19 de outubro de 2017

Resenha: Ushio to Tora


Por Escritora Otaku


Já vamos deixar isso bem claro: este foi o melhor anime que assisti em 2015 entre os poucos que acompanhei, foi o que mais conquistou e está na minha lista de melhores shounen de batalha em termos de animes - é um que não enrola e mostra do que é capaz, dando lição para outros shounen de batalha que embrulham até dizer chega. Ele vem com uma estética dos anos 90 bastante presente, um elenco bem direto e clichê, o tom sobrenatural e uma dupla de protagonistas que mesmo detestando um ao outro, consegue deixar de lado as diferenças e partir para a pancadaria ou pra nos fazer rir de suas palhaçadas.

Saindo de uma revista que me deu bons momentos com as animações que vieram dela, nem dá pra dizer o quanto me identifiquei com o estilo de “Ushio to Tora”. Ainda bem que quando pensei que não veria algo tão bacana quanto foi “Shijou Saikyou no Deshi Kenichi” (outro shounen de batalha que recomendo muito) eis que fui pega de surpresa com esta série. Mais do que isto: são os vinte e poucos minutos mais rápidos que já vi, a sensação é esta ao acompanhar a história e personagens - aí já entenderam quando digo que caí literalmente de pára-quedas e vi até o seu derradeiro final, que soube fechar bem a trama.

Melhor parar de ficar elogiando e vamos entender o que faz “Ushio to Tora” ser o que é e sua trajetória. E pra mostrar que sim, fora da Jump tem shounen de batalha tão bons ou melhores pra conhecer.


*****


Ano: 2015
Diretor: Satoshi Nishimura ("Trigun")
Estúdio: MAPPA / Studio VOLN
Episódios: 39
Gênero: Ação / Aventura / Comédia / Sobrenatural
De onde saiu: Mangá, 33 volumes, finalizado


Perguntinha bem básica: as melhores histórias são as que têm mais conteúdo ou as que são simples em sua proposta? Muito se diz que não fazem mais tramas como antigamente, porque a simpatia e a simplicidade davam um toque todo especial; não havia tamanha exigência de querer algo bem feito e próximo do original, justificando muito do desagrado dos que querem algo legal e ao ver, a decepção... Seja de quem dirige, escreve, participa e por aí vai. A vontade de intimidar os responsáveis e envolvidos é bem grande, seja por não botar nas letras ou na tela o que tornou esta ou aquela história identificável ao público.

Quando se trata de animes, seja os mais antigos ou dos mais recentes, a preocupação de como os estúdios e a produção fazem com as séries e a recepção, variam. Há os que acertam, outros erram feio e o meio termo; não dá pra definir se a adaptação irá bem ou mal somente vendo a staff ou quem dirige a animação - apenas quando assistimos podemos dar o veredicto e dizer se foi bom ou não. Portanto, o ditado “não julgue um livro pela capa” seja o termo sensato para estes momentos.


“Ushio to Tora” tem suas origens em um mangá de mesmo nome nas páginas da Shounen Sunday que foi publicado nos anos de 1990 a 1996, sendo um dos títulos que chamou a atenção dos seus leitores na época; seu mangaká, Kazuhiro Fujita, soube trazer uma trama munida dos tipos comuns aos shounen de batalha com um toque sobrenatural e com um traço bem característico. Se realizarmos uma comparação, fazer shounens nos anos 90 era muito diferente de hoje em dia, pois não havia uma fórmula certa pra criar um bom mangá, apenas a vontade dos seus autores e ilustradores em botar no papel suas histórias e personagens.

Se tratando de adaptações da obra, houve duas: aprimeira foi uma série em 10 OVAs nos anos de 1992/1993, onde apenas uma pequena parte da trama foi usada – pegando no embalo da obra – e a outra, que a resenha vai abordar, é a versão TV que pegou todo o contexto até o final.

