Considerado por muitos como a “ovelha negra” da saga, um
completo desperdício e outros predicativos nada agradáveis, “Dragon Ball GT”
raramente é visto com bons olhos pelo público. Ao meu ver, não acho esta série
tão ruim quanto pensam, apenas a enxergo como um anime incompreendido e que soube
respeitar – bem diferente da série atual – o que a história tinha a oferecer.
Ao menos, a colocam como um spin-off da franquia... um mal a menos...
Sim, tenho afeição a esta série e com uma das mais
lindas aberturas em português, dublagem mantendo o nível das duas séries
anteriores e por dar um final para uma longa saga, não importo com a sua pouca
duração e sim que tenha dado novos rumos a esta grande franquia. Por isso,
sentam que lá vem os pormenores e o que torna esta série boa e ruim, seja aos
que acompanham a saga, seja os que já ouviram falar dela em algum lugar.
Ano: 1996
Diretor: Osamu Kasai
Estúdio: Toei Animation
Episódios: 64
Gênero: Ação / Aventura / Comédia
Imaginem a seguinte situação: uma animação de
destaque acaba de terminar, e seu material de origem também chegou ao fim.
Editora e estúdio veem um lucro e tanto, percebem que irão cair no prejuízo se
pararem. O que decidem fazer? Continuar com a história, mesmo que signifique
criar algo não relativo a trama original, mantendo somente o argumento dado e
os personagens já apresentados.
Quem acompanha animação japonesa ou não, pode
reagir de duas formas: gostar ou reprovar o resultado obtido. Pensem bem dos animes
mais longos em exibição, que quando chegam perto do conteúdo original, são postos
os fillers e sabemos da raiva que a maioria tem quando há tais histórias por
não acrescentarem nada ao enredo principal - há quem acerte nisso, só não é a
maioria. Nos últimos tempos, tem sido usado um recurso mais seguro: fazer somente
poucos episódios e quando alcança, dá-se uma pausa e volta depois (ou encerra com
um final fechado, para que não precise voltar com a série). Existe marketing
para divulgar uma obra, um game, um filme e esta é uma estratégia mais comum do
que pensam, seja para um remake ou nova versão, um reboot, divulgação da obra original ou uma marca de brinquedos.
A maioria das animações é pra este propósito, seja
no começo ou depois que ganha fama e estima do público. Um caminho sem
voltas...
Só assim para falar da terceira série da saga “Dragon Ball” que foi, por anos, o final da história nas animações - mas agora fadado a ser um spin-off duramente criticado. Antes, o que
houve para que “Dragon Ball GT” fosse feito, para entender tanta raiva de
muitos e incompreensão de outros, siga a história: quando “Dragon Ball Z”
estava prestes a terminar, tanto a Toei Animation quando a Shounen Jump não
queriam perder o lucro que o mangá/anime tinha feito por anos seguidos; afinal,
a obra de Akira Toriyama estava em alta, mas, o mangaká a tinha terminado e não
ia pegar mais - a pressão da editora fez o que fez. Mesmo assim, ele tinha
criado alguns esboços sobre uma possível continuação de “Dragon Ball”.
E foram estes esboços e os roteiristas envolvidos
que o anime deu forma e cores.
A história pega o gancho deixado em “Dragon Ball
Z”: o protagonista Son Goku se despede de seus familiares e vai treinar um
lutador que conheceu num dos Torneios de Artes Marciais - logo no começo da
série, este treinamento chega ao fim e os dois lutadores se despedem. Enquanto
isso, surge um personagem e seus capangas - que aparecem em “Dragon Ball” – já
velhinhos, que vão ao Templo de Kami Sama e procuram pelas Esferas do
Dragão, onde deparam com esferas de estrelas negras. No momento que iam pega-las Goku aparece e este personagem deseja que ele volte a ser aquele garotinho:
tiro e queda, o protagonista retorna ao formato infantil e as esferas com
estrelas negras se espalham não na Terra, e sim pelo universo.
Acontece que estas Esferas do Dragão são perigosas:
se elas não forem recuperadas dentro de certo prazo, a própria Terra seria destruída
e cabe a Goku recuperá-las e trazê-las de volta ao nosso planeta. Pra encarar
tal aventura, o personagem é acompanhado de Trunks (filho de Vegeta e Bulma) e
de Pan (filha de Gohan e neta de Goku) que saem em uma nave espacial para os
locais onde estão as esferas e passam por várias aventuras.
Em termos mais diretos, a proposta da animação é
misturar o que tornou as duas primeiras animações famosas: o tom
comédia/aventura de “Dragon Ball” com o estilo ação desenfreada e lutas
intermináveis de “Dragon Ball Z”, algo que se transforma em sua maior qualidade e, também, seu
maior defeito, onde dá pra ver a tentativa de manter estas características na
trama. Antes de acentuar as falhas, ressaltemos as qualidades positivas da
animação, porque como dizem, é bom ver os dois lados da mesma moeda, os prós e
contras.
