29 de abril de 2012

X-10: Dez animes no mundo otaku




De vez em quando a indústria da animação japonesa surge com algo que tenta retratar a si mesma e seus consumidores, e isso não fica limitado a produções cujas protagonistas são garotas populares e lindas que adoram animes. O sonho de querer se tornar o mangaka mais famoso do Japão; a rotina agitada de um estúdio de animação; os primeiros passos de uma seiyuu; eventos de cosplay, criação de doujinshis, o dia a dia comum de simples otakus...


Os temas para isso são variados, e a forma pela qual eles são discutidos também. O enredo otimista de Genshiken pode agradar muitos, contudo NHK ni Youkoso! se encontra à disposição para quem preferir um olhar mais pessimista e realista. Otaku no Video é uma boa obra saudosista, enquanto o bem sucedido Bakuman mostra de maneira romantizada a situação atual do mercado editorial de mangás. Àqueles que desejam ver algo de maior apelação e fanservice, uma garota menor de idade dublando jogos eróticos em Koe de Oshigoto certamente lhe chamará a atenção. Ou, se procura apenas comédias leves que mal tem a preocupação de se aprofundar no mundinho que abordam, eis Cosplay Complex e Doujin Work.

Opções não faltam. E logo abaixo cito dez que valem uma conferida:



...



Animation Runner Kuromi (OVA)








De onde saiu: Animação original.

A história: Influenciada na adolescência pelo anime “Luis Monde III” (alusão a Lupin III) Mikiko Oguro – ou Kuromi – se forma numa escola de animação e consegue um emprego no pequeno estúdio Petit. Logo no seu primeiro dia de trabalho ela conhece o gerente de produção, homem que sofre de úlcera e que não é capaz de organizar as tarefas do estúdio. Passando mal logo depois de mostrar as dependências do local, ele é levado embora por uma ambulância e antes disso transfere alegremente a Kuromi seu cargo de chefia.

Agora, tendo em mãos funcionários preguiçosos e excêntricos, ela terá de liderar a produção do anime “Time Journeys”, cujo cronograma se encontra muito atrasado.

O que você verá: Uma enérgica garota se esforçando para colocar na linha os funcionários de um pequeno estúdio de animação.

A ininterrupta e agitada trilha sonora se alia bem ao cenário do OVA e, principalmente, à espirituosa protagonista, Kuromi. Percebendo que o trabalho de seus sonhos não é lá exatamente uma maravilha, essa jovem se vê encarregada de problemas comuns aos de um estúdio, como ter de suportar os caprichos de animadores e cumprir prazos apertados. Se utilizando de um humor ágil e clássico, abundante em gags visuais e expressões e gestos exagerados, Animation Runner Kuromi alcança um equilíbrio que será testemunhado em poucos dos animes citados aqui: o de entreter sem deixar em segundo plano o mundo que tenciona representar.

É interessante notar como Kuromi e seus funcionários têm de fazer sua parte na animação para que, em seguida, esta seja enviada a animadores de países vizinhos, procedimento na época – 2001 – pouco usual e que hoje em dia é corriqueiro. Ademais, o OVA encosta brevemente em outros setores da produção, mas dá realce na socialização e no trabalho em conjunto existentes nesse ambiente,  imprescindíveis para que no final todos atinjam suas metas.

Aproveitando-se sabiamente de uma protagonista forte e carismática, Animation Runner Kuromi torna-se prazeroso de se assistir com seu humor saudável e estável, tendo êxito igual ao transmitir com vigor, em toda sua duração, a paixão que se deve ter por esse ofício para aguentar tanta pressão e exigências do mercado.

Continuação: em 2004 foi lançado Animation Runner Kuromi 2, outro OVA de episódio único.



Bakuman








De onde saiu: Mangá, 20 volumes, finalizado.

