Ano: 2011
Diretor: Yutaka Uemura
Estúdio: GAINAX
Episódios: 12 + 1 special
Gênero: Ação / Fantasia / Suspense
De onde saiu: Light Novel, 8 volumes (infelizmente descontinuada por poucas vendas)
"I
ask of thee, art thou manking?"
"Nay.
I'm the world. The world inside the gourd."
Labyrinth
of bookcases, warden of 900,666 sealed phantom books,
open
the gates to wisdom.
inb4:
Para manter o foco, não farei nenhuma comparação com "Gosick" ou "Index" nessa review. Entretanto, como o comentário é indispensável,
está incluso na conclusão.
Caso
tu, leitor, esteja familiarizado com tais séries, provavelmente
entenderá a relação antes mesmo de eu explorá-la.
"Dantalian
no Shoka", literalmente: Biblioteca de Dantalian, ou no nome mais chique em
latim: Bibliotheca Mystica de Dantalian, é mais uma daquelas
séries que são boas em essência mas devido a fatores externos
acabam sendo pouco conhecidas, seja por serem ofuscadas por outra do
mesmo gênero, por falta de publicidade ou mesmo por não cativar nos
primeiros episódios.
A
baixa popularidade e a pequena fanbase na japland acabaram levando à
interrupção do mangá e o cancelamento do DVD/DB. Uma
pena, realmente.
Admito
que li alguns threads em 2011, quando estreou, mas depois disso
nunca mais, até assistir recentemente simplesmente porque achei o
pôster cativante e fiquei curioso.
A
estória se passa no interior da Inglaterra pós-guerra (1915~1920).
-Lord- Hugh Anthony Disward (ou Huey, como pronunciado pela Dalian)
certo dia recebe uma carta lhe informando do falecimento de seu avô,
um homem excêntrico, colecionador de livros e famoso por ter trocado
metade de sua riqueza por um único exemplar. Ainda na carta, Huey é
informado que recebeu de herança a mansão, terras e biblioteca
particular do finado.
Seis
meses se passam e Huey se muda para a mansão, lá encontrando a tal
biblioteca. Entretanto, essa não se trata de uma biblioteca comum,
com livros comuns. É de fato um arquivo de "Gensho",
"phantom books" ou grimoires, se preferir. Livros capazes
de alterar a ordem natural das coisas e realizar feitos próximos de
magia. Nas palavras de Dalian: Livros que não deveriam existir.
Mas
não é somente os livros que fazem dessa biblioteca peculiar. Tão
pouco essa tal de "Dalian" que Huey encontra quando chega
na mansão, uma garotinha de aproximados 1.5m, idade desconhecida, vestindo
roupas góticas do século passado, tão pálida que parece anêmica
e com uma típica personalidade tsundere - além disso, ela parece
saber algo sobre uma tal biblioteca de Dantalian.
E
assim, o primeiro episódio começa. Com uma breve introdução à lá
Slice-of-life, mas que não dura muito, quando passados uns 10
minutos já é apresentado o primeiro conflito. Provando que o anime
tem mais que direito de possuir mystery/thriller como gênero.
De
modo geral, a estória é bem construída, com personagens cativantes
e um enredo que ao mesmo tempo é bobo mas também reflexivo. Durante
os 12 episódios acompanhamos Huey e Dalian em várias aventuras,
sendo que algumas delas poderiam facilmente se passar por contos de
fada que apesar de terem lados mais "sombrios" para aqueles
que desejam procurá-los, no geral são contos elegantes e bonitos de
se ler/escutar.
Não
há gore ou violência excessiva no anime e as histórias apesar de
algumas possuírem um simbolismo mais perverso, não tem morais
distorcidas nem apologias grotescas. É raro, mas a GAINAX fez de
fato um anime que pode entreter tanto crianças de seus 10~12 anos e
fãs do estúdio que acompanham desde os tempos de "EVA" e "Gunbuster".
Surpreendentemente,
a melhor forma que tenho para resumir isso tudo, é dizer que
Dantalian se assemelha aos contos de Agatha Christie e a história de
um certo detetive britânico de Baker Street.
Da
mesma forma que esses livros, o anime segue um esquema "episódico"
(cada novo episódio, um novo caso. Ex: Mushishi) mas ao mesmo tempo
possui uma progressão no enredo, revelando mais sobre o passado dos
personagens e sobre sua situação atual.
