30 de dezembro de 2015

A resposta é 42: Por que sentimos nostalgia?


Yo!

Antes de qualquer coisa, se você é, ou foi, um leitor do blog Anime Portfolio (AP), você não está lendo errado. Afinal, desde que decidi descontinuar o AP, já pretendia repostar alguns dos textos mais atemporais do mesmo aqui no Animecote, tanto que o meu texto sobre o icônico Mestre da Animação Japonesa: Isao Takahata também foi inicialmente postado no AP. Para quem não está entendendo nada, a coluna A Resposta é 42 era uma das colunas mais famosas do blog Anime Portfolio, que foi descontinuado em setembro de 2015. Essa coluna, inspirada por uma clássica referência a fantástica livro O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, busca apresentar uma visão diferente de temas diversos ligando-os a animação japonesa e ao fim de cada texto, os leitores são convidados a questionar mais e mais sobre o tema, pois, tal como no livro supracitado, muito mais importante do que a busca pela reposta, é a busca pela pergunta correta.

Enfim, esse post se baseia no texto “Algumas teorias de porque sentimos nostalgia” do site Negócio Digital e no vídeo “Why Do We Feel Nostalgia?” do canal VSauce. O texto simplifica e traduz o vídeo para língua portuguesa inserindo algumas informações. Vale a pena visitar também o site e o canal do youtube supracitados, pois ambos possuem outros conteúdos excelentes. Fica nosso agradecimento especial para o Michael Stevens, criador e apresentador do VSauce. Esse testo, ironicamente (ou não), foi o último texto da coluna que postei no Anime Portfolio, e o escolhi para hoje porque acredito que o tema combina bastante com o fim de ano, afinal toda vez que um ano se aproxima do fim, é comum se sentir um pouco saudoso ou nostálgico.


Antes de começar a falar das possíveis explicações sobre “nostalgia” e associar animes a mesma, vale convidar cada um dos leitores a tentar formular uma resposta para a questão: O que você pensa quando escuta ou ler o termo “nostalgia”? No meu caso, devido à boa parte dos acontecimentos mais importantes da minha vida estar associados a mídias audiovisuais (algumas vezes de maneiras indescritíveis), geralmente lembro-me de algum filme, música, jogo, livro, desenho animado e etc. Vale ressaltar que geralmente a nostalgia é um sentimento confuso e como explicarei mais a frente isso faz todo sentido, afinal ela é um misto de alegria e tristeza. Trazendo essa questão mais para o mundo dos animes, é fácil lembrar de animes como Dragon Ball e Pokémon, enquanto que eu preciso me esforçar muito mais para lembrar de obras como Doraemon e Samurai Warriors, que são inclusive animes que conheci antes. Isso não ocorre porque eu simplesmente não gosto dessas obras (Doraemon é bacana), ou porque eu era muito novo quando as vi, mas porque logo que penso em Dragon Ball e Pokémon é comum eu sentir nostalgia. Mas afinal o que é nostalgia?

A nostalgia é um fenômeno difícil de explicar, mas que todos sentimos ao longo de nossas vidas. Poderia ser definida como uma maneira de recordar o passado afetivamente, com um pouco de dor. Aliás, o termo “nostalgia” foi acunhado por Johannes Hofer em 1688, que uniu duas palavras gregas: “regresso a casa” (nóstos) e “dor” (álgos). Naquela época a nostalgia era considerada como um sintoma grave. 

Retirado do texto Algumas teorias de porque sentimos nostalgia do site Negócio Digital


Ver a nostalgia como algo negativo, de certo modo, é até bem normal com relação à mídias audiovisuais, pois quase sempre que falamos que sentimos nostalgia de algo, vem junto algo como “que pena que hoje em dia não há mais isso” ou “como era bom aquela época” ou ainda “gostaria que certa coisa (produto de mídia visual) voltasse a passar (ser divulgado, reexibido)”.