A história: Moritaka Mashiro, um estudante mediano que, contudo, desenha muito bem, graças à influência de seu falecido tio. Akito Takagi, melhor aluno do colégio que tem aspirações a escritor. Após Takagi conhecer as habilidades de Mashiro e convence-lo com ótimos argumentos, os dois passam a juntar suas habilidades para se tornarem os maiores mangakás do Japão. Se Takagi, com seu dom de escrita, almeja unicamente sucesso e riqueza, Mashiro, todavia, com seu dom artístico, tem outro objetivo em mente; tornar-se um bem sucedido mangaká para, assim, poder se casar com a garota dos seus sonhos, Azuki Miho.

O que você verá: Dois jovens passando por dificuldades no competitivo mercado editorial de mangás.

Baseada numa obra publicada na Shounen Jump – e, por conta disso, são inúmeras as referências a famosas séries da revista, tais como Naruto, Dragon Ball e One Piece -, Bakuman segue estritamente os moldes dos trabalhos publicados nela, impregnando-se de um ar shounen que tanto ajuda quanto atrapalha o andamento do anime.

Apesar do tema inicial tolo, é empolgante acompanhar a evolução e persistência de Mashiro e Takagi em seus objetivos, fazendo-nos invariavelmente torcer por eles. Em contrapartida a isso, é um tanto incômodo reparar que certos personagens e situações são usados apenas como motes para esses dois garotos se superarem e irem além do esperado, mesmo que os argumentos mostrados não façam muito sentido - ou sentido algum, em casos isolados.

Bakuman pode se gabar pelo elenco que tem, um cativante e vasto grupo de personagens bem caracterizados, na qual quase todo coadjuvante ajuda, direta ou indiretamente, na realização dos sonhos dos protagonistas. Porém, não obstante as mudanças feitas na adaptação para o anime, ainda é perceptível o machismo da história original, em especial quando reparamos na montagem pobre das personagens femininas – se Miyoshi no mínimo se destaca por seu comportamento engraçadinho, Miho, entretanto, acaba se tornando uma mocinha bastante enfadonha, se assemelhando àquelas heroínas intocáveis de animes mais antigos. Quase citei Atenas de Cavaleiros do Zodíaco como exemplo clássico, mas preferi não fazer isso...

Ainda assim, facilmente caímos na “armadilha” dos shounens. Enxergamos os defeitos, criticamos e falamos mal deles, mas o modo como a trama se desenvolve nos obriga a fazer vista grossa a tudo isso. É sedutor presenciar os erros e acertos de Takagi e Mashiro, além de ser interessante descobrir pormenores – como técnicas de desenho e métodos na escolha de títulos - de um ramo tão distante do meio em que vivemos, que é a publicação em larga escala de mangás. A visão romanceada e amenizada da série não chega a interferir nessa experiência.

Começamos incrédulos com um início tão ingênuo, mas terminamos esperando que tudo acabe da maneira mais otimista e feliz possível, nem que seja algo imensamente previsível e clichê.

Mas, tenha paciência: após a primeira temporada, de 25 episódios, há Bakuman 2, lançado em 2011; e Bakuman 3, que tem estreia prevista para outubro desse ano. Quem for tão apressado quanto Mashiro, que leia o mangá, finalizado neste mês.



Comic Party








De onde saiu: Jogo (PC, Dreamcast, PSP).

A história: Kazuki Sendou é levado praticamente á força por seu excêntrico amigo, Taishi, a um evento otaku. Uma vez lá dentro, ele se depara com variados tipos de pessoas que, contudo, possuem um ponto em comum: a paixão pelos doujinshis. Fascinado pelo que viu e pelas pessoas que conheceu – e por ser bastante incentivado pelo seu amigo– Kazuki imerge nesse novo mundo, começando a escrever e desenhar seu primeiro doujinshi.

O que você verá: Um rapaz novato – rodeado de garotas, vale salientar – dando seus primeiros passos num ramo tão devoto e fiel que é o dos doujinshis.

Comic Party é incapaz de disfarçar suas origens; um jogo “date sim”. Não porque ostenta um alto número de personagens femininas – oito –, mas sim por causa das personalidades padrões dessas e da história que contém cenas e eventos típicos desses jogos. Isso impede que as garotas tenham qualquer presença significativa; uma ou outra pode ser razoável ou simpática, mas não passam disso.

