20 de novembro de 2014

Resenha: Dantalian no Shoka














Ano: 2011
Diretor: Yutaka Uemura
Estúdio: GAINAX
Episódios: 12 + 1 special
Gênero: Ação / Fantasia / Suspense
De onde saiu: Light Novel, 8 volumes (infelizmente descontinuada por poucas vendas)


Por xbobx



"I ask of thee, art thou manking?"
"Nay. I'm the world. The world inside the gourd."
Labyrinth of bookcases, warden of 900,666 sealed phantom books,
open the gates to wisdom.


inb4: Para manter o foco, não farei nenhuma comparação com "Gosick" ou "Index" nessa review. Entretanto, como o comentário é indispensável, está incluso na conclusão.
Caso tu, leitor, esteja familiarizado com tais séries, provavelmente entenderá a relação antes mesmo de eu explorá-la.

"Dantalian no Shoka", literalmente: Biblioteca de Dantalian, ou no nome mais chique em latim: Bibliotheca Mystica de Dantalian, é mais uma daquelas séries que são boas em essência mas devido a fatores externos acabam sendo pouco conhecidas, seja por serem ofuscadas por outra do mesmo gênero, por falta de publicidade ou mesmo por não cativar nos primeiros episódios.
A baixa popularidade e a pequena fanbase na japland acabaram levando à interrupção do mangá e o cancelamento do DVD/DB. Uma pena, realmente.
Admito que li alguns threads em 2011, quando estreou, mas depois disso nunca mais, até assistir recentemente simplesmente porque achei o pôster cativante e fiquei curioso.


A estória se passa no interior da Inglaterra pós-guerra (1915~1920). -Lord- Hugh Anthony Disward (ou Huey, como pronunciado pela Dalian) certo dia recebe uma carta lhe informando do falecimento de seu avô, um homem excêntrico, colecionador de livros e famoso por ter trocado metade de sua riqueza por um único exemplar. Ainda na carta, Huey é informado que recebeu de herança a mansão, terras e biblioteca particular do finado.
Seis meses se passam e Huey se muda para a mansão, lá encontrando a tal biblioteca. Entretanto, essa não se trata de uma biblioteca comum, com livros comuns. É de fato um arquivo de "Gensho", "phantom books" ou grimoires, se preferir. Livros capazes de alterar a ordem natural das coisas e realizar feitos próximos de magia. Nas palavras de Dalian: Livros que não deveriam existir.
Mas não é somente os livros que fazem dessa biblioteca peculiar. Tão pouco essa tal de "Dalian" que Huey encontra quando chega na mansão, uma garotinha de aproximados 1.5m, idade desconhecida, vestindo roupas góticas do século passado, tão pálida que parece anêmica e com uma típica personalidade tsundere - além disso, ela parece saber algo sobre uma tal biblioteca de Dantalian.
E assim, o primeiro episódio começa. Com uma breve introdução à lá Slice-of-life, mas que não dura muito, quando passados uns 10 minutos já é apresentado o primeiro conflito. Provando que o anime tem mais que direito de possuir mystery/thriller como gênero.

De modo geral, a estória é bem construída, com personagens cativantes e um enredo que ao mesmo tempo é bobo mas também reflexivo. Durante os 12 episódios acompanhamos Huey e Dalian em várias aventuras, sendo que algumas delas poderiam facilmente se passar por contos de fada que apesar de terem lados mais "sombrios" para aqueles que desejam procurá-los, no geral são contos elegantes e bonitos de se ler/escutar.
Não há gore ou violência excessiva no anime e as histórias apesar de algumas possuírem um simbolismo mais perverso, não tem morais distorcidas nem apologias grotescas. É raro, mas a GAINAX fez de fato um anime que pode entreter tanto crianças de seus 10~12 anos e fãs do estúdio que acompanham desde os tempos de "EVA" e "Gunbuster".
Surpreendentemente, a melhor forma que tenho para resumir isso tudo, é dizer que Dantalian se assemelha aos contos de Agatha Christie e a história de um certo detetive britânico de Baker Street.
Da mesma forma que esses livros, o anime segue um esquema "episódico" (cada novo episódio, um novo caso. Ex: Mushishi) mas ao mesmo tempo possui uma progressão no enredo, revelando mais sobre o passado dos personagens e sobre sua situação atual.
Alguns consideram séries episódicas repetitivas, pois o setup sempre é o mesmo, e isso de fato é verdade quando se trata de um texto mal escrito. Por outro lado, quando há bons roteiristas, o fato de não se prender a longos conflitos pode ser uma vantagem. Considere o exemplo mais banal possível: "Os Simpsons" existem há 25 anos.

