Por Tadashi Katsuren (Gabriel Katsu)
Saudações da pessoa que acabou de rir horrores com o primeiro episódio de Osomatsu-san. Trago o segundo texto do quadro Atrás das Cortinas, desta vez estrelando o mangaká Naoki Urasawa! Para os leitores de primeira viagem no quadro, aqui tratamos de alguns nomes importantes do Mangá e do Anime no Japão. Adentramos um pouco em suas vidas e falamos de seus grandes feitos profissionais. Sem mais delongas, hoje temos...
Naoki Urasawa
Por Tadashi Katsuren
Famoso, renomado e premiado mangaká, Naoki Urasawa já tem algumas
décadas de trabalho publicadas. O autor, nascido em 1960, é formado em Economia
pela Meisei University, e teve seu
primeiro trabalho oficialmente publicado em 1981, com o one-shot "Return" (1981). Alguns anos mais tarde
Naoki Urasawa faz sua primeira serialização: o mangá “Yawara!” (1986 – 1993), lançado pela Big Comic Spirits.
A história é sobre Yawara Inokuma, uma garota que só queria ter uma vida
normal, mas acaba sendo uma das grandes esperanças do Japão no judô uma vez que
é treinada desde a infância pelo avô – um mestre da arte marcial. A obra, em
si, é bem diferente do estilo que Urasawa consolidou no correr do tempo; é
leve, e trata dos assuntos sem a densidade que iria se esperar do autor que
ganhou o título de “Mestre do Suspense Japonês” de seus fãs anos mais tarde.
Até mesmo para a revista em que foi lançada o peso emocional da obra foi
considerado leve, visto que o enfoque dela é um público adulto masculino, e
este mangá é considerado um dos responsáveis pela popularização de obras de
demografia Seinen entre um público
mais jovem. Sua série terminou com 29 volumes e ganhou adaptação para televisão
pelo estúdio Madhouse.
Durante quase o mesmo período de tempo, Naoki Urasawa também foi o
responsável pela arte de dois outros mangás: “Pineapple Army” (1986 – 1988), realizada com o roteiro de Kazuya Kudo e rendendo oito volumes; e "Master Keaton” (1988 – 1994), com o
roteiro de Hokusei Katsushika e um
total de 18 volumes. Dali, o próximo passo na carreira de Naoki Urasawa se
inicia logo após o fim da serialização de “Yawara!”, sendo este o mangá "Happy!” (1993 – 1999), outra série de
esporte com um enredo raso e suave. O curioso é que este é como um marco na
carreira de Naoki Urasawa, sendo ela a última das séries do autor com essa
atmosfera - todas essas obras foram serializadas pela mesma Big Comic Spirits.
Especulações sobre a vida do autor afirmam que ele já estava cansado deste tipo
de história e desejava criar enredos mais densos e profundos.
Já com o fim de “Master Keaton”, Naoki Urasawa deixa sua imaginação e
criatividade trabalharem como bem deseja, lançando o grandioso mangá "Monster” (1994 – 2001), uma obra muito
mais densa, pesada e arquitetada que qualquer coisa que desenvolvera até então.
A história inicia-se quando Kenzo Tenma,
um médico neurocirurgião prodígio alocado num hospital da Alemanha, desobedece
as ordens da diretoria clínica ao optar operar um garoto sobrevivente de um
massacre familiar no lugar do prefeito da cidade. Como resultado, o prefeito é
operado por outro médico e acaba morrendo, e o menino que ele cuidou
sobreviveu. A decisão acaba com sua vida, visto que sua desobediência resulta
na destruição de qualquer chance que tinha de crescer como profissional, pois
Tenma começa a sofrer boicotes e perde status.

A premiada obra é um thiller sensacional,
cheia de suspense, drama, reviravoltas e ação. Junot Días, escritor renomado e
consagrado, disse após ter lido “Monster” que “Naoki Urasawa é um tesouro nacional do Japão”. A obra, também
serializada pela Big Comic Spirits e compilada em 18 volumes, ganhou adaptação
para televisão com um anime de 74 episódios pelo estúdio Madhouse, quantidade
significativa de episódios para um anime denso e pesado, ainda mais na época em
que fora lançado.