E, como é de praxe em boa parte das animações citadas nessa lista, tem-se aqui um protagonista que é “fisgado” para um mundo antes ignorado por ele, sendo que ao seu lado vamos conhecendo melhor as características do setor de doujinshis. Kazuki passa pelas fases habituais de qualquer novato; o êxtase pela novidade, o empenho em seu primeiro trabalho, a alegria em ser reconhecido mesmo que por poucos, a decepção em ser criticado mesmo que com razão, desencorajamentos, desilusões, a volta do ânimo em continuar e fazer melhor, a percepção quanto ao que é realmente importante... Se esse personagem não é lá carismático, ao menos deve-se admitir que ele é relativamente bem desenvolvido.

Possuindo um humor irregular e personagens unidimensionais, Comic Party, entretanto, tem como um de seus pontos positivos a retratação que faz da rotina daqueles que participam de tais eventos, dando atenção a detalhes como o funcionamento de uma convenção e os problemas inerentes à montagem e venda de doujinshis. Mas, talvez o maior atributo da série se encontre na sua competência em transmitir fortemente a paixão dos envolvidos nesse comércio, sejam eles veteranos ou não. Usando o próprio Kazuki para esse propósito, nota-se – com emoções um tanto exageradas – a motivação que os integrantes dessa sociedade têm para gastarem seu tempo em algo que, para a maioria, não resulta em lucro algum, financeiramente falando – e isso não fica restrito apenas à área dos doujins. Essa atmosfera tão boa absorve um pouco a precariedade do elenco.

Continuação: Quatro anos depois da primeira temporada, foi lançada em 2005 uma segunda, intitulada Comic Party Revolution.



Cosplay Complex (OVA)








De onde saiu: Animação original.

A história: É mostrado o dia a dia do Clube de Cosplay do colégio Oizuki Higashi, cujos membros participam de concursos cosplay amadores. Eles almejam entrar e vencer concursos profissionais nacionais, mas para isso necessitam de mais pessoal e um patrocinador.

O que você verá: Uma comédia ecchi mediana que se preocupa antes em exibir calcinhas e seios do que em reproduzir fielmente essa faceta do mundo otaku.

Leu a história? Pois é, esqueça-se dela; tudo é mera desculpa para Cosplay Complex juntar um monte de personagens estereotipados – que têm noção de serem estereotipados – numa comédia apelativa sem rumo que é repleta de referências a animes e jogos de décadas anteriores – pois esse OVA é de 2002.

Ao passo em que o OVA homenageia essas produções sutilmente, através das roupas que as garotas usam nos concursos, e jamais deixando claro de onde foram tiradas – o que dá até um ênfase maior a esse segmento otaku -, ele também aproveita sua história e personagens para inserir conscientemente inúmeros lugares comuns das animações japonesas. Uma garota de óculos peituda, uma loli moe, a lolicon, o careca piadista, a menina arrogante com cabelos em formato de broca, uma protagonista tolinha eternamente feliz e, obviamente, um rapaz sem graça nem presença que gosta dessa garota. Fugindo um pouco do habitual, somente uma coruja e uma fada vindas do espaço e que possuem habilidades convenientes para tal clube. Como assim vieram do espaço? Bem, qual a necessidade em ter explicação para isso? Bom senso é o que menos há por aqui.

O humor de Cosplay Complex pode ser apagado e seu teor ecchi certas vezes desconfortável, porém isso é levemente compensado pela sua perspicácia em satirizar explicitamente fórmulas desgastadas do universo dos animes, nunca citando nesse processo títulos específicos. Mas, por optar em pegar para uso particular algumas dessas ferramentas, o anime acaba se tornando em excesso um exemplo daquilo que tanto tira sarro em seus três episódios. Graças às suas boas sátiras, o OVA se salva de um fiasco maior, visto que até sua abordagem a respeito dos bastidores do entretenimento cosplay é limitada e artificial.

