31 de dezembro de 2013

Resenha: Kami Nomi zo Shiru Sekai


Abandonar o maravilhoso mundo 2D para dar em cima de garotas reais? Ah, só mesmo correndo risco de vida e tendo a ajuda não muito útil de uma avoada garota demônio...


Ano: 2010
Diretor: Shigehito Takayanagi ('Kanamemo")
Estúdio: Manglobe
Episódios: 12
Gênero: Comédia / Romance
De onde saiu: Mangá, 24 volumes, em andamento


OBS: No final há o resultado completo da enquete feita no post sobre "Servant x Service".


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Keima Katsuragi é um mito – não, mais do que isso! Conhecido como “Deus da Conquista”, ele já arrebatou o coração de mais de dez mil garotas; loiras, ruivas, altas, baixinhas, tsunderes, kuuderes, lolis, atletas, riquinhas mimadas, bibliotecárias ou até as cobiçadas presidentes do conselho estudantil não resistem ao toque de suas mãos ágeis e o som de suas frases encantadoras. Mas calma lá, não entendam errado!

Keima, na verdade, pode ser um aluno exemplar, porém comunicação não é seu forte, especialmente com o sexo oposto; seus feitos galanteadores se resumem ao seguro e inofensivo universo 2D, finalizando um “dating sim” atrás do outro enquanto ignora e despreza o mundo real – porque, totalmente compreensível, nele você não pode salvar e carregar uma ação caso ela dê errado, nem seguir um padrão de eventos e diálogos para se chegar a um objetivo. Entretanto, essa sua rotina de ignorar professores, tirar dez em provas e zerar jogos sofre um pequeno desvio de rota com a chegada de Elucia de Lute Ima, uma garota demônio que pede o auxílio de suas inegáveis habilidades (mesmo percebendo muito tarde que o campo de atuação do rapaz é outro).

Sem querer Keima aceitou antes, ao responder um e-mail, certo desafio que parecia sobre mais um simulador de encontros, contudo descobre através de Elucia que sua real missão é libertar garotas de espíritos fugitivos do inferno. Tais criaturas se escondem no coração delas, e Elucia sugere a Keima que o único método possível de forçar a saída dos espíritos é “capturando” o coração de cada uma – ou seja, fazendo-as se apaixonar. Ideia terrível para alguém acostumado a meninas com cabelos de cores variadas e trajes estilizados, mas sua nova irmã (como é?!) alerta para o fato de que, caso o contrato já aceito seja quebrado, os dois perderão suas vidas.

Parece que o nível de dificuldade desse jogo será “um pouquinho” maior que o normal...


Fundado em 2002 por ex-funcionários do Sunrise, o estúdio Manglobe teve um início arrasador; "Samurai Champloo", "Ergo Proxy" e "Michiko to Hatchin" foram três ótimas animações originais muito elogiadas, o que levou o estúdio a um nível de adoração absurdo na época. Tinham grandes nomes, eram grandes produções, mas, deram pouco retorno financeiro. Ainda em 2010 Manglobe veio com outro queridinho dos fãs, "Saraiya Goyou" (este já adaptação de um mangá seinen); só que um ano antes, em 2009, ele apresentou algo mais "palpável" para o público que realmente gasta, no caso a adaptação da fraquinha light novel "Seiken no Blacksmith". E o que "Kami Nomi zo Shiru Sekai" tem a ver com isso? Ele foi a aposta seguinte do novo rumo escolhido pelo Manglobe, em 2010, e desde então o estúdio desandou de vez ao já ter apelado inclusive para eroges, e dando foco na adaptação de mangás populares ("Deadman Wonderland" e "Karneval", por exemplo) mesmo que, em um todo, sejam muito inferiores se comparados aos seus primeiros trabalhos - agora em 2013 até arriscaram uma nova animação original ("Samurai Flamenco"), sem descuidar em ter no meio elementos que atraíssem o público consumista; porém, o resultado está longe do obtido anos atrás com samurais e androides...

