzela em perigo, a Princesa Zelda - vamos dar um desconto para certos momentos que ela ajuda e intercede pelo protagonista e demais personagens. Além disto, é possível observar a evolução da Himekawa ao longo dos mangás: do tom mais contido e preso de “Ocarina of Time”, ao tom mais descontraído e seguro em “Four Swords” e no “Twilight Princess”, onde elas aprenderam a tornar as tramas mais agradáveis e sem tanta pressão da parte da Nintendo, que gostou muito do resultado final. Para ser justo, é uma enorme honra poder adaptar games da Big N em quadrinhos e podemos considerar que ao lado dos mangás de “Pokémon”, há grande aceitação neste tipo de material.

Quanto ao conteúdo, vamos dizer que elas conseguiram em cada jogo adaptado, manter a essência que os consagrou e fazer certos aspectos comuns ter suas diferenças. A maior sem dúvidas fica pelo Link falar, pois quem acompanha a franquia em si sabe que ele praticamente ele não fala, apenas emite algum som quando ataca e nos mangás, isso faz dele um personagem mais interativo com o contexto das obras, sem soar estranho demais. Outro aspecto fica para os traços, cada obra tem um visual que difere um do outro e parte de acordo com o design dos jogos, uns puxando mais e outros sendo uma mescla com a ideia das mangakás. Nas próprias Perfect Edition podemos ter melhor noção do quanto foi um desafio para Akira Himekawa, desde o momento que iniciaram até mesmo a interação com cada jogo e suas ideias, sutis ou radicais, na elaboração de cada obra.


Partindo ao material em si, temos o fato de ter em mãos, na edição nacional, algo próximo a uma edição de luxo: os mangás possuem capas e orelhas que remetem ao estilo de um livro, com partes douradas por toda a capa - a capa principal tem ilustração central de uma das tramas, exceto Ocarina e Four Swords -, primeiras páginas coloridas e de brinde, marcadores de páginas que representam a primeira página colorida e vem com a cor respectiva da capa e o símbolo da Triforce no verso. Em algumas edições houve o acréscimo de detalhes quanto às artes, entrevistas com as mangakás e com o Eiji Aonuma, responsável pela franquia de jogos desde Ocarina sobre os mangás e sua repercussão entre eles, bem como capítulos extras e tirinhas.

A edição teve seu anúncio em 2017 pela Panini e início em dezembro do mesmo ano, periodicidade bimestral, se encerrando em agosto de 2018 com distribuição nacional e custando R$ 29,90 cada volume. O preço pode parecer caro à primeira vista, mas é claro que, se levar em consideração o material usado, páginas coloridas e marcadores, fora ser dois volumes em um, o preço é justo. Além disto, quem comprou o primeiro volume na pré-venda, teve de brinde um pôster. Material digno para uma aclamada franquia de jogos...



Depoimento pessoal sobre os mangás


Quero deixar bastante claro que já tive contato com Zelda e tinha conhecimento da existência dos mangás, além da chance de jogar alguns dos tantos jogos. Agora, como ocorreu meu primeiro contato - nada diferente do que sabem de minha pessoa -, foi por revista, precisamente a “Nintendo World Especial n° 1”, que vinha com detonados de três games: o já clássico “Goldeneye 007” do N64; “Quake II” do mesmo console e vindo do Super NES, “The Legend of Zelda: A Link to the Past”. E não comprei a revista por causa dos jogos e sim por conta do brinde, um pôster com os 150 primeiros pokémon - podem rir, naquela época eu era uma fangirl declarada das aventuras de Ash e Pikachu, e se tinha algo relacionado ao anime, comprava na hora. Certo que, um tempo depois, lá por volta de 2002, veio numa loja de jogos a fita do jogo e em 2003, ganhei a mesma, legítima e o “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” de aniversário. Posso me gabar de ter ganhado uma fita e um livro, não posso?

Foi assim que com a revista, pude zerar diversas vezes o game de Super NES e anos adiante, num emulador de GBA, ter contato com os Oracles e o Minish Cap. Este último está quase zerado, só preciso ter força de vontade pra fechar o bendito jogo, já fiz com outros, por que não este?!

Sobre a existência dos mangás, meu contato veio numa “Anime Do” e em postagens pela net; ficava torcendo no dia que divulgassem a vinda destes e não é que aconteceu, na mesma editora que me apresentou “Slayers”; “WitchBlade Mangá”; “Chrno Crusade” e “Mad Love Chase”? Até postei no meu Facebook minha alegria pela publicação, mais surpresa pela edição não ser dez e sim em cinco volumes; certo, o preço deu um sustinho, mesmo assim, queria ter Zelda na minha escassa coleção de mangás. E foi assim que fiquei de olho na vinda dos mangás pelas bancas de jornal e sim, falei no plural porque quatro dos cinco comprei numa banca de uma cidade e só o quarto volume foi na banca habitual que compro; tenho de dar os créditos ao blog “Biblioteca Brasileira de Mangás”, criado por um capixaba, quanto a questão de lançamento, vendo os checklists e tendo noção de quando vinha nas bancas. Quando pude ter em mãos o primeiro volume, fiquei fascinada e admirada pelo material físico remeter a um livro, fora o marcador de páginas e como leitora de livros, nem sei o que dizer, simplesmente amei!


E tratei de fazer algo que faço com minha coleção de livros favoritos, o de encapar os mangás, pois aquelas partes douradas desfazem com o tempo e assim foi durante sua publicação. Sobre as tramas em si, admito que umas foram melhores que outras, deve muito à proposta que as mangakás quiseram trazer e me maravilhei com os desenhos, também gostando do conteúdo, achando interessante as entrevistas e os marcadores então foram uma graça, sinceramente, os melhores que já vi em mangás publicados no Brasil. Dos cinco marcadores, apenas o que veio em “Minish Cap/Phantom Hourglass” chegou um pouco borradinho e com o símbolo da Triforce de cabeça pra baixo (não fui a única, parece que foi um erro de impressão neste caso). Quanto ao conteúdo dos games mostrados, tive a impressão entre conhecer mais dos seus enredos nos que joguei e o de curiosidade quanto aos que não tive contato ou conhecia por fora.

Meu veredicto? Só alegria e fora que devo plastificar todos os marcadores, já fiz com os dos dois primeiros volumes, aguardem os demais e puxa, os mangás juntos vão ficar uma graça numa estante, podem crer! E quais games da franquia gostaria de ter sua versão mangá? No meu caso, tem de ter “The Wind Waker”, “Skyward Sword” e “Breath of the Wild”.



Considerações finais

Os amantes dos jogos da franquia ou que curtem este universo dos games podem ficar satisfeitos, ao menos, no Brasil: “The Legend of Zelda: Perfect Edition” consegue em seus volumes botar em mangá a grande epopeia dos games escolhidos ao público. Mesmo que não seja excepcional todo o tempo, revela uma parte do universo de Link e um conselho prático: encape os mangás, devido as partes douradas presentes. E não se assustem com a aparência de livro, por dentro, é um mangá como os que vemos por aí, apenas mais caprichado que o normal.

Zelda se junta a outros mangás e quadrinhos que vieram desta mídia tão popular e interessante, seja para os que já tiveram alguma experiência ou não neste mundo dos jogos.


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