Ajuda aos novatos: viu o OVA e não conseguiu identificar nenhum vestuário usado pelas personagens? Então veja Cosplay Complex: Extra Identification, especial curtinho que revela a origem de cada roupa.



Doujin Work








De onde saiu: Mangá, 6 volumes, finalizado.

A história: Após perder o emprego, Najimi Osana é convidada pela sua amiga Tsuyuri a trabalhar para ela. Najimi aceita a proposta, mas só depois descobre que seu trabalho será ajuda-la a vender doujishins no Comifes, um dos maiores eventos otakus do Japão. Maravilhada com o quanto Tsuyuri consegue lucrar vendendo um doujishin que ela própria criou, Najimi decide entrar também nesse mercado para obter dinheiro. O problema é que ela mal sabe desenhar.

O que você verá: Uma garota que finge saber desenhar num anime que finge se importar com o ramo dos doujinshis.

Comic Party tem lá seus defeitos, mas, como ponto a favor, ele descreve melhor – mesmo que de modo exagerado – as atividades do setor de doujishins. Já Doujin Work apenas esboça essa intenção, porque em seus doze episódios – de doze minutos de duração cada – se concentram menos informações e curiosidades sobre essa área do que em dois ou três episódios quaisquer de Comic Party. Nesse quesito e na história como um todo, Doujin Work sai perdendo. Mas ganha sem dificuldades no humor e seus personagens.

Enquanto acompanhamos uma Najimi que desenha horrivelmente – e, ao contrário de Mashiros e Takagis, em momento algum evolui sua habilidade -, vemos ao mesmo tempo um divertido grupo de personagens, que muito perturbam a pobre protagonista. A loli pode ser demasiadamente fofa; o “amigo de infância” de Najimi – que sempre deixa claro que é amigo de infância, pois bem sabem que amigos de infância são poderosíssimos - pode ser engraçado; a “rival” dela (porque personagens principais devem ter rivais como estímulo para ficarem fortes) pode ser bonitinha por conta de seu jeitinho desastrado e infantil; e o rapaz apaixonado por ela pode ser... pode ser nada, como é de costume nesses personagens. Enfim, são agradáveis; mas o destaque fica para Tsuyuri, garota de comentários ácidos, pensamentos pervertidos e humor tortuoso. Najimi não é uma líder fraca, longe disso, mas fica ofuscada por ter como amiga esse ser que, praticamente, protagoniza a maior parte das situações cômicas da série.

O humor tem êxito em metade do anime; após esse ponto, é sensível o enfraquecimento das piadas, ficando evidente junto a isso a carência de um enredo mais sólido para levar a animação até seu fim. Uma vez escassos os risos, ficamos menos tolerantes a esse defeito de Doujin Work - defeito que no início relevamos. Não que se tenha uma queda assombrosa na qualidade; mas é frustrante notar como os personagens nunca mudam e a história em si do anime jamais se desenvolve, sendo que do mundo doujishin só observamos duas garotas péssimas no desenho batalhando para ver quem vende mais cópias de seus rabiscos. O final, a propósito, é quase, completamente, irreal, para fãs de Bakuman se sentirem encolerizados.

Fique atento: para a precária animação de Doujin Work, algo que salta à vista gritantemente. Os desenhistas responsáveis por ela merecem consideráveis elogios, porque conseguiram driblar o baixo orçamento usando bons artifícios visuais.

Decisão final: Comic Party ou Doujn Work? Como os dois acertam justamente naquilo onde o outro erra, decreto um digníssimo – e chatíssimo - empate.



Genshiken








De onde saiu: Mangá, 9 volumes, em andamento.

A história: É narrado o dia a dia dos membros de um clube de faculdade chamado Genshiken, abreviação de “Gendai Shikaku Bunka Kenkyuu Kai”, que significa “Sociedade de Estudo da Cultura Visual Moderna”. Apesar desse título pomposo, seus integrantes simplesmente usam o local para assistirem animes, lerem mangás, jogar videogames e conversar sobre seus hobbies.

