16 de dezembro de 2017

Resenha: Dragon Ball GT




Por Escritora Otaku


Considerado por muitos como a “ovelha negra” da saga, um completo desperdício e outros predicativos nada agradáveis, “Dragon Ball GT” raramente é visto com bons olhos pelo público. Ao meu ver, não acho esta série tão ruim quanto pensam, apenas a enxergo como um anime incompreendido e que soube respeitar – bem diferente da série atual – o que a história tinha a oferecer. Ao menos, a colocam como um spin-off da franquia... um mal a menos...

Sim, tenho afeição a esta série e com uma das mais lindas aberturas em português, dublagem mantendo o nível das duas séries anteriores e por dar um final para uma longa saga, não importo com a sua pouca duração e sim que tenha dado novos rumos a esta grande franquia. Por isso, sentam que lá vem os pormenores e o que torna esta série boa e ruim, seja aos que acompanham a saga, seja os que já ouviram falar dela em algum lugar.

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Ano: 1996
Diretor: Osamu Kasai
Estúdio: Toei Animation
Episódios: 64
Gênero: Ação / Aventura / Comédia


Imaginem a seguinte situação: uma animação de destaque acaba de terminar, e seu material de origem também chegou ao fim. Editora e estúdio veem um lucro e tanto, percebem que irão cair no prejuízo se pararem. O que decidem fazer? Continuar com a história, mesmo que signifique criar algo não relativo a trama original, mantendo somente o argumento dado e os personagens já apresentados.

Quem acompanha animação japonesa ou não, pode reagir de duas formas: gostar ou reprovar o resultado obtido. Pensem bem dos animes mais longos em exibição, que quando chegam perto do conteúdo original, são postos os fillers e sabemos da raiva que a maioria tem quando há tais histórias por não acrescentarem nada ao enredo principal - há quem acerte nisso, só não é a maioria. Nos últimos tempos, tem sido usado um recurso mais seguro: fazer somente poucos episódios e quando alcança, dá-se uma pausa e volta depois (ou encerra com um final fechado, para que não precise voltar com a série). Existe marketing para divulgar uma obra, um game, um filme e esta é uma estratégia mais comum do que pensam, seja para um remake ou nova versão, um reboot, divulgação da obra original ou uma marca de brinquedos.

A maioria das animações é pra este propósito, seja no começo ou depois que ganha fama e estima do público. Um caminho sem voltas...

Só assim para falar da terceira série da saga “Dragon Ball” que foi, por anos, o final da história nas animações - mas agora fadado a ser um spin-off duramente criticado. Antes, o que houve para que “Dragon Ball GT” fosse feito, para entender tanta raiva de muitos e incompreensão de outros, siga a história: quando “Dragon Ball Z” estava prestes a terminar, tanto a Toei Animation quando a Shounen Jump não queriam perder o lucro que o mangá/anime tinha feito por anos seguidos; afinal, a obra de Akira Toriyama estava em alta, mas, o mangaká a tinha terminado e não ia pegar mais - a pressão da editora fez o que fez. Mesmo assim, ele tinha criado alguns esboços sobre uma possível continuação de “Dragon Ball”.

E foram estes esboços e os roteiristas envolvidos que o anime deu forma e cores.

A história pega o gancho deixado em “Dragon Ball Z”: o protagonista Son Goku se despede de seus familiares e vai treinar um lutador que conheceu num dos Torneios de Artes Marciais - logo no começo da série, este treinamento chega ao fim e os dois lutadores se despedem. Enquanto isso, surge um personagem e seus capangas - que aparecem em “Dragon Ball” – já velhinhos, que vão ao Templo de Kami Sama e procuram pelas Esferas do Dragão, onde deparam com esferas de estrelas negras. No momento que iam pega-las Goku aparece e este personagem deseja que ele volte a ser aquele garotinho: tiro e queda, o protagonista retorna ao formato infantil e as esferas com estrelas negras se espalham não na Terra, e sim pelo universo.

Acontece que estas Esferas do Dragão são perigosas: se elas não forem recuperadas dentro de certo prazo, a própria Terra seria destruída e cabe a Goku recuperá-las e trazê-las de volta ao nosso planeta. Pra encarar tal aventura, o personagem é acompanhado de Trunks (filho de Vegeta e Bulma) e de Pan (filha de Gohan e neta de Goku) que saem em uma nave espacial para os locais onde estão as esferas e passam por várias aventuras.

