15 de setembro de 2018

Resenha: Matantei Loki Ragnarok





Por Escritora Otaku


Lembro como se fosse ontem, num computador todo branco dos três animes que gravei sozinha, lá em 2006: dois foram escolhas por ter visto em revistas, especificamente a Ultra Jovem, e neste caso eram o alvo desta resenha e “Chrno Crusade”; já o o último foi uma destas recomendações em sites de reviews, “DNAngel”, um shoujo que tomei susto quando soube de sua demografia. Destes três, “Chrno Crusade” foi o que mais me marcou, sendo muito merecido ele ter resenhas minhas do anime e do mangá no site, como também de estar no meu Top Animes. Depois deste, o que marcou e apenas ficou melhor, devido a sua versão dublada ter melhorado demais a história e interação dos personagens, foi “Matantei Loki Ragnarok”.

Vamos por partes: havia acompanhado este anime em sua versão legendada e curtido alguns pontos; anos depois, quando soube numa revista de animes, a Anime Do, que a série veio ao Brasil e tinha versão dublada, fiquei animada para ver o resultado. Pedi a um amigo meu, que já costumava gravar uns animes pra mim, em doses pequenas, esta versão. E aí, não deu outra: com uma dublagem extremamente impecável, um elenco de vozes muito bem colocada, um anime regular a mediano transformou-se em algo mais interessante e fascinante em seu andamento. A regra de que uma boa dublagem pode tornar a produção mais aceitável é bem explícita neste caso.

Aí, um anime simples tornou-se parte da minha vida e quando recomendo este, dê preferência à versão dublada, porque ficou mais apresentável de assistir. Claro que tem suas particularidades, são estas que a resenha vai revelar e quem sabe, ter uma nova visão de um dos deuses da mitologia nórdica e suas aventuras.

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Alternativo: Mythical Detective Loki Ragnarok
Ano: 2003
Diretor: Hiroshi Watanabe
Estúdio: Studio DEEN
Episódios: 26
Gênero: Comédia / Sobrenatural / Suspense
De onde saiu: Mangá, 7 volumes, finalizado


As histórias transmitidas de geração a geração vão muito além dos contos de fadas: fábulas, lendas e mitos se encaixam no mesmo ponto, cada uma com suas particularidades, personagens e circunstâncias. Indo de país a país, deparamos com uma vasta diversidade de histórias de tempos que o homem cria em mundos com deuses e deusas que mesmo estando acima dos humanos, tinham atitudes e pensamentos muito próximos dos mortais. E estas são usadas como pano de fundo de muitas das aventuras da ficção humana, inspirando em novas ou releituras destas lendas mitológicas.

Vindo do continente europeu, a Mitologia Nórdica possui muitas histórias de um panteão de deuses, criaturas e situações que mesmo sendo somente meras histórias, influenciam demais nas diferentes mídias. Do grupo de deuses nórdicos que há, podemos destacar três deles: o líder, Odin (um senhor que toma conta da terra dos deuses, Asgard) e de seus filhos, Thor, deus do trovão (bem representado, mostrado como alguém bom e justo, dono de um martelo e quem acompanha quadrinhos da Marvel, um dos membros dos Vingadores) e pra fechar, Loki, deus das trapaças, irmão de Thor e sempre revelando uma faceta de vilão ou de trapaceiro em suas diversas representações. Temos deuses bons e piedosos contra deuses maus e cruéis até a alma, ficando a questão se isto é parte de suas origens ou é apenas um ponto de vista de quem aproveita suas personas?

Se for uma pessoa bem atenta e interessada nestas histórias mitológicas, deve notar que Thor é mais retratado como herói/mocinho, enquanto Loki é posto como vilão/antagonista na maioria das tramas ficcionais - o máximo é ver, de vez em quando, uma parceria dos dois deuses nórdicos em momentos necessários a tal união. Não quer dizer que não possam haver versões destes deuses de forma diferente do habitual e este é o caso de “Mythical Detective Loki Ragnarok”, um anime que traz a mitologia e parte dos deuses deste panteão à terra do sol nascente.

Vinda de um mangá de autoria de Sakura Kinoshita, a trama começou a ser publicada primeiro na Gangan Magazine, de onde foi inspirada a versão anime e depois, seguiu para a Mag Garden, com o nome que a animação adotou. Curiosamente, em sua transmissão aqui no Brasil pelo canal Animax a série foi intitulada "Mythical Sleuth Loki", pois antes dela tinha sido exibida “Ragnarok: The Animation” (2004), anime proveniente de um game MMORPG bem famoso nos anos 2000 e assim, para não haver confusão, optaram em mudar o nome deste para outro. E também foi desse jeito que o anime ganhou mais destaque, tanto quanto outros que tiveram seus momentos de fama no canal.

