Na idade uma criança, mas no conteúdo um adulto. Programa da TV Fuji que exibe animes durante a madrugada, o noitaminA completará 7 anos de existência no próximo dia 14. Nessa mesma data, em 2005, o bloco estreava sua programação com o ótimo Honey and Clover, e no decorrer do tempo muitas outras animações passaram em sua grade – mais exatamente, 32 animes, contando Black Rock Shooter e Guilty Crown, que terminaram em março; e desconsiderando o live-action de Moyashimon, único do gênero exibido até hoje no espaço.
Claro, houve deslizes aqui e ali – em 2011 mesmo ocorreram dois, chamados UN-GO e No.6 -, mas no geral o noitaminA mantém uma qualidade bastante acima da média, frequentemente trazendo obras ou originais ou baseadas em mangás e livros de grande sucesso, e quase sempre com temas polêmicos e pouco explorados no ramo.
Desse modo, resolvi tentar extrair dessa fonte dez obras que merecem um destaque especial, para que possam conhecer melhor esse projeto. Tal tarefa foi um tanto complicada; no final consegui chegar a treze títulos bons, e por mínimos detalhes tirei um e outro para alcançar essa meta. Logo, vale depois dar uma conferida no restante dos animes que marcaram presença no bloco, cujos links para suas respectivas páginas no My Anime List se encontram no final da matéria.
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E as séries estão postas em ordem alfabética; não vi necessidade de classifica-las entre si, estando suficiente o fato de serem escolhidas como as melhores.
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Edição: Só alguns dias depois percebi o erro grave e tolo que cometi na ordem dos animes, deixando séries que começam com a letra “K” na frente de outras que começam com “H”. Isso ocorreu porque escrevi os textos de Kuchu Buranko e Kuragehime primeiro, e esqueci de no final coloca-los em seus respectivos lugares na lista.
Muda-los de posição agora me obrigaria a reescrever trechos do artigo, então deixarei como está.
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Kuchu Buranko
De onde saiu: Série de livros chamada Psychiatrist Irabu.
A história: Ichiro Irabu é um psiquiatra que trata seus pacientes usando métodos nada convencionais. Com a ajuda da enfermeira Mayumi ele enfrenta diversos casos, desde o de um homem que sofre ereção contínua até o de um gangster que tem medo de facas e objetos pontudos.
Por que assistir: Não bastando um protagonista megalomaníaco, uma enfermeira em carne e osso sexy e um narrador simpático que explica de quando em quando alguns termos do ramo, Kuchu Buranko ostenta também um bando de personagens coadjuvantes únicos e bem construídos, sendo que todos estão ligados entre si e possuem problemas mentais insólitos. Temos a sensação de que Tóquio – cidade onde se passa o anime – é um local somente de desajustados, já que soam um tanto forçado esses elos que ligam os pacientes de Ichiro - mas isso é um detalhe insignificante. Aquele personagem que é protagonista em determinado episódio no seguinte se torna mero coadjuvante, e dessa forma é possível acompanhar os mesmos eventos de diferentes perspectivas, fazendo com que vários dramas pessoais formem uma única história no final.
Ichiro é um canalha – e isso é um elogio. Diverte-se com seus pacientes, arquiteta “tratamentos” incoerentes e absurdos, é altamente pervertido e constantemente dá a impressão de que sequer se preocupa com aqueles que buscam sua ajuda. Mas os fins justificam os meios; os pacientes podem falar mal e questionar seus métodos, porém é inegável a mudança positiva que suas vidas sofrem ao passarem pelas intervenções de Ichiro. Desse modo, a série consegue, em dois tempos, ser imensamente engraçada e sarcástica enquanto aborda temas dramáticos e psicologicamente adultos.
Ajuda sobremaneira nisso o visual, que é assustador - e isso é outro elogio. Tão diversificado, é o que mais afasta possíveis novos espectadores. Cenários de tons fortes e desenhos que fogem do senso comum, técnicas de recorte, cenas em live-action, rotoscopia, sequências em CG... Além de inúmeros efeitos visuais quase inexplicáveis. Esplêndido e psicodélico, Kuchu Buranko é um “estranho no ninho” até no próprio noitaminA, tamanha a sua extravagância e originalidade. Não surpreende ele ser uma das obras menos populares que já passou pelo bloco - um coitado mal compreendido.
