7 de fevereiro de 2013

Resenha: Seitokai no Ichizon Lv.2


Novo estúdio, nova equipe, novos dubladores... Apesar de tantas mudanças, a sequência de "Seitokai no Ichizon" segue a mesma cartilha de seu antecessor: erra muito em alguns pontos para acertar em outros.





Ano: 2012
Diretor: Kenichi Imaizumi (“Katekyo Hitman Reborn”)
Estúdio: AIC
Episódios: 10
Gênero: Comédia
De onde saiu: Light novel, 10 volumes, finalizada (2008-2012).
Continuação de: “Seitokai no Ichizon” (2009).



*****



Nada de “Seitokai no Ichizon Z” ou “New Seitokai no Ichizon”, como sugerido pelos protagonistas no primeiro episódio; exibido em baixa qualidade via stream durante a temporada de outono (e sendo reexibido nesta na televisão), “Seitokai no Ichizon Lv.2” traz de volta os cinco integrantes do conselho estudantil da escola Hekiyou, e novamente eles gastam quase todo o seu tempo em longos e inúteis diálogos dentro de uma sala.

Quatro garotas escolhidas por voto popular; um rapaz prestigiado com a quinta vaga após obter as melhores notas nos exames. É um Harém? Sim, muito mais do que a primeira temporada tentou não ser, para alegria do tarado Sugisaki. Dando maior atenção às interações entre ele e as garotas da sala, sem esquecer os novos belos rostos que surgem aqui (amiga de infância e irmã que sofre de “brocon”? Pelo menos em jogos Sugisaki conhece bem essas rotas...), “Seitokai no Ichizon” praticamente abandona seu lado paródia e o hábito de quebrar a quarta barreira, virando assim uma comédia pseudo-romântica comum e capenga em boa parte de sua duração. E essa é apenas uma das várias mudanças que o anime traz em relação à sua antecessora, exibida três anos atrás.



Tchau, Studio DEEN; olá, AIC. Novo diretor – Kenichi Imaizumi, menos experiente que o anterior, Takuya Satou –, novo “character designer” (Masahito Onoda, também com menos trabalhos no ramo do que o nome da primeira temporada, Kumi Horii), e inclusive novos dubladores, por motivos adultos chatos. Yuka Saitou (Chizuru) e Yuki Horinaka (Mafuyu) foram substituídas, respectivamente, por Mina e Iori Nomizu, e a razão disso é que as duas que saíram não fazem mais parte da agência Production Ace, subsidiária da editora Kadokawa, financiadora do anime – os seiyuus de Kurimu, Chinatsu e Sugisaki, por outro lado, permanecem nessa agência, e por isso continuam em seus papéis. Fazer o quê, acontece. Com uma mal se notará a diferença; com a outra, se notará até demais.

Começando no “episódio 0” (que é contado no total dos dez episódios do anime, logo ele é numerado até o 9), há um prólogo mostrando como Sugisaki se interessou e se preparou para entrar no conselho estudantil. No final, surge enfim a sala e as garotas protagonistas, já discutindo brevemente o título do anime e as modificações feitas nele, algo que é mais aprofundado no episódio um, quando debatem sobre as inovações que deveriam ser inseridas para atrair um novo público à série. Brincando com vários artifícios usados nesses casos por outras produções – resetar a história, criar spin-off de um personagem coadjuvante etc – e não deixando de se autodepreciar pelas mudanças feitas (em um grau um tanto exagerado, quase como se pedissem desculpas por tudo isso) o anime dá uma longa amostra daquela prazerosa quebra da quarta barreira tão presente na primeira temporada, mas que aqui, como se verá adiante, será esporádica e deixada em segundo plano. E, se a novidade nos traços e vozes é o que mais chama atenção em um primeiro instante, logo se percebe que a postura dos personagens e o próprio humor também estão muito diferentes, e de uma maneira negativa.

É como se fosse um aquecimento: Sugisaki não parece tão enérgico como lembrávamos ser, e o mesmo se passa com Kurimu, Minatsu, Mafuyu e Chizuru; estão todos ali na sala, conversando e fazendo piadinhas entre si, porém parece mais que acabaram de se conhecer, e não que estão prestes a se separarem após um ano juntos – lembra? A série anterior acabou com a promessa de que as irmãs seriam transferidas e as outras duas meninas se formariam, deixando Sugisaki sozinho. Não é lá uma boa primeira impressão, principalmente ao testemunhar um humor tão forçado e bobo de ritmo sonolento, digno dos piores momentos do anime de 2009. A versão do Studio DEEN nunca chegou a ser algo esplêndido, mas o pontapé inicial da AIC é bastante desanimador e frustrante, principalmente para quem esperava melhoras no anime com a troca de estúdio – já que DEEN não tem exatamente uma boa reputação, muito pelo contrário.