Seguindo adiante, terminamos “Happy!”, e iniciamos agora outra grandiosa
e aclamada obra: Naoki Urasawa começa a publicar pela Big Comic Spirits o mangá
“20th Century Boys” (1999 – 2006),
finalizado em 22 volumes com mais um epílogo de dois volumes intitulado “21st Century Boys”. Começando a ser
lançado em plena virada do século, Naoki Urasawa explora temas como o fim do
mundo, o bug do milênio e a expectativa pelo que se esperar do novo século para
montar um novo e ainda mais complexo e aberto thriller.
Dividida em três grandes arcos, "20th
Century Boys” é um mangá que o leitor nunca seria capaz de imaginar onde
pararia. Imagine um grupo de crianças de um bairro em pleno anos 80 do Japão; é
comum visualizá-los divertindo-se ao ar livre, com típicas brincadeiras da
época, correndo de um lado para o outro e com muita, mas muita, imaginação.
Agora imagine que, anos mais tarde, uma destas crianças, por algum motivo até
então desconhecido, tenta destruir o mundo utilizando de planos e brincadeiras
arquitetadas pela mente do jovem grupo.
Encontramo-nos então com o protagonista Kenji Endou, um simples rapaz que mora com a mãe e cuida da
sobrinha e de uma pequena loja de conveniências. Kenji era, durante a sua
infância, o líder da molecada do bairro. Corajoso, destemido e protetor, agora
Kenji é só um bom amigo de um grupo que se espalhou pela cidade e pelo mundo,
porém tudo começa a mudar quando uma figura misteriosa e enigmática, chamada O Amigo, aparece como líder de uma nova
seita religiosa que prega o ano 2000 como o fim do mundo. A curiosidade é que
todas as pregações do homem mascarado se baseiam nas brincadeiras do grupo de
Kenji durante sua infância, e agora caberia a eles parar estas profecias, que
cada vez mais se tornavam realidade.
A premiada obra termina sua publicação em 2006, com o epílogo "21st
Century Boys" que se alonga até 2007, fechando algumas poucas pontas soltas e
completando o entendimento geral do enredo. Aclamada pela crítica dentro e fora
do Japão a obra teve publicação em mais de vinte países, dando a Naoki Urasawa
a considerável quantia de mais de cem milhões de cópias vendidas de suas obras
no decorrer dos anos até então. Esse título recebeu adaptação em live-action, dividida numa trilogia de
filmes, com cada qual esboçando um dos grandes arcos da série.
Recuando um pouco na progressão de tempo, algum tempo após a finalização
de Monster, Naoki Urasawa inicia em seu lugar a obra "Pluto" (2003 – 2009) que tem, além de toda a criatividade e
engenhosidade das tramas do autor, mais um ponto de destaque: "Pluto" se trata da
adaptação de uma das histórias mais famosas do mangá "Astro Boy", precisamente o arco que leva o nome “O
Maior Robô da Terra” - ele é de autoria do tão famoso “Deus do Mangá” Osamu Tezuka. A obra de Naoki Urasawa,
que também é uma homenagem ao ídolo, adapta a história e o mundo tecnológico
criada por Osamu Tezuka nos olhos do Mestre do Suspense Japonês; o mangá conta
a história de Gesicht, um famoso
detetive robô que tenta capturar um provável robô serial-killer, que anda assassinando humanos e robôs poderosos do
mundo todo. Na adaptação, Naoki faz questão de incorporar o personagem Astro,
de Tezuka, em sua personificação chamada Atom.