Acabei de falar mal do anime tema desse texto? Nem tanto, a questão aqui é ver outra empresa que perdeu (e com imensa rapidez!) sua identidade, aceitando qualquer coisa para animar desde que paguem bem e fazendo pensar que, muitas vezes, o nome do estúdio por trás de uma obra quase não tem tanto peso. Mas "Kami Nomi zo Shiru Sekai" não tem culpa disso: ele é bom, bastante inferior como eu disse se posto lado a lado das pequenas joias lapidadas nos primeiros anos do Manglobe, contudo autossuficiente para ser uma obra, no mínimo, agradável e inesperadamente sentimental, por mais que uma sinopse trazendo um nerd obcecado em jogos e uma demônio atrapalhada como protagonistas não consiga muitos créditos em um primeiro momento.


Hiro Shimono é um "expert" em personagens fracassados e/ou inseguros; de Akihisa em "Baka to Test to Shoukanjuu" a Yabe Satoshi em "Mitsudomoe" e Kyouya em "GJ-bu", seu tom de voz meio bobalhão encontrou aqui outro grande "loser". Okay, okay, Keima é super inteligente ao contrário de Akihisa, não fica se lamentando em qualquer canto igual a Yabe (possui uma confiança invejável em seu estilo de vida nada saudável!) e tampouco é toda hora zoado pelas mulheres - porque sequer se aproxima delas, caso sejam em 3D -; entretanto, não deixa de ser, pelo menos numa visão geral da sociedade, um legítimo fracassado. Um fracassado vestido à la Austin Powers (e curioso como não é só no visual que se assemelham...) que agora deverá aproveitar de sua experiência em jogos para conquistar garotas dos mais variados tipos - tipos esses que ele até conhece bastante, na verdade.


Nessa primeira temporada dividida em arcos, e seguida por outras duas séries de TV e alguns OVAs, Keima se verá diante de quatro meninas já previamente apresentadas na boa música de abertura cantada por Elisa. Para a sorte dele e de Elucia, essas garotas não passam de estereótipos usados à exaustão em simuladores de encontros, nesse caso uma estudante atleta do tipo "tomboy" (Ayana Taketatsu), uma riquinha mimada de testa larga (Aoi Yuki), uma idol (Nao Toyama) e uma bibliotecária de poucas palavras (Hanazawa Kana). O respeitável "Deus da Conquista" logo percebe que na vida real o desafio é de fato bem maior, mas ao menos aqui alguns eventos extremamente padronizados e previsíveis dos jogos o ajudarão a atingir seu objetivo. Pouco importa se ele sequer pegou antes nas mãos de uma garota; Keima sabe por vasta experiência própria que o número de encontros casuais com uma menina aumenta a afeição entre os dois (ou deveria aumentar, né); compreende que dividir um segredo com uma garota, que só os dois sabem, é uma vantagem imensa a seu favor rumo ao coração dela (bem, isso porque em "date sim" você não corre o risco de virar somente um amigo de confidências); e tem ciência de que o correto é o garoto correr atrás da garota, pois se ocorrer o oposto tenha cuidado, porque se trata de uma armadilha (e EU também digo por experiência própria que isso ocorre muito nesses jogos, sendo que em alguns mais pesados você pode até acabar morrendo!). Ele tem a sabedoria necessária para sua nobre missão - um pouco distorcida, mas tem -, e é elogiável como "Kami Nomi", apesar de abusar com consciência de tantos clichês na construção de personagens e histórias, ainda assim exibe uma boa carga sentimental.