Como a nostalgia e o sentimento de saudade são muito próximos, não é surpresa que haja tantos investimentos de indústrias de mídia visual tais como a de cinema e a de anime em apresentar remakes, reboots, ou continuações, quando não simplesmente reexibir o produto num formato mais atualizado (por exemplo Dragon Ball Kai, Jurassic Park 3D). Afinal é um retorno quase certo.

Particularmente é um pouco confuso relembrar de animes como Yu Yu Hakusho, Dragon Ball e até Full Metal Alchemist, pois são animes que eu adorei e que ainda adoro e por isso mesmo é um tanto doloroso pensar que nunca mais terei algo de novo relacionado diretamente a essas obras, principalmente com relação a Yu Yu Hakusho e Full Metal, que possuem enredos que poderiam facilmente ter continuado (mesmo eu acreditando que ambas terminaram na hora certa). O caso de Dragon ball é um pouco diferente, porque houve a continuação com Dragon Ball Z e agora todo esse mundo fantástico está de volta com o Dragon Ball Super.


Psicologicamente acredita-se que recordar tem muitas vantagens. Permite conectar todos os eventos (o que fazia, o que era, seus amigos, seu trabalho, sua música…) e tornar as transições de sua vida menos dolorosas. 

Retirado do texto Algumas teorias de porque sentimos nostalgia do site Negócio Digital


Nesse ponto, basicamente a nostalgia é importante para formar seu caráter e seu senso crítico, além de facilitar a compreensão de que certas experiências passadas podem ser revividas e com isso é possível aceitar melhor novas experiências.


Partindo dessa ideia e trazendo novamente para o lado do fã de anime, é claro que certas obras são nostálgicas por terem proporcionado experiências únicas que abriram nossos olhos para compreender melhor o universo da animação japonesa e também foram marcantes para determinar se gostamos ou não disso. Por isso mesmo pessoas que não tem nostalgia relacionadas a animes que viram após a infância e possivelmente fora da tv, seja por vhs, dvd, internet e etc, não se tornaram e provavelmente terão dificuldade de se tornar fãs de anime com o passar dos anos.

Também vale destacar que a nostalgia nem sempre é ligada a uma obra em si, mas ao momento, por exemplo, todos que conhecem meu lado otaku ao menos um pouco sabem que eu não gosto do anime Avenger, mas por eu tê-lo visto em uma época em que eu estava realmente devorando todo tipo de anime e por ele ter sido um dos primeiros, senão o primeiro, que nem com o maior senso de descrença possível eu consegui gostar, certamente eu sinto nostalgia ao lembrar dele, afinal o momento fã de animes é uma lembrança boa, mesmo que o anime em si não seja. Outros animes importantes que me provocam muita nostalgia ao recordar e que me ajudaram a formar meu caráter como fã de anime, e até como pessoa em alguns casos, foram Buck, Dna², Samurai X, Evangelion, Green Green, Azumanga Daioh, Chobits, GTO e Hotaru no Haka.


Mas, por que não sentimos nostalgia por todo nosso passado? Por que escolhemos alguns momentos e não outros? 

Uma maneira de explicar é mediante a curva de recuperação de memória. Segundo estudos, o período em que mais codificamos memórias se situa entre os 15 e 30 anos. Podemos notar, que estas são as épocas que, normalmente, geram mais nostalgia: além de que na juventude nosso corpo e mente estão mais frescos, é o momento em que vamos formando nossa identidade como pessoas autônomas e quando acontecem toda sorte de acontecimentos. Ainda cabe mencionar que a nostalgia pode também ser uma forma de idealizar o passado. Às vezes acontece de desfrutarmos mais de uma lembrança, do que da própria vivência. 

Retirado do texto Algumas teorias de porque sentimos nostalgia do site Negócio Digital (Vale a pena ver com atenção essa parte do vídeo Why Do We Feel Nostalgia?)