Kuragehime
A história: No complexo de apartamentos Amamizukan garotos não são permitidos. Nele vivem Tsukimi Kurashita - garota esquisitinha que adora águas-vivas - e outras mulheres nerds que possuem gostos estranhos e obsessivos. A vidinha monótona desse grupo é abalada quando Tsukimi conhece uma “princesa” – como ela a define – que a livra de uma situação de apuros. Contudo, Tsukimi percebe tarde demais que essa princesa é, na verdade, um príncipe...
Por que assistir: O bloco noitaminA é sinônimo de temas polêmicos. Não é nenhuma novidade um anime ter um personagem andrógino ou que pratique crossdressing; o difícil é encontrar uma série que trate isso com um pingo de seriedade e como tema principal. Moyashimon, em 2007, conseguiu realizar o primeiro caso, mas de forma secundária, pois o foco do anime era outro. Kuragehime, por sua vez, pode não tratar o assunto com profundidade, mas o usa, ao menos no começo, como principal ferramenta para levar a história adiante.
É divertido acompanhar o “choque” de mundos entre o descolado e popular Kuranosuke e as desajeitadas e relaxadas garotas do Amamizukan – que são otakus mais próximas da realidade, o contrário das meninas otakus esbeltas retratadas em vários animes. É curioso ver como a família desse rapaz reage a esse seu hobby – pois, apesar de praticar crossdressing, Kuranosuke é heterossexual. É engraçada a interação entre ele e Tsukimi, formando um casal atípico e peculiar, parecendo mais um par de comediantes. Enfim, o bom da trama de Kuragehime são os personagens e as relações que eles têm entre si. Na parte técnica tem-se uma primorosa trilha sonora, composta por Yoshimori Makoto – responsável pelas trilhas de animes como Natsume Yuunjichou, Koi Kaze, Baccano! e Durarara!!.
Inicialmente focando no humor, a série aos poucos toma um ar mais romântico e dramático, ou, no mínimo, tenta isso, pois surgem antes “esboços” de romance do que algo realmente concreto. E é frustrante notar o quão a qualidade cai nos últimos episódios, graças a seu ritmo corrido e, principalmente, porque o final fica em aberto, de uma maneira um tanto frustrante. Vale muito pela comédia e os personagens, desde que se esteja ciente das falhas em seu desfecho.
Higashi no Eden
De onde saiu: Animação original.
A história: Saki Morimo se envolve em uma pequena confusão durante sua viagem de graduação para os Estados Unidos, enquanto tentava tirar uma foto da Casa Branca. Ela acaba sendo salva nessa hora por Akira Takizawa, um rapaz que surge do nada, inteiramente nu, e que tem em mãos somente um revólver e um curioso aparelho celular. Ele não sabe quem é ou de onde veio, nem por que seu celular possui um saldo de mais de 8 bilhões de ienes inserido e uma secretária que, aparentemente, realiza qualquer pedido. Por conta disso, em busca de pistas Takizawa decide voltar ao Japão ao lado de Saki para que, assim, possam desvendar seu passado.
Por que assistir: É a típica história da qual quanto se souber menos a respeito, melhor. O fato é que, se ficamos confusos no início, felizmente com o decorrer do anime tudo vai sendo elucidado, e conhecemos junto com Takizawa toda a intricada e perigosa trama em que ele está envolvido. A ideia de Higashi no Eden é grandiosa, utópica; e o desdobramento dela, perdoados alguns exageros, é totalmente acreditável.
Os “erros” do noitaminA foram, em sua maioria, com animes que apostaram na ação e no suspense; mas Higashi no Eden escapa dessa sina, conseguindo ter animadas sequências de ação aliadas a uma história bem elaborada cujo suspense prende a atenção, pois ao mesmo tempo em que uma resposta nos é dada, outra pergunta é criada. Sem contar os questionamentos e críticas que joga a respeito da sociedade atual, principalmente a japonesa – maiores detalhes aqui poderiam estragar o anime.
Vale realçar por fim a relação entre o protagonista e Saki, relação essa que consegue ser delicada sem apelar para cenas forçadas ou dramaticidade excessiva. O anime, entretanto, peca por não ter um final definitivo; isso só poderá ser visto assistindo aos dois filmes que foram lançados posteriormente, Higashi no Eden - The King of Eden e Higashi no Eden - Paradise Lost.
