Por Escritora Otaku
Minha vez com animes semanais teve início em 2010,
quando me apaixonei por “Bakuman” - dali em diante passei a dar chances aos
semanais. Apenas a partir de 2014 é que estes animes vieram a fazer
parte da minha vida ao vê-los numa quantidade maior, não de maneira exagerada e sim, somente nos que tivesse interesse no momento ou depois – vá que o anime seja bom –
até que chegamos em 2016 na estreia da série alvo desta resenha. Como diria, a mesma sensação que
tive com “Bakuman” se repetiu; fazia tempos que um semanal não mostrava um estilo e
histórias que me fizeram acompanhar com ansiedade cada episódio.
Diria mais, um anime que não tinha o hype ou era
conhecido pelo seu material original, mostrou algo que sempre chamou minha
atenção sobre animes: a de contar as mais variadas histórias, das absurdas às
mais realistas, de trazer parte do país que as originou. Conforme 2016 ia, por
mais que houvesse animes mais interessantes, este apagou literalmente o brilho
de várias séries, havendo muitos comentários e análises que elogiavam o seu desempenho
e por aí vai. E nada mais justo que um anime semanal que admiro ter sua
resenha, para entender melhor o que faz “Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu” ser um
dos melhores dos últimos anos pra muitos. Um detalhe é que foi o meu
segundo anime josei que assisti, sendo o primeiro “Usagi Drop”.
Portanto, vou ser bem direta e mostrar que animes
vão muito além dos clichês que estamos habituados...
*****
Ano: 2016/2017
Diretor: Mamoru Hatakeyama
Estúdio: Studio DEEN
Episódios: 13 (1ª temp) / 13 (2ª temp)
Gênero: Drama / Histórico
De
onde saiu: Mangá, 10
volumes, finalizado
Da década de 60 em diante surge em um país chamado
Japão o que conhecemos de animes: cada época foi marcada de estilos,
histórias, personagens e definições deste tipo de animação. Fora as
adaptações vindas dos mangás, light novels, games, visual novels, produtos e
até mesmo de ideias inusitadas; reais ou fictícias, estas animações saíram do
seu país e se espalharam, dando a nós, ocidentais, a chance de poder acompanhar
e quem sabe, admirar este estilo de contar histórias.
Uma das características mais curiosas é de usar
animes pra retratar a cultura, história, tradições e a vida do povo nipônico;
ainda que as tramas mais fantasiosas tenham mais espaço, até pela
aceitação ser maior pra muitos, poder ter disposição de assistir um pouco desta
vasta diversidade nos faz pensar em como eles vivem. Conhecer estes aspectos
nos torna espectadores destas histórias e ao mesmo tempo, refletir a respeito
do quão importante é manter vivo a História e compreender como seu povo é.
Mesmo que não possamos morar no Japão, o mínimo é ter noção da vida que levam,
seja no passado, seja no presente.
Saído de um mangá josei e destinado ao público
feminino mais velho com dez volumes lançados entre 2010 a 2016, “Shouwa Genroku
Rakugo Shinjuu”, de Haruko Kumota, em termos diretos é a história de vidas
interligadas ao rakugo, uma das várias artes da cultura japonesa. O rakugo é
realizado por uma pessoa, um contador de histórias que veste kimono, que senta
num palco e conta diversos contos sobre situações da vida nipônica; estas
histórias são divididas em diferentes estilos e para representar o conteúdo, os
contadores usam sua voz para interpretam as peças, dando momentos de drama a
pura comédia conforme segue a trama proposta - em vista disto, utilizando
antigos ou novos enredos, passados de geração a geração. Algo equivalente
seria os contadores de histórias, pelas suas semelhanças.
Sua história começa quando um jovem sai da prisão,
após cumprir a pena e decide virar pupilo de um mestre de rakugo, Yakumo; por
tanto insistir e apresentar certo ar cômico, é aceito e passa a ser chamado de
Yotarou pelo seu mestre. Conforme conquista a confiança de Yakumo, presenciamos um
pouco desta adaptação e ao sentir algum potencial no jovem, decide contar a ele e
a Konatsu sua trajetória no rakugo. Na primeira temporada, podemos ver como
foi a vida de Yakumo desde criança e assim seguindo por sua fase adulta, até que na
segunda metade do último episódio, volta-se com Youtarou e vemos um pouco de
sua evolução na arte do rakugo. Esta quebra de narrativa pode irritar aos que
esperam uma conclusão da vida do Yakumo, mas, como houve a participação dele
apenas no primeiro episódio, era óbvio que iam ter de contar o que houve após
seu mestre narrar sua trajetória de vida.
