Trago-lhes a tradução de mais uma entrevista do site ANN focada numa estreia da próxima temporada, neste caso a com Keiichi Sigsawa, autor da light novel de "Kino no Tabi" - obra essa que já obteve uma série de 13 episódios em 2003 pelo estúdio A.C.G.T, fora dois pequenos filmes e um especial, e que agora receberá a partir do dia 6 de outubro uma nova adaptação através do estúdio Lerche (clique aqui para ver um trailer dela). Falando brevemente sobre sua premissa, "Kino no Tabi" possui como protagonista Kino, uma mulher de estilo tomboy que na companhia de sua moto falante Hermes viaja por diversos países, encontrando neles as mais diferentes, fantásticas, amigáveis, inusitadas, perigosas ou chocantes situações e pessoas. Carregado de momentos sentimentais e reflexivos enquanto narra as aventuras episódicas dessa dupla, eu recomendo muito que deem uma olhada no primeiro anime, apesar de não ser obrigatório para assistir esse já que, segundo o que foi dito, a nova animação não será necessariamente uma continuação.
Aliás, em março desse ano também começou a ser publicada uma versão em mangá da light novel, cuja periodicidade é mensal.
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A entrevista foi traduzida na íntegra, incluindo a introdução, havendo somente alguns adendos meus ocasionais para complementar certas informações - clique aqui para ver a postagem original, do dia 11 de setembro.
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Autor de uma das mais queridas e longas séries em light novel já feitas, Keiichi Sigsawa tem contado a história de "Kino no Tabi" no ritmo de um volume por ano há quase duas décadas (para ser exato, a obra teve 7 volumes publicados de 2000 a 2003, e a partir de 2004 passou a ganhar anualmente, sempre em outubro, um novo volume). Depois de uma série animada em 2003 e uma publicação interrompida da light novel por meio da Tokyopop em 2006 (tal editora só chegou a lançar nos Estados Unidos o primeiro volume), os fãs do ocidente se encontravam afoitos por mais histórias de Kino nesta última década, logo o anúncio de um remake que será exibido no Crunchyroll na próxima temporada - sob o longo título "Kino no Tabi: The Beautiful World - The Animated Series" - é uma grande notícia. Nós nos sentamos com Sigsawa na Crunchyroll Expo para discutir sobre seu trabalho e o que os fãs podem esperar desse novo anime.
ANN: Haverá uma nova adaptação animada de "Kino no Tabi" após 14 anos. Como ela será diferente da anterior, e com o que você está mais animado em relação a ela?
Sigsawa: Em primeiro luga, a equipe é totalmente diferente da série anterior - os únicos que permanecem daquele projeto são os produtores. Por conta disso, não deve ser visto como uma continuação ou segunda temporada, mas sim um remake completamente novo.
As histórias a serem animadas serão as mesmas que foram anteriormente, ou haverão mais aventuras de volumes posteriores?
Não posso no momento dizer com exatidão o que haverá no novo anime, mas não temos nada contra sobre animar histórias presentes na série anterior só porque já fizemos isso. Logo, há chances de que alguns contos vistos na primeira animação possam retornar nesta.
Ao trazer conceitos para diferentes países, muitos deles atuam como argumentos filosóficos. Como você transforma essas questões hipotéticas em um lugar onde parece que as pessoas podem viver?
Há vários padrões que eu e meu editor temos em mente para criar os países. Primeiro, eu veio com a ideia e sua conclusão dramática, e em seguida monto um país para encaixar os detalhes da história. Não é tanto o estilo do país que é importante - muitas vezes pode ser uma ilha, cidade ou outra coisa qualquer -, mas sim mais a história a ser usada como sua base.
Ao chegar nessas conclusões, tem alguma mensagem específica que deseja transmitir ao público, ou é mais importante a você que eles formem suas próprias opiniões baseadas no país mostrado?
Não penso muito nisso como se estivesse fazendo uma indagação filosófica. É antes uma mera questão de eu vir com uma ideia interessante e então levar a Kino para aquele lugar a fim de contar a história que surgirá, ao invés de querer dizer "Ei, você deveria refletir sobre esse assunto".
Kino realmente não pensa muito sobre si mesma quando usa pronomes - dependendo das circunstâncias e da situação em que se encontra ela pode usar "boku" ("eu" masculino) ou "atashi" ("eu" feminino). Na primeira história (que é também o episódio 1 do primeiro anime, onde ela visita um país aparentemente habitado só por máquinas, até descobrir humanos vivendo isolados um do outro nas redondezas por certos motivos) Kino sempre fica se referindo a si usando "boku", pois era pra ser um pequeno segredo - e no final isso é tratado como uma revelação para surpreender os leitores, porque eles provavelmente teriam assumido que alguém usando esse pronome seria um homem. Enfim, no início era mais um truque; não é como se eu quisesse escrever uma história sobre uma garota que vive como um garoto, mas apenas era um jeito interessante de começar tudo, e a personalidade da protagonista continuou assim desde então.
Então, se Kino pensa tão pouco de sua própria pessoa, o que você acha que a motiva? Se ela é tão despreocupada com sua identidade, o que estaria buscando por meio dessas viagens?
Fico impossibilitado em dizer agora, mas caso leia todas as histórias de "Kino no Tabi", haverá um fluxo na progressão delas que as pessoas serão capazes de entender no final. Ela tem uma motivação central que eventualmente é revelada, porém nesse instante não posso lhe contar o que seria.
Você tem alguma história favorita dentre as que escreveu? Sabe qual é a preferida pelos fãs e, nisso, qual seria sua percepção a respeito da popularidade dela?
