Por Tadashi Katsuren (Gabriel Katsu)
Já comecei a notar isso faz um tempo; anos, pra ser mais preciso: Quando temos um conhecimento mais a fundo de alguma coisa, e as pessoas notam que você possui este saber, é mais do que aceitável que caso algo traga ela para dentro de seu mundo, esta venha pedir conselhos para quem já conhece bem dele. Assim é comigo quando tratamos mais especificamente de animes e mangás. Tornou-se algo costumeiro conhecidos e amigos aparecerem diante de mim perguntando que animes ou mangás deveriam assistir ou ler; tanto, que só agora parei para pensar no tema deste texto. Há alguma fórmula para recomendações? Precisamos apenas dizer nossos animes preferidos e só? Animes bons são sinônimos de boas recomendações?
Uma de minhas animações
preferidas é ”Legend of The Galactic Heroes” (LOTGH), ou ”Ginga Eiyuu
Densetsu”. Uma space opera que já vi ser recomendada como Star Wars dos Animes; não que a
referência não seja óbvia: Temos um império galáctico enfrentando uma força
democrática-republicana rebelde e uma estrela artificial que lança um
gigantesco canhão laser. Mas, em minha opinião, essa obra guarda muito mais;
ela marca na animação japonesa o uso de dois protagonistas, um de cada lado da
história, cada um deles lutando por seus próprios ideais e com isso tendo de se
enfrentar. Yang Wenli de um lado com sua idealização de democracia, defendendo
um Estado republicano e democrático por natureza, e mesmo assim não tão honesto
e altamente corruptível; Reinhard von Lohengramm do outro lado, galgando na
hierarquia monárquica em busca de um império a ser construído de maneira justa,
mas ainda assim absolutista e imperial. É uma animação antiga com muitas
estratégias de guerra, muitas questões políticas e éticas levantadas e
personagens extremamente carismáticos.
Meu primo de quinze anos,
por outro lado, tem como seu anime preferido o nosso famoso ninja de roupas
gritantes ”Naruto”. Demograficamente
falando, "Naruto" é voltado para um público bem mais jovem e mesmo levantando
seriedade em alguns combates, suas resoluções são bem mais simples e menos
complexadas que as de obras como LOGHT. Nem por isso, e fazendo essa fula
comparação, a obra shounen precisa ser - necessariamente - ruim aos olhos de
meu primo. Qual tipo de recomendação que eu poderia dar para esta pessoa?
Vamos avançar o texto
usando de outra comparação: Suponha que agora eu esteja de volta aos meus quatorze, treze anos de idade, com a
puberdade aflorando à mil e todas as outras loucuras que acontecem em nossa
adolescência. E consideremos, então, que eu seja um fã de animes: Minhas obras
favoritas são títulos como ”Highschool of the Dead” que carrega uma premissa de animes de gênero ação/aventura num
apocalipse zumbi, mas que igualmente - ou até em graus maiores - dedica boa
parte de tela para o fanservice envolvendo
as garotas da trama; e ”Monster Musume no Iru Nichijou”, com o gênero harém despontado e cenas de ecchi saltando
em inúmeros momentos de um mesmo episódio enquanto vemos o personagem tomar
conta de várias garotas-monstro. E então, descubro que uma colega de minha
própria sala também é viciada em animes e mangás, visto que a encontrei os lendo em sala de aula e puxei assunto com ela.
Esta minha colega de sala
é apaixonada por mangás, também. Mas a pegada dela é um tanto diferente; ela
gosta de animes colegiais de romance, por grande parte das vezes um shoujo. Curte o casal protagonizado pelo
recluso e carregado de problemas do passado Mabuchi (Tanaka) e a garota que
quer ser vista de outra maneira Yoshioka de ”Ao Haru Ride”, bem como ela é apaixonada pelo casal-comédia de ”Lovely Complex”, a alta Risa e o tampinha
Otani. Dentro de uma conversa saudável entre estes dois tipos de apreciadores
dos quadrinhos e animações japonesas, qual seria uma viável recomendação que
poderia atender tanto a um quanto a outro? Será que simplesmente apontar os
próprios favoritos é o suficiente?
Recomendar é algo
simples. É como dar um conselho.
