Por Escritora Otaku
Lembro como se fosse ontem, num computador todo
branco dos três animes que gravei sozinha, lá em 2006: dois foram escolhas por
ter visto em revistas, especificamente a Ultra Jovem, e neste caso eram o alvo desta resenha e
“Chrno Crusade”; já o o último foi uma destas recomendações em sites de reviews,
“DNAngel”, um shoujo que tomei susto quando soube de sua demografia. Destes
três, “Chrno Crusade” foi o que mais me marcou, sendo muito merecido ele ter resenhas minhas do anime e do mangá no site, como também de estar no meu Top Animes.
Depois deste, o que marcou e apenas ficou melhor, devido a sua versão dublada
ter melhorado demais a história e interação dos personagens, foi “Matantei Loki Ragnarok”.
Vamos por partes: havia acompanhado este anime em
sua versão legendada e curtido alguns pontos; anos depois, quando soube numa
revista de animes, a Anime Do, que a série veio ao Brasil e tinha versão dublada,
fiquei animada para ver o resultado. Pedi a um amigo meu, que já costumava
gravar uns animes pra mim, em doses pequenas, esta versão. E aí, não deu outra:
com uma dublagem extremamente impecável, um elenco de vozes muito bem colocada,
um anime regular a mediano transformou-se em algo mais interessante e
fascinante em seu andamento. A regra de que uma boa dublagem pode tornar a
produção mais aceitável é bem explícita neste caso.
Aí, um anime simples tornou-se parte da minha vida
e quando recomendo este, dê preferência à versão dublada, porque ficou mais
apresentável de assistir. Claro que tem suas particularidades, são estas que a
resenha vai revelar e quem sabe, ter uma nova visão de um dos deuses da
mitologia nórdica e suas aventuras.
*****
Alternativo: Mythical Detective Loki Ragnarok
Ano: 2003
Diretor:
Hiroshi Watanabe
Estúdio: Studio DEEN
Episódios: 26
Gênero: Comédia / Sobrenatural / Suspense
De
onde saiu: Mangá, 7 volumes,
finalizado
As histórias transmitidas de geração a geração vão
muito além dos contos de fadas: fábulas, lendas e mitos se encaixam no mesmo
ponto, cada uma com suas particularidades, personagens e circunstâncias. Indo
de país a país, deparamos com uma vasta diversidade de histórias de tempos que
o homem cria em mundos com deuses e deusas que mesmo estando acima dos
humanos, tinham atitudes e pensamentos muito próximos dos mortais. E estas são usadas como pano de fundo de muitas das aventuras da
ficção humana, inspirando em novas ou releituras destas lendas mitológicas.
Vindo do continente europeu, a Mitologia Nórdica
possui muitas histórias de um panteão de deuses, criaturas e situações que
mesmo sendo somente meras histórias, influenciam demais nas diferentes mídias.
Do grupo de deuses nórdicos que há, podemos destacar três deles: o líder, Odin
(um senhor que toma conta da terra dos deuses, Asgard) e de seus filhos, Thor,
deus do trovão (bem representado, mostrado como alguém bom e justo, dono de
um martelo e quem acompanha quadrinhos da Marvel, um dos membros dos Vingadores)
e pra fechar, Loki, deus das trapaças, irmão de Thor e sempre revelando uma
faceta de vilão ou de trapaceiro em suas diversas representações. Temos deuses
bons e piedosos contra deuses maus e cruéis até a alma, ficando a questão se
isto é parte de suas origens ou é apenas um ponto de vista de quem aproveita
suas personas?
Se for uma pessoa bem atenta e interessada nestas
histórias mitológicas, deve notar que Thor é mais retratado como
herói/mocinho, enquanto Loki é posto como vilão/antagonista na maioria das
tramas ficcionais - o máximo é ver, de vez em quando, uma parceria dos dois deuses
nórdicos em momentos necessários a tal união. Não quer dizer que não possam haver versões destes deuses de forma diferente do habitual e este é o caso de
“Mythical Detective Loki Ragnarok”, um anime que traz a mitologia e parte dos deuses deste
panteão à terra do sol nascente.
Vinda de um mangá de autoria de Sakura Kinoshita, a
trama começou a ser publicada primeiro na Gangan Magazine, de onde foi inspirada a
versão anime e depois, seguiu para a Mag Garden, com o nome que a animação
adotou. Curiosamente, em sua transmissão aqui no Brasil pelo canal Animax a série foi intitulada "Mythical Sleuth Loki", pois antes dela tinha sido exibida
“Ragnarok: The Animation” (2004), anime proveniente de um game MMORPG bem famoso nos
anos 2000 e assim, para não haver confusão, optaram em mudar o nome deste para outro. E também foi desse jeito que o anime ganhou mais destaque,
tanto quanto outros que tiveram seus momentos de fama no canal.