O que você verá: Um anime slice-of-life que tem como único objetivo expor – com um ponto de vista parcial – a vida de otakus normais.

Iniciando a trama com a chegada de Kanji Sasahara – um otaku enrustido - ao clube, não seria errado dizer que Genshiken “homenageia” essa subcultura e seus membros. A série se esforça ao máximo para passar a ideia de que viver como um otaku não é, assim, tão ruim nem vergonhoso. 

Claro, a história coloca alguém para ser o contraste a isso, mais exatamente Saki Kasukabe, uma garota que detesta tudo relativo a essa sociedade, mas que visita frequentemente o clube porque seu namorado – um otaku extremo – faz parte dele. Dona de uma personalidade impetuosa, é curioso notar que essa garota é a personagem que tem maior destaque no anime, seja pelas acaloradas discussões que tem com os integrantes do Genshiken, seja pelas suas inúmeras e falhas tentativas em se adequar ao hobby do namorado. Ainda assim, mesmo que essas situações gerem de vez em quando questionamentos em relação ao frágil e, em certos momentos, condenável estilo de vida dessas pessoas, o anime faz isso de modo leviano, sempre se preocupando em terminar tudo com uma boa piada.

E o mérito maior de Genshiken é ser capaz de manter tal postura sem abrir mão do que é plausível - o oposto de outros animes citados aqui. Caso os participantes do grupo não estejam na casa de alguém jogando videogame, ou visitando algum evento ou loja de doujinshis, poderão eles ser surpreendidos no clube assistindo preguiçosamente a um anime ou lendo um mangá, quem sabe até discutindo o último episódio da série do momento - isso se Saki não perder a paciência de novo e começar, mais uma vez, a amaldiçoar e falar mal dos otakus. São acontecimentos ordinários e diários, mas que têm inseridos diálogos atraentes e um humor refinado, além de muitas referências a obras reais. Os personagens, estereótipos de seres encontrados nesse meio, são pessoas condizentes com a realidade – sim, “otakus masters” como Madarame existem aos montes -, evoluindo lentamente, e tornando-se com o tempo indivíduos melhores e mais bem construídos. O humor pode dar preferência a Saki e Madarame, mas personagens como a peit... cosplayer Ohno e os demais membros regulares do clube conseguem relativa atenção simplesmente por conta de suas personalidades comuns, sem exagerismos. A exceção fica, talvez, para o imutável e monótono namorado de Saki, e outro rapaz chatíssimo apresentado na metade do anime.

Realizando um tributo a uma subcultura inteira, ver “Genshiken” causa um bem estar ao otaku, que se sente menos deslocado e estranho. É um escapismo óbvio, mas nada nocivo se estivermos cientes disso.

Continuação: passados dois anos da estreia da primeira temporada, em 2006 foi lançado três OVAs que dão continuação à série. E, em 2007, foi exibida uma segunda temporada, intitulada Genshiken 2nd.



Ghiblies (Special)








De onde saiu: O primeiro episódio foi produzido em 1999 para fazer parte de um programa de televisão, em que o tema era o estúdio Ghibli; quanto ao segundo, este foi lançado nos cinemas em 2002, ao lado do filme The Cat Returns (essa produção estreou no Brasil com o título O Reino dos Gatos).

A história: É visto aqui o dia a dia dos funcionários de um estúdio de animação, claramente inspirado na própria Ghibli.

O que você verá: Uma variedade de curtas de diversos gêneros e estilos.

O nome pesou; se esses dois especiais não tem interesse algum em descrever minuciosamente a rotina de trabalho daqueles envolvidos na produção de animações, oras, ainda é uma obra da Ghibli. O ambiente onde parte dos curtas ocorre já justifica sua presença na lista.