Entretanto, esse marasmo só dura três arrastados episódios, e após isso Sugisaki e companhia retornam aos poucos à boa química de antigamente - e, juntamente, os diálogos e historinhas se tornam mais criativos e engraçados, sendo que às vezes quebram totalmente a limitação de espaço imposta pela sala graças à grande imaginação dos personagens. Sugisaki volta a ter seus ataques de euforia e sonhos de formar um harém, Kurimu volta a ser o elemento mais fofo e moe do grupo, Chinatsu e Mafuyu também retomam seus velhos costumes e trejeitos... Apenas Chizuru nunca consegue "estrear" de fato no anime, por conta de sua seiyuu, Mina. À Mafuyu, Horinaka Yuki dava uma voz lindinha mas até que enjoada demais na primeira temporada, um pouco irritante em certos instantes; e se Iori Nomizu diminui os agudos e confere à personagem um tom mais contido, porém ainda bastante feminino, a sensação de estranheza causada no começo em breve desaparece, e nos acostumamos a ela. Contudo, com Chizuru a situação é mais complicada; Mina não repete e nem se aproxima daquela voz austera, madura e levemente provocante imposta por Saitou Yuka em 2009, e dessa forma suas linhas de diálogo perdem muito em expressividade e força. Ela ameaçando Sugisaki ou mostrando um comportamento doentio para com Kurimu tem menos impacto nas conversas da sala do que deveria, quase como se ela não estivesse ali - na verdade, ela não estando mal faria alguma diferença. E que seja louvado o anonimato na internet: enquanto Iori Nomizu era poupada, na época em que o anime começou a ser exibido, redes sociais e blogs japoneses se encheram de críticas nada educadas de fãs quanto à atuação de Mina, que lamentavam a saída de Yuka. Perdeu-se, em suma, uma boa personagem nesse processo de transição. Mas a série trouxe novas para compensar.

A amiga de infância? Está ali para fazer número no Harém do protagonista, demora a aparecer. A garota de óculos do primeiro episódio que possui grande importância na vida do rapaz? Ótima personagem, mas sua participação se resume mesmo ao passado de Sugisaki. A irmã que sofre de “brocon”? Ah, essa sim, tem apelo, sendo inclusive considerada pelas garotas do conselho estudantil como uma “ameaça” às outras personagens coadjuvantes, que perderiam espaço por conta dela – e nisso entram as já conhecidas da primeira temporada, a jornalista riquinha e sua irmã, que pouco aparecem, mas garantem um bom e (no caso da loli) questionável humor. Presenteada com a voz docíssima de Yunezawa Madoka (Hirasawa Ui de “K-ON!”), a demasiada inocente Sugisaki Ringo será a mais bem-vinda e bela novidade para quem tiver uma queda para esse tipo de personagem tão burrinha e delicada, caso não se sinta incomodado com a gritante tentativa do anime em força-lo a gostar dela, nem com a relação exagerada que há com o irmão – não, não é normal você ficar tentado a ver uma foto provocante da irmãzinha no celular. E Sugisaki, aliás, mesmo sendo tão pervertido e bobalhão, impressiona ao mostrar tanto carinho pelas meninas que o rodeiam, um ponto ao mesmo tempo elogiável e frágil do anime.


Por si só é uma raridade ver o líder masculino de um anime desse gênero ser o preferido dos fãs, mas possivelmente isso se justifica em "Seitokai no Ichizon" não só por Sugisaki ser engraçado, mas também por demonstrar uma preocupação tão grande para as personagens femininas; quem viu a primeira temporada testemunhou isso. Mas, lá, esses momentos de seriedade por sua parte eram escassos, e não tão íntimos. Por sua vez, “Seitokai Lv.2” aumenta a duração dessas sequências e inclusive as faz com cada garota individualmente em certos episódios, dando-lhes um destaque todo especial e não ficando restrito apenas às integrantes do conselho. Uma palavra de apoio, uma palavra de carinho, um elogio sincero; Sugisaki sabe o que falar e quando falar, e seus momentos sentimentais com suas colegas criam, geralmente, uma razoável carga dramática nas historinhas, superior ao visto no primeiro anime. 