Em termos mais diretos, a proposta da animação é misturar o que tornou as duas primeiras animações famosas: o tom comédia/aventura de “Dragon Ball” com o estilo ação desenfreada e lutas intermináveis de “Dragon Ball Z”, algo que se transforma em sua maior qualidade e, também, seu maior defeito, onde dá pra ver a tentativa de manter estas características na trama. Antes de acentuar as falhas, ressaltemos as qualidades positivas da animação, porque como dizem, é bom ver os dois lados da mesma moeda, os prós e contras.


A primeira se trata da parte técnica, já que a animação teve um orçamento maior que as fases anteriores, refinando o traço do Toriyama, sendo possível notar as diferenças numa época em que a Toei Animation tinha mais zelo em suas animações - hoje em dia, o estúdio é duramente criticado em fazer um trabalho ruim em termos técnicos, tirando certas exceções. Outro ponto positivo é manter a personalidade apresentada dos personagens, acrescentando somente alguns detalhes da passagem de tempo, como aparência e vestimentas. 

E deste elenco de personagens que “Dragon Ball GT” trouxe, há uma personagem a se destacar: a neta do protagonista, Pan, visto que um dos motivos de existir a trama vem dela. De personalidade forte e uma lutadora, foi uma das que viu o seu avô como criança e teve de aceitar alguém “mais novo que ela”, sendo ainda mais animada em sair viajando universo afora. Sua participação deu rumos ao enredo, revelando o valor de personagens femininos em shounen de batalha, que costumam ser apenas pano de fundo na maioria dos casos. Interessante ver ela seguindo seu “vovozinho” durante a série, brigar com ele e em certos momentos, sendo importante apesar da tão pouca idade.

E não vamos esquecer a trilha sonora, que manteve o estilo das séries anteriores - destacando nisso a abertura, que seguiu um ritmo que sai do tom chiclete das aberturas que “Dragon Ball” apresentava.

Quanto aos defeitos, a principal se refere por ter sido um anime comercial, sem apoio ou influência de seu criador. A montagem desta fase veio porque editora e estúdio não queriam perder “a galinha dos ovos de ouro” que “Dragon Ball” foi por anos consecutivos e a mistura de estilos deixou “Dragon Ball GT” sem muita identidade própria. Até que tem, só que, a forma que foi desenvolvida acabou prejudicando o seu desempenho, tornando a série da saga com menos episódios. Sem ter obtido um mangá, muitos a veem com desprezo, apenas porque o seu criador nem quis se envolver com o projeto - só não é caso isolado, porque a grande maioria dos animes lançados não tem interferência de seus criadores, que são apenas meros espectadores. Exceções? A primeira versão de “Full Metal Alchemist”, “Bleach” e “Ushio to Tora” (TV) tiveram participação de seus autores originais em certos momentos da trama, de forma direta ou indireta.

O contexto usado não foi bem aproveitado, pois analisando friamente a sinopse dada, o anime poderia melhorar certos pontos e o resultado foi bastante irregular. Não basta ter fama para garantir, tem de ter uma história que possa atender as expectativas do público. E em termos de grandes vilões, o anime também não foi muito feliz, alternando em uns mais de acordo e outros que preferíamos que nem tivessem criado; ao menos, foi mais feliz que a série atual (considerando que esta resenha foi escrita no primeiro semestre de 2017), “Dragon Ball Super”.

Vamos mudar para o momento de recepção: em seu país de origem, deu pra notar que o anime não foi bem, muito devido às suas falhas e por ter sido feito de forma mais comercial; fora dele, o tamanho desprezo se manteve, apesar de que dá pra tirar algo bom nele. No Brasil, “Dragon Ball GT” foi por anos a última animação da saga “Dragon Ball”; foi posta depois de “Dragon Ball Z” e “Dragon Ball”, mantendo o elenco de dubladores das duas animações anteriores e deste dá pra destacar ainda a Jussara Marques, que emprestou a voz à Pan - outra curiosidade é que o anime não foi dublado no mesmo estúdio das duas primeiras séries. Três canais fizeram sua exibição – Rede Globo/Cartoon Network na época e Rede Bandeirantes para alguns estados – todas sem cortes ou censura.

E vale mencionar a versão brasileira da abertura, que tem um estilo bem diferente do que foi presenciado nas outras séries, mostrando em seu clipe o que esperar da trama.


Desta maneira, “Dragon Ball GT” pode ser visto de uma forma negativa pela forma que foi feita, no entanto, em alguns pontos mostra uma certa identidade e consegue por uns momentos nos fazer lembrar porque gostamos da saga “Dragon Ball”. Afinal, não é todo dia que um spin-off aparece dando o que falar...




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