Honey and Clover
A história: Yuuta Takemoto, Shinobu Morita e Takumi Mayama são três estudantes do ensino superior que, juntos, dividem um pequeno apartamento. O anime segue a vida desses e outros personagens; apesar das dificuldades financeiras, conseguem aproveitar a juventude e tirar prazer das pequenas coisas da vida. Porém, a rotina tranquila de Takemoto e Morita muda ao conhecerem a garota prodígio Hagumi Hanamoto, pela qual se apaixonam.
Por que assistir: Um elenco adorável e humano. O começo à primeira vista tão ordinário – a formação de um triângulo amoroso – resulta em uma comédia dramática que equilibra de modo competente os momentos tensos e sentimentais com os engraçados e alegres. Todavia, muitos reclamam - e com razão - de que o personagem mais engraçado do anime, Morita, às vezes é inoportuno por surgir fazendo uma piadinha em cenas mais sérias, quebrando todo o clima da situação. Ele, inclusive, sequer possui características profundas, servindo mais apenas como um “palhaço” para fazer rir. Hagumi Hanamoto é outro personagem cuja montagem é precária; uma garota bonitinha e fofinha, e só.
Mas o restante do elenco se salva, tanto os principais quanto os secundários. Aluno de uma escola de artes, Takemoto é um jovem como qualquer outro, se mostrando indeciso em relação ao seu futuro. A angústia de amar e não ser correspondido, o medo de crescer e virar um adulto com responsabilidades, a preocupação de errar na escolha de uma carreira... Esses dramas reais que ele e seus amigos enfrentam facilitam para que tomemos afeição por eles, pois certamente já passamos por uma ou outra situação semelhante.
Possuindo ainda uma vasta trilha sonora de belas e suaves letras, Honey and Clover tem um bonito final, mas não um conclusivo – porém acalme-se. Honey and Clover II, exibido no noitaminA em 2006, termina a história, conseguindo ser superior a seu antecessor.
Hourou Musuko
A história: O anime retrata o drama de um jovem garoto efeminado chamado Shuichi Nitori, que se veste como uma garota, e sua amiga Yoshino Takatsuki, de comportamento mais masculino.
Por que assistir: Uma obra (lançada logo após Kuragehime) que deixa a comédia e – em parte - o conservadorismo de lado, lidando em primeiro plano temas como transsexualismo, identidade de gênero e puberdade de forma sutil e sensível. É um anime “indigesto”, no qual alguns pré-conceitos devem ser deixados de lado para que se possa apreciá-lo. A animação leve e sóbria garante a Hourou Musuko um ar mais sério, imprescindível para que se possa acompanhar o drama de dois jovens tão indecisos com sua própria sexualidade.
Há, contudo, um defeito um tanto grave; a facilidade com que são resolvidas certas questões no enredo. Nitori e Takatsuki passam por momentos e situações desagradáveis enquanto tentam achar a si mesmos, é claro; mas tudo é bastante amenizado e às vezes soam um pouco artificial. Na vida real, infelizmente, esses fatos seriam muito mais trágicos e complexos. Por outro lado, seguindo esse percurso, o anime nunca se torna um “dramalhão”, ao não exagerar no sentimentalismo. O espectador que julgue se essa abordagem foi a melhor escolha ou não.
De resto, ouve-se uma delicada trilha sonora e tem-se um bom e carismático grupo de personagens coadjuvantes, que possuem reações variadas frente aos problemas dos protagonistas. São garotos e garotas um tanto “comuns”; mas, no fim, não passam de um bando de pré-adolescentes ainda em formação de caráter. E torna-se interessante acompanhar a relativa serenidade com que tratam fatos que adultos normalmente lidariam de modo ruidoso e escandaloso.
Essa não é a primeira obra de Takako Shimura a ser adaptada em anime; um mangá seu chamado Aoi Hana teve uma série de onze episódios em 2009. Nele é tratado outro tópico que foge do padrão, mas menos controverso; o amor entre duas garotas.
Mononoke
De onde saiu: De uma das histórias do anime Ayakashi: Japanese Classic Horror, série exibida no próprio noitaminA em 2006, que contém três contos de terror avulsas produzidas por três diretores diferentes.
A história: São narrados casos onde um misterioso vendedor de remédios combate espíritos em pleno Japão feudal. Possuindo um vasto conhecimento em relação a tudo que envolve o sobrenatural, esse vendedor, contudo, só poderá destruir o espírito caso tenha em mãos três informações a respeito dele; sua forma (Katachi), a verdade por trás de sua aparência (Makoto) e o motivo para seu comportamento incomum (Kotowari).