A minha favorita é "Uma Terra Pacífica - Amor de Mãe" (1), que é também a primeira que escrevi - ela surge no final do volume 1 da novel, porque eu comecei perto de seu fim e daí fui regressando. Normalmente os contos nos quais trabalho mais e acabo gostando no final também são os preferidos pelos fãs, logo não há muita diferença nisso - contudo não sou alguém que se preocupa muito quanto a se os fãs gostam das mesmas histórias que eu. A Nº 1 deles deve ser "Uma Terra Gentil - O Amanhã Que Nunca Chega" (2), história cuja emoção foi bastante envolvente e que apareceu no anime de 2003.
Quando começou a escrever novels em 2000, o mercado era muito diferente em termos de quais histórias estavam sendo escritas e o que era transformado em anime. Agora light novels são muito populares, entretanto os tipos de histórias contadas se diferem bastante de "Kino no Tabi"; como você se sente a respeito da mudança sofrida pelo mercado com o passar dos anos?
Eu entrei na indústria em 1999 ao participar de um concurso da Dengeki Bunko (marca de distribuição de light novels que é afiliada da ASCII Media Works, editora cujo dono é o grupo Kadokawa), então são 18 anos desde que comecei a escrever novels - eles nem usavam o termo "light novel" na época, então me vejo orgulhoso por ter sido capaz de ajudar essa mídia a se tornar popular. Estou muito feliz em ver que toda a indústria cresceu, e que hoje se tenha mais animes baseados em light novels. Sou bem indiferente sobre como os gêneros mudaram, e talvez eu mesmo possa um dia tentar escrever algo usando os mais populares. Ainda assim, mesmo que a indústria esteja muito maior, continua sendo difícil até para séries já estabelecidas venderem novos volumes, uma vez que surgiu vários novatos com o advento das web novels, contudo meu editor trabalha duro para manter as vendas.
O fato de "Amor de Mãe" ter sido a primeira história escrita é algo interessante e possivelmente uma novidade para muitos fãs. O papel que as mulheres em luto têm desempenhado na história da guerra e as reparações podem ser impressionantes. Você foi inspirado por eventos históricos ou algo específico que aconteceu?
Já li muitas histórias envolvendo guerra e mulheres em luto, mas não houve nenhum evento em particular que se destacou como inspiração para o que fiz. Eu vim primeiro com a conclusão da história na época da faculdade, e a deixei de lado maturando por seis anos até escrever a versão completa para entrar no concurso da Dengeki Bunko. Não me recordo mais o quão profundamente pensei nesta ideia em seu começo.
Também não pensei muito a respeito. Imaginei "Hum, eu tenho uma personagem principal. Ela precisa de um parceiro para conversar; acho que uma moto poderia servir pra falar, certo?". Foi isso. Se alguém perguntar por que Hermes fala, é apenas porque sim.
Você mencionou quanto a poder vir no futuro com uma light novel sua usando os gêneros mais atuais, e recentemente passou a escrever o spin-off de uma franquia, "Sword Art Online Alternative: Gun Gale Online" (5 volumes publicados desde 2014). Como que você entrou nesse projeto e qual a sensação de escrever em prol da história de outra pessoa?
Eu tinha lido "Sword Art Online" e, ao chegar na parte "Gun Gale Online", acabei me interessando muito nela. Na época fiquei agindo como "Por favor, me deixe escrever algo em cima disso!" e então, para a segunda temporada do anime (que adapta essa parte, onde o protagonista Kirito entra em um novo jogo de realidade virtual chamado "Gun Gale Online"), eles me pediram para cuidar das armas usadas na série (Sigsawa foi creditado nesse projeto com a função de "consultor de armas", por ter sido responsável pelo desenho e descrição delas). Isso me deu a oportunidade para dizer-lhes "Ei, quero escrever mais para este mundo. Quero realmente me envolver nisso!" - perguntei aos editores da Kadokawa e também o Reki Kawahara (autor de "SAO", e a ASCII Media Works publica as light novels dos dois), e eles disseram "Mas é claro!".
Rápida observação: Sigsawa é aficionado por armas, tanto que seu pseudônimo é derivado da fabricante alemã de armas de fogo "SIG Sauer".
Você é abordado com frequência para agir como consultor de armas em animes devido ao seu conhecimento no assunto? Isso já havia ocorrido antes?
Não, "Gun Gale Online" foi a primeira vez, graças aos meus contatos.
Isto é algo que gostaria de fazer mais?
Realmente acharia bom fazer sim, apenas não recebo ofertas - porém gosto de ajudar quando meus amigos, outros autores, chegam até mim solicitando informações detalhadas sobre armas.
Já esteve na América antes, e há qualquer coisa que planeja fazer aqui enquanto está de visita?
Estive sim antes, mas dessa vez quero pegar mais leve e somente fazer algumas compras.
O relacionamento do anime com minhas histórias será o mesmo, já que faço todas as checagens nos roteiros dele. A única coisa de diferente é que a produção foi modernizada - o estilo da animação recebeu uma atualização, algo que os fãs devem mais aguardar. As mesmas histórias da Kino, novo visual.
Considerando que ele apareceu bastante no material promocional, podemos esperar em ver mais de Shizu*** e seu cachorro (Riku) do que antes?
Não posso falar o quanto de quais histórias vocês verão, mas sim, Shizu aparecerá bem mais.
*** É um personagem que no primeiro anime apareceu nos episódios 6 e 7, onde Kino conhece um país que obriga seus visitantes a participarem de um torneio de vida ou morte contra outros viajantes, e caso se negue a isso a pessoa é submetida a trabalhos escravos. Shizu é filho do rei hedonista dessa nação e ele também participa do torneio, mas isso sem ninguém saber de suas origens. Já na light novel, há várias histórias isoladas dele narradas por seu cachorro, Riku - que é um animal falante no mesmo estilo de Hermes.
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