Quando um amigo meu está
mal, canso de ver outros chegarem e aconselharem “Deixa isso pra lá, vai ficar
tudo bem”, ou coisa do tipo. Quando eu chego para ver como ele está, ao invés de
simplesmente ouvir e retribuir com um tapinha nas costas e uma mensagem de
acalento, pergunto-o como aconteceu, se há como reverter ou resolver o problema
e vejo dentro de minhas opções e disponibilidade o que posso fazer para
ajudá-lo. A efetividade do conselho e o quanto isso pode mudar a concepção da
outra pessoa é algo que eleva o patamar do questionamento para outro nível, e
da mesma forma serve uma recomendação simples.
Uma das formas mais interessantes que eu vejo de recomendar alguém está no site do MyAnimeList. A aba de recomendações deles é sensacional porque
correlaciona obras entre si, para que os utilizadores possam conhecer obras
que, de alguma forma, tenham semelhanças entre si. “Se você gostou disso,
talvez possa gostar de…” Esta recomendação é muito mais viável que muitos
amigos que empurram seus gostos pessoais para cima de você. Enfim, pensando
sobre o tema, eu cheguei a concluir alguns pontos que pelo menos Eu levanto,
toda vez que alguém me pede uma recomendação. Isso é longe de ser uma regra
universal, uma verdade absoluta ou um manual geral do tema, é apenas o que
minha pessoa considera vago tomar em nota quando vai apontar um título para
alguém. Veja:
Considere o que a pessoa já assistiu: A primeira coisa
que eu faço quando alguém me pede uma recomendação é perguntar de volta para
ela: “Tá, mas o que você já assistiu?”
ou coisa do tipo. Quando se tem um conhecimento um pouco maior sobre animes,
você acaba tendo consigo uma boa gama de gêneros e demografias para serem
aconselhados, mesmo que você prefira um ou outro dentro destes. Todavia, muitas
vezes quem nos pede por uma dica não é tão aprofundado no tema assim; muitas
vezes ela só viu um gênero de uma demografia - da grande maioria das vezes,
acontece de ser os Shounen de combate. Para essas pessoas não é legal apontar
algo completamente fora de sua zona de conforto para ser visto, então, ouvindo
sobre os animes que ela já assistiu, pondere. De mesma forma, a conversa pode
se tornar muito mais interessante se você necessita encontrar uma recomendação
para alguém que já viu muita coisa como você, mas com os gostos pessoais dela:
É quase um divertido desafio recomendar um título efetivamente em muitos destes
casos, ou pode até ser mais fácil a pessoa ser aberta o suficiente para
experimentar algo novo; varia entre os extremos nas experiências que tive.
Considere o que a pessoa quer assistir: Outro questionamento que faço de volta é: “E o que você está procurando ver?”. Porque, assim, às vezes a pessoa acabou de devorar todos os episódios de “Naruto” e “One Piece” até eles chegarem nos episódios da semana e querem algo para assistir agora que vagaram desses, mas eles não querem algo tão longo, dado o tempo gasto. Ou então, acontece da pessoa ver um anime e gostar muito de só um ponto dele - que MUITAS vezes não é o ponto principal da série - e gostaria de ver mais coisas naquele estilo. E até mesmo acontece o inverso! “Eu vi o anime X, mas eu odiei! Queria assistir algo diferente, mas não sei o quê” também é uma linha que ouvimos. Para tanto, saiba o que a pessoa procura, muitas vezes ela te dá dicas do que pode gostar apontando aspectos, temas abordados dentro dos animes ou mesmo apontando gêneros e demografias, que podem guiar a sua recomendação. Outras preferências que também são interessantes de serem analisadas são aquelas por Traço/Character Design, Estúdio, Direção, Seiyuu, Animação e até efeitos de enredo (plot twists, pacing de desenvolvimento de personagem).
Considere como recomendar uma obra: Não dá uma raiva quando você fala com um amigo sobre um anime, aconselha-o a assistir, peça para que ele dê uma chance para o tema (muitas vezes para você ter com quem comentar sobre a obra) e ele não tem um pingo de interesse? Isso acontece porque, mesmo você recomendando, o seu convencimento não foi o suficiente para ganhar a atenção da pessoa para ir atrás. Talvez a melhor maneira de convencer alguém a ver algo que queira, seja correlacionando-a com alguma obra que ele já viu e que gostou muito. “Ah! Se você gostou disso no anime X você PRECISA ver o anime Y, porque tem uma trama BEM parecida mas melhor nesse ponto Z!”. Ou mesmo apelando para leves spoilers sobre coisas que acontecem dentro do anime, apenas a ponto de deixá-lo curioso para ver como chega-se até lá. Tudo é válido para cativar o ouvinte.