Por que assistir: O nível de Mononoke segue uma crescente; o primeiro conto pode, talvez, não ser tão interessante, mas após ele se vê uma história mais atraente e bem elaborada do que a outra, totalizando cinco contos nos doze episódios, que não possuem relação entre si. Deixando claro, sequer é preciso ver antes a história mostrada em Ayakashi para que se possa assistir esse anime.
A aura de mistério em volta do protagonista que nos impede até de sabermos seu nome dificulta uma aproximação maior entre personagem e espectador; ele, praticamente, é deixado em segundo plano. O destaque fica para os casos que resolve, cheios de surrealismo, acontecimentos fantásticos, diálogos sedutores - coisa predominante no anime, pois há poucas cenas movimentadas - e personagens caricatos. Passado e presente se fundem com cenas oníricas onde é difícil, com frequência, saber se o que está sendo presenciado são fatos reais ou devaneios artísticos. Tramas aparentemente comuns resultam em desfechos inesperados e notáveis, numa narração estável e concisa.
A arte é outro elogio à parte; cores berrantes e vivas e um estilo de animação que garante um clima mais “tradicional” á série, vislumbrando por cada mínimo detalhe do cenário. Por fim, para um anime excêntrico, uma trilha sonora também excêntrica, que abusa de instrumentos de época e efeitos sonoros sinistros e inquietantes, que dão um tom de suspense à animação.
Não é coincidência: Kuchu Buranko e Mononoke, dois animes de visual e estilo narrativo singulares, tem um ponto em comum, que é seu diretor, Kenji Nakamura. Aliás, sua última obra lançada foi [C] The Money of Soul and Possibility Control, anime que passou no noitaminA em 2011. Apesar de possuir uma animação que vai além do convencional, essa série não chega a ser tão extravagante quanto as outras produções do diretor, e seu enredo é igualmente inferior.
Nodame Cantabile
A história: Shinichi Shiaki é um músico exigente consigo mesmo e com os demais, Vindo de uma família nobre, seu sonho é seguir carreira na Europa, mas um “pequeno” detalhe o prende no Japão; seu terrível medo de voar. Enquanto isso não é resolvido, ele permanece estudando em uma das maiores universidades de música do país.
E dessa forma conhece Noda Megumi; um dia qualquer, ao acaso, ele a ouve tocar piano, e fica admirado com sua habilidade, mesmo que à primeira vista Nodame (como ela chama a si própria) não cause uma boa impressão por conta de seus cabelos desgrenhados e roupas antiquadas. E mais tarde Chiaki descobre ainda, para sua surpresa, que essa garota mora no apartamento ao lado do seu, além de ser perdidamente apaixonada por ele, o que dá início a uma relação improvável e conturbada entre duas pessoas tão diferentes.
E dessa forma conhece Noda Megumi; um dia qualquer, ao acaso, ele a ouve tocar piano, e fica admirado com sua habilidade, mesmo que à primeira vista Nodame (como ela chama a si própria) não cause uma boa impressão por conta de seus cabelos desgrenhados e roupas antiquadas. E mais tarde Chiaki descobre ainda, para sua surpresa, que essa garota mora no apartamento ao lado do seu, além de ser perdidamente apaixonada por ele, o que dá início a uma relação improvável e conturbada entre duas pessoas tão diferentes.
Por que assistir: A personificação da frase “os opostos se atraem”. Nodame é, sem meios termos, esquisita; possui hábitos nada higiênicos, diz palavras incompreensíveis, toca piano de uma maneira especial e idolatra um rapaz que parece ter prazer em trata-la mal. Já Chiaki, em um primeiro momento, não vê outra razão de estar perto de Nodame a não ser por sua habilidade no piano, da qual tem grande interesse. Mas, invariavelmente, com o tempo, os dois vão aprendendo a lidar um com outro, ficando mais íntimos e se apoiando para que possam juntos derrubar os obstáculos que surgem em suas vidas.
Além desse casal simpático de excelente química há memoráveis personagens coadjuvantes, desde um maestro mulherengo a vários músicos igualmente barulhentos e estranhos como Nodame. A história, embebida em muitas sequências com música clássica, evolui de um modo simples, natural e realista, desenvolvendo bem seus personagens, sejam eles protagonistas ou não. Imensamente engraçado sem apelar e dramático sem cair no piegas, não é exagero algum afirmar que Nodame Cantabile figura não somente entre os melhores animes que já passaram pelo noitaminA, como também entre os melhores em um todo nos últimos anos. Uma pena que suas sequências não conseguiram manter a mesma qualidade.