Aotsuki Ushio é um garoto com seus quatorze anos que vive apenas com o pai, bem ausente por sinal, em um templo: tem um estilo inocente e moleque, de bom coração e desenha mal pra caramba (e quem não é assim?), sendo que quando vai limpar o depósito, acaba encontrando um alçapão escondido e como qualquer curioso, vai ver o que tem lá. E o que acha? Simplesmente uma criatura presa em uma lança na parede, que exige dele que tire a arma e ao ser questionado pelo garoto, revela ser um youkai cuja primeira ação que fará é comê-lo. Claro que o rapaz recusa, afinal, ninguém gostaria de ser comida de youkai e após um bate-boca – bem comum no andamento da obra – vai embora.

Acontece que ao despertar o youkai, sua energia começa a juntar pequenos outros youkais no templo e pra piorar, duas colegas de classe do garoto estavam no lugar errado e na hora errada. Para poder salvá-las, Ushio volta ao depósito e contra sua vontade, tira a lança, que lhe dá habilidades sobre-humanas, e ao lado do youkai Tora (o nome vem do fato deste lembrar um tigre) evitam o pior. Forma-se assim a dupla de protagonistas da trama, que apesar de se detestarem e brigarem igual gato e rato passa por uma jornada cheia de lutas, revelações sobre a "Lança da Besta" que estava presa em Tora e descobertas em torno de um inimigo pra tomar raiva, o assustador e astuto Hakumen no Mono.


Isto resume bem o contexto da história, um shounen de batalha deveras simples em sua estética, mas, com algumas características que o tornam diferente. O primeiro é termos uma dupla de protagonistas, de personalidades distintas e que mesmo brigando tanto, lá no fundo até se entendem; os momentos que ambos passam vão desde a comédia até o drama, conforme segue o roteiro; temos um elenco de personagens que ajuda e segue o contexto, que mesmo tendo uns furos, vai mostrando um universo nipônico e sobrenatural misturado com a rotina comum; os youkais presentes dão um toque mais fantasioso e enfim, o grande vilão, que pela forma dada, confere muito medo e raiva ao mesmo tempo. O último quesito não é brincadeira, o Hakumen é uma criatura pra se odiar com todas as letras, literalmente...

E sim, os clichês estão lá, pois shounens de batalha tem seus ingredientes e a série entrega tudo isto e mais um pouco. Não dá pra culpar tanto, se é um tipo de história que tem pontos a ser mantidos, só precisa mostrar o seu diferencial.

Nesta versão, adaptaram toda a obra e ainda tiveram uma ajuda e tanto: o próprio mangaká foi um dos roteiristas - dá pra contar nos dedos quantos animes tiveram seus criadores auxiliando direta ou indiretamente na produção. A série de TV contou com uma animação bem feita, seguindo e atualizando, sem perder o traço do mangaká; o roteiro soube aproveitar, na maior parte, os rumos da história e fechou decentemente as pontas. Sobre dublagem, o anime foi bastante satisfatório com seus dubladores e dá pra destacar três vozes: a da dupla de protagonistas e do Hakumen no Mono. Estes, em específico, deram um show em termos de interpretação e timbres, como se tivessem nascidos para tais papéis.

O mesmo dá pra dizer das aberturas e encerramentos; nos primeiros 26 episódios a abertura “Mazeru na Kiken” do Kinnuki Shojo Tai tem um toque de rock antigo e estridente, enquanto os encerramentos foram “HERO” do Solar Pocket com uma boa batida e “Makenura Chiisaki Mono yo” do Wakadanna com um tom mais tranquilo em sua execução. Já nos 13 últimos episódios, temos a abertura “Shugawari no Kiseki no Shinwa” da mesma banda da abertura anterior e de encerramento é exibido “Kessen Zenya" do LUNKHEAD, ambos com batidas fortes e conclusivas em suas melodias. E os clipes expressam bem o estilo antigo e direto que a trama possui ao longo dos seus episódios.


Sendo assim, “Ushio to Tora” mostrou a muitos que os shounens de batalha ainda podem entreter e por ser curto, não fica enrolando em seu conteúdo. Quem curte este tipo de trama ou quer tentar ver algo comum com seus diferenciais, seguir nossa dupla de protagonistas pode ser uma experiência bacana - pois não é todo dia que um humano e um youkai podem se juntar a uma grande aventura...


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