A primeira se trata da parte técnica, já que a
animação teve um orçamento maior que as fases anteriores, refinando o traço do
Toriyama, sendo possível notar as diferenças numa época em que a Toei Animation
tinha mais zelo em suas animações - hoje em dia, o estúdio é duramente criticado
em fazer um trabalho ruim em termos técnicos, tirando certas exceções. Outro
ponto positivo é manter a personalidade apresentada dos personagens,
acrescentando somente alguns detalhes da passagem de tempo, como aparência e
vestimentas.
E deste elenco de personagens que “Dragon Ball GT” trouxe, há uma personagem a se destacar: a neta do protagonista, Pan, visto que um dos motivos de existir a trama vem dela. De personalidade forte e uma lutadora, foi uma das que viu o seu avô como criança e teve de aceitar alguém “mais novo que ela”, sendo ainda mais animada em sair viajando universo afora. Sua participação deu rumos ao enredo, revelando o valor de personagens femininos em shounen de batalha, que costumam ser apenas pano de fundo na maioria dos casos. Interessante ver ela seguindo seu “vovozinho” durante a série, brigar com ele e em certos momentos, sendo importante apesar da tão pouca idade.
E deste elenco de personagens que “Dragon Ball GT” trouxe, há uma personagem a se destacar: a neta do protagonista, Pan, visto que um dos motivos de existir a trama vem dela. De personalidade forte e uma lutadora, foi uma das que viu o seu avô como criança e teve de aceitar alguém “mais novo que ela”, sendo ainda mais animada em sair viajando universo afora. Sua participação deu rumos ao enredo, revelando o valor de personagens femininos em shounen de batalha, que costumam ser apenas pano de fundo na maioria dos casos. Interessante ver ela seguindo seu “vovozinho” durante a série, brigar com ele e em certos momentos, sendo importante apesar da tão pouca idade.
E não vamos esquecer a trilha sonora, que manteve o
estilo das séries anteriores - destacando nisso a abertura, que seguiu um ritmo que
sai do tom chiclete das aberturas que “Dragon Ball” apresentava.
Quanto aos defeitos, a principal se refere por ter
sido um anime comercial, sem apoio ou influência de seu criador. A montagem desta fase veio porque editora e estúdio não queriam perder “a galinha dos ovos
de ouro” que “Dragon Ball” foi por anos consecutivos e a mistura de estilos
deixou “Dragon Ball GT” sem muita identidade própria. Até que tem, só que, a
forma que foi desenvolvida acabou prejudicando o seu desempenho, tornando a
série da saga com menos episódios. Sem ter obtido um mangá, muitos a veem com
desprezo, apenas porque o seu criador nem quis se envolver com o projeto - só não é
caso isolado, porque a grande maioria dos animes lançados não tem interferência
de seus criadores, que são apenas meros espectadores. Exceções? A primeira
versão de “Full Metal Alchemist”, “Bleach” e “Ushio to Tora” (TV) tiveram
participação de seus autores originais em certos momentos da trama, de forma direta ou
indireta.
O contexto usado não foi bem aproveitado, pois analisando
friamente a sinopse dada, o anime poderia melhorar certos pontos e o resultado
foi bastante irregular. Não basta ter fama para garantir, tem de ter uma
história que possa atender as expectativas do público. E em termos de grandes
vilões, o anime também não foi muito feliz, alternando em uns mais de acordo e
outros que preferíamos que nem tivessem criado; ao menos, foi mais feliz que a
série atual (considerando que esta resenha foi escrita no primeiro semestre de 2017), “Dragon Ball Super”.
Vamos mudar para o momento de recepção: em seu país
de origem, deu pra notar que o anime não foi bem, muito devido às suas falhas e por
ter sido feito de forma mais comercial; fora dele, o tamanho desprezo se
manteve, apesar de que dá pra tirar algo bom nele. No Brasil, “Dragon Ball GT”
foi por anos a última animação da saga “Dragon Ball”; foi posta depois de
“Dragon Ball Z” e “Dragon Ball”, mantendo o elenco de dubladores das duas
animações anteriores e deste dá pra destacar ainda a Jussara Marques, que emprestou a
voz à Pan - outra curiosidade é que o anime não foi dublado no mesmo
estúdio das duas primeiras séries. Três canais fizeram sua exibição – Rede
Globo/Cartoon Network na época e Rede Bandeirantes para alguns estados – todas
sem cortes ou censura.
E vale mencionar a versão brasileira da abertura,
que tem um estilo bem diferente do que foi presenciado nas outras séries, mostrando em
seu clipe o que esperar da trama.
Desta maneira, “Dragon Ball GT” pode ser visto de
uma forma negativa pela forma que foi feita, no entanto, em alguns pontos
mostra uma certa identidade e consegue por uns momentos nos fazer lembrar porque
gostamos da saga “Dragon Ball”. Afinal, não é todo dia que um spin-off aparece
dando o que falar...
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