26 de agosto de 2018

Resenha: The Big O





Por Escritora Otaku


Meu terceiro anime de mecha e dando uma olhadinha em termos de tempo, vi praticamente um ano depois do “Rahxephon” e muito depois de “Argento Soma”. Conheci em um blog, Nave Bebop, que fez uma postagem a respeito e como achei interessante, fui atrás e assisti sem rodeios. A primeira coisa que chama a atenção é o seu traço, que não é nipônico, e sim mais puxando pra séries animadas como o desenho do “Batman” dos anos 90, “Liga da Justiça/Liga da Justiça: Ação sem Limites”, além de certas características também fugirem do padrão de animes de mechas que temos conhecimento. Claro que há os bastidores deste que são interessantes e vão ser postas na resenha.

E o que achou? Gostei muito da trama e de seus personagens, dos rumos e das reviravoltas que explodem a sua cabeça, principalmente na reta final; o traço e sua ambientação; como também de ser direto em sua proposta. O seu charme é seu ponto mais forte e caso queira fugir do óbvio em mechas, este anime é recomendado para quem quer ver uma série de robôs gigantes.


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Ano: 1999
Diretor: Kazuyoshi Katayama
Estúdio: Sunrise
Episódios: 26
Gênero: Ação / Mecha / Sci-fi / Suspense
De onde saiu: Animação original


Memórias são parte do que é ser humano: umas são marcantes devido ao momento, outras são relativas ao conhecimento que adquirimos durante nossa existência, há as que guardamos com muito carinho e outras que preferimos esquecer. Pessoas costumam guardar ou não elas, umas são capazes de dizer todos os detalhes e outras apenas partes; também há memórias que outros de tanto repeti-las, a decoramos e se tornam parte da nossa mente. Vemos os que as valorizam e os que dizem que elas não valem nada; de gente que sofre de doenças mentais degenerativas, com momentos que saibam do seu redor e em outros ficando sem reação, desconhecendo a tudo e a todos. Consequentemente, ninguém pode dizer que sejam descartáveis, só os fatos de as ter define no que somos parecidos ou diferentes uns aos outros.

Pena que nem sempre isso é levado à reflexão, a querer mudanças e aceitar o que somos são alguns pontos que as memórias e lembranças proporcionam a nós, humanos.

O anime abaixo é persistente quanto ao valor delas, mais ainda por terem levado a humanidade a seguir suas vidas, mesmo que estejam esquecidas ou enterradas no subconsciente. “The Big O” usa disto para criar uma trama onde memórias são vistas como uma relíquia antiga e quando são descobertas, causam consequências aos seus envolvidos.

Na trama somos jogados em um mundo que sofreu um colapso, onde memórias foram esquecidas e apagadas nas pessoas. Quarenta anos depois, em Paradigm City, seguimos Roger Smith, um negociador que trabalha em encontrar “memórias perdidas”, que neste tempo são mais preciosas que objetos materiais e pessoas. Seu trabalho consiste em auxiliar aqueles que o contratam e muitas vezes, se envolver em assuntos relativos a perda destas no incidente de quarenta anos atrás - considerado o melhor em sua profissão, ele tem uma vida bastante confortável e leva a sério certas condições para aceitar as ofertas de trabalho. Ao seu lado temos a androide Dorothy, que o protagonista conhece durante uma de suas negociações, mantendo-a de perto; do seu mordomo, Norman, um faz tudo que ajuda o seu mestre e do chefe policial Dastun, outrora antigo companheiro de Roger de tempos atrás, que é consultado pelo negociador em certos casos - fora estes temos a presença de Angel, uma mulher misteriosa que está atrás destas antigas memórias e vive cruzando o caminho de Roger, seja por acaso ou necessidade. Cinco personagens que têm suas vidas cruzadas e trazem à tona, o que possui Paradigm City e outras localidades na vivência das pessoas sem memórias do passado.

A cidade em si é o palco de todo o contexto, sendo muitas vezes posta em cheque, principalmente se considerar o que houve para a perda das memórias. Há um clima antigo, típico dos anos 20 a 50, uma tecnologia arcaica misturada a este clima e as diferenças sociais, onde ricos desfrutam do bom e do melhor enquanto as classes menos favorecidas têm de sobreviver com poucos recursos, sendo tal contraste algo que se acentua conforme nos envolvemos na história. Podemos colocar a própria cidade como personagem, já que diversos fatos da série têm sua importância neste local - afinal, memórias podem levar a caminhos que nem sempre vão terminar bem aos que as buscam.

O anime apresenta os casos que Roger interage, sendo bem episódicos, ou seja, as histórias têm começo, meio e fim; o plano de fundo são os mistérios por trás da perda das memórias de quarenta anos atrás, pondo nosso negociador em aspectos que podem afetar a vida das pessoas, de uma sociedade que teve de recomeçar do zero para continuar vivendo. Fora este tom misterioso, temos a existência de criaturas e robôs gigantes, com formatos arcaicos e de alguma forma, ligados nestes mistérios e quando ameaçam a vida das pessoas, entra Big O, um megadeus. Pilotado por Roger, o mecha é parte dos vestígios daqueles tempos esquecidos, que apenas ele pode pilotar, sendo chamado para estas situações a partir de um relógio em posse do negociador para resolver o problema.


Claro que temos a questão do que é um megadeus, porque a existência de fatos estranhos e a cereja do bolo, o que tem nas memórias mostradas ao longo da série? São perguntas que ao longo dos seus episódios são respondidas ou ficam subtendidas a interpretações.

Detalhes que também entram quando analisamos os bastidores do anime, tão intrigantes e curiosas quanto. A primeira é a ideia de uma trama destas, vinda do diretor da animação Kazuyoshi Katayama, do designer Keiichi Sato e do roteirista Chiaki J. Konaka (este é bastante conhecido por ter roteirizado “Serial Experiment Lain” e “Digimon Tamers”); o tipo de animação não é nipônico e sim, do traço usado por Bruce Timm, muito famoso por ter sido o que definiu o estilo de desenho da série animada do “Batman” dos anos 90 e seguiu em outras animações que usam este traço característico - portanto, qualquer semelhança entre Roger Smith e Bruce Wayne é mais que coincidência. Outro fato é que a série em si não fez sucesso durante sua exibição no Japão, sendo interrompida após os 13 primeiros episódios num total de 26; no entanto, foi mais reconhecida fora dali e com isso, pode ter sua conclusão. O anime não foi o primeiro a passar por má recepção em seu país de origem, outros seguiram o mesmo e só receberam reconhecimentos com reprises e o passar dos anos.

Na abertura temos uma música que combina com a época vivenciada da história, cujo estilo remete bastante as aberturas de tokusatsu; já o encerramento, “And Forever” entoado pela dupla Robbie Danzie e Naoko Takao, traz um tom mais melancólico e reflexivo, onde vemos somente Roger e Dorothy numa ampulheta e os créditos da animação.


Em vista de todo o trabalho dentro e fora da série, “The Big O” pode ser dito como um anime com ideias ocidentais e foge de parte das características vistas em obras japonesas de mechas. Com uma identidade visual que confunde a uma animação ocidental, seu estilo pode agradar aos que querem assistir um anime mecha sem medo.



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