Por Escritora Otaku
Quando um mangaká se destaca com uma obra é
difícil definir se vai conseguir emplacar outra: uns conseguem e outros apenas
ficam na primeira. Agora, quando um mangaká se consagra em mais de uma
série, aí perguntamos como pode e somente apenas analisando que dá pra ter
algumas respostas. O mangá abaixo é um destes exemplos de como é obter
sucesso após seu primeiro muito bem sucedido mangá.
Sou um tanto suspeita pra falar de “Silver Spoon”,
porque como dizem por aí, o que Hiromu Arakawa toca vira ouro; gosto demais
desta série, por se diferenciar de sua obra mais consagrada, “Full Metal
Alchemist” - a qual também sou suspeita em comentar sobre. Claro que há semelhanças
entre as duas, pois existem características peculiares da mangaká - por isso esta análise vai tentar mostrar o que tornou “Silver
Spoon” um sucesso para seus leitores, e podem apostar que ele tem chances de vir para o Brasil, é apenas questão de tempo.
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Alternativo: Gin no Saji (japonês)
Mangaká: Hiromu Arakawa
Número de
volumes: 13, em publicação
Editora: Shogakukan (Japão)
Gênero: Comédia / Escolar / Slice-of-Life
Emplacar um mangá no Japão é comum, cada mangaká
tem suas particularidades - o que garante sucesso ou não, aí já é outra história.
Agora, quando consegue emplacar outra, outra e assim sucessivamente, deve-se
levar em consideração que o próprio mangaká tem talento e um público que vê sua
obra com elementos relevantes a sua evolução de criar histórias inéditas. Em novas
séries, o mangaká pode trazer uma narrativa diferente e melhorar – na maioria dos
casos – aquilo que o consagrou em seu primeiro trabalho.
O mangá a ser analisado faz parte deste caso,
portanto, vejamos como foi e o que levou a ser conhecido pelo público...
Enredo
“Silver Spoon” traz como protagonista Hachiken Yugo, jovem que decide estudar em um colégio agrícola, fora do movimento
urbano - na verdade, Hachiken está é fugindo, pois suas experiências
na cidade não foram das mais agradáveis e decide ir o mais longe que pode,
parando na Academia Uezo, localizada em Hokkaido. O que ele não esperava era
encontrar uma realidade bem diferente do que pensava e é neste lugar que passa
a reaprender o que é a vida, enfrentar seus anseios e quem sabe, ter um futuro que jamais
sonhara ter em seus tempos na cidade.
Acompanhamos o seu dia a dia nas aulas, o convívio
com seus colegas de classe - parte filhos de fazendeiros, sejam de famílias
simples ou de grande influência na agricultura e seus segmentos -, seus sonhos e
metas, uns óbvios, outros nem tanto. Um ambiente que trará para Hachiken outra
faceta da vida e sua presença vai mudando, aos poucos, a realidade que foi
posta por mera mudança de ares.
Contexto,
traço, personagens
A série propõe um ambiente escolar rural de última
ponta com equipamentos e toda uma infraestrutura para receber seus alunos, onde dá pra produzir seus próprios alimentos e derivados - com isto, surge uma
revigorada quando se trata de ambientes escolares nipônicos, que normalmente
são urbanos ou bem simplórios. Outro fator determinante é a forma que são
tratados os personagens, todos bastante característicos e bem posicionados,
portanto, sem os típicos abandonos que vemos em muitos mangás. E aliando a tons
de comédia ou de forte emoção, temos um exemplo de como criar uma história sem
grandes pretensões, a não ser a de mostrar a trama em traços e cores.
Quem deu ares a “Silver Spoon” foi a mangaká Hiromu
Arakawa, famosa por muitos devido ao renomado “Full
Metal Alchemist” - foi com a epopeia dos Irmãos Elric que Arakawa deu aos seus
leitores uma história cheia de emoção, personagens e um traço singular, rendendo 37 volumes e materiais extras. Representada por uma
simpática vaquinha de óculos, jamais passou nela que conseguisse tanto sucesso,
apenas quis trazer a história. Ao termina-lo, esperávamos seu retorno e não
demorou tanto quando, no ano de 2013, nas páginas da Shounen Sunday, “Silver
Spoon” deu as caras e tornou-se um dos principais mangás da grade da revista ao
lado de outros títulos de renome, alcançando vendas absurdas e boa
recepção.
Muito que se formou na obra anterior esteve
presente neste novo mangá e pode evoluir, melhorando aspectos e indo pra um
estilo distinto da série que a consagrou. Um aspecto que melhorou foi o
traço, mais firme e limpo que no trabalho anterior, fora estar mais light na forma
que retrata seus personagens.