Considere moderadaramente o seu gosto pessoal: Em outras palavras, não use daquele meme “My taste = God Tier; Your Taste = Crap Tier”. É muito cruel e improdutivo você chegar numa pessoa condenando o que ela assistiu até então para logo depois começar a empurrar o seu top 5 na cara dela. E isso é algo que acontece com muita frequência dentro do nosso hobby. “Nossa, você gosta dessa merda!? Larga mão disso, vai assistir isso aqui, olha!”. Vou admitir: Antigamente eu era assim, a imaturidade da adolescência me fazia rir do que os outros assistiam pra depois jogar na cara deles o que eu considerava bom. Me arrependo disso, mas, por outro lado, é dessa fora que aprendi como me portar realmente, visto que isso gerava mais discussão e improdutividade do que propriamente uma recomendação válida. Hoje em dia brinco com amigos com quem tenho mais intimidade, falo mal de seus animes preferidos, mas aí é graça. Todos sabem que o ponto principal é rir e debochar sem maiores danos.
O assunto muda
completamente de escopo quando alguém pede a sua ajuda para um entretenimento
futuro. Quando digo que deve ser considerado o seu gosto pessoal com moderação,
isso significa que aplique sua preferência nas obras o quanto a gostar delas, desgostar delas ou chegar ao ponto de não recomendá-las porque considera que são ruins. Não
necessariamente precisa ser algo que goste, mas a sua recomendação pode sim ser
algo que você considere decente, ou mesmo mediano - mas que pode gerar o
interesse do amigo por algum outro anime melhor no futuro. Quando me pedem a
minha opinião sobre determinado anime que não gosto, sou sincero: “Olha, eu não gosto desse anime; não é que odeie ele, só não me agrada por causa de
X, Y e Z. Mas considerando que você gosta desse outro anime A, você pode gostar
dele sim, vai fundo.”. Pense no seu gosto pessoal com moderação; é mais
fácil você construir um caminho que faça a pessoa gostar do que você gosta do
que tentar empurrar tudo na força logo de cara.
Dentro deste texto,
deixei de lado tocar no assunto Qualidade
x Gosto, porque penso que esse é um ponto delicado e bem mais complexo para
tocar apenas como ponta para outro. Quem sabe num futuro, eu possa fazer outro
texto deste estilo para voltar a comentar sobre. Antes de minhas considerações
finais, eu gostaria apenas de fazer uma menção importantíssima para alguns
artigos de nosso amigo redator e podcaster do blog, Evilásio,
que foram de muita ajuda e em certo ponto essenciais para a construção deste
texto, sendo eles algumas matérias da coluna “A Resposta é 42”, a citar ”Como se escolhe uma série de anime para assistir?” e também ”Respeitar não dói”, escritos ainda em seu antigo blog Anime Portifolio.
Por fim, vale uma
reflexãozinha: Tadashi, você fez essa postagem inteira apenas pra falar de
dicas de como recomendar um anime… não é exagerado, ou fútil demais? Bom,
realmente, talvez não fosse necessário tanta coisa apenas para aconselhar um
anime para alguma pessoa. Mas existe algo além disso: Dar uma boa recomendação para uma pessoa aumenta em muito as possibilidades dela em querer ver mais obras. Não sei vocês, mas me agrada bastante ter com quem conversar sobre animes e mangás, especialmente se são sobre obras que agradam aos participantes do papo. Considere estas dicas, deste ponto, como um incentivador para a cultura pop japonesa crescer um pouco mais perto de você.
Em maior escala, isso é
até um incentivo para a indústria da animação e dos quadrinhos japoneses, se
for bem parar para pensar. No meu caso, eu me contento em um agradecimento,
algumas semanas depois, de meus amigos. “Valeu,
cara, o anime que você me indicou é bom pra caraca!”
Um grande abraço, e até a próxima!
Já tentei recomendar vários animes (entre outros) a alguns colegas da universidade que também compartilham desse hobby comigo, mas realmente é difícil agradar a todos os gostos. Depois de ler esse post, vou começar a pensar melhor antes de dar algum conselho, pois pode ser que sem perceber eu estou somente impondo a minha opinião sobre o que assistir.
ResponderExcluirComo um adendo, Legend of The Galactic Heroes (LOTGH) ou "Ginga Eiyuu Densetsu”, está no meu top 5 junto com Fullmetal Alchemist Brotherhood; gostei das indicações de animes implícitas no texto.