Hás duas, ambas exibidas no noitaminA; Nodame Cantabile: Paris Chapter, de 2008; e Nodame Cantabile: Finale, de 2010. E, como curiosidade, a primeira temporada foi dirigida por Kenichi Kasai, diretor da série Honey and Clover.
Saraiya Goyou
De onde saiu: Mangá, 8 volumes, finalizado.
A história: Masanosuke Akitsu é um samurai experiente e habilidoso, entretanto isso é ofuscado por sua personalidade tímida e ingênua. Após ser mais uma vez demitido pelo amo que o contratou, Akitsu conhece Yaichi, um carismático líder de uma gangue chamada “Cinco Folhas”. Com fome e sem opções, ele se torna guarda-costas de Yaichi, apesar de condenar e se sentir incomodado com as atividades feitas pelo bando. Porém, Akitsu aos poucos percebe que seu amo esconde motivações diferentes das que mostra e, conforme adentra nesse submundo, vai se tornando cada vez mais fascinado pelos misteriosos membros da gangue.
Por que assistir: É importante salientar que, ao contrário do que a sinopse pode sugerir, Saraiya Goyou não deve ser classificado como um anime de ação; há poucas cenas movimentadas. Aqui é dada importância primordial às relações entre os membros do “Cinco Folhas” e o contraste criado com a chegada de Akitsu, homem que, em outras circunstâncias, jamais se envolveria com tais pessoas.
Como diz o texto acima, a natureza inofensiva do ingênuo Akitsu não concorda, de início, com as ações da gangue; na sua mente, o que eles fazem é errado e pronto. Mas a intimidade que cria com seus membros ao longo do tempo o faz descobrir as verdadeiras razões de cada um para estar ali, chegando ao ponto de fazer Akitsu ficar perdido quanto ao que é certo e errado. Não somente ele possui uma personalidade distinta e desenvolvida, como os integrantes do “Cinco Folhas” carregam consigo histórias pessoais atraentes e bem montadas - com destaque para o líder, Yaichi, que sempre se mostra um ser enigmático e distante.
O enredo é amarrado e coeso. No desenrolar do anime é passada a impressão de que a trama possui elementos demais para uma série de doze episódios; contudo, todas essas pontas soltas se convergem num ponto único, culminando assim em um final forte e satisfatório. O visual da animação, que se aproveita de sombras e contornos sólidos, e a trilha sonora charmosa são outras qualidades de Saraiya Goyou, segunda obra da mangaka Natsume Ono a ganhar uma versão animada – a primeira foi Ristorante Paradiso, em 2009, anime esse que não teve passagem pelo noitaminA.
Usagi Drop
A história: Durante os preparativos do funeral do avô que acabara de falecer Daikichi Kawachi conhece Rin, uma garotinha tímida e silenciosa. Ele descobre mais tarde que Rin é filha ilegítima de seu falecido avô, resultado do relacionamento com uma mulher que ninguém conhece. Desconfortáveis com tal situação, nenhum membro da família se oferece para cuidar da garota e Daikichi, reprovando o comportamento de seus familiares, decide levar Rin para sua casa, tornando-se assim, aos trinta anos e solteiro, guardião de uma criança.
Por que assistir: É um anime que não comete o erro de usar determinados artifícios para atrair um público menos exigente. A história é sobre um homem solteirão se esforçando para cuidar de uma criança que sequer é sua filha, e nada mais. Talvez a única coisa que fuja um pouco da realidade – e no bom sentido - em Usagi Drop seja a protagonista Rin; ela exala uma fofura imensurável, com expressões cômicas e bonitinhas e frases que muitas vezes apelam para o emocional, possíveis de fazer cair em lágrimas até um homenzarrão de trinta anos. O relacionamento entre os dois é sensível e verossímil, com Daikichi se mostrando como uma pessoa desajeitada que só quer o bem para essa garota abandonada, ainda que isso signifique deixar em segundo plano suas vidas amorosa e profissional. Rin, por outro lado, é uma criança carente que tem muito a aprender; mas, sem perceber, ela ao mesmo tempo também está dando várias lições de vida ao seu guardião.