Aspectos do
mangá
Para começo, a série não foi publicada em revistas
como a Shounen Jump ou Shounen Magazine – famosas por diversos mangás e
conhecidas pelo público em geral – e sim na Shounen Sunday, lar de mangás como
“Detective Conan” (o mangá de maior duração da revista), “Magi: The Labyrinth of Magic” (um dos destaques da grade atual, que está prestes a se encerrar), “Kyoukai no Rinne” (atual série de
Rumiko Takahashi, autora de séries como “Ranma ½” e “Inuyasha”, entre outros) e
por aí vai, conseguindo misturar mangakás
veteranos com novatos. Ela é vista como a “menos carrasca” das revistas, que dá
chances para obras variadas se destacarem e dá folga aos seus autores, ou seja,
quem acompanha suas TOCs tem noção do que esperar.
Quem acompanha o desempenho da Arakawa sabe que
antes de “Silver Spoon” seus mangás eram publicados, em maior parte, numa editora
de séries mensais - ao mudar para a Sunday o desafio era publicar algo semanal,
como acontece na maioria das revistas de mangás por lá. E apesar de ter tido
certa instabilidade quanto a periodicidade, ela conseguiu acompanhar o ritmo e
colocar a série entre as mais vistas da grade - mais do que isso: seus volumes
vendiam como água, o que é pra poucos mangás, firmando como um destaque para a
Shounen Sunday. Claro que com certas liberdades, a autora não precisava ter
pressa ou mudar o ritmo que impôs em sua obra atual, e por estar em uma revista
com circulação mais próxima dos leitores, os resultados vieram até rápido
demais.
Afinal, o que faz “Silver Spoon” ser tão bom? São
tantos fatores a ressaltar, mas, digamos que foi a mudança de contexto, pois
saindo de um mangá descomunal como “Full Metal Alchemist” para algo menos "cheguei" a sua estrutura narrativa. Dá pra dizer que ela fez o mesmo que Ohba e
Obata, que saíram de um shounen incomum como “Death Note” e seguiram para algo
menos complexo como “Bakuman”, ou seja, sair da zona de conforto, sem perder
aquilo que a tornou conhecida e melhorando seu jeito de botar uma trama em
traços.
Depoimento
pessoal sobre o mangá
Vou ser bem franca com vocês: faz muito tempo que
não me deliciava com um mangá tranquilo, de leitura rápida e que dá gosto de
quero mais quando termina o capítulo. Conheci “Silver Spoon” por intermédio de sua
versão anime, onde simplesmente me apaixonei por Hachiken e companhia. Pro mangá
foi um pulo e acompanho com muito afinco seus capítulos, ficando um tanto triste quando acabo de ler o que há disponível, pois nem parece que o tempo passa ao fazer isso. Aos que esperavam algo do nível de “Full Metal Alchemist" podem
tirar o cavalinho da chuva, pois somente certos aspectos permanecem na história
de Hachiken, enquanto que o contexto de ambas as histórias é completamente diferente uma da outra.
Quando leio algo que me interessa, como neste caso,
tento evitar as possíveis comparações e me penetro na história, então, quando
menos espero, lá vou eu querendo saber mais - e a trama está em reta final, o
que empolga mais ainda a redatora que vos escreve. Gosto do estilo da Arakawa; quem conferiu os Guias Completos do FMA pode ver que há entrevistas que revelam como é o seu jeito de criar histórias, e ela tem um estilo bem bacana de ser. Por isso,
é válido ressaltar que tudo que ela faz vira ouro, como se vê em comentários
pela net.
Chances de o mangá vir ao Brasil são boas. Se
levarmos em consideração de quem pode trazer o título, a JBC está em vantagem, pois lançaram parte dos mangás curtos dela, o “Full Metal Alchemist” e os guias. Os
problemas seriam primeiro a periodicidade, pois lançam parte dos mangás de forma mensal;
a distribuição, pois há pulos de mangás – comprei FMA, e quando era quinzenal tudo ia bem, mas ao mudar para mensal foi uma tortura de pulos de volumes –; e a temível tradução,
pois não é de hoje que há reclamações sobre uso de termos e palavras estranhas
nos mangás da editora. Portanto, tenho os meus receios em relação a ela pegar o
mangá, mesmo que seja mais fácil em dar uma boa tradução. Se pudesse escolher,
a Panini seria uma boa alternativa e antes que alguém diga que defendo a
editora, apenas falo na pele de quem costuma comprar seus mangás via banca de jornal.
Porque neste aspecto, a JBC me decepcionou demais.
Fica aí a torcida: quem vai publicar “Silver
Spoon”? Que vença a editora que o pegar, é claro!
Considerações
Finais
Hiromu Arakawa fez muito bem o papel de casa, o de
emplacar outro mangá de sucesso, apesar das comparações com “Full Metal
Alchemist” serem inevitáveis. Com uma história mais tranquila, sem perder seu
estilo, “Silver Spoon” comprova que para criar uma trama não é necessário usar
artifícios fantásticos a fim de conquistar os leitores. Aos que ainda tem suas
dúvidas, vale lembrar: quem cria uma história precisa gostar dela, para ter a certeza de que haverá alguém que a aprecie tanto quanto aquele que a criou. Não é
segredo, apenas questão de ler sem medo de ser criticado em gostar.
Só aí, fica fácil de compreender o que tem “Silver
Spoon” de interessante pra nós, leitores...
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