De modo algum estou afirmando que são dramas e romances excelentes, perfeitos, mas considerando o material juntado, o resultado é superior ao que se esperaria disso. Por mais manjado que sejam seus dilemas, se embaraçando em certas partes com acontecimentos tolos e diálogos ingênuos, há sempre um desfecho sensível e de emoções bem expressas para cada um dos "alvos" do protagonista, encerrando assim um arco de maneira competente e simples - são os únicos momentos onde o romance realmente toma conta da trama, pois no restante do anime a comédia é quem tem o maior papel. Keima também merece algum mérito, porque, apesar de sua frieza se tornar irritante às vezes (pode acontecer o que quiser, mas 2D é insubstituível!), ele surpreende nesses instantes com uma total seriedade e segurança, desfiando frases sábias e românticas - está certo que pega algumas emprestadas de seus adorados jogos, mas ignoremos isso... Em resumo, "Kami Nomi zo Shiru Sekai" apresenta um teor romântico humilde, básico, mas arranca um brilho maior dessas pequenas relações relâmpago graças ao cuidado que termina cada uma delas. Todavia, mesmo que possua uma ou outra personagem conquistada como favorita, é bem provável que muitos vão preferir a animação mais pela sua comédia mesmo, seja por conta da excentricidade de Keima, a doce inocência de Elucia ou então a boa química entre os dois.


Enquanto a série se baseia muito de seu humor na exagerada obsessão de Keima por simuladores de encontros, fazendo constantes piadas dos elementos vistos nesses jogos e do modo como ele compara esse mundo com a vida real (porque é impossível conquistar uma garota de poucas palavras se você não pode ler os pensamentos dela, e é um absurdo procurar pela casa de alguém não tendo um mapa que marca onde a pessoa mora...), há ainda um lado mais "kawaii" do anime, representado por uma demônio cuja cabecinha de vento não lhe faz parecer que já tem 300 anos de idade. Típica personagem problemática e atrapalhada, Elucia (Kanae Itou, de "Boku wa Tomodachi ga Sukunai" e "Hanasaku Iroha") realiza um show à parte em "Kami Nomi" com seu jeitinho todo inocente e alegre, se esforçando o quanto pode para satisfazer e ser aprovada por seu companheiro de missão - uma pena que isso geralmente resulte em um Keima nervoso e impaciente, mas convenhamos que é complicado ficar calmo após ver seu querido console PFP (PSP não pode!) ser lavado com água e sabão, mesmo que com a mais boa das intenções por parte dela... 

É tontinha, tímida, tem fixação por caminhões de bombeiro, faz inúmeras e adoráveis caretas, e, okay, de quando em quando ajuda Keima em alguma coisa - ajuda, atrapalha, ajuda, atrapalha, atrapalha, atrapalha, e assim vai. É curioso como, apesar de em uma ou outra cena (e principalmente no mangá) ela ficar com ciúmes dele devido a intimidade quem tem com as garotas possuídas e outras personagens, Elucia e Keima têm uma relação mais próxima à de irmãos, sendo que ela inclusive o chama graciosamente de "kamini-sama", uma mistura das palavras irmão e deus. E pela forma como se interagem, é difícil vê-los de outra maneira, pois não só Keima constantemente dá sermões na coitada por conta de seu comportamento - se bem que preparar um almoço que ainda se mexe é demais, mas enfim -, como os dois em vários momentos engatam diálogos enérgicos repletos de encenações, gags visuais, "sabedoria" por parte de Keima e uma pobre Elucia ora tentando defender timidamente seu ponto de vista, ora venerando "kamini-sama" por seu vasto conhecimento. Pessoalmente, acho essas sequências as melhores do anime em se tratando de humor, mesmo que muitas delas tenham perdido força ao sair do mangá para a TV (a adaptação em seu todo é razoavelmente fiel à história, mas prejudica demais a comédia ao excluir, modificar ou alongar mais do que o necessário algumas piadas). Por outro lado, isso é algo que já vem do material original, mas "Kami Nomi" exibe certa dificuldade em manter o ritmo na passagem de um arco para o outro, no qual ocorrem episódios "fillers" de pura comédia, usualmente, nonsense. Aqui, o que mais se vê são piadas forçadas e tramas que ficam muito aquém do tema principal.


Em um saldo geral, "Kami Nomi zo Shiru Sekai" se mostra muito irregular nos seus doze episódios, ficando caracterizado por um grande sobe e desce na qualidade do humor e, inclusive, nas histórias de cada garota. Talvez de uma personagem você pense que o arco dela tenha sido curto demais, enquanto de outra tenha achado longo, ou quem sabe se simpatizou com o desfecho bonitinho da história de uma terceira, porém desaprovou muito o desenvolvimento dela até chegar a esse ponto... Enfim, não será difícil passar por tal sensação. O mangá (e por consequência o anime), na verdade, possui um início que não faz jus ao que virá em seguida; de 2011, "Kami Nomi zo Shiru Sekai II" já dá um salto considerável na execução de suas tramas, e o mesmo ocorre com a terceira temporada, exibida em 2013.

