3 de outubro de 2018

Resenha: Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu


Por Escritora Otaku


Minha vez com animes semanais teve início em 2010, quando me apaixonei por “Bakuman” - dali em diante passei a dar chances aos semanais. Apenas a partir de 2014 é que estes animes vieram a fazer parte da minha vida ao vê-los numa quantidade maior, não de maneira exagerada e sim, somente nos que tivesse interesse no momento ou depois – vá que o anime seja bom – até que chegamos em 2016 na estreia da série alvo desta resenha. Como diria, a mesma sensação que tive com “Bakuman” se repetiu; fazia tempos que um semanal não mostrava um estilo e histórias que me fizeram acompanhar com ansiedade cada episódio.

Diria mais, um anime que não tinha o hype ou era conhecido pelo seu material original, mostrou algo que sempre chamou minha atenção sobre animes: a de contar as mais variadas histórias, das absurdas às mais realistas, de trazer parte do país que as originou. Conforme 2016 ia, por mais que houvesse animes mais interessantes, este apagou literalmente o brilho de várias séries, havendo muitos comentários e análises que elogiavam o seu desempenho e por aí vai. E nada mais justo que um anime semanal que admiro ter sua resenha, para entender melhor o que faz “Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu” ser um dos melhores dos últimos anos pra muitos. Um detalhe é que foi o meu segundo anime josei que assisti, sendo o primeiro “Usagi Drop”.
Portanto, vou ser bem direta e mostrar que animes vão muito além dos clichês que estamos habituados...

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Ano: 2016/2017
Diretor: Mamoru Hatakeyama
Estúdio: Studio DEEN
Episódios: 13 (1ª temp) / 13 (2ª temp)
Gênero: Drama / Histórico
De onde saiu: Mangá, 10 volumes, finalizado


Da década de 60 em diante surge em um país chamado Japão o que conhecemos de animes: cada época foi marcada de estilos, histórias, personagens e definições deste tipo de animação. Fora as adaptações vindas dos mangás, light novels, games, visual novels, produtos e até mesmo de ideias inusitadas; reais ou fictícias, estas animações saíram do seu país e se espalharam, dando a nós, ocidentais, a chance de poder acompanhar e quem sabe, admirar este estilo de contar histórias.

Uma das características mais curiosas é de usar animes pra retratar a cultura, história, tradições e a vida do povo nipônico; ainda que as tramas mais fantasiosas tenham mais espaço, até pela aceitação ser maior pra muitos, poder ter disposição de assistir um pouco desta vasta diversidade nos faz pensar em como eles vivem. Conhecer estes aspectos nos torna espectadores destas histórias e ao mesmo tempo, refletir a respeito do quão importante é manter vivo a História e compreender como seu povo é. Mesmo que não possamos morar no Japão, o mínimo é ter noção da vida que levam, seja no passado, seja no presente.

Saído de um mangá josei e destinado ao público feminino mais velho com dez volumes lançados entre 2010 a 2016, “Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu”, de Haruko Kumota, em termos diretos é a história de vidas interligadas ao rakugo, uma das várias artes da cultura japonesa. O rakugo é realizado por uma pessoa, um contador de histórias que veste kimono, que senta num palco e conta diversos contos sobre situações da vida nipônica; estas histórias são divididas em diferentes estilos e para representar o conteúdo, os contadores usam sua voz para interpretam as peças, dando momentos de drama a pura comédia conforme segue a trama proposta - em vista disto, utilizando antigos ou novos enredos, passados de geração a geração. Algo equivalente seria os contadores de histórias, pelas suas semelhanças.

Sua história começa quando um jovem sai da prisão, após cumprir a pena e decide virar pupilo de um mestre de rakugo, Yakumo; por tanto insistir e apresentar certo ar cômico, é aceito e passa a ser chamado de Yotarou pelo seu mestre. Conforme conquista a confiança de Yakumo, presenciamos um pouco desta adaptação e ao sentir algum potencial no jovem, decide contar a ele e a Konatsu sua trajetória no rakugo. Na primeira temporada, podemos ver como foi a vida de Yakumo desde criança e assim seguindo por sua fase adulta, até que na segunda metade do último episódio, volta-se com Youtarou e vemos um pouco de sua evolução na arte do rakugo. Esta quebra de narrativa pode irritar aos que esperam uma conclusão da vida do Yakumo, mas, como houve a participação dele apenas no primeiro episódio, era óbvio que iam ter de contar o que houve após seu mestre narrar sua trajetória de vida.