Por isso é muito comum que fãs de filmes, animes, comics, mangás, livros, bandas de música, sintam muito mais nostalgia e vivenciem mais situações “nostálgicas” nesse período. Por ser uma época de muito aprendizado também é comum idealizarmos muito mais certas obras a primeira vez que a vemos. Apesar de não sentir nostalgia, ou não mais sentir, recentemente ao rever o filme de animação Bungaku Shoujo percebi que idealizei o mesmo como algo muito mais interessante e até mesmo divertido do que realmente é, pelo menos em minha opinião.


Talvez por esse motivo muitas vezes sentíssemos certa apreensão em rever algo, ainda mais quando outras pessoas próximas não gostaram tanto daquela obra quanto você e essas pessoas apresentam bons argumentos para isso. Eu tenho uma grande nostalgia ao relembrar do anime Romeo x Juliet por diversos motivos e realmente gostei do mesmo quando o vi, mas não tenho certeza se gostaria tanto assim caso o revisse. Pokémon é outro anime do qual gostava muito e que me causa até hoje muita nostalgia. Ainda gosto de Pokémon, mas certamente tenho muito mais maturidade para compreender a falta de profundidade e a simplicidade exacerbada dos roteiros que já não me agradam tanto. Certamente minhas lembranças são muito mais interessantes com relação a Romeo x Juliet e Pokémon do que realmente eles o são.


Outra maneira de explicar nossa seleção de lembranças é que elas estão completamente influenciadas por nossas emoções e desejos. Somos essencialmente narradores de uma história que contamos para nós mesmos todos os dias… e assim vamos tecendo nossa identidade. Algo como: conte-me suas lembranças nostálgicas e te direi, não quem és, mas talvez quem desejas ser. 

Nesse ponto, o vídeo Why Do We Feel Nostalgia? é um pouco mais explicativo ao citar também as falsas memórias, que simplificadamente são memórias de momentos que nunca vivemos que são construídas pelo cérebro para justificar ou tornar mais compreensível a nós mesmos certas recordações falsas que aceitamos como verdadeiras. Um experimento muito utilizado para auxiliar na comprovação da existência dessas memórias consiste em mostrar várias fotos da infância de uma pessoa para essa e perguntar o que ela estava fazendo quando tirou aquelas foto. Porém uma das fotos é uma montagem. Em praticamente 100% dos casos a pessoa conta suas lembranças sobre essa foto. Isso não significa que a pessoa está mentindo, mas que o cérebro dela construiu uma memória de um momento que ela nunca viveu com base em informações que ele possui sobre como a pessoa é e como era no suposto momento em que o acontecimento falso deveria ter ocorrido.

Tudo isso foi importante ser dito para podermos citar que muitas vezes nós não apenas temos lembranças melhores que a experiência vivenciada, mas muitas vezes nós construímos certas memórias de momentos que não ocorreram para engrandecer a lembrança de certa obra nostálgica. Já vivenciei situações dessas com obras como Cavaleiros do Zodíaco e Beck por exemplo. Com Cavaleiros do Zodíaco isso ocorreu como uma forma inconsciente de explicar o porquê eu gostava tanto desse anime e não gosto mais. Hoje em dia apenas sinto nostalgia ao lembrar de Cavaleiros do Zodíaco, afinal vi essa série no momento de descoberta das animações japonesas (ainda que meu primeiro anime tenha sido Doraemon). Fora que realmente há momentos icônicos nesse anime. Já quanto a Beck, não fosse eu tê-lo reassistido tantas vezes eu quase não notaria a simplicidade de boa parte da animação. Nas primeiras vezes que vi o anime eu realmente construi memórias de que o anime era tão bom que era muito bem animado e quem viu o anime sabe que não é bem verdade. Eu ainda adoro Beck, apenas não confundo mais tanto a alta qualidade do roteiro, da parte sonora e dos diálogos com a qualidade de animação.



Bom, a nostalgia e as emoções que ela provoca e a música e a dança e ter canções gravadas na cabeça, tudo gira ao redor de um tema em comum: Sua identidade. Porque em termos físicos, quem é você? Todo dia você perde átomos e adquiri outros novos… Demora por volta de cinco anos para substituir todos os átomos do seu corpo, o que significa que a matéria que chamamos “Você” hoje não era parte de você há cinco anos… Você e, na verdade todas as pessoas, são apenas um grupo temporário de átomos e moléculas que conservam o mesmo nome o tempo todo… Então, o que é constante? O que é você? 