Por ora, aproveite a fofura de Elucia e aprenda com a erudição do "Deus da Conquista", pois somente ele para vir com a sentença de que "A preocupação de uma garota pode ser sua carta na manga; você deve obtê-la mesmo que lhe custe a vida!"... Oras, como não levar a sério e respeitar (ou dar risada e ter pena?) de alguém que solta tais reflexões e ainda faz sem pudor declarações do tipo "Se está preocupada com o pódio, saiba que você já está em primeiro lugar no meu coração"? Duvido você fazer melhor, duvido!


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Nota: 7


(clique para uma melhor visualização)

















No MyAnimeList (30-12):
O anime está na 387ª posição, com nota 8.08. Já o mangá tem nota 8.64, e é o 62º colocado. Há ainda uma versão em light novel, com história e personagens originais; possuindo dois volumes publicados entre 2009 e 2010, ela tem nota 8.24 e se encontra na 459ª posição.


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Enquete

No post com a resenha de "Servant x Service" eu publiquei junto uma enquete perguntando de qual anime gostariam de ver uma resenha no Animecote. Segue o resultado final:

Kami Nomi zo Shiru Sekai - 44% dos votos
Hataraku Maou-sama! - 22%
Outros: - 11%
Acchi Kocchi - 8%
Shirokuma Cafe - 6%
Love Lab - 5%
Tamako Market - 4%


Dessa forma, além de "Kami Nomi zo Shiru Sekai" e suas três temporadas, também farei uma resenha de "Hataraku Maou-sama". Os demais animes não serão deixados de lado; ou farei a resenha de um ou outro em um futuro mais distante, ou posso ainda recoloca-lo em outra enquete, para ver se tem melhor sorte. 

Em "Outros" vários animes foram citados, sendo "Gin no Saji" o único que teve dois votos: nesses avaliarei um a um para decidir se vale a pena fazer um texto a respeito - com exceção de "Ninja Scroll", que nego com veemência seu voto, visto que foi trollagem de certo membro daqui do Animecote...

Agradeço a quem votou na enquete. Tinha receio quanto a se ela seria bem recebida, mas o número de votos me animou não a só falar dos animes mais citados, como inclusive a realizar outras no futuro para decidir sobre o conteúdo de novas postagens.



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2 comentários:

  1. Bem, realmente, caro Erick, o anime de Kami Nomi em muitas partes não faz jus ao mangá, que realmente é mais ágil e bem dosado na comédia e romance. E é uma pena que na 3ª temporada tenham dado um salto enorme da história original do mangá, pois só quem leu pode se identificar melhor com o contexto da citada temporada. Mas tenho que dizer que Kami Nomi me agradou principalmente pelo fato de não recorrer ao ecchi barato e forçado, se focando mais no Keima e na construção das garotas conquistadas. E recomendo à todos que acompanhem o mangá em seus capítulos atuais, pois o autor está fazendo coisas bem ousadas e dignas de nota com o universo que ele criou.

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    1. Você tocou em um ponto que gostaria de ter abordado na resenha, mas que deixei de lado porque ela já estava ficando muito grande; gostei de ver como "Kami Nomi" não apela para um ecchi abusado, tonto, mesmo havendo espaço para isso. No anime há fanservice desse tipo em duas cenas, por aí, e no mangá isso aumenta um pouquinho, porém em nenhum momento chega a ser algo que se destaca mais do que o romance e a comédia presentes na história.

      Podemos dizer que no gráfico de obras semelhantes há um anime que segue exatamente esse caminho que "Kami Nomi" preferiu evitar, "Date A Live". Se bem que esse nem chega a ser ruim por conta disso, a história e os personagens é que já são fracos demais mesmo...

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