Se tratando de personagens, não temos um excêntrico Mr. Holmes e seu side-kick Dr. Watson, mas Dalian e Huey se provam um par à altura.
Apesar do design cliché "generic loli" e tsundere da Dalian, seu personagem possui muito mais background que isso e ao contrário de outras séries ela não se torna uma alegoria sem importância passados alguns episódios.
Huey, da mesma forma, cairia no estereótipo de herói shounen e se tornaria o MC badass que salva o mundo e sua loli do perigo. Felizmente, nesse anime isso não ocorre.
A relação entre os dois personagens foi curiosamente escrita, de forma que um não ofusca o outro, algo raro diga-se de passagem.
Seguindo a mesma lógica, cada personagem secundário tem sua história explorada à sua devida medida, combinando perfeitamente com esse setup episódico.

... em teoria.


Os parágrafos acima são a verdade. A história e os personagens são perfeitos, de modo geral, em teoria e na mais otimista das visões.
A realidade por outro lado é mais cruel. A estória é falha.
Sabe a definição de "loose end"? Apesar de apresentar muito bem o tema, e de possuir todo o valor exposto acima, ela deixa muito a desejar. Ao final dos 12 episódios muito pouco é explicado.
Claro, todos os casos que foram apresentados durante o anime são resolvidos, mas as questões que surgem sobre eles e sobre os personagens nem sequer são mencionadas, deixando o espectador na ilusão que deve haver uma continuação, side-story, novel, mangá que provenha respostas, quando de fato, não há.
Os personagens secundários ficaram mais na sombra ainda. Pensando bem, é justo agradecer a GAINAX por ter ao menos apresentado o background do Huey em flashbacks e um par de episódios, fora ele nenhum outro personagem tem seu passado explorado, nem mesmo a Dalian.
Note que, dentre estes personagens há aqueles que o background é descartável: os que só aparecem em um episódio e não são parte do ponto principal da narrativa. Entretanto, ao longo do anime, você vai perceber que há outros personagens secundários que não fazem parte dessa classificação e que são de mesma importância que o Huey e a Dalian para a história.
Estes possuíam um potencial absurdo para uns bons 5~10 episódios e a relação deles com o par principal é combustível mais que suficiente para um anime inteiro de mistério/fantasia.
Flamberge, Rasiel, Professor, quem são esses? Qual seu objetivo? Qual sua relação com os MCs? O anime termina com mais perguntas do que começou.
O último episódio apresenta um ponto completamente novo, com imensas possibilidades e trocentas novas questões acerca do passado e história da Dalian e da biblioteca. Tudo por nada.
É extremamente triste ver tanto potencial desperdiçado, e talvez mais triste ainda não saber o por quê.
Falta de dinheiro? Desinteresse do autor? Pretensão da GAINAX? Igual uma trilogia que acaba no 2º volume porque o autor morreu, nunca teremos essas respostas.


Decepções narrativas de lado, se você consegue isolar esses problemas, o anime é ótimo. E os visuais e a OST colaboram para isso.
Como a estória se passa na Inglaterra e no início do século XX, o esperado era um visual mais clássico e que forma melhor de apresentar isso do que em um estilo vicentino, meio rabuscado?
O contraste entre o design bishoujo/bishounen das personagens com os cenários obscuros fazem um contraste perfeito, dando um ar diferenciado para a série. Da mesma forma que "Paprika", por exemplo, tem uma palheta de cor peculiar, Dantalian tem esse belo detalhamento de cenário.
Da mesma forma, a animação de partículas e efeitos (FX) assim como explosões e cenas em movimento não deixam nada a desejar. Bem, era o esperado do estúdio que mais explodiu coisas por aí.