Alguns
consideram séries episódicas repetitivas, pois o setup sempre é o
mesmo, e isso de fato é verdade quando se trata de um texto mal
escrito. Por outro lado, quando há bons roteiristas, o fato de não
se prender a longos conflitos pode ser uma vantagem. Considere o
exemplo mais banal possível: "Os Simpsons" existem há 25
anos.
Se
tratando de personagens, não temos um excêntrico Mr. Holmes e seu
side-kick Dr. Watson, mas Dalian e Huey se provam um par à altura.
Apesar
do design cliché "generic loli" e tsundere da Dalian, seu
personagem possui muito mais background que isso e ao contrário de
outras séries ela não se torna uma alegoria sem importância
passados alguns episódios.
Huey,
da mesma forma, cairia no estereótipo de herói shounen e se tornaria
o MC badass que salva o mundo e sua loli do perigo. Felizmente, nesse
anime isso não ocorre.
A
relação entre os dois personagens foi curiosamente escrita, de
forma que um não ofusca o outro, algo raro diga-se de passagem.
Seguindo
a mesma lógica, cada personagem secundário tem sua história
explorada à sua devida medida, combinando perfeitamente com esse
setup episódico.
...
em teoria.
Os
parágrafos acima são a verdade. A história e os personagens são
perfeitos, de modo geral, em teoria e na mais otimista das
visões.
A
realidade por outro lado é mais cruel. A estória é falha.
Sabe
a definição de "loose end"? Apesar de apresentar muito
bem o tema, e de possuir todo o valor exposto acima, ela deixa muito
a desejar. Ao final dos 12 episódios muito pouco é explicado.
Claro,
todos os casos que foram apresentados durante o anime são
resolvidos, mas as questões que surgem sobre eles e sobre os
personagens nem sequer são mencionadas, deixando o espectador na
ilusão que deve haver uma continuação, side-story, novel, mangá
que provenha respostas, quando de fato, não há.
Os
personagens secundários ficaram mais na sombra ainda. Pensando bem,
é justo agradecer a GAINAX por ter ao menos apresentado o background
do Huey em flashbacks e um par de episódios, fora ele nenhum outro
personagem tem seu passado explorado, nem mesmo a Dalian.
Note
que, dentre estes personagens há aqueles que o background é
descartável: os que só aparecem em um episódio e não são parte
do ponto principal da narrativa. Entretanto, ao longo do anime, você
vai perceber que há outros personagens secundários que não fazem
parte dessa classificação e que são de mesma importância que o
Huey e a Dalian para a história.
Estes
possuíam um potencial absurdo para uns bons 5~10 episódios e
a relação deles com o par principal é combustível mais que
suficiente para um anime inteiro de mistério/fantasia.
Flamberge,
Rasiel, Professor, quem são esses? Qual seu objetivo? Qual sua
relação com os MCs? O anime termina com mais perguntas do que
começou.
O
último episódio apresenta um ponto completamente novo, com imensas
possibilidades e trocentas novas questões acerca do passado e
história da Dalian e da biblioteca. Tudo por nada.
É
extremamente triste ver tanto potencial desperdiçado, e talvez mais
triste ainda não saber o por quê.
Falta
de dinheiro? Desinteresse do autor? Pretensão da GAINAX? Igual uma
trilogia que acaba no 2º volume porque o autor morreu, nunca teremos
essas respostas.
Decepções
narrativas de lado, se você consegue isolar esses problemas, o anime
é ótimo. E os visuais e a OST colaboram para isso.
Como
a estória se passa na Inglaterra e no início do século XX, o
esperado era um visual mais clássico e que forma melhor de
apresentar isso do que em um estilo vicentino, meio rabuscado?
O
contraste entre o design bishoujo/bishounen das personagens com os
cenários obscuros fazem um contraste perfeito, dando um ar
diferenciado para a série. Da mesma forma que "Paprika",
por exemplo, tem uma palheta de cor peculiar, Dantalian tem esse belo
detalhamento de cenário.
Da
mesma forma, a animação de partículas e efeitos (FX) assim como
explosões e cenas em movimento não deixam nada a desejar. Bem, era
o esperado do estúdio que mais explodiu coisas por aí.
Ao
se tratar de OST, OP/ED e som no geral, a direção e composição
foi simplesmente magnífica.
Como
o anime se passa em um período histórico, se fez necessário uma
OST adequada para a época, e então que venham os violinos e grand
pianos!
O
responsável pelos tais, Yoshikazu Iwanami, na opinião pessoal de
minha pessoa, não chega ao nível de um Tenmon, mas sem sombra de
dúvida me cativou.