Já na segunda temporada ("Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu: Sukeroku Futatabi-hen"), o enfoque fica mais no Youtarou e dos rumos que o rakugo teve de passar, resistindo aos novos tempos. Mostra também como esta arte é vista por pessoas envolvidas diretamente ou não, o impacto e as decisões para alcançar novos públicos,como ainda a vida do Yakumo perante tantas mudanças e a reafirmação de sua identidade.


E o que faz “Shouwa Rakugo” se destacar como anime? O principal fator é o uso de uma arte tipicamente nipônica, apresentando no seu elenco de personagens como é a vida dos que dedicam ao rakugo, mostrando as sequelas de quem segue este segmento. Quando exploramos a respeito de um país, temos de ter em mente como reagiriam as pessoas perante todo o contexto histórico, social e cultural que vivem, seu dia a dia e suas ações nos bons e maus momentos. Inclusive a época que vemos na série é chamada era showa, dando mais sentido ao período mostrado na história.

Segundo, temos algo mais real, na forma de agir e pensar dos personagens, mais próximos a pessoas e além disto, toda a carga dramática que traz não soa tão falsa ou surreal a quem assiste. Aí entra a dublagem da série, um dos seus trunfos principais, pois como o rakugo é feito com a voz de seu contador, dando maior veracidade, os dubladores deram uma interpretação e tanto aos seus personagens. Entoações bastante definidas, sendo difícil cravar quem se saiu melhor - claro que o destaque maior é a voz do próprio Yakumo, cujo dublador mostrou o amadurecimento e as dificuldades que seu personagem trouxe ao longo da trama.

Outro ponto importante é a respeito dos rakugos apresentados, pois os mais atentos irão ver a relação destes com os fatos decorridos na série. Isto também recai na ambientação e no contexto histórico, dando um significado mais profundo e até filosófico em sua execução.

Contudo, por mais que estas qualidades sejam características positivas, existes algumas ressalvas a ser ditas: primeiro, não é um anime para qualquer um assistir, devido ao seu conteúdo ser um tanto maduro; quem não está acostumado com dramas mais pé no chão e contexto histórico, pode achar até chato o andamento da obra em si, o que inclui os rakugos apresentados, tirando um ou outro de melhor entendimento aos leigos. Aqui não deve ser visto de forma rápida demais, é preciso apreciar o conteúdo da trama para compreender todo seu resplendor e estilo, pois o ponto mais forte é a sua história e interação de seus personagens - quem espera grandes emoções e momentos épicos, vai se decepcionar e muito. Nem sempre impressionar é crucial quando acompanhamos determinadas obras, é preciso ser mais atencioso com todo o contexto, para poder apreciar com gosto.

Tecnicamente, não espere algo impactante na animação; sua produção foi modesta e estável, dando a entender que nem sempre capricho é tudo em animação japonesa - claro que a simplicidade trouxe ambientes mais reais, com destaque para as paisagens, muito bem colocadas e que influenciam no andamento geral da trama. As expressões dos personagens, principalmente quando são apresentados os rakugos são bem marcantes, podendo ver o esforço tremendo de dar vida às histórias contadas.

Nas aberturas, “Usurai Shinju” e “Imawa no Shinigami”, temos estilos bem enraizados ao conteúdo dado da série, ambos cantados por Megumi Hayashibara, que também esteve no elenco de dubladores. Quem a conhece, deve ter noção de sua voz e forma de expressar, sendo estas músicas que fogem do habitual em animes. Quanto aos encerramentos, estes são apenas instrumentais, ilustrando um pouco do que representa o rakugo em si.


“Shouwa Genroku Rakugo Shinjuu” é uma amostra de que animes são além dos clichês já acostumados, uma experiência a ser apreciada com calma e encontrar em sua trama, uma história de uma arte e vidas interligadas. Aos que apreciam um enredo com conteúdo mais maduro, uma série para ser vista com mente aberta pra algo novo.


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