3 de novembro de 2016

Resenha: Samurai Flamenco



Por Escritora Otaku

Tokusatsus: gênero bem conhecido no Japão, onde podemos ver esquadrões coloridos, seres gigantes e heróis solitários enfrentando impérios, organizações criminosas e outros afins que querem dominar o mundo. Muitas pessoas que curtem animes acabam também curtindo este tipo de série, então, sem surpresas: acontece mesmo.


Meu contato com este gênero vem da TV aberta, tanto que pretendo gravar as séries que assistia naqueles tempos áureos e com a Internet, passei a conhecer melhor os tokusatsus e ver obras inéditas que jamais passaram no Brasil. Já acompanhei um bocado e até o momento, amei todas as que vi - vamos ver se consigo manter o ritmo. Ah sim, o motivo de dizer isso é porque o anime abaixo faz uma homenagem e sátira a este gênero, passando do começo ao seu final pelos tipos de tokusatsus mais recorrentes.

E dependendo de sua reação, “Samurai Flamenco” entra no famoso patamar do ou gosta do que vê ou odeia com todas as forças. Como presenciava comentários tanto bons quanto ruins sobre a série, tomei a coragem e fui assistindo até que me dei conta que amei o estilo único que oferecia. E mais: não achei nada estranho as reviravoltas do enredo; creio que quando se assiste tokusatsus o anime não soa tão estranho quanto aparenta. Agora sim, vamos à resenha e checar como foi tal animação...



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Ano: 2013
Diretor: Takahiro Omori ("Baccano!", "Durarara!!", "Koi Kaze", "Natsume Yuunjichou")
Estúdio: Manglobe
Episódios: 22
Gênero: Ação / Aventura / Comédia / Paródia


Heróis: se tem um personagem que nunca conseguimos desvencilhar é a figura heroica, seja alguém com poderes ou não, um grupo que trabalha em equipe ou um andarilho - o que importa é como este tipo vai vivenciar suas aventuras e até quando durará, aí depende de quem os cria. Com certeza, cada um tem seu tipo de herói ou heroína favorito, uns mais clichês, outros completamente opostos aos rotineiros. Não é à toa que os heróis possuem seu lugar cativo em nossas vidas, sejam os norte-americanos, nipônicos, literários e por aí vai.

No Japão, fora os animes, temos os tokusatsus, live-actions e doramas: o primeiro tem sua estrutura mostrando um grupo ou personagem específico que vira herói e enfrenta uma organização, império do mal ou vilões; no segundo e terceiro casos temos a versão em carne e osso de animes ou mangás, umas bem estranhas e outras mais certeiras em sua estrutura. É certo que a interpretação destas séries soe exagerada e até mesmo estranhe a quem nunca viu; no entanto, quando menos se espera, estamos acompanhando e torcendo que tudo termine da melhor forma possível.

“Samurai Flamenco” é um exemplo do que devemos aguardar de um herói e sua jornada: até aí, a série seguiria o rumo comum das tramas heroicas que conhecemos se não tivesse alguns detalhes que o tornam diferente do que estamos acostumados a acompanhar - pra começar, a série é original, ou seja, não é uma adaptação e não saiu de nenhuma fonte que renda o conteúdo em sua exibição. Há animações que seguem este estilo e há riscos de funcionar ou não ao público, pode ser um sucesso, um fracasso homérico ou virar cult daqui a alguns anos. Com isto, não dá pra saber o que a série pode oferecer a não ser assistir e ver onde vai parar a produção.

Outro ponto que o anime tem é homenagear os tokusatsus, fazer uma crítica do que é preciso pra ser um herói, usando um exemplo de produção bem comum em terras nipônicas. As reviravoltas e mudanças de enredo podem não convencer uma parte dos espectadores que, mais acostumada a certa estrutura narrativa, de repente se depara com situações inusitadas e até mesmo incomuns. Dá pra entender porque tem gente que quando vê “Samurai Flamenco” ou animes com uma história do tipo imprevisível tem dificuldades pra engolir o que está havendo - por isso há os que defendem esta estrutura narrativa na mesma proporção dos que dizem “sério, tenho de aguentar isso mesmo?”

O enredo nos apresenta Hazama Masayoshi, um jovem modelo que desde pequeno sempre teve fascínio pelos heróis de tokusatsus e sonha em ser um deles. Mesmo não tendo poderes e tampouco treinamento, ele se torna uma espécie de herói improvisado – titulo pra seguir seu sonho de criança. Na verdade, as primeiras cenas apresentam o outro protagonista da série, Gotou Hidenori, um policial que durante sua folga encontra Masayoshi pelado e ouve deste que seria um herói. Apesar de achar isso um absurdo, Gotou lhe ajuda e descobre a paixão dele por tokusatsus e que após notar que heróis não existem, o jovem começa sua carreira heroica sem saber até que ponto seu sonho pode ser real ou apenas uma mera fantasia.

Aos poucos, com a ajuda de Gotou e de outros personagens – que agem direta ou indiretamente – o nosso herói passa por várias desventuras e quando menos se espera, somos levados a uma versão do drama heroico no mundo real. Interessante notar que na sua jornada, Masayoshi começa como uma espécie de cosplay pobre de seu ego heroico, e conforme discorrem os episódios adquire treinamento e acessórios que o tornam famoso. E é neste tom imprevisível e sem rodeios que “Samurai Flamenco” apresenta sua história, seus ideais e a questão fundamental: o que é realmente ser um herói? Explicar mais que isto seria um belo spoiler, só dá pra adiantar que é questão de gosto: ou gosta do que vê ou larga...

Há certa semelhança entre “Samurai Flamenco” com outro anime, “Tiger and Bunny”, pois ambos retratam heróis no mundo real e fazem uma análise deste tipo de personagem e de sua vida - claro que as semelhanças param neste ponto, porque diferente da outra série, “Samurai Flamenco” aborda se heróis dos que costumamos acompanhar podem mesmo ser reais e sua influência, seja de forma positiva ou negativa. A crítica disto é bem presente e chega a parodiar de tal forma, que lembra um tokusatsu mais recente: sim, o sentai não-oficial “Hikounin Sentai Akibaranger”, que com suas duas temporadas de 13 episódios traz uma temática bem próxima do anime, só tendo o diferencial de homenagear os super sentais nas formas mais incomuns possíveis. Esta homenagem é muito bem-vinda, pois aos que curtem tokusatsus, numa parte, conseguem entender o tom crítico presente na jornada de Masayoshi e companhia.

E esta paródia misturada com a crítica é que torna “Samurai Flamenco” uma incógnita nos vários animes que assistimos. A produção bem modesta e a animação instável dão um certo charme e até mesmo a dublagem e as músicas foram influenciadas pra agir de acordo com a estética oferecida. Falando de músicas, são as aberturas que chamam mais atenção, ambas trazendo esta mistura de fantasia e realidade: “JUST MY LIFE” de SPYAIR e “Ai Ai Ai ni Utarete Bye Bye Bye” do FLOW surpreendem em seus clipes e música, trazendo um pouco do estilo que podemos conferir em tokusatsus. Até quem não curte acaba ouvindo sem pestanejar.


Se você for do tipo previsível, o anime vai desagradar a partir de certo episódio, caso contrário, se quiser arriscar, vai encontrar uma série com um carisma que apenas poucos vão entender. De qualquer forma, “Samurai Flamenco” pode ser estranho em sua trajetória, contudo não significa que seja descartável, apenas dê uma chance e se divirta com esta história heroica cheia de imprevistos.




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