6 de junho de 2017

Resenha: Silver Spoon (mangá)




Por Escritora Otaku

Quando um mangaká se destaca com uma obra é difícil definir se vai conseguir emplacar outra: uns conseguem e outros apenas ficam na primeira. Agora, quando um mangaká se consagra em mais de uma série, aí perguntamos como pode e somente apenas analisando que dá pra ter algumas respostas. O mangá abaixo é um destes exemplos de como é obter sucesso após seu primeiro muito bem sucedido mangá.

Sou um tanto suspeita pra falar de “Silver Spoon”, porque como dizem por aí, o que Hiromu Arakawa toca vira ouro; gosto demais desta série, por se diferenciar de sua obra mais consagrada, “Full Metal Alchemist” - a qual também sou suspeita em comentar sobre. Claro que há semelhanças entre as duas, pois existem características peculiares da mangaká - por isso esta análise vai tentar mostrar o que tornou “Silver Spoon” um sucesso para seus leitores, e podem apostar que ele tem chances de vir para o Brasil, é apenas questão de tempo.

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Alternativo: Gin no Saji (japonês)
Mangaká: Hiromu Arakawa
Número de volumes: 13, em publicação
Editora: Shogakukan (Japão)
Gênero: Comédia / Escolar / Slice-of-Life

Emplacar um mangá no Japão é comum, cada mangaká tem suas particularidades - o que garante sucesso ou não, aí já é outra história. Agora, quando consegue emplacar outra, outra e assim sucessivamente, deve-se levar em consideração que o próprio mangaká tem talento e um público que vê sua obra com elementos relevantes a sua evolução de criar histórias inéditas. Em novas séries, o mangaká pode trazer uma narrativa diferente e melhorar – na maioria dos casos – aquilo que o consagrou em seu primeiro trabalho.

O mangá a ser analisado faz parte deste caso, portanto, vejamos como foi e o que levou a ser conhecido pelo público...



Enredo

“Silver Spoon” traz como protagonista Hachiken Yugo, jovem que decide estudar em um colégio agrícola, fora do movimento urbano - na verdade, Hachiken está é fugindo, pois suas experiências na cidade não foram das mais agradáveis e decide ir o mais longe que pode, parando na Academia Uezo, localizada em Hokkaido. O que ele não esperava era encontrar uma realidade bem diferente do que pensava e é neste lugar que passa a reaprender o que é a vida, enfrentar seus anseios e quem sabe, ter um futuro que jamais sonhara ter em seus tempos na cidade.

Acompanhamos o seu dia a dia nas aulas, o convívio com seus colegas de classe - parte filhos de fazendeiros, sejam de famílias simples ou de grande influência na agricultura e seus segmentos -, seus sonhos e metas, uns óbvios, outros nem tanto. Um ambiente que trará para Hachiken outra faceta da vida e sua presença vai mudando, aos poucos, a realidade que foi posta por mera mudança de ares.



Contexto, traço, personagens

A série propõe um ambiente escolar rural de última ponta com equipamentos e toda uma infraestrutura para receber seus alunos, onde dá pra produzir seus próprios alimentos e derivados - com isto, surge uma revigorada quando se trata de ambientes escolares nipônicos, que normalmente são urbanos ou bem simplórios. Outro fator determinante é a forma que são tratados os personagens, todos bastante característicos e bem posicionados, portanto, sem os típicos abandonos que vemos em muitos mangás. E aliando a tons de comédia ou de forte emoção, temos um exemplo de como criar uma história sem grandes pretensões, a não ser a de mostrar a trama em traços e cores.

Quem deu ares a “Silver Spoon” foi a mangaká Hiromu Arakawa, famosa por muitos devido ao renomado “Full Metal Alchemist” - foi com a epopeia dos Irmãos Elric que Arakawa deu aos seus leitores uma história cheia de emoção, personagens e um traço singular, rendendo 37 volumes e materiais extras. Representada por uma simpática vaquinha de óculos, jamais passou nela que conseguisse tanto sucesso, apenas quis trazer a história. Ao termina-lo, esperávamos seu retorno e não demorou tanto quando, no ano de 2013, nas páginas da Shounen Sunday, “Silver Spoon” deu as caras e tornou-se um dos principais mangás da grade da revista ao lado de outros títulos de renome, alcançando vendas absurdas e boa recepção.

Muito que se formou na obra anterior esteve presente neste novo mangá e pode evoluir, melhorando aspectos e indo pra um estilo distinto da série que a consagrou. Um aspecto que melhorou foi o traço, mais firme e limpo que no trabalho anterior, fora estar mais light na forma que retrata seus personagens.



