1 de dezembro de 2016

Terminologia Anime e Mangá #1: Otaku


Hoje inicio mais uma coluna cuja ideia é falar sobre as origens e a história de termos japoneses relacionados aos Animes e Mangás. Vale ressaltar que o primeiro texto dessa coluna foi publicado originalmente na coluna Pensador Otaku do blog Anime Portfolio. 

O tema sobre o qual divagarei hoje é o termo “otaku” e suas várias interpretações, principalmente aquela que acredito ser a mais adequada. É hora de abrir suas mentes e pensar sobre o mundo otaku...


O termo Otaku possui dois significados principais. O primeiro é que ele seria a junção do honorífico “O” (お) ao termo “Taku” (宅) que significa a casa da pessoa. O honorífico “O” no início de uma palavra indica certa conotação mais formal, palavras comuns que usam esse termo, por exemplo, são “Ocha” (お茶), que quer dizer chá, ou, “Okane” (お金), que quer dizer dinheiro. O outro significado do termo “otaku” (おたく) é que este seria uma forma antiquada e bastante educada de “você” (normalmente se usa “anata” ou あなた). Note que nesse último caso toda a palavra “otaku” (おたく) é escrita em hiragana (um dos três alfabetos utilizados na escrita japonesa), sendo essa a forma mais comum de se escrever o termo.

A primeira teoria do surgimento do termo “otaku” foi a de que ele se tornou popular no início dos anos 80 em redes sociais de fãs de mídias diversas. A segunda, que tem mais haver com o primeiro significado que falei, é de que o termo começou a ser usado no início dos anos 80 para designar pessoas que passavam muito tempo em casa devido a algum tipo de atividade como ver anime, ler mangá, jogar videogame e outras coisas, além disso, diz-se que essas pessoas passaram a se comunicar muito pelos famosos BBS’s e neles passaram se tratar pelo termo “otaku”.


Já a terceira teoria é de que a expressão começou a ser usada no fim dos anos 70 por Shouji Kawamori e Haruhiko Mikimoto no lugar de “anata”, ainda quando cursavam a universidade de Keio. Nesta época eles se tornaram co-fundadores do estúdio Nue e co-criadores de Super Dimension Fortress Macross, tanto que o termo é utilizado dentro do anime lançado em 1982. O termo “otaku” então teria se popularizado como sendo uma forma diferente de tratar aquelas pessoas que tinham o conhecimento superior sobre animações e quadrinhos japoneses… 

Independente da origem do termo é certo que o seu uso para designar pessoas fanáticas por algo específico (como animes, mangás, idols, futebol, romances, trens e etc) se tornou mais comum a partir dos anos 80 e durante quase toda essa década ele era usado pelas próprias pessoas que se diziam otaku e sem o tom pejorativo que ele ganhou depois, aliás em 1983, um quadrinho de humor lançado por Akio Nakamori na revista lolicon Manga Burikko, chamado “Otaku” no Kenkyuu (Uma investigação de “Otaku”) tratava os otakus de uma forma caricatural e mesmo com o tom de deboche que alguns utilizavam, o termo foi se popularizando.


O tom pejorativo do termo começou a se proliferar no fim dos anos 80, com a mídia e o governo tentando tornar o estilo de vida otaku menos popular, mas o principal evento que fez a sociedade japonesa passar a ver os otakus com maus olhos foi o caso de Tsutomu Miyazaki, o famoso Assassino Otaku, que veio a tona em 1989. Miyazaki sequestrou e assassinou 4 crianças de 4 a 7 anos de idade entre agosto de 1988 e julho de 1989, vale ressaltar que a expressão “Assassino Otaku” só se popularizou depois da prisão de Miyazaki e depois de os policiais encontrarem diversos vhs’s de anime e filmes de terror (principalmente Slasher Movies) em seu apartamento, mas ele chegou a ser chamado também de o Assassino de ninfas, o Assassino da menina pequena (em relação ao caso de agosto de 1988) e até de Drácula, por ter bebido o sangue de suas vítimas, fora outras coisas que fez, coisas estas que não vale a pena mencionar aqui. Tsutomu Miyazaki foi condenado a pena de morte e foi executado por enforcamento em junho de 2008.

Nos anos 90 cresciam ainda mais os movimentos anti-mangás e o tom pejorativo dado ao termo otaku após o caso de Tsutomu Miyazaki fortaleceu esses movimentos que por sua vez popularizaram ainda mais esse tom pejorativo. Em 1991, o estúdio Gainax lança um ova e documentário ficcional de 2 episódios chamado Otaku no Video, que mostra as duas faces da moeda de ser um otaku de forma bastante exagerada. No fim dos anos 90 e início dos anos 2000 o tom pejorativo do termo começou a diminuir e muitas obras falando sobre o universo otaku foram lançadas.


No início dos anos 2000, várias lendas surgiram em foruns de internet japoneses, e uma das mais famosas é a do Densha Otoko surgida no famoso fórum 2ch, que fala sobre um otaku que teria conhecido uma bela mulher em um trem e a teria “salvado” de um senhor bêbado que estava quase a “molestando”. Após isso ele se apaixonou pela jovem e com ajuda dos membros do forum se declarou para a mesma. Tal história se tornou bastante famosa e ganhou livro, filme, mangá e uma série de tv. Esta última lançada em 2005 foi um grande sucesso e popularizou o ato de pessoas se denominarem otakus. Na série, além do protagonista, diversos outros otakus pertencentes ao forum são mostrados, sendo estes otakus pelas mais diversas coisas, como cosplayers, otaku por materiais militares, otaku por futebol e etc.

O ex primeiro ministro japonês Taro Aso, que esteve no cargo entre setembro de 2008 e setembro de 2009, era um otaku declarado e usou a cultura otaku como forma de promover o Japão no exterior. Estudos recentes feitos entre japoneses comprovam que hoje em dia quase metade da população se diz otaku por alguma coisa (não consegui ler o site das pesquisas, pois meu japonês não é tão bom, por isso não posso informar dados mais exatos, então peguei a informação de sites em inglês que também não traduziram por completo a informação original).


No ocidente o termo “otaku” se popularizou como uma representação de pessoas fãs de anime e mangá e é aceito na maioria dos lugares apenas como uma forma de nomear estas pessoas sem haver tom depreciativo, porém há lugares como no Canadá que por motivos culturais ser otaku é algo realmente mal visto pela sociedade.

Enfim, independente da forma como os otakus são vistos ou não, o termo “otaku” não é um xingamento ou uma forma pejorativa de se dirigir a alguém, na verdade é uma expressão criada e utilizada para representar alguém que é fanático por algo em se tratando de Japão e para representar as pessoas que são fanáticas por anime, manga e, muitas vezes, também pela cultura japonesa, fora de terras nipônicas. Então meu caro, pode falar que é um otaku a vontade sem medo de está se auto xingando ou qualquer coisa parecida…


Gostaria de agradecer a todos que chegaram ao fim de mais este longo texto e também agradecer ao anime Outbreak Company que além de me divertir bastante, me fez refletir sobre a “invasão da cultura otaku fora do Japão”. 

Então nos vemos no próximo post!

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