Idem
para a opening. "Cras numquam scire", arrisca dizer que língua é essa? Uma
dica: Aqueles que assistiram "Elfen Lied" devem lembrar de
"Lilium". Pois é, latim arcaico.
LATIM.
Só
pelo fato de não ser uma opening J-POP já merece um ponto. Por ser
latim mais um. Por combinar perfeitamente com o tema do anime, mais
outro. Pela letra e melodia? Todos os outros pontos possíveis.
Ah
sim, a animação da abertura também é decente, mas quem liga. Só
a música já é suficiente pra lhe deixar em transe.
OBS:
(Comentário pessoal) Eu sou daqueles que geralmente pula OP/EDs. E
consigo contar nos dedos quantos anime eu realmente assisti toda
santa abertura de todo santo episódio. Essa é uma delas, assim como "A Cruel Angel's Thesis", "Tabi no Tochuu", "LAIN", "Lilium", e as de
ARIA, obviamente.
Como
se não bastasse uma bela OP, o ED ainda é igualmente surpreendente,
mas desta vez não pela música mas sim pela animação. Dystrophical
Dementia? É difícil definir um sentimento ou uma impressão pra
esse ED. Possivelmente varia de pessoa a pessoa, então resumido em
uma linguagem universal: GAINAX.
Sobre
os seiyuu, também foram uma agradável surpresa.
Uma
menção interessante é que durante toda a série eles mantiveram os
honoríficos no original (Mr. Mrs. Ms. Lord. etc) em vez de adaptá-los
para o japonês, isso somado ao sotaque peculiar da Dalian (MiyukiSawashiro) e seus "yes", "no" em inglês ajudam a
dar um diferencial.
E,
é claro, ninguém mais que Daisuke Ono (Koizumi, Yukito, Kazuma,
Shizuo) como o Huey.
Se
você precisa de um seiyuu pra ler em uma voz épica trechos de
grimoires e frases de efeito em seu anime, quem diabos você
chamaria?
Por
fim,
Dantalian
no Shoka se assemelha com um ótima primeira temporada de uma serie
com 2 ou 3. E não há dúvida que muitos após terminarem o último
EP, se perguntaram se não havia mais.
Existia
muito para ser explorado ainda, realmente uma pena que não foi.
Por
outro lado, como um anime "sessão da tarde" é magnifico,
e apesar dessa decepção com a história, recomendo a todos que
buscam uma trama diferente, fora do padrão MOE atual.
Dentre
todos os anime com uma ambientação na idade moderna, esse
provavelmente foi um dos melhores, seja na OST, nos visuais, nas
personagens, em tudo.
Curioso
que até algumas ideologias da época estão inclusas nos diálogos e
ambientação. Após assistir, diga-me se notastes a posição social
que Huey e os outros "keykeepers" ocupavam. Um nobre, um
"professor" e outro que se veste como um padre. E qual eram
seus objetivos? Heh.
Vale
também dar uma pesquisada no Google o título dos livros que Huey e
Dalian encontram pelo caminho. Eles existem/existiram de fato, assim
como algumas quotes e comentários de alguns personagens.
Concluindo,
meu objetivo aqui é fazer com que mais pessoas tenham contato com
essa joia (parcialmente) desconhecida, mesmo que pareça incompleta,
é uma série que será difícil esquecer.
Appendix:
É
meio óbvia a comparação com "Gosick". Uma MC loli
tsundere e seu side-kick viajam o mundo resolvendo mistérios.
Entretanto,
apesar de o setup ser o mesmo, muito pouco há de semelhante entre as
duas séries. Caso esteja indeciso sobre qual assistir, veja os dois.
Já
com Index ("Toaru Majutsu no Index"), digamos que
"Dantalian no Shoka" é uma versão melhorada, menos boba,
menos shounen, sem KAMIJOU TOUMA de Index.
Extra:
Caso
você se interesse, assista, e depois fique confuso com o final (ou
queira uma interpretação dele) tenho, em inglês, uma analysis que
fiz neste link.
Feedback
sempre bem vindo!
Não
vou incluir um sistema de nota numérica dessa vez... Dantalian é um
caso a parte dificil de analisar.
Vamos
fazer o seguinte:
Roteiro
- mediano
Artwork
- excelente
Som/OST/BGM
- excelente
Personagens
- mediano/bom
Enjoyment
- acima da média
Média:
8
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