Com personagens baseados em funcionários reais do estúdio – como Toshio Suzuki e Isao Takahata -, em ambos os episódios são exibidos curtas diferentes entre si. No primeiro, por exemplo – que tem doze minutos de duração -, começamos vendo a descrição de como um dos personagens foi desenhado para, na cena seguinte, flagrarmos um doce flashback do primeiro amor de Nonaka quando criança, que é um típico funcionário de escritório introvertido que usa óculos e é praticamente careca.

Após isso, surge esse mesmo Nonaka numa espécie de clip, tocando guitarra por alguns segundos. E, no restante do tempo, nos é apresentado os demais funcionários, desde uma “ídolo” do escritório, adorada por todos, a um espião que invadiu o local para roubar segredos da Ghibli.

Ao segundo curta é dado um acabamento melhor – é só comparar as duas imagens acima -, o esperado para uma obra que seria lançada nos cinemas, ao contrário de seu antecessor. Com vinte e quatro minutos de duração, as histórias aqui são maiores e mais bem elaboradas, e novamente temos Nonaka roubando a cena. Também dá para se reparar em leves mudanças na arte de um curta para outro, evidenciando o trabalho coletivo que houve em todos os processos de criação.

Em se tratando do trabalho de um estúdio, no máximo é citado implicitamente, no primeiro episódio, o que viria a ser o próximo lançamento da Ghibli, A Viagem de Chihiro. Um fato que não tem importância alguma, porque Ghiblies foi antes de tudo uma introdução para um programa de televisão e, posteriormente, um filme. Mas não fica devendo em nada aos famosos curtas da Pixar, tanto no humor quanto na qualidade.



Koe de Oshigoto (OVA)








De onde saiu: Mangá, 7 volumes, em andamento.

A história: Aoyagi Kanna, uma garota de 16 anos, é convidada pela irmã a trabalhar como dubladora na sua empresa, que produz jogos eróticos.

O que você verá: Um anime extremamente apelativo no qual sua protagonista moe é obrigada a falar vulgaridades como ******, ****, ***, *******...

Koe de Oshigoto entrou na lista por explorar uma faceta diferente – e, por que não, obscura – da sociedade otaku. A ligação de seu tema com a indústria dos animes é intrínseca; nem todos que veem animes jogam eroges, mas, certamente todos que jogam eroges veem animes.  Sem contar as constantes animações que são adaptadas de jogos desse gênero.

Com exceção disso, esse OVA não tem atributos dignos de nota. Praticamente explícito, quase um Hentai – inclusive, há Hentais que narram o trabalho de produtores de eroges, porém não há razão de eu citar nomes aqui, não é -, Koe de Oshigoto abusa de diálogos e cenas picantes para atrair o público masculino, ignorando totalmente os personagens e a história. A protagonista, uma colegial virgem que de repente se vê dublando cenas eróticas, só presta mesmo para ficar toda vermelha de vergonha e gaguejante a cada cinco minutos, tonando-se assim um insignificante clone moe deveras fraco. Com os coadjuvantes a situação piora, porque em meio a tanto fanservice eles mal têm oportunidade de falar algo que não seja relacionado a sexo, numa história focada unicamente nos embaraços de Kanna em seu primeiro emprego - que usa técnicas, digamos, “interessantes” para melhorar seu desempenho.

É inútil ficar tentando dar maiores detalhes de uma animação com conteúdo tão raso. O ecchi é sua essência, e somente nisso Koe de Oshigoto consegue se sobressair.

Acabou? : o primeiro OVA foi lançado em 2010; o segundo, em 2011; e até agora não se teve notícias de um terceiro, isso caso venha a ter um. Como os episódios possuem histórias com início, meio e fim, não chega a ser um problema. Se bem que, quem procura por essas animações, geralmente não está dando a mínima para isso...



NHK ni Youkoso!








De onde saiu: Novel, 1 volume, finalizado. Posteriormente foi lançada uma versão em mangá, já finalizada, composta por 6 volumes.