Já na segunda temporada ("Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu: Sukeroku Futatabi-hen"), o enfoque fica mais no
Youtarou e dos rumos que o rakugo teve de passar, resistindo aos novos tempos. Mostra também como esta arte é vista por pessoas envolvidas diretamente ou não,
o impacto e as decisões para alcançar novos públicos,como ainda a vida
do Yakumo perante tantas mudanças e a reafirmação de sua identidade.
E o que faz “Shouwa Rakugo” se destacar como anime?
O principal fator é o uso de uma arte tipicamente nipônica, apresentando no seu
elenco de personagens como é a vida dos que dedicam ao rakugo, mostrando as
sequelas de quem segue este segmento. Quando exploramos a respeito de um país,
temos de ter em mente como reagiriam as pessoas perante todo o contexto
histórico, social e cultural que vivem, seu dia a dia e suas ações nos bons e
maus momentos. Inclusive a época que vemos na série é chamada era showa, dando
mais sentido ao período mostrado na história.
Segundo, temos algo mais real, na forma de agir e
pensar dos personagens, mais próximos a pessoas e além disto, toda a carga
dramática que traz não soa tão falsa ou surreal a quem assiste. Aí entra a
dublagem da série, um dos seus trunfos principais, pois como o rakugo é feito
com a voz de seu contador, dando maior veracidade, os dubladores deram uma
interpretação e tanto aos seus personagens. Entoações bastante definidas, sendo difícil cravar quem se saiu melhor - claro que o destaque maior é a voz do
próprio Yakumo, cujo dublador mostrou o amadurecimento e as dificuldades que
seu personagem trouxe ao longo da trama.
Outro ponto importante é a respeito dos rakugos
apresentados, pois os mais atentos irão ver a relação destes com os fatos decorridos
na série. Isto também recai na ambientação e no contexto histórico, dando um
significado mais profundo e até filosófico em sua execução.
Contudo, por mais que estas qualidades sejam
características positivas, existes algumas ressalvas a ser ditas: primeiro, não
é um anime para qualquer um assistir, devido ao seu conteúdo ser um tanto
maduro; quem não está acostumado com dramas mais pé no chão e contexto
histórico, pode achar até chato o andamento da obra em si, o que inclui os
rakugos apresentados, tirando um ou outro de melhor entendimento aos leigos.
Aqui não deve ser visto de forma rápida demais, é preciso apreciar o conteúdo
da trama para compreender todo seu resplendor e estilo, pois o ponto mais
forte é a sua história e interação de seus personagens - quem espera grandes emoções
e momentos épicos, vai se decepcionar e muito. Nem sempre impressionar é crucial
quando acompanhamos determinadas obras, é preciso ser mais atencioso com todo o
contexto, para poder apreciar com gosto.
Tecnicamente, não espere algo impactante na animação; sua produção foi modesta e estável, dando a entender que nem sempre capricho é
tudo em animação japonesa - claro que a simplicidade trouxe ambientes mais
reais, com destaque para as paisagens, muito bem colocadas e que influenciam no
andamento geral da trama. As expressões dos personagens, principalmente quando
são apresentados os rakugos são bem marcantes, podendo ver o esforço tremendo
de dar vida às histórias contadas.
Nas aberturas, “Usurai Shinju” e “Imawa no Shinigami”, temos estilos bem enraizados ao conteúdo dado da série, ambos
cantados por Megumi Hayashibara, que também esteve no elenco de dubladores.
Quem a conhece, deve ter noção de sua voz e forma de expressar, sendo estas músicas que
fogem do habitual em animes. Quanto aos encerramentos, estes são apenas
instrumentais, ilustrando um pouco do que representa o rakugo em si.
“Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu” é uma amostra de
que animes são além dos clichês já acostumados, uma experiência a ser
apreciada com calma e encontrar em sua trama, uma história de uma arte e vidas
interligadas. Aos que apreciam um enredo com conteúdo mais maduro, uma série para
ser vista com mente aberta pra algo novo.
*****
Comente com o Facebook:
Nenhum comentário:
Postar um comentário