Ao se tratar de OST, OP/ED e som no geral, a direção e composição foi simplesmente magnífica.
Como o anime se passa em um período histórico, se fez necessário uma OST adequada para a época, e então que venham os violinos e grand pianos!
O responsável pelos tais, Yoshikazu Iwanami, na opinião pessoal de minha pessoa, não chega ao nível de um Tenmon, mas sem sombra de dúvida me cativou.
Idem para a opening. "Cras numquam scire", arrisca dizer que língua é essa? Uma dica: Aqueles que assistiram "Elfen Lied" devem lembrar de "Lilium". Pois é, latim arcaico.
LATIM.
Só pelo fato de não ser uma opening J-POP já merece um ponto. Por ser latim mais um. Por combinar perfeitamente com o tema do anime, mais outro. Pela letra e melodia? Todos os outros pontos possíveis.
Ah sim, a animação da abertura também é decente, mas quem liga. Só a música já é suficiente pra lhe deixar em transe.
OBS: (Comentário pessoal) Eu sou daqueles que geralmente pula OP/EDs. E consigo contar nos dedos quantos anime eu realmente assisti toda santa abertura de todo santo episódio. Essa é uma delas, assim como "A Cruel Angel's Thesis", "Tabi no Tochuu", "LAIN", "Lilium", e as de ARIA, obviamente.

Como se não bastasse uma bela OP, o ED ainda é igualmente surpreendente, mas desta vez não pela música mas sim pela animação. Dystrophical Dementia? É difícil definir um sentimento ou uma impressão pra esse ED. Possivelmente varia de pessoa a pessoa, então resumido em uma linguagem universal: GAINAX.
Sobre os seiyuu, também foram uma agradável surpresa.
Uma menção interessante é que durante toda a série eles mantiveram os honoríficos no original (Mr. Mrs. Ms. Lord. etc) em vez de adaptá-los para o japonês, isso somado ao sotaque peculiar da Dalian (MiyukiSawashiro) e seus "yes", "no" em inglês ajudam a dar um diferencial.
E, é claro, ninguém mais que Daisuke Ono (Koizumi, Yukito, Kazuma, Shizuo) como o Huey.
Se você precisa de um seiyuu pra ler em uma voz épica trechos de grimoires e frases de efeito em seu anime, quem diabos você chamaria?


Por fim,
Dantalian no Shoka se assemelha com um ótima primeira temporada de uma serie com 2 ou 3. E não há dúvida que muitos após terminarem o último EP, se perguntaram se não havia mais.
Existia muito para ser explorado ainda, realmente uma pena que não foi.
Por outro lado, como um anime "sessão da tarde" é magnifico, e apesar dessa decepção com a história, recomendo a todos que buscam uma trama diferente, fora do padrão MOE atual.
Dentre todos os anime com uma ambientação na idade moderna, esse provavelmente foi um dos melhores, seja na OST, nos visuais, nas personagens, em tudo.
Curioso que até algumas ideologias da época estão inclusas nos diálogos e ambientação. Após assistir, diga-me se notastes a posição social que Huey e os outros "keykeepers" ocupavam. Um nobre, um "professor" e outro que se veste como um padre. E qual eram seus objetivos? Heh.
Vale também dar uma pesquisada no Google o título dos livros que Huey e Dalian encontram pelo caminho. Eles existem/existiram de fato, assim como algumas quotes e comentários de alguns personagens.
Concluindo, meu objetivo aqui é fazer com que mais pessoas tenham contato com essa joia (parcialmente) desconhecida, mesmo que pareça incompleta, é uma série que será difícil esquecer.



Appendix:
É meio óbvia a comparação com "Gosick". Uma MC loli tsundere e seu side-kick viajam o mundo resolvendo mistérios.
Entretanto, apesar de o setup ser o mesmo, muito pouco há de semelhante entre as duas séries. Caso esteja indeciso sobre qual assistir, veja os dois.
Já com Index ("Toaru Majutsu no Index"), digamos que "Dantalian no Shoka" é uma versão melhorada, menos boba, menos shounen, sem KAMIJOU TOUMA de Index.

Extra:
Caso você se interesse, assista, e depois fique confuso com o final (ou queira uma interpretação dele) tenho, em inglês, uma analysis que fiz neste link.
Feedback sempre bem vindo!


Não vou incluir um sistema de nota numérica dessa vez... Dantalian é um caso a parte dificil de analisar.

Vamos fazer o seguinte:
Roteiro - mediano
Artwork - excelente
Som/OST/BGM - excelente
Personagens - mediano/bom
Enjoyment - acima da média

Média: 8





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