A história: Aqui conhecemos Tatsuhiro Satou, um rapaz de 22 anos de idade, hikikomori e NEET há três anos – quase quatro, como ele sempre realça. Desistente da faculdade e sem emprego, Satou quer acabar com esse cenário lamentável, mas, se sair de seu apartamento imundo é uma tarefa penosa, interagir com outras pessoas então é praticamente impossível. Delirante, ele pensa que tudo faz parte de uma conspiração da NHK, organização maléfica que tem como finalidade criar hikikomoris.

Satou permanece com sua ideia de desvendar e destruir os planos de tal organização quando conhece Misaki Nakahara, garota que o convida a participar de um “projeto” criado por ela que promete fazê-lo deixar de ser um hikikomori. Ele, logicamente, desconfia de tudo isso, pois Misaki, além de surgir do nada, parece conhecer muitos detalhes de sua vida pessoal.

O que você verá: Uma abordagem intragável e pessimista de tudo que um otaku tem de ruim.

A princípio, Satou sequer pode ser chamado de otaku; fora sua dificuldade em se socializar, ele não possui nenhum hobby obsessivo. Mas ser um hikikomori já é um passo para se tornar otaku, e vice-versa. E é isso o que acontece com esse rapaz.

Satou é um miserável, um protagonista que causa imenso ódio e nojo. Ele perde a razão e o controle por fatos mínimos, se autodestruindo com a mesma facilidade com que entra em um vício novo. E esse desgosto por sua pessoa só aumenta ao vermos como ele desgasta aqueles que estão ao seu redor, tentando ajuda-lo. Um covarde acomodado, que com devaneios absurdos ignora o quanto pode a realidade de seu estado atual.

Definitivamente, não é um personagem feito para agradar o espectador; porém, ele se deteriora tanto, e os demais protagonistas são tão diferentes de si – a ingênua Misaki e o sonhador Yamazaki, amigo de Satou altamente otaku –, que acabamos torcendo para que ele se cure dessa “doença” mental, mesmo se as suas constantes recaídas nos façam perder as esperanças. 

Até esse ponto, Genshiken foi o que mais perto chegou de tratar seriamente os gostos dos otakus; mas ele sempre procura um meio de amenizar os elementos mencionados. O anime seguinte da lista (Otaku no Video), ao contrário, tem um conteúdo mais realista e pesado, mas se contrabalança com outro leve e colorido. Já NHK ni Youkoso vai por uma vertente diferente: usa de um humor sarcástico e irônico para exibir negativamente a vida dos otakus. Não é o único tema da série, mas estou dando maior ênfase nele porque, nesse caso, é o que mais interessa.

Perturbador, o anime passa bem a visão do quanto pode ser patética e fracassada uma pessoa que se deixa levar pelo seu hobby, se isolando e não gostando daqueles que desaprovam seu estilo de vida – Genshiken, por exemplo, esbarra nisso de leve, mas nele os personagens fracassados e antissociais são engraçados e cativantes. Aqui, antes sentimos pena delas do que qualquer mínimo de afeição. Repetindo o que disse mais atrás, enquanto um passa uma sensação de bem estar ao espectador otaku, NHK acende uma luz de alerta ao mesmo, caso este se identifique com algum personagem ou trecho da trama.

Não bastando esses instantes de reflexão que o anime causa em boa parte de seus vinte e quatro episódios, NHK ni Youkoso! manuseia prudentemente esses tópicos, os inserindo naturalmente na boa história que possui – de ponto negativo, mas não tão significativo, tem-se a conclusão simplória de algumas subtramas. Com um elenco complexo, um ótimo final e uma trilha sonora que foge do padrão, a série justifica a popularidade que vem mantendo desde seu lançamento, em 2006.



Otaku no Video (OVA)








De onde saiu: Animação original.

A história: Com namorada e membro de um clube de tênis, Ken Kubo leva uma rotina de universitário ordinária e sossegada. Mas seu estilo de vida muda drasticamente quando revê Tanaka, velho amigo de escola que é um completo otaku. Esse encontro fortuito mergulha Kubo numa subcultura totalmente nova a ele, o fazendo abandonar seus antigos hábitos.