O problema disso? Ainda é um Harém, e um onde o protagonista fica em um eterno campo neutro, manifestando seu amor por todas e tendo noção de que essa sua escolha em não se decidir por nenhuma não é a melhor opção, mas, mesmo assim, prefere seguir nesse caminho. Do lado delas, vão pensando e tentando aceitar que a possível paixão é na verdade uma forte amizade, e assim se conformam em "dividi-lo" com as outras. O anime se esforça em mostrar o quão isso é lindo e tocante, mas, no fim, essas declarações acabam soando um tanto artificiais e pretensiosas, como um óbvio e preguiçoso pretexto para deixar tudo do jeito que está, mas sem abrir mão de dar um "fanservice" ao fãs dessa ou aquela personagem – não que fosse esperada uma conclusão para isso num anime desses, jamais, mas que ao menos não se criasse desculpas tão aparentemente fracas e, por que não, machistas. “Seitokai no Ichizon Lv.2” supera seu antecessor quanto às relações de seu elenco, mas comete as mesmas falhas nas horas em que vai longe e tenta se levar a sério demais, demonstrando grande afetação (cujo ápice é alcançado nos episódios focados em Chinatsu e na amiga da infância) e inconsistência em certas questões (o aparente problema amoroso no passado de Sugisaki fica muito mal explicado para quem não conhece a light novel). Os pseudos-romances são bonitinhos, sem dúvida, mas cansa reparar que isso só dá voltas ao atirar igualmente para todos os lados.


E esse foco mais intenso nos elos dos personagens elimina a oportunidade de se ver com mais frequência a quebra da quarta barreira e, com isso, as paródias e referências que tanto deram popularidade a "Seitokai no Ichizon". No começo eles insistem e dão atenção às piadas em cima dos clichês da indústria e referências a animes diversos, tanto faz se velhos ou não (citações a "Suzumiya Haruhi no Yuuutsu" ou "One Piece" se misturam a títulos recém lançados como "To LOVE-Ru Darkness" ou "Thermae Romae", por exemplo, seja de forma visual ou através de diálogos), mas em seguida o que se presencia são histórias bastante "comuns", fechadas no próprio mundinho dos personagens. Em alguns momentos eles "se lembram" de que estão dentro de uma animação, ao citar uma obra ou brincarem com seus papéis, porém tais ocasiões são bem esporádicas, nada que faça alguém assistir o anime exatamente por causa disso, muito menos que deixe a série dependente dessas piadinhas para ser bom. É um ponto negativo? Nesse caso, deverá ser levado em conta o que você mais gostou na primeira temporada, se de quando satirizavam animes, jogos e eles próprios abertamente ou, somente, das conversas absurdas que tinham quando juntos. E pode-se dizer o mesmo das modificações feitas na animação: substituindo aquela coloração opaca e suave do Studio DEEN, a AIC exibe aqui traços mais coloridos e fortes, e quanto ao "character design" a maior mudança ficará para as personagens femininas, que ganharam risquinhos nas bochechas quase que permanentes, e que muito lembram séries mais antigas. No geral, nota-se uma pobreza na variedade de expressões, e em diversas sequências são flagrados traços anatômicos desproporcionais - mas esse último detalhe pode também ser visto na versão do Studio DEEN, pois independente do estúdio continua sendo um anime de baixo orçamento. Entretanto, injustiça terem diminuído o espaço da sala deles, parece a de um clube qualquer... Vai ver perceberam que não precisavam de uma tão grande e decorada para ficarem sem fazer nada...


Vindo logo após o término da light novel, "Seitokai no Ichizon Lv.2" pode não ter um início animador; porém, felizmente, ele não demora muito a entreter quase na mesma medida aqueles que viram e gostaram do primeiro anime. Faz rir, diverte e comete tropeços feios pelo caminho, mas isso já vem desde 2009. Independente disso, o desfecho será consideravelmente sentimental para quem tinha se afeiçoado a esse quinteto, e no final é isso o que marcará e importará mais, dando aquela vontadezinha de que não fossem somente dez episódios. Alcança a conclusão da obra original, se encerra como um anime mediano em um todo, mas agradável e simpático, e, apesar de já haver uma sequência em light novel em andamento*, sua adaptação animada deve parar por aqui.



**********

Nota: 7


* "Shin (Novo) Seitokai no Ichizon" começou a ser publicado em novembro de 2012, e nele Sugisaki se vê de volta ao conselho estudantil, mas dessa vez com outras garotas no lugar das que foram transferidas (Chinatsu e Mafuyu) ou se formaram (Kurimu e Chizuru).


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