É engraçadinho, é tocante, e termina de uma maneira, senão memorável, pelo menos agradável, abrindo espaço para o mangá – pois o anime não adaptou toda a obra, coisa que não interfere em nada na sua qualidade.
Yojouhan Shinwa Taikei (ou The Tatami Galaxy)
De onde saiu: Novel, finalizada.
A história: Após conhecer um bizarro homem que se autoproclama uma divindade do matrimônio, Watashi começa a relembrar os momentos não tão gloriosos de seus dois anos iniciais na faculdade, quando um ardiloso amigo – e ele próprio – o fez vivenciar inúmeras situações nessa época.
Por que assistir: Os primeiros minutos de Yojouhan Shinwa Taikei são cruéis, mentalmente falando; narrações extremamente rápidas e mudanças bruscas de cenas podem incentivar muitos a desistir de ver a série antes mesmo de terminar o primeiro episódio. A solução é ter paciência para acompanhar o ritmo do anime e tentar compreender o seu enredo, um dos mais criativos que já marcaram presença no noitaminA.
Watashi sempre idealizou uma vida cor-de-rosa na faculdade, simplesmente porque todos louvam essa fase da vida – um engano banal. Ao perceber que o campus não era exatamente aquilo que imaginava Watashi começa a refletir sobre suas escolhas durante esse percurso, se arrependendo de algumas que fez e de outras que deixou de fazer. Mas, nesse caso, isso não fica apenas na lamentação; por algum motivo qualquer, ele sempre volta no tempo ao final de cada episódio, tendo assim a rara chance de testar novas possibilidades para conseguir uma vida inesquecível na faculdade.
A partir disso esse jovem franzino cruza constantemente com os mesmos personagens em acontecimentos semelhantes, porém com pontos de vistas diferentes. Personagens esses fora do comum, para não dizer loucos, desde um rapaz popular que tem uma boneca como namorada a um “amigo” de Watashi que com frequência desvia para o mau caminho as idealizações do protagonista. E, somado o estilo narrativo frenético e o visual que mescla várias técnicas de animação – responsável pela Madhouse -, Yojouhan é, indiscutivelmente, nonsense, no mínimo; mas absurdamente realista.
Usando histórias deliciosamente absurdas e um elenco divertido para inserir mensagens visuais e conceitos que se escondem nas entrelinhas dos diálogos, o anime retrata de modo claro sobre uma fase da vida muito esperada por quase todos, mas que no fim “não é tudo isso”. O tagarela protagonista sem nome – watashi significa “eu” em japonês – é só outro jovem que logo chega a essa conclusão, mas da maneira errada, culpando ele próprio ou terceiros por sua desilusão. Um grande tolo, que terá de sofrer bastante para aprender uma e outra lição. E acompanhar esse tolo através de suas fantasias estudantis é uma experiência fantástica e cativante, cujo ótimo desfecho não destrói nossas expectativas - ao contrário do que ocorre com Watashi...
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Segue abaixo a relação das demais produções que passaram no noitaminA (excluindo continuações de animes citados na lista);
Edição, Jun/11: Agora toda temporada adicionarei na lista abaixo os lançamentos do bloco. Deixarei destacados em azul os mais recentes.
Hataraki Man
Katanagatari (anime de 2010 reprisado, dessa vez no noitaminA, na temporada Primavera/2013)
Katanagatari (anime de 2010 reprisado, dessa vez no noitaminA, na temporada Primavera/2013)
E na temporada Primavera/2012 estrearão Tsuritama, nova criação original de Nakamura Kenji; e Sakamichi no Apollon, anime cuja direção ficou com Shinichiro Watanabe, autor de Cowboy Bebop e Samurai Champloo.
Artigo feito por Erick Dias
Sem dúvida o NoitaminA é um dos melhores blocos de animação, juntamente com o falecido Noise. Quanto ao artigo, ficou muito bom, é uma ótima referência para obras com intuito mais artístico do que realmente comercial (apesar de tb terem esse fim).
ResponderExcluirOlha só, já vi 7 desse bloco, n achava que tinha visto mais do q 4.
ResponderExcluirCom exceção de no.6, só dei sorte com os que vi daí.
Nem sabia o que era noitaminA até esses tempos mesmo tendo visto uma boa quantidade.
ResponderExcluirO Kuchu Buranko já vi muitas boas recomendações sobre ele e estou para ver ele desde o ano passado, quem sabe eu assista agora.