O que você verá: Uma jornada otaku fantástica de um lado e entrevistas desoladoras em live-action do outro, em um OVA que mostra as duas faces de uma mesma moeda.

Composto por dois episódios de quarenta e cinco minutos cada, a parte animada de Otaku no Video atravessa duas fases distintas. Se a história contada no primeiro episódio é nada mais que uma trama verossímil na qual um jovem é introduzido aos poucos no mundo otaku e seus vários segmentos - passando nesse processo por visíveis mudanças físicas e psicológicas -, o segundo episódio, por sua vez, impressiona com um enredo extraordinário e surreal. Em comum, ambas idolatram uma subcultura de maneira exultante e cega, onde um grupo de otakus de hobbies diferentes – de aficionados por armas a cosplayers – são felizes do jeito que são, sendo que em determinado momento Kubo, indignado com o preconceito que a sociedade tem por eles, começa a idealizar planos colossais para aumentar a importância dos otakus no país - e é aqui que começa a divertida “viagem” do OVA. Divertida, mas não tão sedutora quanto o primeiro episódio, pois o ritmo corrido nessa parte danifica um pouco toda aquela base firme construída anteriormente. Há de se perdoar e permitir – e adorar - o poetismo da obra quanto aos seus exageros abissais, mas um espaço maior à animação em certas cenas bem que poderia melhorar a história como um todo.

Todavia, o mais instigante dessa obra é visto nas cenas em live-action. Intercalados com a animação, temos um amontoado de curtas chamados “Retratos de um Otaku”, em que vemos nostálgicos depoimentos – falsos, dados em sua maioria por funcionários da Gainax, produtora do OVA – de otakus veteranos e ex-otakus, dividindo suas experiências de vida nessa área. Aqui, Otaku no Video dispensa a visão colorida e feliz desse mundo e apresenta uma perspectiva crua e super-realista. Acompanhamos dramas de jovens – ou não tão jovens assim – presos em vícios prejudiciais e incoerentes, como um homem que grava todos os animes exibidos na televisão, mas sequer os assiste, porque seu único intuito é possuir uma coleção perfeita; ou um rapaz obcecado por uma garota de um jogo Hentai; ou outro que, agora trabalhador assalariado de escritório, tenta negar seu passado como cosplayer. Essas “entrevistas” chegam a ser cômicas de tão absurdas, porém são retratos verdadeiros – no sentido de muito se aproximarem da realidade - e, principalmente, assustadores de uma comunidade tão estigmatizada e deixada à margem pela sociedade.

O OVA, entretanto, sabiamente oferece esses dois pontos de vista sem nunca pender para um lado, mostrando imparcialidade nessa questão. Emblemática, essa obra é até hoje, mesmo após vinte anos de seu lançamento, uma das fontes audiovisuais mais preciosas que se tem a respeito desse polêmico universo.


...





Artigo feito por Erick Dias 
 


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5 comentários:

  1. Welcome to NHK é um anime que vale muito a pena tanto pela diversão qnt pela reflexão :)

    Interessei nesse Otaku no Video.

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  2. Um anime que pode ser citado também, é Sekaiichi Hatsukoi. Ok, é yaoi, mas tirando o romance gay (para quem não gosta), é muito interessante ver a ocupação dos Editores no dia a dia e a reafirmação do trabalho escravo que eles enfrentam =D

    Bjs!

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  3. É daqueles animes que não entrou na lista por falta de espaço =p

    Já o assisti, as duas temporadas; é bom até, mas não consigo vê-lo com bons olhos porque é parecido demais com Junjou Romantica, outra obra da mesma autora.

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  4. Posso estar enganado, mas Lucky Star não é uma referência basica para vida otaku? Os que foram citados são muito bons. Otaku No Vídeo sem dúvidas é o melhor. Bela lista!

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  5. É, Lucky Star tem uma ótima personagem otaku, que é a Koata, mas fora isso não aborda tão diretamente esse mundinho. Ele entraria mais naquele grupo de animes com referências e paródias.

    'brigado pelo comentário, Fernando.

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