A nostalgia, recordar o passado com carinho, responde essas perguntas, ou ao menos, aplaca a ansiedade que elas provocam. Em uma escala macroscópica você está sempre mudando. Tem amigos diferentes, comportamentos diferentes, estados de humor diferentes, diferentes gostos o tempo todo… a nostalgia lhe permite ligar esses eventos… 

Retirado do vídeo Why Do We Feel Nostalgia? do canal do youtube VSauce.

Sentir nostalgia é mais importante do que se imagina e isso me faz pensar que não é tão ruim assim senti-la e às vezes vale a pena um relançamento de um bom anime.

Finalmente, termino o texto com alguns questionamentos (nenhum deles é a pergunta fundamental, infelizmente). Quais animes te provocam nostalgia? Enfim, você acredita que sentir nostalgia é algo bom ou ruim? E você também ficou com vontade rever alguns animes que gosta muito após ler esse texto?

Está na hora de me despedir. Continuarei em busca da pergunta fundamental, afinal a resposta todos nós já sabemos. 

Até mais!

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Um comentário:

  1. Saudações mais que merecidas. Aqui é a Escritora, que ficou passada que soube quem eu era naquele Kyoudai Podcast - usei Facebook e daí? - feliz que a minha coluna favorita voltou ao ar. Agora em diante, vou estar presente quer queira ou não.

    Bem, como comentei o assunto no Anime Portfólio, vou pegar uma abordagem diferente sobre nostalgia nos animes. Tenho visto os Guias de Temporadas de uns tempos pra cá e dá pra ver que está virando tendência reviver séries antigas em novas roupagens, adaptar a obra em geral ou trazer de volta antigos sucessos. Reparando, há dois estúdios que fazem isso com frequência: a Toei Animation e a Tatsunoko, sendo que entre os dois, quem está se dando melhor na nostalgia é a Tatsunoko, que consegue convencer em suas produções; a Toei tem dado mancadas neste ponto, já que ao invés de melhorar o roteiro e a animação, ambas ficam abaixo da média - só vou ver Digimon Adventure Tri porque este não sofreu tanto com o estilo Toei de fazer animação - até mesmo os tokusatsus deles tem tido a mesma coisa, apesar da verba ser maior que a dos animes, também estão dando mancadas que até o público tem odiado. Uma pena para a Toei, pois teve tantos animes que viraram clássicos, mas, não sabem usar isto ao seu favor. Uma pena mesmo!

    Tem três animes que acompanho que seguem esta tendência de nostalgia: Ushio to Tora (TV); Osomatsu-san e Young Black Jack (que fiquei chateada por ter tido apenas doze episódios, tava tão bom de ver) que mostram que sim, é possível ser nostálgico sem soar artificial. São séries que podem parecer simples em sua estética, principalmente o Osomatsu-san,mas, vendo-as sem preconceito, acaba o envolvendo em suas tramas e reviravoltas quando menos espera; torcer pelos personagens e ri com eles.
    Enfim, nostalgia é bom quando a série te marcou e mesmo que tenha envelhecido com o tempo, ainda tem o seu charme. Há séries que assistimos uma única vez, enquanto tem outras que revemos tantas vezes, que soam familiares para quem a vê. Só um pequeno exemplo meu: de todos os animes que costumo gravar, "Detective Conan" bateu os recordes quanto ao termo de reassistir, são muitos episódios que me marcaram pela narrativa ou pelo desenvolvimento dos casos - tem uns que já vi tantas vezes, que ao invés de enjoar, gosto de poder ver o que mais me agrada - são tais séries que não importamos se é tão velho ou não.

    Ademais, bem-vindo de novo "A resposta é 42". Tava sentindo a sua falta, hein. Até a próxima!!!

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