Ano: 1968
Diretor: Isao Takahata
Horus: Prince of the Sun teve a grande honra de ser o primeiro filme dirigido por Isao Takahata. Como se não bastasse tamanha glória, ainda contou com um jovem e próspero elenco, incluindo nomes como Hayao Miyazaki, Yasuo Õtsuka, Yoichi Kotabe e Yasuji Mori. Horus também foi pioneiro em outro quesito: foi o primeiro filme da Toei Animation a sair dos moldes dos longas da Disney, que eram tidos como padrão na época para qualquer tipo de animação. Todas essas peculiaridades elevaram o status de Horus, colocando-o como um marco para a história dos animes, pois ele é considerado por muitos como o primeiro filme de anime no estilo contemporâneo, ou seja, tudo o que você conhece sobre animes hoje em dia surgiu de Horus!
Bom, você deve estar pensando: "Com um elenco grandioso como esse, o que poderia dar errado?" Muita coisa! Para começar o filme perdeu praticamente 30 minutos do planejado inicialmente, pois além do tempo estourado, o orçamento de ¥100,000,000 chegou ao fim antes de ser produzida a meia hora final do anime. O resultado disso foi meio desanimador para a equipe, principalmente pelo fato de duas importantes seqüências terem ficado inacabadas, o que resultou em pequenas cenas com limitações na animação, feitas apenas para tapar os buracos do enredo.
A trama se passa em território escandinavo, mais precisamente na época do extração de ferro daquelas terras. Horus é um jovem valente, vive com seu pai doente, isolado do restante do mundo. Certo dia, momentos antes de morrer, seu velho pai lhe revela um segredo antigo: ele conta ao menino que fugiu do massacre que acontecera há muito tempo no vilarejo onde viviam, e antes de dar o seu suspiro final, pede a Horus para retornar à sua terra natal e honrar o nome da família derrotando Grunwald, o demônio que habita aquele local.
Antes de partir, Horus conheceu o gigante de pedra chamado Mogue. Mogue possui uma espada rústica fincada em seu ombro direito. Essa espada é conhecida como "Sword of the Sun“, A Espada do Sol. Horus consegue retirar a ”Sword of the Sun“ do ombro de Mogue e pode se tornar o Príncipe do Sol mas, para isso, ele precisa aprender como usar a espada.
O tema central de Horus retrata assuntos sérios e possui várias referencias a fatos que aconteciam no mundo, como a guerra do Vietnã, protestos estudantis e o Socialismo, o que faz com que pensamentos complexos e políticos se mesclem com aventura e fantasia. Os personagens são bem trabalhados e possuem um forte apelo psicológico, principalmente Hilda, a trágica heroína que sofre com seu dilema perturbador.
Horus: Prince of the Sun foi totalmente inovador, uma animação à frente de seu tempo no quesito originalidade. As personalidades dos personagens foram até então as mais realistas já vistas no mundo da animação, pois possuem uma evidente característica típica de Takahata, que seria conhecida pelo mundo nas próximas décadas e até hoje permanece em suas obras. Não é por menos que Horus merece ser conhecido como o propulsor dos animes modernos, uma vez que, em comparação com as animações da época, Horus tem todo um contexto diferenciado, que se apresenta de uma forma inovadora até mesmo se visto hoje em dia.
Para tristeza de Takahata e sua equipe, o filme saiu de cartaz 10 dias após sua estréia, porém algo inédito aconteceu: o filme ficou famoso entre os estudantes japoneses, que faziam de tudo para assisti-lo. Se formos comparar essa inovação da animação mundial a um estilo musical, poderíamos tranqüilamente intitular esse movimento de punk. Sim, isso mesmo: Isao Takahata e seus companheiros eram os punks do mundo da animação.
Infelizmente o orçamento não permitiu a essa obra terminar da maneira idealizada por seus criadores. E perceptível a incrível queda de qualidade a partir da metade do longa, tanto a parte técnica quanto o enredo ficam extremamente prejudicados pelo sofrível andamento em cenas cruciais. No entanto, verdade seja dita, o inicio do anime é lindo, algo grandioso para seu tempo, percebe-se facilmente o talento daqueles jovens, que mais tarde seriam conhecidos como os mestres da animação japonesa.
Os cenários foram feitos por Hayao Miyazaki, o que torna dispensável dizer que são de alta qualidade e bom gosto. O trabalho de arte e as músicas possuem muitas influências do movimento Socialista, pois os jovens estudantes do elenco eram simpatizantes do Socialismo, chegando até a idealizarem o Japão como um pais Socialista, mas a censura entrou em ação e alterou a geografia do anime para as terras do norte, mais precisamente na região da Escandinávia, graças a esse fato o anime ficou conhecido em alguns paises como Little Norse Prince.
A qualidade técnica é excelente, possui inovadores e dinâmicos ângulos de câmera, que mais tarde seriam produzidos apenas com computação gráfica. O traço característico dos criadores do Studio Ghibli já se mostrava presente. As canções com temas audaciosos também ajudam a construir a identidade da obra. A dublagem feita por Hisako Okata (Horus), Etsuko Ichihara (Hilda) e Mikijiro Hira (Grunwald) ficou ótima, todas as vozes ficaram muito competentes, coisa rara para a época no Japão, já que outros trabalhos da mesma data não possuem qualidade significativa de dublagem.
Se existe algum anime cult, Horus é esse anime. Extremamente político e inovador, pioneiro técnica e emocionalmente, Horus mostrou ao mundo uma nova visão das animações, derrubando o tabu de que desenho animado é coisa para criança. De quebra, ainda revelou dois incríveis talentos não só da animação, como também de entendedores do comportamento da humanidade, fato que é comprovado por várias obras de sucesso da dupla Isao Takahata e Hayao Miyazaki, que mais tarde fundariam o lendário Studio Ghibli.
Horus merece o titulo de marco da história da animação mundial, pois sem ele a forma como assistimos anime hoje em dia não seria a mesma. Altamente recomendado a qualquer um que goste de ousadia e aventura. Muitos fãs de anime pelo mundo dizem que Horus é o ”Cidadão Kane“ da animação, eu prefiro chamá-lo de Sex Pistols da animação! ^_^.
Nota: Horus foi lançado em DVD em vários paises, inclusive em Portugal.
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