Cada uma das obras de Naoki Urasawa, após a sua libertação, merece uma review própria e bem mais embasada e
minuciosa, dada a riqueza de detalhes que o autor traz em todas elas. Até
então, não é possível adentrar tanto em cada uma de suas obras neste quadro;
por fim, mas não menos importante, entre algumas obras mais recentes do autor,
encontramos: "Billy Bat" (2008 – Ainda lançando), que conta a história de um autor japonês chamado Kevin Yamagata em 1949, famoso por
lançar um famoso cartoon no ocidente chamado Billy Bat. Quando descobre que ele inconscientemente criou seu
personagem a partir de uma imagem já existente, Kevin volta para o Japão para
tentar descobrir de onde surgiu seu desenho. Em minha opinião, esta é a
história mais mirabolante e multifacetada que já vi Naoki Urasawa fazer, ela
vai e volta para tantos pontos da trama que muitas vezes preciso parar e revisar o que li para compreender onde a peça do quebra-cabeças se encaixa.
Como é uma obra ainda em lançamento, sou um dos leitores que aguarda
ansiosamente para o fechamento da mesma.
E temos, por fim, uma de suas últimas publicações recentes, "Master Keaton Remaster" (2012 – 2014),
que revisita sua obra feita em parceria com Hokusei
Katsushika. Em entrevista, o autor confessa que ele queria revisitar tal título porque, na época de seu lançamento, eles tinham muito pouco tempo e liberdade para trabalharem nele como desejavam.
É claro que, muito além destas que foram citadas, Naoki Urasawa já produziu diversos trabalhos menores e interligados com suas maiores obras, como são "Jigoro!" (1994), tratando-se de um spin-off de "Yawara!"; "Another Monster: The Investigative Report"
(2002), que trata "Monster" do ponto de vista de um repórter investigativo; "20 Seiki Shounen: Ujiko Ujio Sakuhinshuu"
(2009), como um spin-off, de "20th
Century Boys"; e algumas outras não tratadas por aqui.
Finalizada essa breve análise por cima das obras do Autor, voltamos ao
próprio: Naoki Urasawa é um homem simples, que ama Rock e Blues, sendo um
grande fã de Bob Dylan e John Lennon, tendo até feito muitas referências a astros do rock no correr de seus mangás. Em "20th Century Boys" o autor até mesmo criou uma canção para o
protagonista, ao qual deu a composição da letra e os arranjos musicais para dar
vida à música em nosso mundo. Em entrevistas dadas, ele diz que, após a fase de
criação dos quadros e cenas, seu ateliê de trabalho vive ao som de Bob Dylan.
Com cinco assistentes, Naoki brinca, tendo feições relaxadas no rosto
mesmo com os prazos fatais se aproximando mais de uma vez no mês. “A regra
básica de serviço aqui é dizer algo engraçado, pra aliviar a tensão”, diz o
autor nas suas entrevistas. E quando volta a tratar-se de suas obras, ele
explica o que considera uma boa face desenhada: “Este personagem acaba de
encarar a morte de alguém importante pra ele. Mas se você vê a cara dele, você
não sabe se ele está com raiva, se está sofrendo, se quer chorar, se ainda está
em choque. Gosto de rostos assim, porque as pessoas não são simples”, diz o Naoki Urasawa, ao que
completa dizendo que expressões simples e fáceis de se entender não refletem a
realidade humana.