O contexto da trama é bem simples: Loki é exilado e ainda por cima, em forma de criança ao nosso mundo; para
poder recuperar seus poderes e saber o que houve para estar ali ele cria uma
agência de detetives com a qual, nos casos apresentados, obtém auras malignas a fim de reaver suas habilidades divinas. Para isso, conta com a viciada em “mistérios
misteriosos”, Mayura Daidouji; seu mordomo e faz tudo, Yamino e o mascote
carismático E-chan, que divide este posto com o Fenrir, um cachorrinho preto
fofo, mas, que esconde sua real personalidade. Fora que temos junto a eles outros deuses e deusas do panteão nórdico como Heimdall, rival do protagonista
e nas mesmas condições do mesmo; seu aliado, Freyr, ladrão e loucamente apaixonado
pela sua “musa japonesa”, Mayura; Freya e seu ego humano, Reiya, ambas
apaixonadas pelo Loki e cada uma ao seu modo; Narugami, que é o próprio Thor,
só que de uma forma bem diferente e aliado do Loki. Além destes, podemos botar
o pai da Mayura, um sacerdote viúvo e que quer que a filha seja menos
maluquinha nestas coisas sobrenaturais e o Kotaro, aluno da mesma escola da
garota e que gosta de estar por perto de jovens bonitas.
A graça está na maneira que estes personagens, principalmente dos deuses nórdicos são representados na história, começando com o protagonista central. Esqueçam de tudo que saibam do Loki, já que sua representação nipônica tem um ar mais sério, inteligente e às vezes, sarcástico em suas falas - outra característica é o fato deste não esconder nada de sua maneira de enxergar o mundo, pois apesar de ser mais mostrado em sua forma infantil ele encara os casos sobrenaturais de forma fria e calculista. Há certas semelhanças deste com Edogawa Conan, protagonista de “Detective Conan”, seja pela identidade infante, seja por sua inteligência e destreza apresentados. Maior diferença está que o Loki não esconde ser mais velho do que aparenta e não finge ser uma criança para manter suas origens em segredo. Isto aplica também aos demais deuses mostrados na trama, Narugami (Thor) tem uma personalidade bem boazinha demais, é bom de cozinha e está sempre fazendo bicos pra sobreviver; Heimdall é bem insensível, ao menos, no começo e mostra estar insatisfeito em não obter sua vingança contra Loki; Freyr é um completo palhaço com suas atitudes espalhafatosas, como procurar pela sua irmã Freya ou quando topa com a Mayura, a chamar de “musa japonesa”, alívio cômico em todas as proporções e assim segue com o restante do panteão revelado. Nem seres mitológicos nórdicos ou objetos escapam desta nova visão, influenciando ou não a trama em si.
Na mesma proporção, a Mayura é tão protagonista
quanto Loki, pois é com ela que a história ganha movimento e sua curiosidade
com os mistérios a envolve em confusões, estas resolvidas pelo “pequeno detetive”
nórdico. A relação dos dois costuma ser bem problemática para o lado dela, só
não significa que não há momentos onde a amizade deles supere estas diferenças.
O fato dela ser humana a destaca em alguns momentos da história, muito do que a
leva a seguir nestes “mistérios misteriosos” - e não tem como não se levar pela sua
personalidade jovial e animada.
Com uma produção modesta, o anime apenas
explora uma pequena parte da obra original, e traz um traço carismático e
característico em obras do início dos anos 2000 e bem descontraído na maior
parte do tempo, sem esquecer do lado mais focado ao mistério e sobrenatural.
Não esperem por uma trama elaborada, costuma ser até bobinho e até mesmo os
casos sobrenaturais apresentados em partes são bem simples, tendo certas
exceções, como no final da série. Pela quantidade curta de episódios, temos uma
abertura, “Rakuen no Tobira” e de encerramento, “Believe in Heaven”: ambas
apresentam o tom mais de mistério, mostrando o protagonista e os
personagens que se envolvem com este; o diferencial está que na abertura temos um
tom mais lento e o encerramento possui um toque bem próximo do rock e é mais
movimentada.
O maior destaque fica mesmo na dublagem brasileira
do anime, se antes, a obra tem um tom um tanto ok, dublado a coisa fica mais crível
e melhora seu ritmo - feita na Álamo, como boa parte dos animes exibidos
no Animax, o estúdio não poupou em dar ao público uma versão bem bacana ao seu
elenco, como se cada um deles tivesse entrado diretamente no
estilo dos seus personagens. Daria pra destacar o elenco inteiro, contudo,
vamos focar apenas em duas vozes, a do Loki e da Mayura: o primeiro teve duas dublagens, sendo sua forma infantil interpretada por Diego Marques, que encarnou o
protagonista com o timbre certeiro e sua forma adulta, do episódio 13 em diante
pelo Wendell Bezerra, que foge de suas vozes mais habituais aos que o conhecem;
já a segunda temos Samira Fernandes, que trouxe a jovialidade e personalidade à
personagem Mayura, fora que o jargão “mistério misterioso” é uma adaptação brasileira
mais que acertada. Aliás, os termos foram seguindo este ponto e não ficam muito
ao pé da letra demais, como acontece por aí.
Seguindo com uma visão nipônica desta mitologia,
Matantei Loki Ragnarok” nos mostra que nem sempre o irmão de Thor é bancado como sendo o malvado, igual geralmente ocorre.
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