O contexto da trama é bem simples: Loki é exilado e ainda por cima, em forma de criança ao nosso mundo; para poder recuperar seus poderes e saber o que houve para estar ali ele cria uma agência de detetives com a qual, nos casos apresentados, obtém auras malignas a fim de reaver suas habilidades divinas. Para isso, conta com a viciada em “mistérios misteriosos”, Mayura Daidouji; seu mordomo e faz tudo, Yamino e o mascote carismático E-chan, que divide este posto com o Fenrir, um cachorrinho preto fofo, mas, que esconde sua real personalidade. Fora que temos junto a eles outros deuses e deusas do panteão nórdico como Heimdall, rival do protagonista e nas mesmas condições do mesmo; seu aliado, Freyr, ladrão e loucamente apaixonado pela sua “musa japonesa”, Mayura; Freya e seu ego humano, Reiya, ambas apaixonadas pelo Loki e cada uma ao seu modo; Narugami, que é o próprio Thor, só que de uma forma bem diferente e aliado do Loki. Além destes, podemos botar o pai da Mayura, um sacerdote viúvo e que quer que a filha seja menos maluquinha nestas coisas sobrenaturais e o Kotaro, aluno da mesma escola da garota e que gosta de estar por perto de jovens bonitas.

A graça está na maneira que estes personagens, principalmente dos deuses nórdicos são representados na história, começando com o protagonista central. Esqueçam de tudo que saibam do Loki, já que sua representação nipônica tem um ar mais sério, inteligente e às vezes, sarcástico em suas falas - outra característica é o fato deste não esconder nada de sua maneira de enxergar o mundo, pois apesar de ser mais mostrado em sua forma infantil ele encara os casos sobrenaturais de forma fria e calculista. Há certas semelhanças deste com Edogawa Conan, protagonista de “Detective Conan”, seja pela identidade infante, seja por sua inteligência e destreza apresentados. Maior diferença está que o Loki não esconde ser mais velho do que aparenta e não finge ser uma criança para manter suas origens em segredo. Isto aplica também aos demais deuses mostrados na trama, Narugami (Thor) tem uma personalidade bem boazinha demais, é bom de cozinha e está sempre fazendo bicos pra sobreviver; Heimdall é bem insensível, ao menos, no começo e mostra estar insatisfeito em não obter sua vingança contra Loki; Freyr é um completo palhaço com suas atitudes espalhafatosas, como procurar pela sua irmã Freya ou quando topa com a Mayura, a chamar de “musa japonesa”, alívio cômico em todas as proporções e assim segue com o restante do panteão revelado. Nem seres mitológicos nórdicos ou objetos escapam desta nova visão, influenciando ou não a trama em si.

Na mesma proporção, a Mayura é tão protagonista quanto Loki, pois é com ela que a história ganha movimento e sua curiosidade com os mistérios a envolve em confusões, estas resolvidas pelo “pequeno detetive” nórdico. A relação dos dois costuma ser bem problemática para o lado dela, só não significa que não há momentos onde a amizade deles supere estas diferenças. O fato dela ser humana a destaca em alguns momentos da história, muito do que a leva a seguir nestes “mistérios misteriosos” - e não tem como não se levar pela sua personalidade jovial e animada.

Com uma produção modesta, o anime apenas explora uma pequena parte da obra original, e traz um traço carismático e característico em obras do início dos anos 2000 e bem descontraído na maior parte do tempo, sem esquecer do lado mais focado ao mistério e sobrenatural. Não esperem por uma trama elaborada, costuma ser até bobinho e até mesmo os casos sobrenaturais apresentados em partes são bem simples, tendo certas exceções, como no final da série. Pela quantidade curta de episódios, temos uma abertura, “Rakuen no Tobira” e de encerramento, “Believe in Heaven”: ambas apresentam o tom mais de mistério, mostrando o protagonista e os personagens que se envolvem com este; o diferencial está que na abertura temos um tom mais lento e o encerramento possui um toque bem próximo do rock e é mais movimentada.

O maior destaque fica mesmo na dublagem brasileira do anime, se antes, a obra tem um tom um tanto ok, dublado a coisa fica mais crível e melhora seu ritmo - feita na Álamo, como boa parte dos animes exibidos no Animax, o estúdio não poupou em dar ao público uma versão bem bacana ao seu elenco, como se cada um deles tivesse entrado diretamente no estilo dos seus personagens. Daria pra destacar o elenco inteiro, contudo, vamos focar apenas em duas vozes, a do Loki e da Mayura: o primeiro teve duas dublagens, sendo sua forma infantil interpretada por Diego Marques, que encarnou o protagonista com o timbre certeiro e sua forma adulta, do episódio 13 em diante pelo Wendell Bezerra, que foge de suas vozes mais habituais aos que o conhecem; já a segunda temos Samira Fernandes, que trouxe a jovialidade e personalidade à personagem Mayura, fora que o jargão “mistério misterioso” é uma adaptação brasileira mais que acertada. Aliás, os termos foram seguindo este ponto e não ficam muito ao pé da letra demais, como acontece por aí.


Seguindo com uma visão nipônica desta mitologia, Matantei Loki Ragnarok” nos mostra que nem sempre o irmão de Thor é bancado como sendo o malvado, igual geralmente ocorre.


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