A lista de premiações de Naoki Urasawa não é pequena:
- 1982 – Prêmio de Novo Mangaká da Shogakukan
Manga Award (com Return)
- 1989 – Prêmio de Melhor Mangá da Shogakukan
Manga Award, categoria Geral (com Yawara!)[
- 1997 – Prêmio por Excelência da Japan Media Arts
Festival (com Monster)
- 1999 – Prêmio de Melhor Mangá da Osamu Tezuka
Cultural Prize, categoria Geral (com Monster)
- 2000 – Prêmio de Melhor Mangá da Shogakukan
Manga Award, categoria Geral (com Monster)
- 2001 – Prêmio de Melhor Mangá da Kodansha Manga Award, categoria
Geral (com 20th Century Boys)[12]
- 2002 – Prêmio por Excelência da Japan Media Arts Festival (com 20th
Century Boys)
- 2002 – Prêmio de Melhor Mangá da Kodansha
Manga Award, categoria Geral (com 20th Century Boys)
- 2004 – Prêmio de Melhor Série da Angoulême
International Comics Festival (com 20th Century Boys)
- 2005 – Prêmio de Melhor Mangá da Osamu Tezuka
Cultural Prize, categoria Geral (com Pluto)
- 2005 – Prêmio por Excelência da Japan Media Arts Festival (com Pluto)
- 2008
– Prêmio de Melhor Mangá da Japan Cartoonists Association Award, categoria Geral (com 20th Century Boys
e 21st Century Boys)
- 2008
– Prêmio de Melhor Quadrinho da Seiun Award (com 20th Century Boys e 21st
Century Boys)
- 2010 – Prêmio de Melhor Quadrinho da Seiun Award (com Pluto)
- 2011 – Prêmio de Melhor Edição Internacional, categoria Asiática
do Eisner Award (com 20th Century Boys)
- 2011 – Prêmio de Intergerações do Angoulême
International Comics Festival (com Pluto)
- 2012 – Prêmio da Association des
Critiques et des journalistes de Bande Dessinée, Prix Asie-ACBD (com Pluto)
- 2013 – Prêmio de Melhor Edição Internacional, categoria Asiática
do Eisner Award (com 20th Century
Boys)
E assim chega ao fim a segunda edição do Atrás das Cortinas. Para vocês que ainda não me conhecem pela minha
barriga verde no blog, Naoki Urasawa é, e provavelmente sempre será, um dos
meus maiores ídolos no que diz respeito de cultura pop japonesa. Sou um grande
amante de sua arte e de cada um de seus trabalhos, e devo continuar indicando-a
para todos que de repente tem uma vontade de conhecer obras mais profundas,
densas e bem arquitetadas.
Um grande abraço, e até a próxima.
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Eu estava ansioso para ler o texto, mas em vez de lê-lo antes, já que tinha acesso a pele menos isso eu esperei a publicação e ficou muito bom. Já falei disso no Mangacotecast mais repito que Naoki é meu mangaká favorito, ele não sabe fazer obras ruins =D.
ResponderExcluirO Texto ficou muito legal, mas vou apenas citar duas pequenas coisinhas que pareceram um pequeno deslize, ou talvez foram friamente calculadas:
- A fase dos personagens crianças em 20th Century Boys acontece nos anos 60 e 70, tanto que o grande marco da série é próprio expo 70, que foi uma exposição real. Aliás vale ressaltar que ele adora por situações e momentos históricos reis em seus mangás. Monster por exemplo passa todo no pós queda do muro de Berlim e isso acaba influenciando a trama com relação toda a questão da espionagem e... bem o pessoal tem que ler pra saber mais.
- Ficou parecendo que ele passou a chamar o Astro de Atom em Pluto, mas na verdade Astro Boy é o nome da série no ocidente, no Japão o nome é Tetsuwan Atom, e o Astro sempre foi Atom lá. Aliás, ele sempre foi Atom antes mesmo de existir Astro Boy (ou Tetsuwan Atom), pois o robô Atom surgiu em um mangá anterior como um robô extremamente poderosos e frio, mas que devido as suas feições lembrarem um garoto, fez um grande sucesso e isso foi dos principais influenciadores ara posteriormente o Tezuka criar seu mangá shounen mais famoso.
No mais, excelente texto. Aguardo outros meu caro, aliás se me permite fazer duas indicações, uma da indústria de anime e outra dos mangás. Seria bem legal um texto sobre Hideaki Anno e outro sobre Rumiko Takahashi.
Evilásio!
ExcluirPassando rapidinho pra comentar sobre as correções:
- Sobre o ano em que se passa a fase deles crianças, SIM, errei completamente. Deslize completo, hahahahaha. Agradeço por avisar.
- Sobre o Atom ser chamado de Astro Boy aqui e Atom por lá: Dessa eu sabia, mas acho que fiz-me entender meio errado na concordância da frase. Hahahahaha
- As indicações estão anotadas e guardadas para futuras edições!
Novamente, muito obrigado, e até mais. \o\