Aspectos do mangá

Para começo, a série não foi publicada em revistas como a Shounen Jump ou Shounen Magazine – famosas por diversos mangás e conhecidas pelo público em geral – e sim na Shounen Sunday, lar de mangás como “Detective Conan” (o mangá de maior duração da revista), “Magi: The Labyrinth of Magic” (um dos destaques da grade atual, que está prestes a se encerrar), “Kyoukai no Rinne” (atual série de Rumiko Takahashi, autora de séries como “Ranma ½” e “Inuyasha”, entre outros) e por aí vai, conseguindo misturar mangakás veteranos com novatos. Ela é vista como a “menos carrasca” das revistas, que dá chances para obras variadas se destacarem e dá folga aos seus autores, ou seja, quem acompanha suas TOCs tem noção do que esperar.

Quem acompanha o desempenho da Arakawa sabe que antes de “Silver Spoon” seus mangás eram publicados, em maior parte, numa editora de séries mensais - ao mudar para a Sunday o desafio era publicar algo semanal, como acontece na maioria das revistas de mangás por lá. E apesar de ter tido certa instabilidade quanto a periodicidade, ela conseguiu acompanhar o ritmo e colocar a série entre as mais vistas da grade - mais do que isso: seus volumes vendiam como água, o que é pra poucos mangás, firmando como um destaque para a Shounen Sunday. Claro que com certas liberdades, a autora não precisava ter pressa ou mudar o ritmo que impôs em sua obra atual, e por estar em uma revista com circulação mais próxima dos leitores, os resultados vieram até rápido demais.

Afinal, o que faz “Silver Spoon” ser tão bom? São tantos fatores a ressaltar, mas, digamos que foi a mudança de contexto, pois saindo de um mangá descomunal como “Full Metal Alchemist” para algo menos "cheguei" a sua estrutura narrativa. Dá pra dizer que ela fez o mesmo que Ohba e Obata, que saíram de um shounen incomum como “Death Note” e seguiram para algo menos complexo como “Bakuman”, ou seja, sair da zona de conforto, sem perder aquilo que a tornou conhecida e melhorando seu jeito de botar uma trama em traços.



Depoimento pessoal sobre o mangá

Vou ser bem franca com vocês: faz muito tempo que não me deliciava com um mangá tranquilo, de leitura rápida e que dá gosto de quero mais quando termina o capítulo. Conheci “Silver Spoon” por intermédio de sua versão anime, onde simplesmente me apaixonei por Hachiken e companhia. Pro mangá foi um pulo e acompanho com muito afinco seus capítulos, ficando um tanto triste quando acabo de ler o que há disponível, pois nem parece que o tempo passa ao fazer isso. Aos que esperavam algo do nível de “Full Metal Alchemist" podem tirar o cavalinho da chuva, pois somente certos aspectos permanecem na história de Hachiken, enquanto que o contexto de ambas as histórias é completamente diferente uma da outra.

Quando leio algo que me interessa, como neste caso, tento evitar as possíveis comparações e me penetro na história, então, quando menos espero, lá vou eu querendo saber mais - e a trama está em reta final, o que empolga mais ainda a redatora que vos escreve. Gosto do estilo da Arakawa; quem conferiu os Guias Completos do FMA pode ver que há entrevistas que revelam como é o seu jeito de criar histórias, e ela tem um estilo bem bacana de ser. Por isso, é válido ressaltar que tudo que ela faz vira ouro, como se vê em comentários pela net.

Chances de o mangá vir ao Brasil são boas. Se levarmos em consideração de quem pode trazer o título, a JBC está em vantagem, pois lançaram parte dos mangás curtos dela, o “Full Metal Alchemist” e os guias. Os problemas seriam primeiro a periodicidade, pois lançam parte dos mangás de forma mensal; a distribuição, pois há pulos de mangás – comprei FMA, e quando era quinzenal tudo ia bem, mas ao mudar para mensal foi uma tortura de pulos de volumes –; e a temível tradução, pois não é de hoje que há reclamações sobre uso de termos e palavras estranhas nos mangás da editora. Portanto, tenho os meus receios em relação a ela pegar o mangá, mesmo que seja mais fácil em dar uma boa tradução. Se pudesse escolher, a Panini seria uma boa alternativa e antes que alguém diga que defendo a editora, apenas falo na pele de quem costuma comprar seus mangás via banca de jornal. Porque neste aspecto, a JBC me decepcionou demais.

Fica aí a torcida: quem vai publicar “Silver Spoon”? Que vença a editora que o pegar, é claro!



Considerações Finais

Hiromu Arakawa fez muito bem o papel de casa, o de emplacar outro mangá de sucesso, apesar das comparações com “Full Metal Alchemist” serem inevitáveis. Com uma história mais tranquila, sem perder seu estilo, “Silver Spoon” comprova que para criar uma trama não é necessário usar artifícios fantásticos a fim de conquistar os leitores. Aos que ainda tem suas dúvidas, vale lembrar: quem cria uma história precisa gostar dela, para ter a certeza de que haverá alguém que a aprecie tanto quanto aquele que a criou. Não é segredo, apenas questão de ler sem medo de ser criticado em gostar.

Só aí, fica fácil de compreender o que tem “Silver Spoon” de interessante pra nós, leitores...

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